Uma das mais conhecidas parábolas
de Jesus é sobre um pai e seus dois filhos. Eles formavam uma família feliz que
vivia em plena harmonia, até que o mais novo deles decide abandonar o lar para
conhecer o mundo. Com o coração pesaroso, o velho homem entrega ao seu caçula,
a parte da herança que lhe era de direito, e vê, com lágrimas nos olhos, seu
filho afastar-se rumo a uma vida de sonhos coloridos e enganosos. Enquanto o
moço vivia inconsequentemente, gastando todos os bens que herdou; o pai
mantinha plantão constante no portão da casa, com os olhos fixos na estrada,
certo que um dia o seu filho iria voltar. Com o passar do tempo, o dinheiro
acabou, e o pródigo se viu sozinho no mundo, desamparado e sentindo muita fome.
Quando chegou ao fundo do poço,
decidiu voltar para casa e pedir ao pai que o contratasse com um empregado, e
com este pensamento, começou a trilhar o caminho de volta. Quando ainda estava
longe de casa, o pai, que ainda aguardava no portão, o avistou e correu ao seu
encontro, abraçando e beijando carinhosamente o filho. Ele ordenou a seus
criados que dessem um banho no moço, cortassem seu cabelo e aparassem sua
barba. Deu a ele roupas limpas, sapatos novos e pôs em seu dedo o anel da
família. Então, o pai convocou uma festa para comemorar aquele esperado
reencontro.... Seu filho estava perdido, mas foi achado. Estava morto e reviveu.
A figura do irmão mais
velho e bastante incomodado com a festa é uma representação dos fariseus. Eles
acreditavam que eram perfeitos e preferiam antes a destruição de um pecador do
que a sua salvação. A parábola do filho pródigo nos fala mais do amor de um pai
que do pecado de um filho. Ela tem por base o perdão de Deus, que é estendido a
todo aquele que se arrepende de coração.
Segundo o doutor teólogo
Kenneth E. Bailey, na Palestina, pedir herança ao pai vivo era afrontá-lo.
Significava o mesmo que desejar sua morte. Outra grave afronta é que, pedindo parte
da herança, o pai deveria vender uma parte da fazenda, porque, segundo os
costumes da época, os funcionários ali residiam. Fica evidente que o pródigo
recebera tudo o que lhe cabia, não tendo mais direito a nada em termos de
herança. É por esse motivo que, ao “cair em si”, ele pensa em voltar como um
dos jornaleiros de seu pai. O escravo comum era em certo sentido um membro da
família, mas o jornaleiro podia ser despedido no dia. Não era absolutamente
alguém da família (Lucas 15:19).
O pai do filho pródigo
não lhe deu oportunidade de formular seu pedido, antes disso, ele o
interrompeu. A túnica simboliza a honra; o anel a autoridade, porque se um
homem dava a outro o anel com seu selo era como se o designasse seu procurador;
os sapatos diferenciam o filho do escravo, uma vez que os filhos da família
andavam calçados e os escravos não. Sendo assim, realizou-se uma festa para que
todos se alegrassem com a chegada do filho que se havia perdido.
Em momento algum são
citados os danos, os prejuízos ou o desequilíbrio moral do filho mais novo
(Lucas 15:20-24). O pai não lança em seu rosto os seus desvarios e, mesmo tendo
ele falhado e causado tantos danos à família, o pai o aguardava, acreditava em
sua restauração, o que demonstra um amor ilimitado por um filho que, na
interpretação de muitos, de nada era merecedor. Assim como o pai agiu com esse
filho, Deus também age conosco. É a misericórdia, a graça, o dom imerecido de
Deus que recai sobre todos os seres viventes. Assim como Deus age, temos também
que agir. Não precisamos buscar respostas, precisamos apenas obedecer. Essa é a
vontade de Deus (Efésios 2:8-9). Deus, na figura do Pai tem paciência com seus
filhos pecadores. O pai descrito na parábola é muito paciente com o absurdo que
o filho mais novo fez. Ele não estava preocupado com os bens materiais que se
perderam, mas com o crescimento do filho.
Esse pai soube esperar o
filho crescer e se arrepender de seus pecados. A paciência de Deus visa dar
tempo para cairmos em si e nos arrependermos dos nossos erros. Deus sempre nos
recebe de braços abertos quando somos humildes e nos arrependermos. Quando o
pai vê a volta de seu filho arrependido, manda preparar uma festa (Lucas
15:32).
Ao chegar do campo e ver
a música e as danças, o irmão mais velho ficou indignado. Sentiu-se injustiçado
e não acreditou que o pai fosse capaz de receber a seu pródigo irmão com uma
festa (Lucas 15:25-28). Ele não conhecia o poder do perdão. Em vez de se
alegrar-se, ficou enciumado, desprezando não somente a festa, mas a alegria de
seu pai. Sua mágoa era por causa do bezerro cevado. Era porque nunca teve uma
festa. Porém, ele nunca saiu do aprisco, nunca viveu os pesadelos e as
desventuras de seu irmão. Nunca perdeu tudo e mendigou, nunca foi escarnecido
por seus erros, nunca se expôs ao ridículo, nem esteve do outro lado.
É por isso que ele nunca
teve uma festa de reconciliação. O pai saiu de casa duas vezes. Primeiro, ele
saiu para receber um filho perdido e fazê-lo entrar em casa. Na segunda vez,
ele saiu para atender um filho problemático que não queria entrar. Esse filho
deveria estar ausente da casa há muito tempo porque uma festa não acontece da
noite para o dia. Geralmente, os maiores causadores de problemas sempre estão
fora da agenda da casa. Infelizmente, pessoas como esse filho preferem conviver
com a indignação do que entrar na casa (Lucas 15:28-29).
A misericórdia do Senhor surge
como um facho de luz em meio as trevas, uma segunda chance de vida no exato
momento que a mão da morte toca nosso pescoço. Por seu amor, Deus escolhe
suspender temporariamente a sentença que pesa contra o homem, NÃO lhe dando o
castigo do qual é merecedor. O profeta Jeremias louva ao Deus de Israel por
este gesto de benevolência quando diz que as misericórdias do Senhor são as
causas de não sermos consumidos, pois mesmo que não tenham fim, se renovam
todos os dias (Lamentações 3:22). Já o salmista Davi, consciente das
consequências de seus pecados, recorre ao único tribunal que pode modificar a
sentença lavrada ainda no Jardim do Éden: - Tem misericórdia de mim, ó Deus,
por teu amor, por tua grande compaixão, apaga as minhas transgressões, lava-me
de toda a culpa e purifica-me do meu pecado (Salmo 51:1-2). Só a misericórdia
de Deus tem a autonomia para suspender o julgamento que nos é devido, e
conceder ao culpado um perdão que ele não faz por merecer.
A “graça”, nada mais é
do que um favor imerecido, um presente pelo qual não esperamos, uma “promoção”
que não tencionávamos receber. Deus não nos deve absolutamente nada e não está
obrigado a nos conceder qualquer tipo de favor. Mesmo assim, além de nos livrar
da sentença merecida, o Senhor passa a conceder a seus servos bens e favores
que não mereciam receber. Alguém disse certa vez, que se Deus decidisse que a
partir de hoje não nos concederia uma única benção, fechando para sempre as
janelas dos céus sobre nossa vida, ainda assim, teríamos que agradece-lo uma
toda eternidade por tudo que já nos fez. Mas a graça do Senhor é tão intensa e
abundante, que ele continua vertendo mananciais de nossos ventres.
O filho pródigo entendeu
o conceito da misericórdia e a abraçou. Em seu julgamento prévio, ele havia
determinado que o máximo de benevolência que merecia ter era o posto de um
trabalhador esporádico na fazenda para a qual um dia deu as costas. Mas a
misericórdia do pai anulou o resultado deste julgamento, não concedendo a ele o
posto merecido, mas sim restituindo-lhe a condição de filho, mesmo que
aparentemente não houvesse justiça praticada ali.
A beleza da misericórdia
é exatamente a leitura que ela faz da própria justiça, já que é o credor quem
acaba pagando a própria conta, e logo, a dívida deixa de existir. O pródigo não
questionou a atitude do pai, ele apenas a aceitou de bom grado, consciente que
o mérito não estava nele (detentor de uma vida pregressa e pueril), mas sim no
amor incondicional de seu pai. Quem se deixa ser abraçado pela misericórdia,
passa a desfrutar da graça. Ao não nos dar o que era merecido, Deus substitui o
“presente funesto” por outros muito mais agradáveis e que sequer poderíamos
ousar sonhar. O filho que voltou para casa recebeu sua posição de volta, foi
ornado com jóias e celebrado com festas. Ele desfrutou de cada momento com
grande alegria, pois compreendeu que a “graça” impõem uma condição: ser aceita
sem questionamentos.
Enquanto o irmão mais novo sai de
uma vida de vergonha para um banquete, o mais velho fica travado na porta,
expondo sua indignação diante dos funcionários de seu pai. Seu pai usa de muita
sensibilidade no falar e, com muito amor, lhe convida a fazer parte da festa e
a se alegrar junto a ele (Lucas 15:32).
Em outras palavras, o pai está
dizendo: “Filho, você deveria estar feliz juntamente comigo; todos os de fora
estão alegres (Lucas 15:9, 10, 25). Você é irmão dele! Deveria abraça-lo,
chorar com ele. Dizer que sentiu muito sua falta, dizer que sentiu muito sua
falta, dizer que o perdoa e está feliz pelo seu retorno. Filho, você tem vida,
mas seu irmão estava morto. Será que você não possui sensibilidade? Filho, ele
já sofreu bastante, esteve longe de nós, quase comeu bolotas de porcos! Viveu
momentos de opressão, sentiu o sabor de derrota. Mas teve coragem de passar por
cima do fracasso, do orgulho e voltou para se reconciliar” (Romanos 8:31-39).
Enquanto ele discutia por um
bezerro, seu pai dizia: “Tudo o que eu tenho te pertence”. Em outras palavras:
“Você tem o mesmo direito potencial que eu tenho. Você é meu filho”. Essa
palavra também indica que o pai tinha esperança de que seu filho mais velho
tivesse sua essência, seu carisma, seu amor e sua compreensão. No entanto,
enquanto seu irmão reconhecia seus erros, se humilhava e voltava para pedir
perdão, ele buscava um reconhecimento pelos serviços prestados a seu pai (Lucas
15:29).
Isso o irmão mais velho nunca
entendeu. Aqui estão representados dois tipos de cristãos: os que procuram
acertar, reconhecendo seus erros e confessando seus pecados: e os que
justificam, cobrando os serviços prestados a igreja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário