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terça-feira, 30 de maio de 2017

Quarenta anos no deserto



Depois dos eventos ocorridos em Cades- Barnéia, quando já na fronteira de Canaã, os israelitas temeram os cananitas e, por medo, desprezaram a terra prometida, Deus os fez retornar até o Mar Vermelho, para dali, tomar um novo caminho. Desde a saída do Egito, Deus havia colocado sobre os viajantes uma grandiosa nuvem que lhes proporcionava sombra no meio do deserto.

Durante a noite, miraculosamente, a nuvem se transformava numa coluna de fogo, que fornecia luz e calor. Até Cades-Barnéia, a nuvem acompanhou o povo na direção que escolheram seguir. Agora, na nova rota, eram os israelitas que teriam de seguir a nuvem, acampando onde ela parasse, e se locomovendo quando ela se movia, sem avisos prévios. Este trajeto durou quarenta anos, e o propósito desta longa jornada, era eliminar a geração que saiu do Egito, a mesma que se negou a entrar na terra da promessa por temer os gigantes (Números 13-14). 

A incredulidade de Israel no livramento do Senhor, ofendeu grandemente ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. A ira do Todo Poderoso se levantou contra aquela gente ingrata, que menosprezou as promessas e escolheu retroceder. E se existe uma ação humana que fere a honra do Senhor, é exatamente olhar para traz, ignorando o histórico da fidelidade que Deus estabelece em suas relações (Hebreus 10:38).

De imediato, o Senhor desejou exterminar toda aquela geração através de pragas e pestilências, e iniciar em Moisés, uma nova nação, ainda mais forte e poderosa (Números 14:11-12). Moisés, então, clamou pela misericórdia do Senhor, e por amor a seu servo, Deus não destruiu aquela gente. Mesmo assim, deixou muito claro que, dentro todos os israelitas que saíram do Egito com mais de 20 anos, apenas Josué e Calebe entrariam em Canaã (Números 14:22-24).

Poucos são os registros históricos deste período. Os quarenta anos de peregrinação estão resumidos em Números 16-33, e mesmo assim, este breve relato nos deixa evidências da dureza do coração daquela gente, ao ponto de Deus se retirar do meio deles. Assim que chegaram ao Mar Vermelho, o povo se reuniu para ouvir Moisés explanar novamente os principais pontos da lei. Dali, seguiram para o deserto de Sim, Dofca, Alus e Redifim, até chegaram ao deserto do Sinai. Era apenas o começo daquela jornada disciplinadora, que visava limpar a nação de corações ingratos e endurecidos (Números 33:11-15). 

Um dos primeiros eventos deste período é exatamente a rebelião liderada por Coré, Datã e Abirão, que se levantaram contra Moisés e Arão, requerendo para suas famílias, posições privilegiadas e postos elevados de liderança. Inflamados, os levitas se revoltaram exigindo para si status de sacerdotes. Mais de 250 chefes tribais se aliaram a rebelião, requerendo para cada um, a liderança de Moisés. Com mais da metade da nação apoiando o levante, Deus precisou intervir e destruir os cabeças deste motim político-religioso. Num único dia, mais de 14.000 homens morreram (Números 16). 

No deserto de Zim, Moisés viveu duas experiências desagradáveis. Primeiro, perdeu sua irmã Miriã, que ali faleceu e foi sepultada. Ainda enlutado, enfrentou um novo levante popular, desta vez, porque o povo não tinha água para beber. Depois de clamar ao Senhor, Moisés foi orientado a reunir os israelitas juntos a uma rocha de Meribá, e então, diante de todos os olhos, falar com a rocha, afim de que a mesma vertesse água. Com as emoções afloradas, Moisés corrompe está ordem, e perante todo o povo, bate violentamente na pedra. É possível perceber nas entrelinhas, que naquele momento, Moisés se deixa dominar pelo ego, e transforma um milagre proveniente de Deus, numa mágica performance de autoafirmação. Moisés tomou para si uma glória destinada a Deus, e este erro, custou sua entrada em Canaã (Números 20:10-11 / Deuteronômio 32:48-52).

Ao longo deste caminho, Deus sempre cuidou dos israelitas. Enquanto os mais velhos morriam, novas crianças nasciam, e mesmo com toda uma geração sendo enterrada nas areias, a nação ficava cada vez maior e mais forte. As roupas e os sapatos cresciam no corpo e não se gastavam. Pés e pernas não se inchavam mesmo após longas caminhadas. Inimigos surgiam e eram milagrosamente derrotados. Deus cuidava do seu povo a todo instante, fazendo chover pão do céu e brotar água de rochedos.

Mesmo assim, muitos ainda ansiavam por voltar ao Egito, e murmuravam contra as provisões de Deus. Por isso, próximo a terra de Edon, Deus enviou ao arraial uma praga de serpentes venenosas, e mais uma leva de murmuradores pereceu (Números 21:4-9). Em Baal Peor, alguns israelitas foram influenciados pelos ensinos perniciosos de Balaão. A desobediência aos mandamentos do Senhor culminou em mais uma tragédia nacional, onde uma nova praga matou mais de 24 mil homens desobedientes (Números 25).

Após derrotar medianitas e moabitas, Israel estava de volta ao limiar da terra prometida. Quarenta anos depois, Canaã surgia diante dos olhos da nação. Milhares de corações ingratos ficaram para traz, sepultados nas areias do deserto. Uma nova geração estava pronta para conquistar e habitar na terra. Então, Moisés reuniu seu povo para uma última conversa, onde os instruiu acerca dos mandamentos do Senhor, relembrou os feitos portentosos de Deus, e os alertou sobre os erros de seus pais. Eles deveriam olhar para o passado, afim de construírem um futuro diferente das gerações que se perderam em suas incredulidades e ingratidões.

Pb. Miquéias Daniel Gomes


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