Girolamo Savonarola, ou Jerônimo Savonarola como é conhecido, foi um dos
pré-reformadores cuja atuação específica foi na Itália. Nasceu em Ferrara, onde
seu avô paterno, um médico conhecido tanto por sua devoção quanto por sua
retidão moral, o educou. Deste avô recebeu princípios cristãos que o levaram,
ainda jovem, a unir-se à ordem dos pregadores de São Domingos, ou dominicanos.
Em pouco tempo, Savonarola se distinguiu por sua dedicação ao estudo das
Escrituras e pela santidade.
Depois de pregar em várias regiões do norte da Itália, chegou a
Florença em 1490, para servir como preletor público em San Marco, a pedido de
Lourenço de Médicis. Savonarola foi mestre de estudos no Convento Dominicano de
Bologna. As multidões logo foram atraídas a San Marco por causa de seus sermões
vivos e impactantes. Sua popularidade cresceu rapidamente e, em 1491, ele foi
convidado para pregar em Santa Maria das Flores, a igreja mais importante da
cidade. Savonarola pregou contra a corrupção que reinava em todos os níveis
sociais, e contra os impostos pesados exigidos por Lourenço de Médicis –
responsável por colocar Florença no epicentro do Renascimento. Por sua vez,
Lourenço contratou um pregador para atacar Savonarola do seu púlpito, mas sem
qualquer sucesso. Sua pregação não agradou aos poderosos locais, e Lourenço de
Médicis logo se arrependeu de tê-lo convidado a ser pregador em Florença.
Médicis tentou abafar a
voz do profeta de Florença, mas o monge
dominicano respondeu que ninguém podia mandar calar a Palavra de Deus. Poucos
meses depois Savonarola foi eleito prior de San Marco. Quando alguns frades lhe
disseram que era costume cada novo prior fazer uma visita de cortesia a
Lourenço de Médicis, para agradecer-lhe sua boa vontade para com a casa, frei
Jerônimo simplesmente contestou, dizendo que devia sua eleição a Deus e não a
Lourenço e, que por isso, iria se retirar para dar graças a Deus e se colocar
sob suas ordens.
Pouco tempo depois, Jerônimo mandou vender todas as propriedades do
convento para dar o dinheiro aos pobres. A vida dos frades passou a ser um
exemplo proverbial de santidade e serviço. O sonho de Savonarola era que San
Marco se convertesse em um centro missionário e, por conseguinte, eram
estudados no convento, além do latim e do grego, o hebraico, o árabe e o
caldeu.
Savonarola era um pregador profético. Seus sermões incluíam
predições para aqueles dias. Profetizou a invasão de Florença pelos franceses,
o que ocorreu dois anos depois. O cumprimento das profecias atestava o
ministério profético do frade e, por esta razão, muitos eram arrebanhados.
Savonarola previu que assim como os montes seriam jogados no fundo do mar,
também a frota que invadia Florença e uma esquadra da Santa Aliança seria
lançada ao mar. Pouco depois, uma tempestade imprevista destruiu a esquadra da
Santa Aliança, vários navios afundaram, e os invasores viram-se obrigados a
levantar o sítio. Isto trouxe não poucos problemas. Quando uma crise financeira
assolou Florença, não faltaram críticas pelo fato de Savonarola, o profeta, não
tirar Florença de seus problemas.
Não tardou para que o
Papa Alexandre VI, inconformado
com as mensagens de Jerônimo contra as injustiças e a imoralidade do clero,
enviasse bulas de excomunhão contra ele. Savonarola, com apoio do governo
florentino, não aceitou a excomunhão afirmando que não era válida, pois
baseava-se em supostas heresias que ele não pregara.
O Papa mandou Jerônimo calar, o que este fez provisoriamente; no entanto,
usou a imprensa para divulgar os seus sermões, cada vez mais virulentos contra
o clero. Pela primeira vez a imprensa fora usada como instrumento de propaganda
religiosa, pois os escritos eram lidos avidamente, tanto em Florença quanto
fora da cidade. Quando o Papa Alexandre VI tentou comprar o silêncio de
Jerônimo, oferecendo-lhe o chapéu cardinalício, Savonarola retrucou: “- Não quero outro chapéu que um vermelho:
vermelho de sangue”.
Após várias escaramuças, Savonarola foi preso e torturado. Três
julgamentos se seguiram e o frei dominicano foi condenado sem misericórdia. Não
havia ninguém que o defendesse. Fora cuspido, esbofeteado e humilhado com
palavras grosseiras, condenado como “herege cismático”, apesar de nunca terem
provado ou dito qual era a heresia pelo qual estava sendo acusado. Foi
enforcado juntamente com outros dois seguidores da “heresia de Savonarola”, e
depois queimado.
Fonte: Teologia e Graça
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