No capítulo
12 de sua primeira carta aos coríntios, o Apóstolo Paulo trata com profundidade
o tema “dons espirituais”. Neste texto específico, ele identifica nove
diferentes manifestações sobrenaturais que o Espírito Santo realiza no seio de
sua igreja por meio de ferramentas humanas: Palavra
de Sabedoria, Palavra do Conhecimento, Curas, Operações de Maravilhas, Profecia,
Variedade de Línguas, Interpretação de Línguas e Discernimento dos Espíritos
(I Coríntios 12:9-10).
(I Coríntios 12:9-10).
Para fins acadêmicos, é conveniente agrupa-los em três categorias
distintas mediante a característica de cada um: Dons de Revelação, Dons de Poder e Dons de Inspiração. É até
de fácil compreensão, a funcionalidade de cada um, exceto quando falamos de
Palavra da Sabedoria e Palavra do Conhecimento, já que neste caso, defini-los
pode sim gerar certa confusão.
É comum, principalmente em meios pentecostais,
deparamos com declarações como: “Aquele pregador
tem o dom da revelação”, e logo se assimila tal ferramenta espiritual com a
capacidade que certos ministros têm para identificar na congregação pessoas que
estejam com algum tipo de dor, causa na justiça e até mesmo pecado escondido, e
assim convidá-los a receber uma oração de cura e livramento, ou convocá-los a
um concerto. Embora este tipo de manifestação, quando genuína, realmente é fruto
de uma ação espiritual, os chamados DONS DE REVELAÇÃO vão para muito além disso
e são manifestos de forma que por vezes passam desapercebidos pelos olhos e
ouvidos incautos. São eles: Palavra da
Sabedoria, Palavra do Conhecimento e Discernimento do Espírito.
Não
falaremos aqui sobre o Discernimento de Espíritos, que é um Dom cuja explicação
de sua funcionalidade já está explicita na própria nomenclatura, mas nos
focaremos em diferenciar com praticidade o que é Palavra da Sabedoria e Palavra
do Conhecimento.
O que é Palavra de Sabedoria?
Você
já se deparou com uma pergunta tão ambígua e ameaçadora a ponto de pensar “como
vou sair dessa?”
Pois bem, Jesus enfrentou diversos momentos assim.
No
deserto, em plena tentação, Satanás aparece a Ele e lhe propõem diversos
desafios que provavelmente nos derrubariam com muita facilidade... Aproveitando
da fome de um Cristo humano já há dias sem se alimentar, ele o constrange a
transformar pedra em pão, ao que tem como resposta um atordoante “as escrituras dizem: nem só de pão viverá o
homem, mas sim de toda palavra que sai da boca de Deus...”
O que
Satanás tem de perversidade, ele tem de persistência e tenta convencer Jesus a
saltar de uma grande altura, a fim de testar a agilidade de seus anjos num
possível resgate. Recebe outra resposta acachapante: “as escrituras dizem: não devemos atentar ao Senhor nosso Deus”.
Em uma
ultima tentativa, o tinhoso tenta convencer Jesus a adorá-lo em troca de
riquezas e poder. Mas uma vez o intento do inimigo é esmigalhado por uma
citação sagrada: “as escrituras dizem: somente
ao Senhor teu Deus adorarás...” (Mateus
4:3-10).
Repare
que Jesus não “inventou” absolutamente nenhuma destas respostas. Ele apenas
usou as escrituras de forma pontual, na hora certa, no tempo oportuno, de uma
forma que nunca antes havia usado. O nome disto é PALAVRA DA SABEDORIA.
Em
outras oportunidades Jesus foi colocado em situações onde apenas uma resposta
muita sábia o livraria da armadilha elaborada pelos fariseus. Em Marcos 12:17,
um grupo mal intencionado questiona o Mestre sobre qual era a atitude correta: não pagar os impostos para
ofertar no templo, ou deixar de ofertar
no templo para poder pagar impostos. Qualquer resposta possível iria contra
alguma lei, fosse a dos homens ou a de Deus. Jesus surpreendeu a todos com um
celebre: “Daí a César o que é de César e
a Deus o que é de Deus”. Já em João 8:7, uma mulher pega em adultério é
levada até Jesus para ser apedrejada. Validar a barbárie contrariaria a
mensagem de amor e perdão que ele pregava, mas se posicionar contra a execução confrontaria
a lei mosaica. O Mestre mais uma vez cala a multidão com um estonteante: “Aquele que não tem pecados atire a primeira
pedra...”
Jesus
é para nós o maior referencial de como a sabedoria pode ser usada para nos
livrar de uma tentação, desfazer um conflito teológico e até mesmo salvar uma
vida.
Vale
aqui ressaltar que existem tipos distintos de sabedoria. Por exemplo: devemos sempre
buscar sabedoria em Deus que a concederá a todos que pedirem (Tiago 1:5), e esta
sabedoria nos ajudará a servir ao Senhor com idoneidade. Há também uma sabedoria
natural no ser humano que é otimizada com o passar dos anos (experiência), e ainda
podemos citar a “Sabedoria de Satanás”, que leva o homem a praticar as mais
diversas formas de maldade. Mas nenhuma delas é o DOM da PALAVRA DA SABEDORIA
dado pelo Espírito Santo a alguns poucos membros do corpo. Outra coisa inegável
é que nem todos que são cheios do Espírito, são cheios de Sabedoria. Ao separar
os diáconos para a igreja de Jerusalém, foi determinado pelos apóstolos que os
homens escolhidos fossem cheios do Espírito e de Sabedoria, evidenciando que
uma coisa não estava automaticamente atrelada a outra (Atos 6:3).
Na
pratica da Palavra da Sabedoria como um DOM, o indivíduo dotado com esta
habilidade espiritual sabe sempre o que (e como) dizer em momentos decisivos.
Conseguem sintetizar uma verdade bíblica de difícil compreensão aos demais; antever
erros e acertos de outras pessoas, aconselhando-as com antecedência.
Assim
como toda e qualquer forma de sabedoria, este dom é aperfeiçoado através de
experiências pessoais. Por se tratar de algo sobrenatural, proveniente da parte
de Deus, tais experiências devem ser sobrenaturais e divinas, como por exemplo,
ouvir a voz do Espírito Santo falando em seu interior ou ouvir claramente a voz
de Deus em seu próprio ouvido; vivenciar revelações profundas durante a leitura
da Bíblia; dar-se a conhecer os mistérios de Deus através de sonhos e visões;
experimentar uma plena unidade com Cristo e com a sua Igreja; desenvolver a
capacidade de interpretar profecias e revelações de difícil entendimento.
Em
resumo podemos dizer que ao presentear alguém com o DOM de PALAVRA DA SABEDORIA,
o Espírito Santo dá a este indivíduo o privilégio de absorver uma pequena parte
da infinita sabedoria de Deus, levando-o a “pensar” com os pensamentos de Deus
para a resolução de uma situação específica.
São
“pílulas” de sabedoria divina dada aos homens, o que nos permite conhecer parte
dos planos e propósitos de Deus em todas as esferas de tempo e espaço.
O que é Palavra da Ciência ou Conhecimento?
Existe
certa dificuldade em se distinguir este DOM (Palavra do Conhecimento), do DOM
anterior (Palavra da Sabedoria), mas há uma interessante história contada em II
Reis 6 que nos dará uma melhor compreensão sobre este assunto.
A
cidade de Samaria (capital do Reino do Norte) estava sendo sitiada. O objetivo
do exército inimigo era capturar o profeta, mas uma intervenção milagrosa cegou
os soldados sírios dando livramento ao homem de Deus. O que nos interessa de
fato nesta passagem é a causa que levou o rei da Síria a tomar esta atitude,
pois ele soube que suas estratégias militares não funcionavam contra Israel por
causa de um profeta que “revelava” aos líderes israelitas, até mesmo os
detalhes dos planos mais secretos tramados na calada da noite em salas fechadas.
Este homem era Eliseu.
Como
pode alguém ter conhecimento sobre um fato, sem de fato conhecê-lo? Através da
capacitação espiritual oriunda do Dom da Palavra do Conhecimento.
Este
dom, nada mais é do que uma revelação sobrenatural de ações e fatos, baseados
no perfeito conhecimento de Deus, que nos é dado a conhecer através do Espírito
Santo. Podemos definir a diferença entre esses dons da seguinte forma: na Palavra da Sabedoria estão revelados
fragmentos do saber eterno e atemporal de Deus; já na Palavra do Conhecimento são revelados (de forma sobrenatural) fatos
sobre uma pessoa, um lugar, ou uma situação específica.
Na
mais extensa conversa registrada entre Deus e um homem, Jó questiona seu
criador devido às insinuações contra ele levantada por seus amigos, e a
resposta de Deus vem com um turbilhão de elementos biológicos, geográficos,
geológicos e astronômicos, que anteviram milênios antes, as descobertas
recentes da ciência humana (Jó 38-42). Ou seja, o conhecimento de Deus é grande
demais para ser revelado ao homem, que não o suportaria ou sequer o assimilaria
em sua totalidade, então Deus “presenteia” com fragmentos desse gigantesco
conhecimento, a membros específicos do Corpo, comunicando informações
impossíveis de serem conhecidas por outros meios senão os sobrenaturais.
Por
exemplo:
Um pregador que após ler o Salmo 23 traz uma mensagem tão
surpreendente que você se põe a perguntar: De onde ele tirou isso?
Um ministro que nunca esteve em sua igreja e nem ao menos te
conhece, e que de repente passa a contar detalhes da sua vida que ninguém mais
sabe, e você se pergunta: Como ele sabe disto?
Um pastor que no meio do culto pergunta se há alguém sentindo
uma forte dor estomacal, pois seu estômago está doendo muito também, e logo o
doente se manifesta e é curado, e você se pergunta: O que aconteceu aqui?
Uma pessoa que dialoga com Deus em silêncio sobre as questões
de sua vida, e ao chegar na igreja é recebido por alguém que lhe diz: Você fez
as perguntas, e estas são as respostas de Deus... E você se pergunta: Como isso
é possível?
Nosso
Deus é onisciente, e todas as informações, sejam sobre pessoas, fatos ou
lugares (em qual tempo for) estão nuas e patentes perante ele, e por vezes,
Deus revelará alguns desses fatos específicos para os indivíduos capacitados
com este dom, afim de promover cura, libertação, quebrantamento, livramento e
renovação.
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