A Paz do Senhor irmãos. Meu nome é Cátia de Souza Caldeira
Moreira, e eu nasci em São Caetano do Sul –SP. Minha história começa numa infância
simples, na qual eu crescia ao lado de meus pais e dos meus dois irmãos. Mas em
um dia de páscoa, no ano de 1989, aconteceu uma tragédia que mudou
completamente nossas vidas.
Naquele dia, meu pai e meu irmãozinho, de apenas nove anos
resolveram aproveitar o feriado para pescar com alguns de nossos familiares, e
no final do passeio, ignorando o perigo do lugar, meu irmãozinho resolveu
entrar na água para nadar. Ele então foi pego por um redemoinho, e começa a se
afogar. Ao ouvir os gritos desesperados de um dos meus primos, meu pai mergulha
para salvar meu irmão, só que a força da água é tão grande, que naquele momento
trágico, os dois perdem a vida. Minha família literalmente se dilacera... Minha
mãe se acaba em tristeza, meu irmão mergulha no mundo das drogas; e eu fico
completamente sem rumo, pois era muito apegada com meu pai.
Sem muitos recursos, tivemos que ir morar em um quartinho na casa
da minha vó, ali, eu e minha mãe nos isolamos num cantinho, onde amedrontadas,
dormíamos juntas. Minha mãe vivia desesperada, sem saber o que fazer da vida,
pois além da dolorosa perca de um filho e do marido, agora se via as voltas com
um drogado violento dentro de casa, que em suas crises, quebrava as poucas
coisas que tínhamos. Eu sofria muito por achar que minha mãe não me amava, e
preferia meu irmão; afinal, nunca recebi um abraço dela, e não tenho lembranças
de ouvi-la me chamando de filha, mas hoje entendo que a criação que ela teve e
as perdas que enfrentou, a transformaram em uma mulher amargurada. Aos trancos
e barrancos nossa vida foi seguindo, até que num dia de 1998, minha mãe passou
muito mal, e neste dia pela primeira vez, eu a ouvi me chamando de filha, porém
nem fazia ideia que seria a primeira e única vez. Eu a levei ao médico, que
após examina-la, nos mandou de volta para casa. A noite chegou e minha mãe
ainda sentia fortes dores na região do coração. Lembro que estava muito quente,
e mesmo assim, ela tremia de frio. Como era fumante, me pediu um cigarro, e eu
a lembrei das palavras do médico que a proibira de fumar. Minha mãe virou-se
para mim e me disse que aquele seria o último. E foi...
Ela era sempre a primeira a se levantar, mas na manhã seguinte, eu
a vi dormindo de um jeito diferente, e quando fui acordá-la, ela não respondeu.
Coloquei a mão sobre sua pele, e ela estava gelada... Minha mãe faleceu durante
aquela noite e lembro de ouvir uma das minhas tias me dizendo que se eu não
tivesse dormido, ela ainda estaria viva.
Ali começava minha verdadeira angústia, onde eu sem rumo e sem
saber o que fazer, já não conseguia ficar naquele quartinho. Conheci uma mulher
que precisava de alguém para morar na casa dela e cuidar de seus filhos. Morei
ali por cinco anos, tendo folgas apenas a cada quinze dias. As tias dessa
senhora frequentavam a igreja, e muitas vezes, por não ter para onde ir,
passava o final de semana na casa delas. Passei a ir na igreja com elas, e
confesso que aceitei Jesus umas três vezes, sem nunca entender o que isso
significava, e assim continuava fumando e bebendo Nesta minha dolorosa jornada,
eu sofri muito, tanto que lendo a Bíblia, me identifico com a história de Jó,
pelo fato desta patriarca ter perdido tudo o que tinha, e também com José, que
viveu uma vida de muitas humilhações.
Embora eu estivesse sem um rumo na vida, sei que Deus sempre
esteve atento aos meus passos. A família da minha mãe era evangélica, e exceto
pelos meus pais, todos ali serviam a Deus, e creio que meus avós sempre oravam
por mim. Quando quis voltar para a casa de minha avó, fui muito humilhada por
uma tia que tinha alugado o quartinho em que eu morava antes. Ela me dizia que
nada dali era meu, pois a minha mãe não havia deixado nenhum papel assinado que
me desse algum direito. Assim, fiquei de casa em casa, num sofrimento que não
tinha fim. Resolvi então ir para Mogi Guaçu, pois minha tia Nancy naquela
cidade. Passei a morar com ela, que era evangélica e frequentava a Assembleia
de Deus do Jardim Novo I. Eu até ia na igreja com minhas primas Simone e Raquel,
mas ainda saia para bagunçar, beber e fumar, e foi aí que Deus enviou um vaso
para falar comigo. Jamais me esquecerei do dia que a irmã Marli chegou até mim,
e contou detalhes de minha vida que somente eu sabia. Confesso que fiquei um
pouco confusa, mas tomei a decisão de ir para a igreja de forma definitiva.
Então Deus começou a trabalhar em minha vida. Em três comecei a
sentir vontade de me batizar, mas ainda fumava. Entretanto, na exata época do
batismo, Deus me libertou completamente do vício do cigarro, e também fui
batizada com o Espírito Santo. Pensei comigo que minha tristeza tinha acabado,
mas ali, no lar onde morava, comecei a ser humilhada também, e mais uma vez,
acabei muito machucada. Fui morar na casa de uma irmã da igreja, mas também não
me sentia bem ali. Sou muito grata a Deus, pois neste tempo, ele colocou a
família Reis no meu caminho. Fui morar na casa do saudoso Pr. Geraldo José dos
Reis, e ali a irmã Maria me tratava como uma verdadeira filha, me ajudando em
tudo que eu precisava. Infelizmente, mas uma vez me envolvi em uma briga e
novamente acabei sendo desprezada, e mergulhei numa tristeza que só me fazia
chorar, até mesmo quando eu estava indo para igreja, pois sabia que mesmo ali,
eu seria humilhada.
Foi aí que eu realmente clamei ao Senhor com meu coração
quebrantado e desabafei: Senhor eu não aguento mais, me arruma um cantinho que
seja meu, para que eu possa ficar em paz.
Deus, lá dos altos céus ouviu esse clamor e me deu condições de
pagar meu próprio aluguel. Era difícil, passava por provas, as lutas eram
intensas, mas Deus sempre estava lá segurando em minha mão e me dando forças
para prosseguir, e pude experimentar em minha vida as palavras de Jesus: “No
mundo tereis aflições, mas eu venci e vocês vencerão também”. Assim, dia após
dia, o Senhor ia cuidando de mim...
Me concedeu o meu cantinho, me deu condições de pagar o meu
aluguel, me vestia e me dava o que comer. Deus também começou a me honrar na
igreja, e passei a liderar o departamento de jovens da minha congregação. Senti
então que estava na hora de casar, e com este desejo no meu coração, iniciei
uma campanha na congregação do Ype Pinheiros, e “passei” para o Senhor, a
discrição da pessoa que eu queria, e o primeiro item da minha lista era que
fosse um servo do Senhor, mas um detalhe era crucial: tinha que ser um
“negrão”!
Os irmãos davam risada, e diziam que de tanto pedir um negrão, eu
ia me casar com um branquelo que nem poderia sair no sol, por que senão ficaria
vermelho. Mas eu dizia a todos que Deus era fiel, e que ele ia me mandar o
negrão dos meus sonhos. E como é bom esperar no Senhor, pois ele sempre tem o
melhor para a gente, e mais uma vez Deus ouviu meu clamor, e ele me enviou o
Ev. Carlos Alberto, um negrão risonho lindo e abençoado, temente ao Senhor, servo
de Deus, que gosta de fazer a obra, que cuida de mim com todo carinho e que me
ama de verdade. Deus nos uniu e nosso casamento foi moldado na presença do
Senhor.
Não vou dizer que não temos luta ou que estamos imunes a provas e
tribulações, porque temos enfrentado muitas delas. A diferença é que hoje eu
sei que não estamos sozinhos e Jesus faz parte da nossa vida. Estou passando
por um momento pessoal muito delicado, e não sei o que vai acontecer no
amanhã... Mas sei que até aqui Deus nunca me desamparou e tenho certeza que
jamais me desamparará, e que se este sonho que ainda não realizei estiver nos
planos do Senhor, certamente em breve eu vou cantar o canto das vitórias...
Pode sim ser impossível para o homem, mas o meu Deus é o Deus do
impossível e ele cuida daqueles que são seus. Agradeço a Deus por ter
dado um novo e maravilhoso rumo para minha vida. Glorifico e louvo ao seu nome,
pois só ele é digno de todo louvor.
Glórias à Deus por tudo... Amém!
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