Ele
é, sem sombra de dúvidas, o pregador mais citado de nossa época. Pastor,
evangelista, mestre e mundialmente conhecido como o “príncipe dos pregadores”,
Charles Haddon Spurgeon, mesmo mais de um século após sua morte, é aclamado
como uma das mentes mais célebres da história cristã.
Caracterizado pelo seu amor pela vida e pelo
conhecimento, profundo entendimento das Escrituras e inúmeras ilustrações,
impactou e ainda impacta inúmeras vidas no dia de hoje.
No período de inquisição na Espanha sob o reinado
de Carlos V, onde mais de 18 mil cristãos foram perseguidos e mortos, muitos,
temendo por suas vidas mudaram-se para outros países, especialmente a
Inglaterra. Foi assim que a soberania de Deus moldou a trajetória da família
Spurgeon. Os bisavôs de Charles eram cristãos devotos, assim como seu avô
paterno e seu pai, James. Praticamente criado pelos seus avós paternos, devido
ao número elevado de irmãos e a condição precária de seus pais, o pequeno
Charles teve sua vida influenciada desde a infância por esses grandes exemplos
de fé e amor ao Senhor e à Sua Palavra. Tendo pastoreado a mesma igreja por 54
anos, o avô de Charles um dia declarou: “Não passei nem uma hora triste com a
minha igreja depois que assumi o cargo de pastor”! Seu pai, James era também um
amado pastor em Stambourne.
Com um desejo extraordinário pela leitura, Charles
H. Spurgeon já era notável em pouca idade. Dentre seus títulos favoritos
estavam “O Peregrino” de John Bunyan e “O Livro dos Mártires” de John Foxe,
entre outros livros teológicos. É dito que, assim como Jesus, aos doze anos ele
já era capaz de debater assuntos teológicos com anciões de seu tempo.
Embora criado em lar cristão, Charles ainda
buscava um relacionamento íntimo e genuíno com Cristo. Por seis meses ele visitou
igrejas e orou fervorosamente lutando contra a condenação devido a consciência
de seu próprio pecado, até que certo dia, ao visitar uma igreja onde o pregador
foi impedido de chegar ao culto devido a uma tempestade de neve, Charles viu um
simples sapateiro levantar-se e ler: “Olhai para mim e sede salvos, todos os
confins da terra” (Isaías 45:22). O sapateiro, inexperiente na arte de pregar
apenas repetia a passagem e dizia: “Olhai! Não é necessário levantar um pé, nem
um dedo. Não é necessário estudar em um colégio específico, ou contribuir com
mil libras. Olhai para mim, e não para vós mesmas. Olhai para mim, pendurado na
cruz, olhai para mim, morto e sepultado”. Em seguida, fixando os olhos em
Charles, disse: “Moço, tu pareces ser miserável. Serás infeliz na vida e na
morte se não obedeceres”. Então gritou ainda mais: “Moço, olha para Jesus! Olha
agora”! O rapaz olhou e nunca mais parou de olhar para esse Jesus, por toda a
sua vida.
Logo após essa experiência real de conversão,
Spurgeon, como é conhecido, começou a incansavelmente distribuir panfletos e
ensinar crianças na escola dominical em Newmarket Cambridge. Ensinou a Palavra
pela primeira vez aos 16 anos de idade na casa de uma família rural em
Teversham, Inglaterra. Aos 18 anos já pastoreava a congregação de Waterbeach,
uma pequena igreja distante da capital inglesa.
Apenas dois anos depois, Spurgeon foi convidado
para até então, o maior desafio de sua vida, pastorear a Igreja Batista Park
Street Chapel na região metropolitana de Londres. O desafio era grandioso, pois
essa igreja havia sido outrora a igreja mais notável de toda Inglaterra e
pastoreada pelo grande teólogo John Gill. Que chances teria um jovem do campo
sem educação religiosa formal diante de uma igreja que agonizava pela sua
sobrevivência?
Spurgeon porém aceitou o desafio em 28 de Abril de
1854, convicto de que era a vontade de Deus para sua vida, e passou então a
pastorear uma igreja com pouco mais de 100 pessoas. Seria um bom número, não
fosse o suntuoso templo suficiente para acomodar cerca de 1200 pessoas. Esse
fato é comentado pelo próprio Spurgeon: “No início, eu pregava somente a um
punhado de ouvintes. Contudo, não me esqueço da insistência das suas orações.
Às vezes pareciam que rogavam até verem realmente presente o anjo do Concerto
(Cristo), querendo abençoá-los. Mais que uma vez nos admiramos com a solenidade
das orações até alcançarmos quietude, enquando o poder do Senhor nos
sobrevinha… Assim desceu a benção, a casa se encheu de ouvintes e foram salvas
dezenas de almas”! Spurgeon perseverou em ensinar-lhes a Palavra e ao pregar o
Evangelho e semanalmente Deus adicionava aos que eram salvos.
Aos 20 anos, Spurgeon já havia pregado mais de 600
mensagens, e em poucos meses, multidões ajuntavam-se para ouvir o jovem
Charles, ao ponto que muitos tinham de permanecer para fora esperando colher
algumas “migalhas” do que vinha de dentro do templo, ao passo que o local já
não mais os comportava. Começou-se então uma reforma de expansão do templo da
Park Street Chapel. Em meio a expansão do local, a igreja passou então a
reunir-se no Exeter Hall, pátio que tinha acomodações para quatro mil e
quinhentos ouvintes.
Ao retornarem para a Chapel após a reforma, ao
invés de ter uma solução, alcançaram um problema maior, pois agora tinham 3 mil
pessoas em um local que comportava apenas mil e quinhentas. Decidem então
voltar para o Exeter Hall que por sua vez também já não se mostra suficiente.
Spurgeon toma então uma decisão radical, muda a igreja para o Surrey Music
Hall, o local mais amplo, suntuoso, e magnífico de toda Londres, acomodando 10
mil pessoas em seu culto de inauguração. Este novo local comportava o máximo de
12 mil pessoas. Foi após esses episódios, que finalmente decidiram por
construir o grande Tabernáculo Metropolitano, igreja que pastoreou por quase
toda sua vida. Spurgeon, em pouco tempo, tornou-se uma figura célebre ao redor
do mundo, reconhecido como uma das mentes mais brilhantes de sua época, sendo
convidado para ensinar em vários países tendo um média de 8 a 12 mensagens por
semana.
Durante certo período, ensinou por 300 vezes em
doze meses. O maior auditório no qual pregou, foi no Crystal Palace, Londres,
em 7 de outubro de 1857. O número da audiência era por volta de 23.650 pessoas.
Spurgeon esforçou-se tanto nessa ocasião, e o cansaço foi tamanho, que após o
sermão da noite de quarta-feira, dormiu até a manhã de sexta-feira. As
multidões acumulavam-se para ouvi-lo ao ponto que certa vez teve que rogar aqueles
que tivessem ouvido a Palavra nos últimos três meses, que não comparecessem
mais, dando assim chance aos irmãos que ainda não tinham ouvido.
Em 8 de Janeiro de 1855 casa-se com Susanah
Thompson, seu amor e inspiração por toda a vida.
Ao olhar para a vida de Charles Spurgeon, as
histórias e números são impressionantes, porém, talvez o que mais nos marca em
sua biografia é sua diponibilidade em servir ao Senhor de todo o coração mesmo
em meio a adversidade. Certa vez ao falar sobre pregar através da adversidade
disse: “Quando nosso coração está despedaçado, devemos então trabalhar com um
instrumento quebrado”. Ele poderia proferir essas palavras com autoridade, uma
vez que dor e sofrimento foram companheiros inseparáveis de sua vida e
ministério. Certa vez, porém, declarou: “Se por trabalho excessivo morrermos,
sem ter alcançado a idade média da população, servindo ao Mestre, glória seja a
Deus, pois teremos tão menos da terra e tão mais do céu”.
Spurgeon lutou por anos contra três diferentes
doenças crônicas que constantemente o debilitavam e até o impediam de estar aos
domingos no púlpito do Tabernáculo Metropolitano. Nos últimos 22 anos de sua
vida e ministério, Spurgeon perdeu um terço de seus compromissos com sua
igreja, devido às suas doenças.
Em 1869 Susanah passou por uma cirurgia
mal-sucedida que a tornou parcialmente incapaz, fazendo com que nos próximos
anos, pudesse assistir apenas a alguns dos sermões de seu marido. Pais de
gêmeos, juntos foram capazes de fazer coisas grandiosas e outrora impensáveis
para o Reino de Deus. Aos 50 anos de idade, Spurgeon havia sido responsável
pela fundação e supervisão de cerca de 66 instituições incluindo igrejas,
escolas, seminários, orfanatos, escolas de pastores, revistas mensais e
editoras. Pastoreava uma igreja de milhares de pessoas, respondia uma média de
500 cartas semanalmente, lia 6 livros teológicos por semana, e isso, dizia ele,
representava apenas metade de suas tarefas. Até o fim de sua vida, Charles
Spurgeon ainda foi capaz de deixar uma obra de 135 livros, incluindo a aclamada
série de comentários em Salmos, “O Tesouro de Davi”.
Algo fundamental na vida de Spurgeon, era sua
dedicação à oração. Quando alguém perguntava a explicação do poder da sua
pregação e ministério, o Príncipe de Joelhos, como também era conhecido,
apontava para o salão situado abaixo do Tabernáculo Metropolitano e dizia: “Na
sala que está embaixo, há trezentos cristãos que sabem orar. Todas as vezes que
prego, eles se reúnem ali para sustentar-me as mãos, orando e suplicando
ininterruptamente. Na sala que está sob os nossos pés é que se encontra a
explicação do mistério dessas bênçãos”.
Sua esposa Susanah constantemente citava o quanto
seu marido valorizava a oração, e como não abria mão de seus 30 minutos de
oração antes de todo sermão pregado. J.P.Fruit disse: “Quando Spurgeon orava,
parecia que Jesus estava em pé ao seu lado”.
Em 7 de Junho de 1891 ensinou pela última vez.
Suas últimas palavras, no leito de morte, dirigidas à sua esposa, foram: Oh,
querida, tenho desfrutado um tempo mui glorioso com meu Senhor! Ela, ao ver,
por fim, que seu marido seria levado aos céus, caiu de joelhos e com lágrimas
exclamou: “Oh, bendito Senhor Jesus, eu te agradeço o tesouro que me emprestaste
no decurso destes anos; agora Senhor, dá-me força e direção durante todo o
futuro”. Spurgeon “adormeceu” em Menton, França em 31 de Janeiro de 1892.
Seis mil pessoas assistiram ao culto de funeral,
onde no caixão uma bíblia estava aberta no texto que dizia: Olhai para mim, e
sede salvos, todos os confins da terra. Em seu simples túmulo, estavam gravadas
as palavras: Aqui jaz o corpo de CHARLES HADDON SPURGEON, esperando o
aparecimento dos seu Senhor e Salvador JESUS CRISTO.
Em sua morte, vemos a mesma realidade de sua vida,
um grande testemunho à glória do Senhor Jesus!!!
Texto:
Diego Bitencourt
Fonte: Calvary Campo
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