Não sabemos precisar quem escreveu o Salmo 42...
Alguns o atribuem a Davi, outros, aos Filhos de Coré, e alguns dizem ser
Asafe... Mas não dá pra negar que ele tem muito do belemita em cada palavra...
A inquietação da alma que por tantas vezes nos brindou com poemas e cânticos memoráveis
estão presentes em cada verso, assim como o desejo ardente e apaixonado de
estar próximo de Deus, tão peculiar do nobre harpista...
Mas, independentemente do autor, é possível
perceber que o poeta está triste... A incredulidade que enegrece a alma dos
homens faz sangrar seu coração. Ele olha a sua volta é só encontra abismos.
Verdadeiros buracos-negros surgem voluptuosos nas pessoas a sua volta,
retirando delas o temor, a fé e a caridade. O mundo parece imerso em trevas, e
qualquer facho de luz incomoda seus moradores. Dedos em ristes se voltam para o
escritor... Ele ouve gargalhadas e palavras de afronta. Vozes obscuras e
perniciosas invadem seus ouvidos com uma indagação retórica carregada de
sarcasmo e maldade: Onde está o seu Deus?
O poeta chora angustiado... A tristeza é tamanha
que seus ossos chegam a doer. Sua alma está abatida, pois foi abraçada pelo
medo, e agora se sente sugada pelos abismos que a cercam: Desesperança,
Angustia e Aflição.
Então, no ponto exato entre o “agora” e a “ruína”,
o salmista clama por socorro... “Assim como a corça anseia por águas
correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus... A minha alma tem sede do Deus
vivo” (Salmo 42:1-2). A alma do salmista estava com sede. Sedenta por
algo que não se encontra na Terra. Aliás, ainda que não queira aceitar, toda a
humanidade tem sofrido da mesma sede desde os primórdios de sua história....
Desde que saiu do Jardim...
Em Gênesis 1:27-28 e 2:7, Moisés narra a origem do
homem. Uma reunião celestial é convocada para projetar minuciosamente um ser
capaz de dominar sobre as demais coisas criadas. Um designer é aprovado, um
rascunho é elabora, formas e texturas são pré-definidas. A matéria prima
escolhida é palpável e tangível, e o processo de fabricação é artesanal. Em suma,
Deus coloca a “mão na massa”, esculpe em argila o modelo projetado e sopra em
sua narina o fôlego de vida. Seu nome agora é Adão, feito imagem e semelhança
de seu criador, tendo dentro de si uma fagulha do próprio Elohim, um
espírito dado por Deus e que deseja retornar para Deus. Para que o homem não
estivesse só, de seus ossos é forjada a mulher.
Agora, o casal pode enfim viver pleno de
felicidade, no jardim que o Senhor plantara para eles. Adão e Eva são como duas
crianças se descobrindo, e Deus faz questão de todas as tardes visitar os seus
filhos para instruí-los em todos os aspectos da arte de viver. Mas a
desobediência quebraria essa aliança. No desejo de ser igual a Deus, eles
acabaram se afastando de Deus, perdendo a inocência e violando a santidade. Já
não podiam olhar a face de Deus e nem serem visitados com cordialidade ao por
do sol (I Timóteo 6:16). Mas dentro deles, ainda habitava o Espírito que
clamava por Deus. Mesmo que a carne do homem se sobreponha ao seu Espírito,
jamais irá calar sua voz. Ele estará lá dentro, desesperado, inquieto e aflito.
Daí nasce o vazio interior, a busca desenfreada por
prazeres passageiros, a ausência completa de paz... O homem saiu do
jardim, mas o Jardim está no homem. Mudou-se a forma, mas a conversa diária com
o Criador ainda é necessária... Sem dialogar com Deus e buscar sua orientação,
o homem jamais será plenamente feliz... Esta prática é possível, e não se faz
necessários agendamentos prévios ou formalidades desnecessárias...
Para ela damos o nome de “oração”.
O salmista
sabia desta carência, conhecia sua necessidade. - A minha alma tem
sede de Deus, do Deus vivo – Dizia ele. - Quando poderei entrar para
apresentar-me a Deus? E então, introspectivo, o poeta conversa consigo
mesmo e aconselha: - Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por
que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus!
Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário