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sexta-feira, 29 de abril de 2016

A agulha e a tesoura


Você já parou para pensar que a grande maioria dos conflitos existentes no mundo poderiam ser apaziguados se os lados envolvidos parassem de gritar e começassem a ouvir ? O mesmo vale para nossas relações diárias, onde bastariam alguns minutos de boa conversa para evitar conflitos que se arrastam por horas.

Para ilustrar esta verdade, transcrevo aqui um texto retirado do livro “Histórias que Motivam” de Assis Almeida, intitulada “A Agulha e a Tesoura.”

Desde pequena, a moça se acostumara a conviver com tecidos, tesouras, agulhas e linhas de diversos padrões e cores. Sua mãe, exímia costureira, sustentava toda a família com muito trabalho e honestidade. A moça casara com um frio empresário que gastava as energias com os negócios e dava muita importância ao que ela nem sempre julgava essencial.

Já estava acostumada a ver o marido cortar os passeios com os filhos por um almoço de negócios, já não aguentava ouvir o marido falar em cortes, mudanças precipitadas… Isso sem falar nas inúmeras vezes que foi cortada ao tentar argumentar, discutir os problemas do cotidiano…

Numa rara noite em que todos estavam em casa, a caçula começou a implicar com o irmão. O pai, sempre ocupado, não suportava o barulho e sem querer ouvir ou entender a situação mandou as duas crianças para o quarto, sem conversa.

A mulher simplesmente pegou sua caixinha de costura com alguns retalhos e chamou o marido:

– Agora não, meu bem!

– Agora sim, querido!

O homem percebendo que não tinha escolha, sentou-se e ficou olhando os retalhos, a agulha, a tesoura, carretéis de linha sem nada compreender.

– Meu bem, para que serve a tesoura? – perguntou brandamente a mulher.

– Para cortar, aparar…

– E a agulha?

– Para costurar, ora!

– Você consegue fazer uma colcha de retalhos só cortando?

– Na verdade não faria de jeito nenhum – não sei costurar, lembra?

– Não estou brincando! Você já viu ou soube de alguma costureira que costura sem linha e agulha, só com tesoura?

– Claro que não, meu amor.

– Minha mãe me falou um dia, quando meu pai nos deixou, que nossa família era como uma colcha de retalhos. Cada um de nós era um retalho colorido. Para que nossa colcha fique sempre bonita precisamos usar a agulha e as linhas.

– E daí?

– Daí que você só sabe usar a tesoura. Corta nossos momentos de lazer, corta a minha palavra, corta o diálogo com as crianças. Você só separa, separa…

– Eu?

– Sim. Aprenda a unir nossa família. Aprenda a unir o seu trabalho à nossa família, unir os seus amigos aos meus… Qualquer dia você perceberá o quanto nos cortou de sua vida e talvez seja tarde.

O marido nada disse – sinal de que ia pensar, refletir. Mudanças demandam tempo.


– Não vou mais falar sobre isso. Só quero que você pense, tá? Estou no quarto das crianças. Vou costurá-las porque não quero dois retalhos tão importantes de minha vida separados. Boa noite!

– Boa noite.

Dali a meia hora o marido entrou no quarto em que brincavam as crianças, enquanto a mulher costurava uma bonita colcha de retalhos. A cena enterneceu o homem e o fez juntar-se aos três. Abraçou-os e os levou para jantar.




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