Páginas

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Comedores de Maná



A peregrinação de Israel pelo deserto rumo à terra prometida, nos dá a exata dimensão do cuidado que Deus tem pelo seu povo. Durante quarenta anos, quando sua nação amada esteve mais exposta a toda sorte de perigo e privação, foi sua intervenção divina que providenciou abrigo, alimentação e vestimenta.

Muitos são os milagres registrados no Pentateuco, dos quais podemos destacar a presença visível da glória de Deus, os sinais portentosos manifestado contra os inimigos de Israel, a abertura do mar vermelho, roupas e sapatos que não envelheciam; a nuvem que proporcionava sombra e frescor durante o dia e se incendiava a noite para produzir luz e calor, água saindo de rocha e banquete de carne em pleno deserto.

Entretanto, o milagre que melhor evidência o mecanismo da provisão divina, é exatamente o Maná. A palavra maná no hebraico significa "man hû", e para alguns autores, sua raiz etimológica vem da sua analogia devido a aparência da “seiva de tamarisco” que no hebraico também significa (man hû).

Segundo relatado na história israelita, o Maná parecia uma pequena semente redonda e branca, que ainda sobre a terra, tinha uma aparência flocosa, semelhante a geada. Outras comparações dizem que o Maná era parecido com uma semente de coentro, e assim como o bdélio (uma espécie de resina aromática), tinha a aparência de pequenas perolas. Caía do céu à noite, entremeada com duas camadas de orvalho, e segundo a tradição judaica, ao paladar, ela se assemelhava ao sabor do alimento favorito de quem a provava, embora seja muito comum relatos de que seu gosto lembrasse bolachas de mel ou bolo doce de azeite.

Na culinária, o Maná tinha diversas aplicações, podendo ser moído, cozido ou assado, dependendo de como seria empregado na “receita”, mas também podia ser consumido em natura. 

Uma das características mais impressionantes do Maná, é que ele provia a quantia das necessidades nutricionais da pessoa com tanta precisão, que depois do consumo, o corpo não precisava gerar resíduos, o que contribuía em muito para a o bem estar sanitário daquela gente. O Maná também era dado em provisão diária, e não era permitido a estocagem do mesmo, pois quando guardado, se deteriorava em menos de 24 horas (exceção feita na passagem da sexta para o sábado). Assim, ninguém se alimentava de “pão amanhecido”, e a cada dia, uma nova provisão era derramada sobre o arraial, provando o cuidado diário de Deus com o seu povo.

Infelizmente este fato fez com que alguns dos israelitas ficassem um tanto enjoados com o chamado "pão do céu", chegando ao cumulo de o renomear com a alcunha “pão vil”. 

Segundo o rabino Yank Tauber, a provisão diária de Maná, deu ao povo tempo livre para se dedicar a outro tipo de alimentação: A Lei de Deus: Logo depois que o Maná começou a cair, recebemos a Torá no Monte Sinai. Durante as quatro décadas seguintes atravessamos o deserto, comendo o maná e estudando Torá. Isso é basicamente tudo que fizemos (quando não havia problemas). O Midrash vê uma conexão direta entre nossa dieta e nossa ocupação, declarando que "a Torá podia ser dada somente a comedores de maná".

Partindo deste princípio, podemos dizer que espiritualmente também somos “comedores de maná”, usufruindo da provisão diária do Senhor, o que nos permite empregar tempo e esforços no Reino de Deus, como veremos mais adiante.  Mas, sob nenhuma perspectiva analisada, o Maná pode ser entendido como um simbolismo para a teologia da prosperidade. A provisão diária era dada sob medida, e não era permitido excessos e nem mesmo estocagem de mantimento. Cada dia bastava por si só.

De uma forma bem pragmática podemos dizer que a porção derramada sobre o acampamento dos israelitas era tão precisa, que se a porção individual fosse respeitada, não haveria déficit e nem sobra. Isso acontecia para que o povo aprendesse a confiar na provisão diária do Senhor, pois se a alimentação do hoje era garantida, o amanhã estava literalmente nas mãos de Deus. O povo havia saído do Egito cheio de usos e costumes da cultura egípcia, onde na descrição de Deuteronômio 8:3, Israel foi humilhado e passou fome.  Assim sendo, Deus jamais falhou em fornecer o suprimento diário, e os israelitas tinham todas as manhãs um Maná fresquinho, sem haver necessidade de se comer “pão amanhecido”. 

Existe, porém, outro aspecto muito relevante nesta sistemática divina: o povo mantinha-se sempre alerta, e não adentrava a perigosa zona do comodismo. Com a manifestação sobrenatural do Maná, os israelitas não desenvolviam vínculos com uma terra que não era sua, e sem estabelecer áreas agrícolas para garantir o sustento, não havia necessidade de fixar moradia em casas de alvenaria, ou obrigações com os ciclos do solo. Assim, eles estavam sempre prontos para partir, obedecendo com agilidade a ordem provinda do Senhor para se mover.  

Qualquer semelhança com a vida de um cristão não é mera coincidência. Também somos um povo que necessita estar preparado para partir no exato momento em que a trombeta soar (I Tessalonicenses 4:17). Não haverá tempo de preparo e muito menos para desfazer vínculos terrenos. Exatamente por isso, Jesus nos aconselhou que nos preocupássemos primeiramente com o Reino, buscando incansavelmente sua justiça, sem se ater a frivolidades pertencentes a este mundo.

É claro que um cristão precisa ter vida social, trabalhar, estudar, constituir família, ganhar seu suado dinheirinho; mas nosso Mestre nos deixa inúmeras recomendações sobre buscar todas estas coisas com “moderação”.  Quando ensinou aos seus discípulos a oração modelo (conhecida como PAI NOSSO), Ele deixa muita clara a forma como devemos pedir e a “intensidade” proposta é um antídoto a ganância: O pão nosso de CADA DIA nos daí HOJE (Mateus 6:11).   Nem mais, nem menos. Apenas as necessidades diárias. 

Embora o cristianismo moderno “venda” um evangelho de “lucros” e “ostentação”, Jesus ensinou aos seus discípulos que o verdadeiro cristão, embora também precise de subsídios para viver, jamais prioriza ganhos e bens materiais. Lucas 10:1-11 relata o método usado por Jesus para ensinar na pratica esta verdade:

 Depois disso o Senhor designou outros setenta e dois e os enviou dois a dois, adiante dele, a todas as cidades e lugares para onde ele estava prestes a ir. E lhes disse: A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita. Vão! Eu os estou enviando como cordeiros entre lobos. Não levem bolsa, nem saco de viagem, nem sandálias; e não saúdem ninguém pelo caminho. Quando entrarem numa casa, digam primeiro: Paz a esta casa. Se houver ali um homem de paz, a paz de vocês repousará sobre ele; se não, ela voltará para vocês. Fiquem naquela casa, e comam e bebam o que lhes derem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem mudando de casa em casa. Quando entrarem numa cidade e forem bem recebidos, comam o que for posto diante de vocês.  Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: O Reino de Deus está próximo de vocês. Mas quando entrarem numa cidade e não forem bem recebidos, saiam por suas ruas e digam: Até o pó da sua cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vocês. Fiquem certos disto: o Reino de Deus está próximo.

O argumento definitivo que comprova a presença espiritual do Maná na vida do crente, esta no fato que mesmo sem “regalias” e “comodidades”, o cristão jamais será desamparado por Deus, que dia após dia suprirá suas necessidades. Mateus 6:25-34 registra uma das mais impactantes mensagens de Jesus (que de tão valiosa, também foi registrada em Lucas 12:24-31). Percebendo a aflição de seus discípulos com o limitado recurso financeiro do grupo, Jesus expõe para eles a fidelidade de Deus e ao mesmo tempo verbaliza uma das mais belas promessas da Bíblia: 

“Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? {Pois a todas estas coisas os gentios procuram.} Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo.  

Infelizmente, muitos não compreendem corretamente este texto, interpretando-o como uma promessa de prosperidade e sucesso financeiro, mas o contexto fala claramente sobre as necessidades básicas do ser humano: Comer, beber e vestir. A promessa aqui feita é muita clara, e consiste no fato de Deus assumir com o crente fiel, o compromisso de supri-lo em “todas essas coisas”.

Agora responda com sinceridade:

Você já comeu hoje?
Teve água para beber?
Está vestido no momento?

Se a resposta for sim para todas as perguntas, glorifique bem alto. Ele tem sido fiel em sua vida e o Maná ainda está caindo na sua casa.

Colaboração: Pb. Miquéias Daniel Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário