A Arca da Aliança era um
objeto sagrado que representava a presença de Deus no meio de seu povo, e fazia
parte dos utensílios desenvolvidos para compor o Tabernáculo. Dentro da
Arca, foram depositados três elementos de grande importância da fé judaica e de
simbolismo expressivo para todo cristão: a tábua contendo os dez mandamentos, o
cajado de Arão que milagrosamente floresceu e produziu amêndoas, além de um
jarro contendo porções do maná. Segundo as especificações divinas, apenas
os sacerdotes levitas podiam transportar a Arca. Qualquer pessoa que ousasse
tocar ou até mesmo olhar para dentro da Arca, era sumariamente executado
também. Exatamente por este motivo, a Arca era transportada pelas já citadas
varas e ficava repousada sobre um altar de madeira revestido de ouro e com uma
coroa de ouro ao lado.
Quando era autorizada
por Deus, a simples presença da Arca fazia com que os adversários temessem
grandemente o exército israelita. Porém, com o passar dos anos, Israel
transformou a Arca da Aliança num verdadeiro “amuleto”, levado à revelia para
campos de batalha, afim de assegurar vitórias milagrosas sobre seus inimigos.
Este ritual adentrou os anos, chegando aos dias do jovem profeta Samuel. Neste
período, Eli, e seus filhos Hofni e Finéias exerciam um sacerdócio displicente
e corrompido, provocando a ira do Senhor. Naqueles dias, Israel subiu a peleja
contra os filisteus, sem ao menos consultar os profetas para conhecer a vontade
de Deus. Próximo a Ebenezer, o exército de Israel foi surpreendido por um
ataque filisteu, que culminou na morte de quatro mil israelitas. Imediatamente,
os anciões concluíram que a grandiosa derrota era em decorrência da ausência da
Arca no campo de batalha. Os filhos de Eli se encarregaram de ir até Siló, e
mesmo com a objeção de Eli, e sem a autorização do Senhor, conduziram a Arca ao
campo de batalha. A chegada da Arca trouxe louvor ao arraial dos israelitas e
tremor aos filisteus, que chegaram ao consenso que a única forma de ter uma
chance contra o “Deus de Israel” era realizando um ataque imediato enquanto
Israel ainda festejava a chegada da Arca. A estratégia deu muito certo e em
poucas horas, cerca de trinta mil israelitas foram mortos, incluindo Hofni e
Finéias. Os sobreviventes fugiram em desespero e para piorar a situação, a Arca
da Aliança foi tomada pelo inimigo.
Os filisteus, orgulhosos
por sua vitória, levaram seu espólio mais preciso para a cidade de Asdode, e
colocaram a Arca da Aliança no templo de seu deus Dagon, um híbrido de homem e
peixe. Pela manhã, a imagem de Dagon estava caída defronte a Arca da Aliança. O
misterioso evento voltou a acontecer no dia seguinte, mais desta vez, a imagem
do deus fenício estava aos pedaços. Assustados, os filisteus retiraram a Arca do
templo e a colocaram em um edifício adjacente, porém os moradores de
Asdode foram atingidos com enfermidades muito aflitivas, mais precisamente,
terríveis hemorroidas. A Arca então foi enviada para Gade, porém a praga
também se alastrou por aquela cidade, e a Arca é imediatamente mandada para
Ecrom, onde uma infestação de ratos arrasa toda a terra.
Durante sete meses, a
Arca percorreu a Filistía, cujos moradores estão em polvorosa para se livrar
dela, porém, não existe registros de qualquer mobilização israelita para
recuperá-la. Os sacerdotes pagãos elaboram um plano engenhoso para dar a
correta destinação a Arca de Israel. Ela é colocada em um carro novo, que por
sua vez é atrelado a duas vacas, que não deveriam ser guiadas, mas sim escolher
o próprio destino. Os animais tomam o caminho de Bete-Semes, e ali, a Arca é
recebida com muita alegria pela família de um homem chamado Josué.
Esta ação fez com que a
praga cessasse sobre os filisteus e colocou os bete-semitas em estado de total
empolgação com a presença de objeto tão imponente. Porém, no afã de ver o que
havia dentro da Arca, os moradores daquela cidade removeram a tampa e olharam
para o interior da caixa, atitude esta que causou a morte de muitos habitantes
da região. Assustados, os sobreviventes enviaram uma mensagem à
Quiriate-Jearim, oferecendo para eles a oportunidade de hospedar a Arca. Foi um
levita chamado Abinadabe que recebeu a Arca em sua nova morada, e escolheu seu
filho Eleazar como o guardião da mesma. Ali, a Arca ficou guardada por
muitos anos.
Durante o tempo que a arca
ficou na casa de Abinadabe, Deus preparou o jovem Davi para reinar em Israel, e
após a sua ascensão, ele resolveu buscar a arca e levar a Jerusalém. Segundo a
Lei, a arca deveria ser conduzida nos ombros dos sacerdotes, e jamais em carro
de bois (I Crônicas 15:15). Davi anelava por Deus, queria sua presença, queria
que Jerusalém fosse inundada de graça. No entanto, ele agiu da mesma forma que
os filisteus; ele a puxou numa carruagem. O problema, é que no meio do caminho,
as rodas do carro se prenderam num buraco e a Arca ficou em iminente risco de
queda.
Uzá, ao tentar segurar a
Arca com suas próprias mãos, negligenciou o zelo de Deus. Como sacerdote, ele
sabia exatamente como proceder, mas foi conivente com desleixo demonstrado na
tentativa de levar a Arca para Israel. Todas as intenções eram boas... Davi
ansiava pelo retorno da presença de Deus. O povo desejava que a Arca
voltasse para casa. Os sacerdotes se apressaram para que nenhum minuto fosse
desperdiçado. Mas todos se esqueceram que não basta desejar a presença de
Deus... Antes é exigido preparo, cuidado e santificação. Deus não visita
casa bagunçada. Ele vem até seu povo, mas é necessário atender os pré
requisitos. Deus faz suas exigências e homem que deseja compartilhar de sua
presença precisa atender. Uzá se esqueceu disso, assim como nós nos esquecemos
também. A Arca não poderia ser guiada por bois, Uzá estava do lado da
carroça... Quando a Arca pareceu estar em risco de queda, ele se prontificou a
ampará-la, mas se esqueceu que Deus não necessita de mãos humanas para estar de
pé. Deus é bom, mas é justo... Deus é amor, mas também é zelo... É preciso
se atentar a estes detalhes, afim de preparar o ambiente para a chegada de
Deus. Caso contrário, colocamos nossa vida em perigo. Certa vez, ao ser
questionado sobre porque Deus matou Uzá, um rabino respondeu: A pergunta correta
não é porque Deus matou Uzá, mas sim porque nós continuamos vivos.
Abalado pela morte de Uzá, Davi
temeu. Então, guiado por Deus, ele conduz a arca para a casa de Obede-Edom e
volta com sua comitiva frustrada para Jerusalém. A tragédia que trouxe morte
para Uzá produziu vida para Obede-Edom. Parece que Deus havia tomado uma
decisão: “Ele nem habitaria na casa do sacerdote e nem tampouco habitaria com o
rei”. Era como se estivesse enojado com o sistema e a maneira cega que lhe
conduziam. Deus resolveu habitar na casa de alguém sem “status”, alguém que
estava fora de alcance para todos. Deus deixou de habitar com os nobres, para
transformar aquele que para todos era um anônimo. Obede-Edom significa: servo
de Edom.
Os edomitas eram descendentes
de Esaú, os quais Deus mandou exterminar da terra e os amaldiçoou. A tragédia
favoreceu toda a sua casa, um exemplo de graça onde jamais houve uma perspectiva
de mudança. Aquele era um momento de grande responsabilidade e extrema
oportunidade. A presença do Senhor que por tanto tempo estivera longe, agora
estava ali, disponível.
Quando ninguém queria
arriscar-se num compromisso tão radical com Deus, ele abre as portas de sua
casa e decide ser o modelo que aquela nação precisava. Obede-Edom teve coragem,
pois qual homem que assistindo ao funeral de alguém fulminado pela arca a colocaria
em sua casa?
Obede-Edom não somente
arriscou, mas teve a rotina de sua vida alterada. É impossível Deus entrar em
uma vida e as coisas continuarem do mesmo jeito. Foram três meses apenas, mas
três meses que marcaram a história. Poderíamos até conjecturar dizendo que: no
primeiro mês houve a restauração da vida sentimental de Obede-Edom, pois sua
mulher engravidou e gerou filhos; no segundo mês aconteceu a restauração
financeira, onde seu gado e sua hortaliça produziram absurdamente; no terceiro
mês sua vida espiritual deu uma guinada, e ele desejou deixar tudo para seguir
o caminho da Arca.
O mesmo Davi que designou a
arca para a casa de Obede-Edom, também o promoveu como homem de confiança do
tesouro do Santuário (II Crônicas 25:24). Segundo alguns estudiosos, o tesouro
do Santuário do Senhor que estava sob a responsabilidade de Obede-Edom
corrigidos para os nossos dias chegaria a cerca de três bilhões de dólares. A
grande lição da presença de Deus na vida desse homem está em como se conduzia
diante d’Ele. Para Obede-Edom sua maior riqueza era estar na presença de Deus.
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