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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sede de Deus


Não sabemos precisar quem escreveu o Salmo 42... Alguns o atribuem a Davi, outros, aos Filhos de Coré, e alguns dizem ser Asafe... Mas não dá pra negar que ele tem muito do belemita em cada palavra... A inquietação da alma que por tantas vezes nos brindou com poemas e cânticos memoráveis estão presentes em cada verso, assim como o desejo ardente e apaixonado de estar próximo de Deus, tão peculiar do nobre harpista...

Mas, independentemente do autor, é possível perceber que o poeta está triste... A incredulidade que enegrece a alma dos homens faz sangrar seu coração. Ele olha a sua volta é só encontra abismos. Verdadeiros buracos-negros surgem voluptuosos nas pessoas a sua volta, retirando delas o temor, a fé e a caridade. O mundo parece imerso em trevas, e qualquer facho de luz incomoda seus moradores. Dedos em ristes se voltam para o escritor... Ele ouve gargalhadas e palavras de afronta. Vozes obscuras e perniciosas invadem seus ouvidos com uma indagação retórica carregada de sarcasmo e maldade: Onde está o seu Deus?

O poeta chora angustiado... A tristeza é tamanha que seus ossos chegam a doer. Sua alma está abatida, pois foi abraçada pelo medo, e agora se sente sugada pelos abismos que a cercam: Desesperança, Angustia e Aflição. 

Então, no ponto exato entre o “agora” e a “ruína”, o salmista clama por socorro... “Assim como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus... A minha alma tem sede do Deus vivo” (Salmo 42:1-2).  A alma do salmista estava com sede. Sedenta por algo que não se encontra na Terra. Aliás, ainda que não queira aceitar, toda a humanidade tem sofrido da mesma sede desde os primórdios de sua história.... Desde que saiu do Jardim...

Em Gênesis 1:27-28 e 2:7, Moisés narra a origem do homem. Uma reunião celestial é convocada para projetar minuciosamente um ser capaz de dominar sobre as demais coisas criadas. Um designer é aprovado, um rascunho é elabora, formas e texturas são pré-definidas.  A matéria prima escolhida é palpável e tangível, e o processo de fabricação é artesanal. Em suma, Deus coloca a “mão na massa”, esculpe em argila o modelo projetado e sopra em sua narina o fôlego de vida. Seu nome agora é Adão, feito imagem e semelhança de seu criador, tendo dentro de si uma fagulha do próprio Elohim, um espírito dado por Deus e que deseja retornar para Deus. Para que o homem não estivesse só, de seus ossos é forjada a mulher.

Agora, o casal pode enfim viver pleno de felicidade, no jardim que o Senhor plantara para eles. Adão e Eva são como duas crianças se descobrindo, e Deus faz questão de todas as tardes visitar os seus filhos para instruí-los em todos os aspectos da arte de viver. Mas a desobediência quebraria essa aliança. No desejo de ser igual a Deus, eles acabaram se afastando de Deus, perdendo a inocência e violando a santidade. Já não podiam olhar a face de Deus e nem serem visitados com cordialidade ao por do sol (I Timóteo 6:16). Mas dentro deles, ainda habitava o Espírito que clamava por Deus. Mesmo que a carne do homem se sobreponha ao seu Espírito, jamais irá calar sua voz. Ele estará lá dentro, desesperado, inquieto e aflito.

Daí nasce o vazio interior, a busca desenfreada por prazeres passageiros, a ausência completa de paz...  O homem saiu do jardim, mas o Jardim está no homem. Mudou-se a forma, mas a conversa diária com o Criador ainda é necessária... Sem dialogar com Deus e buscar sua orientação, o homem jamais será plenamente feliz... Esta prática é possível, e não se faz necessários agendamentos prévios ou formalidades desnecessárias...

Para ela damos o nome de “oração”.

O salmista sabia desta carência, conhecia sua necessidade. -  A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo – Dizia ele. - Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus? E então, introspectivo, o poeta conversa consigo mesmo e aconselha: - Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.



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