O choro daquele bebê ecoou pela tenda, enchendo o coração do velho Jacó
de uma alegria que jamais sentira antes. Não se engane, ele não é um pai de
primeira viagem, aliás, muito longe disto, já esta no seu décimo primeiro
filho, mas este é especial...
É filho de Raquel, a esposa que ele verdadeiramente ama... É fruto de um
milagre, pois sua mãe não podia gerar filhos... É o caçulinha da família, o
filho da velhice do seu pai.
José, portanto, torna-se o centro das atenções, recebendo todo mimo
possível e desfrutando de privilégios que o destacam dentre os demais e ao
mesmo tempo o afasta de seus irmãos. Com o tempo ele se torna uma persona não
grata, visto pelos outros filhos de Jacó, como uma ameaça aos hábitos por eles
adquiridos, já que José espionava seus irmãos, a fim de contar para seu pai
qualquer “deslize” por eles cometido. O mal estar na família só fez aumentar
quando Jacó presenteou seu filho favorito com uma túnica multicolorida, o que
agora evidenciava visivelmente, como ele era “diferente” dos demais. Se isso
não bastasse, o jovem José passa a ter sonhos onde vislumbra um futuro onde
toda sua família se ajoelharia perante ele.
Ruben, Simeão, Levi, Judá, Gade, Aser, Issacar, Zebulon, Dã e Naftali,
começaram então a tramar um plano para se livrar do irmão desagradável. Quando
José chega para fiscalizar seus irmãos, ele é agarrado e jogado em um poço
vazio, para aguardar a sentença que determinaria seu destino. Ali, confuso
e assustado, José grita por socorro, mas seus irmãos escolhem não ouvir, e aos
poucos sua voz enfraquece, para finalmente ser sufocada pela discussão que
aflora entre seus algozes:
- Ele deve morrer!
- Sim concordo... Ele tem
sido uma desgraça para nós...
- O seu sonho é nos ver
de joelhos aos seus pés...
- Ele vive em um mundo de
sonhos, enquanto nós nos matamos de trabalhar...
- Morte a José!
- Mas gente, ele é nosso
irmão...
- Meio irmão apenas!
- Depois que ele nasceu,
nosso pai deixou de nos ver como filhos...
- Isto mesmo! José se
acha o último biscoito do pacote!
- Vamos mata-lo!
- Calma gente... O que
diremos ao nosso pai?
- Que uma fera do campo o
matou.
Depois de muita confabulação, os irmãos optam pela sugestão de Ruben, e
decidem vende-lo aos mercadores ismaelitas que rumavam para o Egito. Com o
plano posto em prática, eles se livraram de José, teoricamente não sujaram a
mão com o sangue de seu irmão e ainda lucraram três moedas de prata para cada
um...
- E qual história
contaremos em casa?
- Ora... Um garoto magro é presa fácil para um lobo faminto, não?
A atitude dos irmãos de José foram odiosas e cruéis, trazendo dor e
sofrimento para todos os envolvidos, motivadas por um único sentimento pernicioso:
A Inveja.
Ela é considerada por muitos estudiosos como uma das enfermidades da alma
mais danosas, trazendo terríveis consequências, tanto ao invejoso quanto ao
invejado. Em muitos casos, ela se torna um problema grave, apresentando-se de
uma maneira patológica.
À luz da Palavra de Deus, aprendemos que somente em Cristo Jesus,
encontramos forças para vencer esse terrível e destrutivo mal.
O Conceito de Inveja segundo a Psicologia
Segundo o dicionário Aurélio, inveja é desgosto ou
pesar pelo bem ou felicidade de outrem, um desejo violento de possuir o bem
alheio. Em outras palavras, é um sentimento que faz com que o indivíduo
enxergue o que o outro tem de bom, com olhos maus. Logo,
aquele que nutre um sentimento de mal-estar pela felicidade dos outros, ou um
desejo incontrolável de estar no lugar dessas pessoas, está sentindo inveja.
A
expressão deste sentimento raramente é verbalizada e se expressa geralmente
pelo olhar. Afinal, quando se deseja algo, o primeiro botão acionado é a visão,
e a cobiça passa primeiramente pelos olhos. Redes sociais, como o Facebook, são
ferramentas ideais para os invejosos, pois potencializam o exibicionismo dos
usuários. E como a inveja raramente é declarada, quem não suporta o sucesso
alheio exposto na internet, pode corroer-se internamente, escondido atrás do
computador. Quem inveja sofre mais do que quem é objeto dela. Contudo, ambas as
partes precisam rever sua postura, já que um expõem desnecessariamente sua vida
e o outro cobiça uma vida que não é sua.
Para a psicologia
científica, há duas formas de inveja que se apresentam desenvolvendo diferentes
sintomas: a chamada inveja construtiva / criativa e a inveja destrutiva.
Inveja Construtiva
ou Criativa
Esse tipo de inveja, segundo a psicologia científica, ocorre quando a
visão ou o reconhecimento dos bens, posses e qualidades de uma pessoa, desperta no outro o desejo de também os
adquirir para si, por meio de um esforço, baseado no seu próprio mérito. Esse
desejo pode despertar o que é chamado de “face oculta da competitividade”, isto
é, o desejo de excelência em relação ao outro, de provar que também é capaz.
Alguns especialistas afirmam que tal postura é um virtude individualista.
No entanto, vale ressaltar que alimentar esse tipo de sentimento é extremamente
perigoso, porque se corre um alto risco de o invejado estendê-lo a outros objetos
ou situações, tornando, portanto, em algo incontrolável e sem domínio.
Inveja destrutiva
A inveja destrutiva tem resultados extremamente danosos ao homem. O
invejoso, em muitos casos, por não conseguir ter o que o outro possui, procura
insanamente destruir aquele que é o alvo da sua inveja. A história relata um
caso muito conhecido de dois homens brilhantes dentro de suas especialidades: Salieri
e Mozart. Ambos foram músicos habilidosos e admirados por muitos. Porém,
Salieri, ao perceber a incrível criatividade musical de Mozart, conhecido em
sua época, como um gênio da música, desenvolveu em si um extremo desejo de
destruí-lo. Movido por esse sentimento destrutivo, Salieri se esqueceu de sua
tremenda capacidade musical, deixando de aplicar e investir melhor em seu
talento. Provavelmente se o músico tivesse tido outra postura, hoje, assim como
Mozart, também seria lembrado com destaque.
O Conceito de Inveja segundo o
Cristianismo
Para o Cristianismo, ao contrário da psicologia, nenhum tipo de inveja
pode ser considerada construtiva ou positiva, já que é um sentimento desprovido
de amor e acompanhado pelo ódio. Biblicamente a inveja é tratada como um
sentimento faccioso e destruidor que, assim como o câncer, nasce no interior do
homem e espalhando-se, o contamina completamente, tornando-se em podridão para
os seus ossos ( Tiago 3:14-16 e Provérbios 14.30). Um exemplo claro deste
cenário é descrito em I Samuel 18, quando Saul, por inveja, ficou tão
concentrado em destruir Davi que se esqueceu do próprio reinado.
No Novo Testamento, ela é identificada como um sentimento anticristão,
quando o apóstolo Paulo escreveu em I Coríntios que as dissensões e as invejas
são sentimentos pertinentes a homens carnais, e que não podem existir em alguém
que se tornou espiritual e vive por Deus (3:3).
Aqueles que são corroídos pela inveja, só poderão eliminar este grande
mal de suas vidas, quando o amor de Deus irradiar diariamente em seus corações.
Os Malefícios da Inveja
A inveja é uma grave enfermidade que pode destruir muitas vidas, já que
os invejosos patológicos não medem as consequências de seus atos. A inveja é a arma utilizada pelos fracos que não sabem lutar
pelos seus sonhos e consequentemente ocupam seu tempo tentando afetar
negativamente o sonho de terceiros.
Infelizmente, em meio aos cristãos, há situações em que ministérios
brilhantes são destruídos em decorrência da inveja. Tais ministérios são interrompidos por
invejosos patológicos que muitas vezes, não precisam ter o que outro possui,
até porque já detêm mais do que o invejado, todavia, permitem serem tomados por
este terrível mal.
O sábio Salomão classificou a inveja como podridão dos ossos, numa clara
explicação que este mal começa a corroer o indivíduo de dentro para fora agindo
como um câncer silencioso e incrivelmente destruidor. O tratamento deve ser
buscado imediatamente para que se possam evitar danos ainda maiores.
Lições aprendidas com os Invejosos da
Bíblia
A Bíblia descreve a história de José, um jovem que sofreu grandemente
pela inveja de seus irmãos. Podemos afirmar ser esse o maior caso de inveja
patológica das Escrituras. Casos ainda, como o ocorrido com Moisés, um líder
escolhido por Deus para retirar o povo de Israel do Egito e Davi, um rei
chamado e aprovado pelo Senhor para estar à frente do povo de Deus, foram
descritos para despertar a cada um de nós quanto aos perigos e consequências de
um coração invejoso.
Os irmãos de José
são surpreendidos
Na história de José, vemos que o tratamento diferenciado de Jacó, em
relação aos seus irmãos desencadeou o sentimento maléfico da inveja e José
sofreu as mais duras perseguições e desmandos por ter de seu pai um tratamento
especial em detrimento de seus irmãos. Pode ser que a atitude de Jacó tenha
contribuído para agravar o ódio e ciúme dos seus demais filhos para com José,
seu filho amado. O próprio José também contribuiu para o crescimento desse
sentimento, afinal quando revelou seus sonhos aos irmãos, ele acendeu, ainda
mais, a ira e o ódio no coração deles (Gênesis 37:3-9). Por isso, é preciso
cautela ao revelar nossos sonhos àqueles que não possuem a visão de Deus, pois,
às vezes, somos responsáveis em acentuar a inveja desferida contra nós, uma vez
que não tomamos cuidados com o que falamos.
Após levarem seus atos até as últimas consequências, os irmãos de
José, em nenhum momento, pensaram no mal que estavam fazendo. Porém
Deus transformou o mal em uma grande benção, tanto para toda
sua família quanto para a preservação do povo de Deus. José foi de
adolescente desprezado à governador de todo o Egito. Isso provou a seus
irmãos que a inveja não pode afastar e nem impedir as bênçãos do Senhor, e os invejosos puderam ver o quanto José era amado pelo Deus de Abraão,
Isaque e Jacó; quando finalmente se curvaram aos pés de seu irmão rejeitado, e
consequentemente diante da vontade deste grandioso Deus.
Este exemplo também nos deixa a lição que em alguns casos, quando um irmão,
se destaca no ministério, é natural que ele passe a sofrer algum tipo de ação
de invejosos. O seu líder, ciente de seu potencial, precisa agir de imediato em
sua defesa, mas deve ter sabedoria suficiente para administrar a situação, sem
que isso fique visível aos olhos do invejoso, evitando assim maiores prejuízos
para o seu escolhido.
Arão e Miriã são
reprovados
A história de Moisés apresenta semelhança com a de José quanto á inveja, pois
os invejosos também são os próprios irmãos: Arão e Miriã.
Após ser chamado por Deus para libertar o povo de Israel do julgo de
Faraó, Moisés retornou ao Egito e cumpriu o mandamento que o Senhor lhe houvera
ordenado. A princípio, ele contou com o apoio irrestrito de seus irmãos, porém,
após o casamento de Moisés com uma mulher cuxita, ele sofreu terríveis
perseguições. Arão e Miriã se levantaram contra seu irmão, alegando que o
casamento de Moisés era ilegal e afirmando serem também usados por Deus. Mas na
verdade, a insubordinação de Miriã e Arão era reflexo da inveja destrutiva
existente em seus corações (Números 12.1-2). Moisés havia sido escolhido por
Deus para liderá-los, e eles achavam que também poderiam ser como ele. Na prática, O casamento de Moisés não era
ilegal e nem imoral diante de Deus, assim, o argumento apresentado não passava
de um pretexto para encobrir a inveja que Arão e Miriã nutriam devido á
autoridade de Moisés, e ao mesmo tempo que os dois irmãos tentaram diminuir o
valor do líder de Deus perante o povo, apresentavam-se, como pessoas usadas
pelo Altíssimo e que poderiam ocupar seu lugar na hierarquia.
Deus não se agradou das palavras de Miriã e Arão. Ambos foram confrontados pelo Senhor, que evidenciou o
fato de falar com eles apenas por visão e sonhos, no entanto, com Moisés, Ele
falava pessoalmente. Durante este confrontamento, Miriã ficou leprosa e Arão imediatamente reconheceu o seu erro,
pedindo misericórdia ao próprio Moisés, que intercedeu por ele ao Senhor (Números
12.4-11). Embora a inveja possa atingir e prejudicar a pessoa invejada, sua
ação, na maioria das vezes, causa maiores danos ao invejoso.
Saul perde tudo o
que tem
Após a vitória de Davi, contra o gigante Golias e o exército dos
filisteus, o rei Saul deixou se levar por um forte sentimento de inveja (I Samuel
18.7-8). Sendo Davi um homem segundo o coração de Deus, ficava claro para Saul
que seus dias de reinado estavam contados. Cego pela inveja, Saul não foi capaz
de enxergar que a sua desobediência era a verdadeira causa da rejeição de Deus
ao seu reinado, e não a predileção do Senhor por outro rei (I Samuel 13.14).
Assim, ele consumiu seus últimos dias de vida perseguindo ferozmente o jovem
Davi. Lamentavelmente, há pessoas que ao, perceberem que seu tempo de liderança
está chegando ao fim, passam a buscar motivos para destruir aquele que está
mais próximo no processo de sucessão. Por diversas vezes, Saul buscou matar
Davi, e por inveja da comunhão que o jovem harpista tinha com Jeová, ele
mesmo perdeu todas as oportunidades de aproximação espiritual que Deus lhe
proporcionou. Após as muitas investidas do rei rejeitado contra o rei ungido,
Saul foi derrotado e Davi coroado rei sobre Israel, evidenciando mais uma vez,
que aquele que age motivado pela inveja, acaba se deparando com um futuro
sombrio e desolador, onde as sementes negativas plantadas, produzem cardos,
espinhos e frutos amargos.
Esta história nos mostra que uma posição de comunhão com Deus pode também
ser motivo de perseguição e inveja, entretanto não pode ser motivo para o
invejado mudar a sua conduta em relação ao Criador. Pelo contrário, deve este
se aproximar mais de Deus para que possa ser protegido.
Deus cuida do que é seu
Em Cristo, encontramos o cumprimento de todas as promessas de Deus para vida do homem. Assim, temos que sempre nos aproximar o máximo Dele, para que sentimentos como este não venham entrar em nossos corações e, com isso, venhamos caminhar para destruição. Afinal, Deus tem um propósito especifico para cada um de nós, e quando abandonamos nossas próprias metas, visando impedir que outros alcancem as suas, nosso futuro será de ruína e desolação. Em todos estes relatos, é nítido a ação e o controle de Deus
sobre toda e qualquer situação contrária em relação a seus filhos.
Os irmãos de José viram se cumprir os sonhos dele e ficaram sob o seu
governo.
Arão e Miriã viram que o poder de Deus continuava operando através de Moisés.
Saul por desobediência limitou seus dias sobre a terra.
Inveja é um sentimento desprovido de amor, por isso, jamais deve habitar
o coração dos servos de Deus; visto que ela é a fonte de muitos males e ainda
um atributo de Satanás. Logo somente em Cristo Jesus o homem encontra forças
para libertar-se deste terrível mal. A inveja traz inúmeros males a todos os
que se veem cercado por ela, entretanto é claro que o maior prejuízo virá sobre
a vida daquele que não reconhece suas ações maléficas e, cegos pelo pecado, não
externam arrependimento, pois só através dele se alcança libertação.
O texto sagrado nos assegura que estamos protegidos pelo Senhor, e a
estes que nos invejam está garantida um recompensa:
Eis que, envergonhados e
confundidos serão todos os que se indignaram contra ti; tornar-se-ão em nada, e
os que contenderem contigo, perecerão. (Isaías 41:11).
Texto Áureo
O coração com saúde é a vida da carne, mas a inveja é a podridão dos
ossos.
Provérbios 14:30
Verdade Aplicada
A inveja nasce de um coração mal, torna-se um vício, e dela pode
originar-se muitos outros males.
Texto de Referência
Salmo 91:1,2,3,10 e 11
Aquele que habita no
esconderijo do altíssimo, á sombra do Onipotente descansará.
Direi do Senhor: Ele é o
meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.
Porque ele te livrará do
laço do passarinheiro e da peste perniciosa.
Nenhum mal te sucederá,
nem praga alguma chegará á tua tenda.
Porque aos seus anjos
dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus Caminhos.
Para conhecer mais profundamente o conceito de inveja em diferentes meios, suas consequências e como se livrar deste mal; participe neste domingo (01/06/2013), da Escola Bíblica Dominical.
Fonte:
Revista Jovens e Adultos nº 91
Enfermidades da Alma : Editora Betel