Tenho hoje 63 anos, mais ainda me lembro bem de minha infância. Meu pai
biológico abandonou minha mãe quando ela estava gravida, e depois que nasci, o
novo companheiro dela não aceitava seus filhos, e por isso, fomos enviados a um
orfanato.
Ao saber deste acontecimento, uma tia nos buscou para morarmos com sua família,
mas infelizmente, logo ela ficou viúva, e as dificuldades se acentuaram. Neste
tempo, meu pai reapareceu e nos levou para morar com ele, porém, não havia
estabilidade, pois mudávamos de casa em casa, sempre se hospedando em casas de
amigos.
Quando tinha sete aos anos, meu pai se casou novamente, e apesar de ter
uma madrasta, me tornei logo cedo numa dona de casa. Meu pai se mostrou muito
respeitoso como seus dois filhos e com os quatro enteados, e esta foi uma lição
que levei para vida: respeitar as pessoas.
Com nove anos de idade fui trabalhar de pajem, com doze anos já era a
responsável pela maioria dos afazeres domésticos, exceto cozinhar. Me casei
muito cedo, e com dezesseis anos já era mãe.
Apesar das dificuldades, mesmo sem conhecer Jesus, fiz um voto com Deus,
que independente do que acontecesse em minha vida, eu nunca iria abandonar meus
filhos, pois jamais deixaria que eles experimentassem da mesma dor que
experimentei por duas vezes, sendo abandonada por meu pai ainda no ventre, e
depois por minha mãe, que em decorrência de sua paixão por um homem, nos deixou
num orfanato.
No ano de 1984, eu já tinha cinco filhos, e neste tempo, fui acometida
de uma anemia profunda, que me levou para o Vale da Sombra da Morte, pois os
médicos me davam apenas três meses de vida. Eu era uma nova convertida, e pouco
entendia sobre o espiritual, mas com minha pouca fé, falei para Deus que não
queria morrer e deixar meus filhos desamparados, mas que fosse feita a sua
vontade.
Minha grande preocupação era dar aos meus filhos aquilo que nunca tive,
uma infância e uma adolescência feliz. Ao invés de brincar, tudo o que a vida
me ensinou na mais tenra idade foi trabalhar e rezar a deuses estranhos, depositando
minha fé em novenas e rezas com terços, carregando água de um lado para o outro
em épocas de estiagem. Esta era minha vida e tudo o que conheci do mundo.
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