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quinta-feira, 26 de junho de 2014

EBD - O prazer de experimentar a cura das feridas da alma

Davi era apenas o oitavo filho de Jessé, moço ruivo e franzino, designado para cuidar de ovelhas enquanto seus irmãos serviam na guerra. O pastorzinho se tornara insignificante em uma casa de heróis nacionais, o que lhe rebaixava ao posto de filho menos notável e párea de seus iguais. Davi não experimentou do carinho do pai, não recebeu afagos de seus irmãos mais velhos e jamais foi recompensado pelo bom trabalho realizado nos pastos. Sua insignificância dentro da família era tanta, que nem mesmo após ser ungido pelo próprio profeta Samuel, como o novo rei de Israel, ele ganhou o respeito de sua família. Pelo contrário; na manhã seguinte a sua unção, lá estava o ruivinho no campo, lidando com animais e distante do calor paternal. O tempo passou e após muitas batalhas, Davi finalmente ascendeu ao trono de Israel, se tornando o maior rei daquela nação. Mas, se sobrava experiência militar para conduzir seu exército às grandes vitórias, faltava experiência familiar, e Davi acabou conduzindo sua própria casa para um caminho de fracassos e derrotas.

Refletindo o descaso que sofrerá na juventude, o Rei não concede privilégios ao velho Jessé. Seus irmãos, veteranos de guerra e heróis nacionais não obtém nenhum reconhecimento real. Sem grandes parâmetros provindo de berço, Davi se casa com diversas mulheres e com elas gera mais de 20 filhos, criando dentro de sua casa uma verdadeira guerra civil por poder e posição. Filho de pai ausente, Davi se torna um pai ausente, que não percebe os olhos lascivos de seu primogênito AMNON para com a própria irmã, TAMAR. Devido ao descaso de DAVI, o perverso AMNON sucumbe a seus desejos carnais, e após colocar em prática um malicioso plano, ele violenta sua irmã, e depois de deflorá-la, sentindo uma imensa repulsa pela moça, a expulsa de casa, jogando-a ao relento. Ao saber do fato, DAVI fica furioso, entretanto, mais uma vez é relapso e não toma qualquer atitude em relação ao estupro incestuoso. Não pune AMNON, e sequer, presta qualquer amparo a TAMAR, sua própria filha.

Um de seus outros filhos, chamado ABSALÃO, é que se encarrega de cuidar das feridas físicas e emocionais de TAMAR, e astuciosamente, elabora um plano para se vingar de seu irmão AMNOM. Durante uma festa, onde todos os príncipes estão reunidos e embriagados, os homens de ABSALÃO atacam de surpresa, e matam AMNON. Com a morte do futuro rei, DAVI se enfurece e exige que o assassino seja punido, e assim, ABSALÃO se vê obrigado a fugir para Gesur. Num mesmo dia DAVI perde dois de seus filhos mais queridos.

Pais tentem a perdoar os filhos com certo imediatismo, porém, DAVI demora três anos para conceder o perdão real a ABSALÃO, e quando este volta para casa, Davi não o trata como filho, mais sim, como um dos muitos nobres de Israel. Ressentimentos afloram no jovem príncipe e silenciosamente ABSALÃO começa uma revolução nas ruas. Sua estratégia dá resultados, e ele é declarado rei de Hebrom, e com um exército a sua disposição, parte para um ataque surpresa contra seu pai. Desprevenido, DAVI perde o palácio para seu próprio filho, que além de tomar para si o trono de Israel, humilha o velho rei estuprando em público as mulheres de seu pais. A guerra civil gerada devido a conflitos familiares, só termina quando após um trágico incidente, ABSALÃO morre, provocando ainda mais dor em DAVI.

Dramas e traumas. Sofrimento e dor. Descaso e lágrimas... Davi é um péssimo exemplo de pai, mas um grande exemplo de como devemos nos portar diante do Todo Poderoso, já que conseguia desfrutar plenamente da Graça de Deus, que é capaz de curar nossas dores mais agudas, e ser imerso pelo Amor de nosso Senhor, que tem o poder de cobrir uma multidão de erros. Assim, de cada experiência ruim e traumática, Davi se fortalecia através do perdão, e apesar de seus muitos pecados, através do arrependimento, conseguia construir a estrada que o levava de volta para os braços de Deus.

E é exatamente com o exemplo de Davi, que chegamos à última lição deste trimestre. Nos últimos meses estivemos falando acerca de diversas enfermidades que incomodam o homem e, em muitas situações, que o impedem de realizar a vontade de Deus. No entanto, ao nos depararmos com o Salmo 139, escrito pelo próprio Davi, começamos a entender muito da verdadeira alma humana. O sentimento do salmista aqui expressado nos mostra o seu desejo de servir e fazer a vontade de Deus, mas, com uma certeza, no coração, há de estar totalmente curado de todos os males que afligem seu interior.


Uma reflexão sobre a Vida...

Muitas vezes nos pegamos imaginando como seria a nossa vida se fossem realizados nela todos os tipos de milagres. É fato que, servindo ao Todo Poderoso, o homem está sujeito à ação dEle em sua vida, e essa ação inclui a realização de milagres, contudo sabemos que, ao longo da nossa existência, acumulamos uma série de experiências que são capazes de causar danos irreversíveis em nossa alma, atingindo diretamente a mente e refletido em nossas emoções. Em sua exposição, o salmista não esconde a consciência de que Jeová é capaz de conhecer o seu interior, mesmo que não seja revelado verbalmente (SaImo 139:4). Servimos a um Deus que tudo sabe e tudo conhece, no entanto fica claro para nós que um de seus desejos principais em relação ao homem é justamente vê-lo expressar os seus sentimentos para que possa intervir de maneira eficaz (SaImo 38:9). Já no Éden o Criador procurava Adão na viração do dia para conversar e, mesmo sabendo do desatino cometido por sua criatura, não tomou nenhuma atitude até que este expusesse o seu feito (Gêneses 3:8).

As enfermidades da alma, em sua maioria, tendem a agir de forma a nos afastar da presença de Deus, pois elas levam o indivíduo a um caminho obscuro e desconhecido capaz de promover dores profundas em seus sentimentos. Davi foi um homem que viveu e sobreviveu a muitas batalhas, tais batalhas se deram tanto na esfera material quanto na espiritual, elas, com certeza, provocaram cicatrizes profundas. Entretanto vemos Davi sempre disposto a permitir-se realizar verdadeiras catarses diante de seu Criador onde não se furta de exprimir seus mais profundos sentimentos. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?  Nestas palavras do Salmo 139:7, vemos que o salmista reconhece a sua incapacidade de lidar com seus medos e pavores e sabe que, nem mesmo em profunda depressão, estará fora do alcance dos olhos de Deus. A angústia vivida por Davi em alguns momentos de sua vida se apresentava como se fosse constante, todavia ele tinha certeza da companhia de Jeová (SaImo 139:8-10). Sabemos que o sentimento de culpa era o principal mal que assolava a sua existência; o medo da reprovação o levava a um choro secreto, só revelado ao Senhor em situações de extrema tristeza. Ao mesmo tempo em que Davi externava o seu temor a Deus, ele expressava a certeza da sua misericórdia para com ele (SaImo 139:14) e o louvava do mais profundo do seu íntimo, pois entendia a repreensão como expressão do amor do Pai, conforme mais tarde escreveu Salomão, um de seus filhos prediletos, em Provérbios 3:12.

Desmistificando o conceito de 
Maldição Hereditária

Atualmente vemos alguns grupos religiosos “ditos evangélicos” difundindo uma doutrina voltada para o que eles chamam de “maldição hereditária”. Em suas teorias, buscam afirmar que algo passado ou sofrido por um antepassado pode se manter como castigo ou maldição na vida do servo de Deus. Tais doutrinas contradizem peremptoriamente a Palavra de Deus que afirma exatamente o contrário. O texto do livro do profeta Ezequiel 18:20 nos mostra que o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho, deixando claro este ato de justiça do Criador. Os defensores da teoria da maldição hereditária tentam apresentar experiências negativas, tanto na esfera espiritual quanto na natural, como sendo herança. No entanto sabemos que grande parte de males sofridos por nossos descendentes são ocasionados por atitudes erradas que tomamos na criação de nossos filhos. Daniel Goleman, em seu livro “Inteligência Emocional”, diz que “alguns pais ignoram qualquer tipo de sentimento de seus filhos considerando sua perturbação emocional como algo banal; na verdade, deveriam aproveitar estes momentos para uma maior aproximação”, e com isso, evitariam muitos problemas no futuro. Entretanto podemos tentar esclarecer algumas situações que ocorrem no âmbito da alma e podem sim ter uma origem familiar, mas a este “efeito nepotista”, chamaremos aqui de Reprodução de Neurose.

Como funciona a Reprodução de Neurose

A Neurose nada mais é do que uma reação exagerada do sistema emocional em relação a uma experiência vivida, também chamada de REAÇÃO VIVENCIAL, e que se transforma em uma doença emocional, afetiva e da própria personalidade. Quando se diz que alguém é “neurótico” ou que “age de forma neurótica”, estamos dizendo que este indivíduo tem reações vivenciais “não normais”. Assim, essa pessoa adota uma série de comportamentos, que embora compatíveis com suas próprias emoções, são incompatíveis com os padrões sociais de seu convívio. O quadro de neurose é amplo e muito variado, onde cada tipo de transtorno neurótico tem seus próprios sintomas, e podem sim estar enquadrados em casos de ansiedade, fobias, depressão, estresse, histeria, obsessões e compulsões.  O Neurótico tem plena consciência do seu problema, mas geralmente, sente-se incapacitado para resolve - lo. Um dos agravantes da neurose, e que ela pode ser reproduzida nas pessoas próximas ao neurótico.
  
Para explicar o termo REPRODUÇÃO de NEUROSE, vamos explorar algumas situações vividas por Davi. O dia de um pastor de ovelhas era de muitos riscos, os quais fizeram de Davi um homem preparado para enfrentar inimigos perigosos ao longo de sua vida. Em suas batalhas, usou conhecimentos adquiridos em sua lida diária como o uso da funda contra Golias. Em outras situações, também demonstrou ser um homem de sentimento duro. Essa forma de expressar seus sentimentos pode ter ocorrido por causa da maneira dura que foi tratado por seu pai.

Em sua vida familiar, podemos perceber que não era o preferido de seu pai, visto que o mesmo sempre o procurava usar para serviços menores, pouco valorizados pela sociedade da época. Levar comida para seus irmãos era algo comum na vida dele e sempre que o fazia, voltava rapidamente para cuidar das ovelhas em Belém Tais acontecimentos ficaram registrados em sua mente e foram determinantes no processo de formação da sua personalidade, visto que, na criação de seus filhos, também deixou claro as suas preferências reproduzindo o que havia ocorrido com ele. Mesmo já tendo sido ungido por Samuel, em um episódio de impressionante desprezo, demonstrado por Jessé, que deixou claro a sua preferência por Eliabe, Abinadabe, Sama e os outros; Davi continuava a obedecer e fazer o que lhe era imposto. Os sentimentos de Davi certamente eram afetados por esse tipo de comportamento demonstrado por seu pai. Embora não se tenha rebelado contra sua família, não deu a seus irmãos nenhuma posição de destaque em seu exército. Essa atitude aliada ao fato de demonstrar preferência por alguns de seus filhos comprovam a reprodução de neurose herdada de seu pai.

A história do reinado de Davi foi marcada por algumas grandes tragédias, uma delas, talvez a mais importante, foi a rebelião de seu filho Absalão que não suportou o fato de seu pai não ter tomado nenhuma atitude em relação a seu irmão Amnon quando do estupro de sua irmã Tamar. A falta de um diálogo claro entre pai e filho pode sempre causar maus entendidos, pois vemos com o desdobrar dos acontecimentos, que, ao contrário do que Absalão pensava, o seu pai o amava intensamente (II Samuel 18:32-33). Neste fato, vemos, mais uma vez, um exemplo de reprodução de neurose. Uma vez que Jessé não se colocava claramente em relação a Davi, isso fez com que ele tivesse a mesma dificuldade em relação a seu filho Absalão.

Desfrutando da Ação de Deus em nossa vida

Os versículos 11 e 12 do Salmo 139 são, talvez, os mais impactantes, pois demonstram a certeza de que Davi tinha que, mesmo em estado de profunda depressão, o homem de Deus nunca se sentirá desamparado por Ele. Davi tomou algumas atitudes reprováveis aos olhos do Senhor, contudo, em momentos decisivos de sua vida, escolheu fazer a vontade de Deus. O texto de I Samuel, capítulo 25, mostra-nos que, em alguns momentos, a ira tomava conta do coração de Davi. Em sua vida, nada havia sido fácil; sempre esteve se deparando com situações limites (I Samuel 25:8) quando a melhor atitude, parecia sempre partir para o ataque (I Samuel 25:13). Nesse momento, ele já teria tomado a sua decisão, no entanto ouviu a mulher de Nabal (I Samuel 25:26-35) e esperou Deus trabalhar em seu favor (I Samuel 25:37-38). Não importa o quanto estejamos sofrendo por sentimentos obscuros que desconhecemos, o importante é reconhecer que Deus pode nos livrar desses sentimentos se pedirmos a Ele (SaImo 19:12)

Durante a sua expressão de louvor, Davi declara que a sua alma sabe do que Jeová é capaz (SaImo 139:14). Ao longo das lições estudadas, podemos aprender como o sofrimento da alma pode ferir, de maneira profunda, o indivíduo, levando-o a uma condição, em alguns casos, deploráveis, mas ainda assim, se tal indivíduo se apresentar ao Criador com o coração contrito, experimentará o melhor de Deus em sua vida. Existem técnicas de tratamento eficazes para solução das enfermidades da alma, todavia estar com o Senhor e reconhecer o seu poder podem evitar que o homem chegue ao fundo do poço, mergulhando em crises existenciais que ele mesmo desconhece. Entretanto, para algumas pessoas, isso se torna muito difícil, daí a necessidade da ajuda de alguém com conhecimento científico específico em áreas que estudem o comportamento humano para que, com tratamento terapêutico, ajude o indivíduo a identificar as causas de suas crises (Tiago 5:16).

Deus tem sempre o melhor para nós

O Criador sempre quer o melhor para nós, pois sempre está nos preparando algo especial (SaImo 139:17). Em nenhum momento, o Senhor quer ver um servo com sentimento de culpa, angustiado, sofrendo com o medo, insegurança, dificuldade de dizer não, falta de reconhecimento de culpa entre outros sintomas que poderão produzir um afastamento do indivíduo de Sua presença e consequentemente a falta de intimidade com Ele. O texto proposto por Paulo, em II Coríntios 5:17, nos dá a nítida noção de que, ao aceitarmos a Cristo, estaremos livres de tudo que nos fazia mal no passado, está totalmente correto, no entanto, em Romanos 12:2, vemos o mesmo Apóstolo nos apresentando a necessidade da renovação de nosso entendimento. O que entendemos a partir daí? O versículo de segunda aos Coríntios nos garante uma mudança total em nossa estrutura espiritual, enquanto o texto da carta aos Romanos nos mostra à necessidade de mudança e cura em nossa estrutura emocional. Só depois de passarmos por essas duas transformações, poderemos gozar plenamente da perfeita vontade de Deus e experimentar totalmente as maravilhas de vivermos debaixo de sua Graça.

Apo estes três meses de estudo aprofundado sobre as Enfermidades da Alma, fica a lição que podemos sim vencer os males que afligem nossas emoções, mas que será necessário na maioria das vezes, uma ajuda externa.  Que ao enfrentamos o diagnóstico de uma ENFERMIDADE DA ALMA, busquemos toda força que existe em cada um de nós para vence-la, mas que também contemos com a ajuda dos profissionais da área; e principalmente nunca rejeite a maior e mais excelente entre todas as ajudas: A do Espírito Santo, o qual não permite que as enfermidades da alma obscureçam a beleza das bênçãos que Deus tem para seus filhos. 

Texto Áureo
Senhor, tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. 
SaImo 139:1-2

Verdade Aplicada
As enfermidades da alma podem ser devastadoras. Mas não incuráveis. Jesus é a cura!

Textos de Referência
Salmo 139:11,12,14,23,24

Se disser: decerto que as trevas me encobrirão; então, a noite será luz à roda de mim.
Nem ainda as trevas me escondem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa.
Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem.
Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos.
E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno. 


Para conhecer com maior profundidade os temas tratados neste estudo, participe neste domingo (29/06/2014), da Escola Bíblica Dominical.

Fontes:
Revista Jovens e Adultos nº 91 - Enfermidades da Alma Editora Betel
PsiqWeb - www.psiqweb.med.br
Bíblia em Ação: Editora Geografica




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