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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Os "sem" igreja



Em 2012, o IBGE divulgou um estudo que levou a comunidade evangélica no país a um verdadeiro frenesi, afinal, havíamos crescido cerca de 62% em apenas uma década. Pela primeira vez na história, um órgão oficial apontava para uma tendência: A maior nação católica do mundo estava se tornando evangélica.

O primeiro culto evangélico realizado no Brasil aconteceu em 10 de março de 1557, três dias depois da chegada de missionários franceses enviados ao país por João Calvino. Em 1630, foi inaugurada a primeira igreja em terras brasileiras, filiada a Igreja Reformada Holandesa. Depois vieram os anglicanos, os luteranos, os metodistas, e em 1858, inaugurou-se a Igreja Evangélica Fluminense, a primeira no país no estilo congregacional.  Os próximos a se estabelecerem no país foram os presbiterianos, os batistas e os adventistas. Estas novas denominações são historicamente importantes, pois   investiram em educação cristã e na imprensa evangélica.

Em 1911, é inaugurada a primeira igreja pentecostal do Brasil, chamada inicialmente de Missão da Fé Apostólica, que mais tarde viria a se chamar Assembleia de Deus. Outras grandes denominações do gênero se estabeleceram nos anos seguintes, como a Igreja de Cristo Pentecostal no Brasil (1937), a Igreja do Evangelho Quadrangular (1951) e a Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962). A partir de 1977, com a fundação da Igreja Universal, deu-se início a um movimento chamado de neo-pentecostal (ou pentecostalismo moderno), cujos maiores expoentes são a Igreja Internacional da Graça (1980) e a Igreja Apostólica Renascer em Cristo (1986). Mais recentemente, as comunidades evangélicas também se mostraram um segmento bastante atrativo para novos crentes (Sara Nossa Terra, Projeto Vida, Fonte da Vida, Igreja Mundial do Poder de Deus, Bola de Neve Church, Plenitude do Trono de Deus, entre outras). Calcula-se que hoje, a cada quatro brasileiros, um seja evangélico, e as projeções mais otimistas indicam que até 2022, já seremos pelo menos metade da população brasileira.

Porém, mesmo com tamanha variedade de denominações, gêneros e estilos eclesiásticos, nos últimos anos tem crescido exponencialmente o chamado MSI “Movimento dos sem igreja”, formado por antigos adeptos de diferentes denominações, que optam por servir ao Senhor sem participar de nenhuma comunidade eclesiástica, cultuando apenas em casa, ou em pequenos grupos familiares. Com isso, desvinculam-se completamente de qualquer igreja. A grande maioria dos adeptos deste movimento alegam decepção com as instituições evangélicas e seus líderes, bem como a cristandade em geral.  É claro que o movimento desperta críticas severas a sua ideologia, pois historicamente, o cristianismo tem sido praticado em comunidade, já que a igreja é identificada nas escrituras como sendo o “Corpo de Cristo”, assim, qualquer membro fora do corpo, estaria fadado a aniquilação (I Coríntios 12:27).

Segundo o respeitado site de estudos Got Question, a Bíblia ensina que precisamos ir à igreja para que possamos adorar a Deus com outros crentes e ser instruídos em sua Palavra para nosso crescimento espiritual (Atos 2:42; Hebreus 10:25). A igreja é o lugar onde os crentes podem amar uns aos outros (I João 4:12), exortar uns aos outros (Hebreus 3:13), “estimular” uns aos outros (Hebreus 10:24), servir uns aos outros (Gálatas 5:13), instruir uns aos outros (Romanos 15:14), honrar uns aos outros (Romanos 12:10) e ser bondosos e misericordiosos uns com os outros (Efésios 4:32).

Servir ao Senhor e prestar-lhe culto é um exercício diário, praticado inclusive na solitude do próprio quarto (Mateus 6:6). Entretanto é inegável que o fato de estar congregando junto a irmãos de fé, é uma atividade de vital importância para a vida espiritual do crente, pois o templo sempre foi um catalisador de nossa espiritualidade. Quando lemos o Salmo 73, encontramos Asafe lutando sozinho com seus dilemas e questionamentos espirituais, e o resultado quase é uma tragédia pessoal (versos 2 e 3). Em sua solidão, o salmista se mostra fraco para lidar com questões complexas, como o senso de justiça humano em paradoxo com a justiça divina, e em decorrência destes dilemas, ele vê a própria fé se extinguir (versos 4-14). Seu coração apenas se aquieta quando ele toma a atitude de se levantar e ir ao "santuário", e é na Casa de Deus, que Asafe encontra as respostas que procurava (versos 16 e 17). Foi no templo que sua fé se fortaleceu, o mesmo efeito experimentado por Ana em I Samuel 1.

A vida em comunhão no templo é amplamente aconselhada pelos escritores neo-testamentário, que ressaltam inclusive os benefícios terapêuticos da união fraternal (Romanos 12:15 / Tiago 5:16). Então, ao invés de evitar a comunhão do Corpo de Cristo em nome da justiça própria, o cristão deve sempre priorizar a vontade do Senhor Jesus, que era ver a sua igreja unida como um organismo único e funcional (João 17:11).

Assim, agindo de modo a agradar a Cristo, certamente seriamos menos amargos e rancorosos, e ao invés de criticar as instituições e seus adeptos, agradeceríamos a oportunidade de poder prestar um Culto ao Senhor, em comunhão com os demais irmãos de fé, sendo realmente Família de Deus na terra. Que Deus preserve em nós o mesmo sentimento de Davi, cujo coração saltava de alegria mediante um simples convite para participar de um culto em sua igreja (Salmo 122:1).

Pb. Miquéias Daniel Gomes

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