Deus
freqüentemente escolhe homens comuns, homens que costumavam zombar da fé ou
homens que exigiram muita paciência por sua relutância em voltar-se para Deus e
obedecer a Seu chamado. George Muller foi um destes. Nascido em 1805
na Prússia (parte da Polônia atualmente), quando jovem costumava roubar e
mentir, segundo ele mesmo quase não houve pecado no qual ele não tivesse
caído. Aos 20 anos de idade, tornou-se cristão depois de visitar uma
pequena reunião em uma casa. Sua conversão foi dramática e ele abandonou de vez
seus hábitos pecaminosos. Em 1829 foi a Londres para fazer um treinamento na
Sociedade Londrina para a Promoção do Cristianismo entre os Judeus (hoje
conhecida como Church Mission to the Jews).
Um dos muitos
aspectos fascinantes da vida de George Muller é que ela ilustra com muita
simplicidade o poder de Deus. George Muller recebeu aproximadamente
R$ 395.250.000,00 em resposta a orações sem jamais ter pedido ofertas. Se isto
tivesse ocorrido há dois ou três mil anos, os céticos iriam sem dúvida
questionar a autenticidade deste fato. Como ocorreu no final do século
dezenove, com registros modernos e evidência factual, tais fatos não podem ser
negados. O aspecto mais significante dos 93 anos de
vida de George Müller na terra foi sua obediência absoluta à vontade de Deus. O
fato de o Espírito de Deus ter transformado um jovem rebelde e pecaminoso em
tal homem de Deus certamente nos renova a esperança.
Em 1830 ele
casou-se com Mary Grooves, que se tornou uma verdadeira companheira e
sustentáculo nos anos seguintes. Em 1834 ele fundou o Instituto de
Conhecimentos das Escrituras, que existe até hoje, sempre respeitando o
princípio que ele mesmo impôs de nunca depender de patrocínios, nunca fazer
apelos por ofertas e nunca contrair dívidas. Ele também orava
diariamente pela conversão de pessoas; e orou durante cinquenta anos por
algumas pessoas, mostrando sua fé e confiança em Deus. Todas as suas orações
eram registradas em livros, com a data do começo da petição, o pedido a Deus, a
data da resposta e como Deus respondeu. Existe o registro de cerca
de 50 mil orações de George Müller respondidas por Deus.
Como a
epidemia de cólera aumentou dramaticamente o número de órfãos naqueles dias, em
1835 Müller sentiu o chamamento de Deus para abrir um orfanato totalmente pela
fé, pois não tinha recursos financeiros para isto. Em 1870 já eram
cinco orfanatos com mais de 2.000 crianças. São muitas as histórias
marcantes de respostas à oração. Uma delas sucedeu quando ao levantarem pela
manhã, não haver nenhum pedaço de pão para as crianças, Müller ordenou que
mesmo assim as crianças dessem graças a Deus pelo alimento e ficassem
esperando. Minutos depois um carroceiro bateu à porta, dizendo que
sua carroça havia quebrado ali na frente e se queriam ficar com o carregamento
de pães que estava levando para outros lugares. Assim as crianças e os demais
irmãos glorificaram o Senhor por mais um de seus extraordinários feitos. Toda a
vida e obra de Müller atestam a fidelidade e a graça provedora de Deus.
George Müller
era um homem comum, mas sua fé inegável e confiança total em Deus e seu amor a
Ele têm o mesmo impacto no mundo hoje do que quando ele morreu em 1898. Sua
vida continua sendo uma inspiração para todos aqueles que entregaram sua vida
para Deus. E para todos nós continua sendo mais uma daquelas "vidas que
marcaram...". Ele foi além da maioria deles em sua política quanto ao
dinheiro. Por exemplo: ele não aceitava ofertas quando saia para pregar,
temendo dar a impressão que pregava por dinheiro. Quando ele rejeitava as
ofertas, as pessoas algumas vezes queriam pô-las a força dentro do seu bolso,
então ele fugia. Um homem "lutou" com Müller até que ele aceitasse o
dinheiro que o mesmo queria lhe dar!
Durante seus primeiros
anos, Müller começou a desenvolver convicções sobre oração e fé, que
proporcionaram a base para poderosas demonstrações da provisão de Deus. Além de
pedir a Deus por comida e fundos pessoais, ele frequentemente orava com crentes
enfermos até ficarem curados. Um biógrafo observa que "quase sempre suas
orações eram respondidas, mas em algumas ocasiões não eram". Nesses casos,
Müller continuava orando sobre estes assuntos ou pessoas, por anos. Além
de trabalhar com Henry Graik na capela Bethesda, uma moderna igreja situada no
coração de Bristol, Müller começou a sentir preocupação pelas massas de
crianças órfãs, abandonadas, que estavam em toda parte, na Inglaterra do século
19. Em 1834, com Craik, ele fundou a "Scriptural Knowledge Institution for
Home and Abroad" - SKI ("Instituição do Conhecimento Bíblico para a
Pátria e Estrangeiro"), que continua até hoje. Seus objetivos eram: 1)
estabelecer Escolas diárias, Escolas dominicais e Escolas para adultos onde as
Escrituras fossem ensinadas; 2) distribuir Bíblias; 3) ajudar o serviço
missionário.
Durante a vida
de Muller, o SKI proporcionou educação para muitos milhares de crianças e
adultos, que de outro modo não poderiam ter ido à escola. Distribuiu milhares
de Novos Testamentos, Bíblias e folhetos evangelísticos a preços reduzidos, em
muitas línguas. Enviou o equivalente moderno de muitos milhões de dólares para
missionários nacionais e estrangeiros. Durante um período de dois anos, Müller
quase sustentou sozinho Hudson Taylor e 30 de seus colegas missionários na
China.
As maiores
obras pelas quais Müller é lembrado – e deve ser guardado na memória que ele
foi também um líder de igreja por excelência – são os orfanatos. Nestes, e em
todo o seu trabalho, Mary Groves Müller manteve-se firme ao seu lado. Milhares
de pais morreram na epidemia de cólera de 1834. Os poucos medicamentos e
conhecimentos médicos precários, condições sociais ruins e leis trabalhistas
infames multiplicavam os órfãos. Essas crianças infelizes tentavam sobreviver
nas ruas, ou eram obrigadas a submeter-se às péssimas condições das oficinas de
trabalho. Charles Dickens disse que os órfãos eram "desprezados por todos
e ninguém se compadecia deles". As casas para órfãos do Estado eram poucas
e quase não existiam as particulares. Todas elas serviam apenas às crianças das
famílias de classes mais altas. Pobreza, crime e prostituição aguardavam o
resto.
Muitos fatores
convergentes levaram Müller a começar um orfanato: 1) ele estava genuinamente
preocupado com os órfãos de Bristol; 2) ele estava cansado de ouvir homens de
negócios e operários dizerem que a necessidade financeira e a competição os
proibiam de colocar Deus e Seus assuntos em primeiro lugar em suas vidas; 3)
ele queria provar que Deus responde às orações e colocar "diante do mundo
uma prova de que Deus de modo nenhum mudou. Isto me parecia feito melhor pelo
estabelecimento de um orfanato. Devia ser algo que pudesse ser visto ainda que
pelos olhos naturais ". Em 1835, Müller colocou o seu plano diante
da igreja de Bethesda. Imediatamente a congregação se uniu para sustentar o
empreendimento. Móveis, utensílios, roupas e fundos chegaram. Dali em diante,
Bethesda e seu círculo crescente de igrejas permaneceram inteiramente com
Müller no cuidado dos órfãos. No começo, eles costumavam alugar casas para as
crianças. Muitos crentes de Bethesda trabalhavam por tempo parcial ou integral
nos orfanatos. Conheciam os detalhes particulares e as necessidades diárias
ligadas a um tão grande projeto.
Eles também
compreendiam a convicção de Müller em não solicitar fundos – ele queria provar
que Deus responderia às orações dos crentes. Müller escreveu: "eu não digo
que estaria agindo contra os preceitos do Senhor se procurasse ajuda em Sua
obra através de pedido pessoal e individual [apelos] aos crentes, mas eu faço
assim para o benefício da igreja em geral". Ele era totalmente contrário,
todavia, à possibilidade de que algum cristão fizesse apelos financeiros aos
descrentes. Em 1836, Müller abriu a primeira casa, quando ainda não tinha
30 anos de idade. A comida para os órfãos chegava muitas vezes minutos antes da
hora de ser servida, embora as crianças nunca soubessem disso. Mais e mais
crianças suplicavam a Müller para recebê-las e ele alugava mais casas. Mas
essas logo abarrotavam, por isso, em oração e conversa com os cristãos de
Bristol, ele decidiu construir um grande e moderno edifício para os órfãos.
Este projeto começou em 1845, exatamente quando a tempestade da divisão entre
os Irmãos estava se formando em Plymouth. Em 1848, mesmo enquanto Darby estava
atacando Müller, o primeiro dos imensos orfanatos estava quase completo. E
enquanto a carta de Darby excomungando toda assembléia de Bethesda estava
circulando pela Inglaterra e ao redor do mundo, o telhado foi estendido.
Enquanto a divisão progredia e os antigos amigos se voltavam contra ele, Müller
continuava esperando em Deus por fundos e provisões.
Em 1870,
depois de profundas e repetidas provas de fé, a última das cinco magníficas
casas de pedra, para 2.000 órfãos, foi levantada exatamente fora de Bristol, em
Ashley Down. Müller maravilhou-se com o que Deus tinha feito naqueles 34 anos,
em resposta à fé e à oração. Além de providenciar comida e roupas para muitos
milhares de órfãos, ele tinha a responsabilidade de levantar o "ordenado"
mensal [salário] para mais de 100 empregados. As garotas órfãs eram
treinadas como empregadas e costureiras, enquanto os rapazes aprendiam vários
ofícios. A cada órfão era assegurado um emprego antes de deixar as casas, ou
Müller pagava o salário de aprendiz deles ao patrão que os ensinaria uma
profissão. Cada órfão saía com um jogo completo de roupas.
Um homem que
vivia próximo dos orfanatos disse que "sempre que ele sentia dúvidas sobre
o Deus Vivo, vindo a sua mente, ele se levantava e olhava através da noite para
as muitas janelas acesas em Ashley Down, brilhando na escuridão como estrelas
no céu". Havia um imposto sobre janelas grandes quando Müller construiu os
orfanatos, mas ele disse: "nós confiaremos em Deus para o dinheiro do imposto
– deixem as crianças ter luz e ar!" Pessoas por todo o oeste da
Inglaterra e ao redor do mundo ficavam sabendo sobre os orfanatos. Também
reconheciam o poder e a provisão de Deus que, se tornavam acessíveis em
resposta às orações fiéis de Müller e seus amigos.
Tarde na vida, Müller, que falava sete
línguas, viajou para 42 países em "viagens missionárias" e pregou o
Evangelho para multidões de milhares. Seu alvo nessas viagens era, de acordo
com o propósito de A. N. Groves, e dos Irmãos do início, quebrar as barreiras
denominacionais e promover o amor fraternal entre os verdadeiros cristãos. Em
três ocasiões visitou os Estados Unidos e Canadá, pregando centenas de vezes e,
em quase todas, pessoas vieram a Cristo. Em 1878, Müller foi convidado
para ir à Casa Branca, a fim de falar sobre os orfanatos ao presidente
Rutherford B. Hayes. Provavelmente não contou ao presidente Hayes que foi
enquanto J. N. Darby estava tentando virar pessoas contra ele que Deus proveu
os fundos para as grandes casas de órfãos.
Müller criou um regulamento fixo em que
nem ele nem seus auxiliares jamais deveriam pedir a qualquer indivíduo qualquer
coisa em particular, para "que a mão do Senhor pudesse ser claramente
vista". Mas ele pedia ao Senhor que movesse pessoas para ofertar. Uma vez,
quando um homem fez um grande donativo, Muller, muito satisfeito, visitou-o
para agradecer; então mostrou ao homem a anotação em seu diário quando, meses
antes, começou a rogar a Deus que aquele homem pudesse dar aquela quantia
específica! O historiador Roy Coad observa, todavia, que "a lenda
popular" tem escondido um tanto da natureza prática de Müller. "A
lenda enfatiza um lado da moeda: a intensidade da confiança de Müller. Muitas
vezes o outro lado tem sido esquecido – que os fundos para suprir a necessidade
vieram de homens e mulheres que eram co-participantes com Müller de sua fé em
Deus". Müller havia atraído a igreja de Bethesda para dentro dos
seus planos do orfanato desde o início. Uma vez, Charles Dickens
apareceu em Ashley Down para "investigar" o que Müller estava fazendo
a estes órfãos. Müller deu as chaves para Dickens e mandou um assistente
mostrar-lhe qualquer coisa que quisesse ver. Depois da investigação, Dickens
disse a Müller que acreditava que os órfãos estavam sendo muito bem cuidados.
George Müller morreu na manhã de 10 de
março de 1898, aos 92 anos. Ele participou ativamente, enquanto viveu, em
Bethesda e nos orfanatos até o dia anterior da sua morte. Milhares de pessoas
lotavam as ruas para ver o cortejo funeral do imigrante alemão que, segundo o
jornal The Bristol Mercury, foi "a maior personalidade que Bristol
conheceu como cidadão nesta geração". Sete mil pessoas lotaram o cemitério
para ver o sepultamento. O Bristol Evening News escreveu que "na era
do agnosticismo e materialismo, ele pôs em prática teorias sobre as quais
muitos homens estavam contentes em sustentar uma controvérsia
inútil". O Liverpool Mercury maravilhou-se por causa da provisão
para milhares de crianças e perguntou como isto aconteceu. "Müller disse
ao mundo que foi o resultado de Oração. O racionalismo de hoje zombará desta
declaração. Mas os fatos permanecem, e permanecem para serem explicados. Não
seria científico desdenhar das ocorrências históricas quando elas são difíceis
de esclarecer. E seria necessário muito truque para fazer os orfanatos em
Ashley Down sumir da vista".
De sua parte, Müller já havia escrito:
"eu sei que belo, gracioso e generoso ser Deus é pela revelação que Ele se
agradou em fazer de Si mesmo na Sua santa Palavra. Eu acredito nesta revelação.
Também sei por minha própria experiência da veracidade disso. Portanto, eu
estava satisfeito com Deus. Me regozijava em Deus. E o resultado é que Ele
realizou o desejo do meu coração". George Müller acreditava que Deus
faz o mesmo por qualquer um que O busque. George Muller cuidou de mais de
10.000 órfãos durantes os 63 anos em que decidiu confiar inteiramente em Deus
para o atendimento das necessidades. Nem uma única vez deixou Deus de cumprir
Sua promessa.
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