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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Biografia - John Gibson Paton




John Gibson Paton (1824-1907) era um missionário pioneiro nas ilhas Novas Hébrides (hoje Vanuatu) ao sul do Oceano Pacífico. Converteu-se ainda criança e logo se dedicou ao Serviço do Senhor Jesus Cristo. Podemos conhecer um pouco mais sobre este grande missionário através de sua biografia, que foi publicada em dois volumes em 1889. Um terceiro volume, escrito pelo seu filho Frank, e publicado em 1910, tratando  dos seus anos finais:

Nasci em 24/05/1824 numa pequena casa na fazenda de Braehead, na paróquia de Kirkmahoe, perto de Dumfries, no sul da Escócia. Meu pai, James Paton, era fabricante de meias em pequena escala; ele e a sua jovem esposa, Janet Jardine Rogerson, viviam uma afetuosa amizade pessoal com o fazendeiro, por isso deram-me o nome dele, John Gibson. Enquanto criança, mais ou menos cinco anos de idade, meus pais levaram-me para um novo lar na aldeia de Torthorwald, distante 7 km ao norte de Dumfries. Nessa época, cerca de 1830, Torthorwald era apenas uma aldeia, movimentada e próspera, e comparativamente populosa com seus rendeiros, chacareiros, fazendeiros, em grande e pequena escala, ferreiros e alfaiates. Lá, nessa vida em uma aldeia sadia e ventosa, os nossos queridos pais encontraram seu lar por um período de quarenta anos. Ali nasceram mais oito filhos, constituindo uma família de cinco filhos e seis filhas.

Nosso lugar de culto era a Igreja Presbiteriana Reformada, em Dumfries. Diz a tradição, que em quarenta anos meu pai só faltou ao culto do Senhor por três vezes. Todos nós, desde bem novos, não considerávamos ser um castigo, antes uma grande alegria, acompanhar o nosso pai às reuniões da igreja. Realizávamos também leituras especiais da Bíblia nos domingos à noite – mãe, filhos e visitantes lendo por vez, com perguntas, respostas e exposições novas e interessantes, tendo o propósito de nos impressionar com a graça infinita de um Deus de amor e misericórdia no grande dom do Seu Filho amado, Jesus Cristo nosso Salvador.

Embora com menos de doze anos de idade, comecei a aprender o ofício de meu pai, no qual fiz progresso surpreendente. Trabalhávamos das seis da manha até às dez da noite, com meia hora para o café da manhã, uma hora para o almoço e outra para o jantar. Nestes momentos me dedicava diariamente aos estudos, principalmente com as primeiras noções de latim e grego, pois eu tinha entregue minha alma a Deus e tinha resolvido ser missionário da Cruz ou um ministro do Evangelho. Todavia, testifico com alegria que o que aprendi no tear, ao fabricar meias, não foi sem valor. A habilidade em usar ferramentas, vigiar e manter as máquinas, viria ser de grande valor no campo missionário.

As orações de meu pai me impressionaram nessa época, nunca poderei explicar, pois nenhum estranho compreenderia. Quando de joelhos, e todos nós ajoelhados ao seu redor no culto familiar, ele derramava toda a sua alma em lágrimas a favor da conversão do mundo pagão ao serviço de Jesus e a favor de toda necessidade doméstica. Todos nós sentíamos como se estivéssemos na presença do Salvador vivo, e aprendemos conhecê-Lo e amá-Lo como o nosso Amigo Divino. Ao levantarmo-nos (dos nossos joelhos), eu costumava olhar a luz do rosto do meu pai e desejava ser como ele em espírito, esperando que, em resposta às suas orações, poderia ser privilegiado e preparado para levar o Evangelho a alguma parte do mundo pagão.

Alguns anos depois me conseguiram um trabalho junto ao Regimento de Sapadores e Mineiros que estava traçando mapas do condado de Dumfries para o Departamento de Cartografia do governo. As horas no escritório eram das 9 da manhã às 4 da tarde; embora a minha caminhada de casa fosse de mais de 6 km, todas às manhãs e de volta à tarde, descobri muito tempo de sobra para estudo particular tanto no caminho para o serviço, quanto nas horas extras. Em vez de gastar a hora do meio-dia junto aos demais jogando futebol e outros jogos, me retirava para um lugar tranqüilo às margens do rio Nith e lá estudava intensamente o meu livro a sós. Sem que eu soubesse, o nosso tenente vinha observando isso de sua casa no outro lado do rio e, depois de algum tempo, me chamou ao seu escritório e perguntou o que eu estava estudando. Contei-lhe toda a verdade acerca da minha posição e os meus desejos.

Após consultar alguns dos outros oficiais ele me prometeu uma promoção no serviço e treinamento especial à custa do governo, com a condição que eu assinasse um contrato por sete anos. Agradecendo-o muito pela bondosa oferta, concordei em me comprometer por três ou quatro anos, mas não sete. Com excitação, ele me disse: "Por que você recusa uma oferta que muitos filhos de gente fina considerariam uma honra?" Eu respondi: "A minha vida é dada a outro Mestre, portanto não posso me comprometer por sete anos". Ele perguntou rispidamente: "A quem?" Eu disse: "Ao Senhor Jesus, e quero me preparar o mais depressa possível para o Seu Serviço na proclamação do Evangelho". Enfurecido ele pulou para o outro lado da sala, chamou o comissário e exclamou: "Aceite a minha oferta, ou será demitido imediatamente!" Respondi: "Sentiria muito se o senhor fizesse isso, mas se eu fosse me prender por sete anos provavelmente frustraria o propósito da minha vida e, embora estar muito grato ao senhor, não posso assumir tal compromisso". A raiva dele o fez indisposto ou incapaz de compreender a minha dificuldade. Os instrumentos foram devolvidos, recebi meu salário e sem mais conversa fui-me embora.

Depois de um emprego numa fazenda, John foi chamado a ir para Glasgow, cidade principal da Escócia a uma grande distância de Dumfries. Lá ele tinha uma entrevista para um serviço como professor:

Deixei meu lar tranqüilo na região rural a caminho de Glasgow. Alias, literalmente no caminho, pois de Torthorwald a Kilmarnock, uns 65 km, deveria ser atravessado a pé, e depois até Glasgow por ferrovia. Uma pequena trouxa continha minha Bíblia e todo os meus pertences pessoais. Assim fui introduzido no grande mar da vida. "Conheço a tua pobreza, mas tu és rico".

Meu querido pai andou comigo nos primeiros 9 km do caminho. Seus conselhos, lágrimas e conversa celestial daquela viagem de partida foram tão nítidas no meu coração como se fosse ontem; as lágrimas estão no meu rosto tão copiosamente agora quanto naquela vez, quando a memória me leva de volta àquele lugar. No último meio quilômetro, andamos juntos num silêncio quase total, meu pai, como de costume carregando seu chapéu na mão, seus lábios moviam em orações silenciosas a meu favor, suas lágrimas caíram rapidamente quando os nossos olhos se encontraram. Paramos ao chegarmos no ponto de partida. Ele pegou na minha mão com firmeza e por um minuto ficou em silêncio, então ele me disse com amor e solenidade: "Deus te abençoe, meu filho! O Deus de seu pai te prospere e te guarde do mal!" Sem poder dizer mais nada, seus lábios moviam em oração silenciosa. Com lágrimas nos abraçamos e partimos. Olhei através dos olhos turvos de lágrimas até que a sua forma desapareceu da minha vista, e então me apressando no meu caminho jurei solenemente, muitas vezes com a ajuda de Deus, de viver e agir de tal maneira que os pais que Ele me deu nunca viriam a ser entristecidos ou desonrados.

John G. Paton, depois de chegar em Glasgow, trabalhou como professor por um curto período de tempo e como missionário com a Glasgow City Mission por dez anos, entre 1847 e 1857, onde teve muito êxito na tarefa de evangelização e no combate contra o alcoolismo:

Durante todo o período que passei na Missão, continuei penosamente com os meus estudos, primeiramente na Universidade de Glasgow, depois na Faculdade de Teologia da Presbiteriana Reformada e em classes de medicina no Andersonian College. Nunca consegui a erudição que tanto desejei, visto que não tive a oportunidade de formar um bom alicerce nos meus primeiros anos escolares. Todavia, eu contava muito com a presença do Mestre Amado em todos os meus esforços; algo que tristemente faltava a muitos estudantes melhores que eu. Fui sustentado pelo sublime alvo que ardeu durante todos aqueles anos dentro da minha alma, ou seja, ser qualificado como pregador do Evangelho de Cristo a fim de ser reconhecido e usado por Ele na salvação de homens que pereciam. Contente como me sentia e bem sucedido pelas bênçãos de Deus, mesmo assim eu ouvia continuamente o clamor dos pagãos perecendo nos “mares do sul”. Eu tinha percebido que poucos demonstravam interesse por eles, enquanto eu bem sabia que muitos estavam prontos para fazer a minha obra e levá-la avante.

Sem revelar o meu estado de espírito para qualquer outra pessoa, isto foi o supremo assunto da minha meditação e oração diária. Foi isso que me levou a entrar nos estudos de medicina, e me propus a fazer o curso inteiro. Todavia, ao final do terceiro ano, um incidente me impeliu, de imediato, para o campo missionário estrangeiro. A Igreja Presbiteriana Reformada da Escócia, na qual fui criado, estava pedindo por um outro missionário para se ajuntar a John Inglis no seu grande trabalho nas Novas Hébrides. Dr. Bates, o excelente presidente da Comissão de Missões entre Pagãos, estava muito entristecido porque por dois anos o seu apelo tivera falhado.

John assistiu a uma reunião do Sínodo onde ficou evidente que ninguém mostrou o desejo de fazer aquele trabalho.

Novamente a causa foi colocada solenemente perante o Senhor, em oração, e uma nuvem de tristeza parecia pairar sobre todos os presentes. O Senhor ficou dizendo dentro de mim: “Visto que ninguém melhor qualificado pode ser encontrado, levante-se e ofereça a si mesmo!”. Quase irresistível foi o impulso que tive para responder em voz audível: “Eis me aqui, envia-me a mim!”. Todavia, sentia muito medo de confundir as minhas próprias emoções com a voz de Deus. Por isso resolvi fazer disso o assunto de meditação e oração por mais alguns dias, e considerar a proposição de todo aspecto possível. Além disso, fiquei muito preocupado acerca do efeito sobre as centenas de jovens, e outros, agora ligados a todas as minhas classes e reuniões. Mesmo assim, senti uma certeza crescente que aquilo era o chamado de Deus ao Seu servo, e que, Aquele que estava pronto a me empregar no Seu trabalho no exterior, era também capaz de providenciar, imediatamente, o que seria necessário para a continuação do trabalho em Glasgow. O clamor e a necessidade dos pagãos sempre estiveram soando em meus ouvidos. Via-os perecerem por falta do conhecimento do verdadeiro Deus e Seu Filho Jesus, enquanto meu povo tinha a Bíblia aberta e todos os meios da graça ao alcance, caso a rejeitassem, a rejeitariam propositalmente por sua conta e risco.

Após muita oração, John se ofereceu para o trabalho nas Ilhas Novas Hébrides, sendo aceito com grande alegria pelo Dr. Bates.

Quando se tornou conhecido que estive me preparando para ir ao exterior como missionário, quase todos estavam totalmente contra a idéia, com exceção do Dr. Bates e um colega estudantil. Meus queridos pais, quando os consultei, responderam-me “que há muito tempo eles me tinham entregue ao Senhor, e neste assunto também me deixariam ao dispor de Deus”. De outros lugares fomos pressionados com fortes oposições. Entre os muitos que procuraram me deter, havia um velho e querido cristão, cujo argumento principal sempre foi: “Os canibais! Será comido pelos canibais!” Por fim lhe respondi: “Sr. Dickson, o senhor já está muito avançado em anos e a sua expectativa é de logo ser colocado no túmulo e ali ser comido pelas minhocas. Devo confessar ao senhor que se eu tão somente posso viver e morrer honrando ao Senhor Jesus, pouco me importa se eu for comido pelos canibais ou pelas minhocas, pois, no Grande Dia, meu corpo será ressuscitado tão bonito quanto ao do senhor, na semelhança do nosso Redentor vivo”. O velho, levantando as mãos num gesto de discordância, saiu da sala exclamando: “Depois dessa, não tenho mais nada a dizer!”.

John conta como o Senhor providenciou a continuação da obra de evangelização em Glasgow e como abençoou aquele trabalho. Pouco antes de sair da Escócia, ele se casou com Mary Ann Robson.

No dia 23/3/1858, na presença de uma grande multidão e depois de um sermão maravilhoso acerca de “Passa a Macedônia e ajuda-nos” (Atos 16:9), fomos ordenados solenemente como ministros do Evangelho e designados como missionários às Novas Hébrides. No dia 16/4, partimos da Escócia viajando para o campo missionário.

John e Mary, depois de uma visita a Austrália, chegaram nas ilhas Novas Hébrides no dia 31/8. O jovem casal logo foi designado para estabelecer uma nova base missionária na ilha de Tanna, um povo indígena totalmente ignorante quanto à civilização ocidental, a não ser pela exploração por parte de alguns maus comerciantes. Depois de poucos meses na ilha, John sofreu um duríssimo golpe.

Eu e a minha jovem e querida esposa, Mary Ann Robson, desembarcamos em Tanna no dia 5/11/1858 com plena saúde e cheios de grandes esperanças santas e amorosas. No dia 12/2/1859 ela deu à luz a um filho; por dois dias tanto a mãe quanto a criança pareciam prosperar, e o nosso exílio na ilha ficou cheio de gozo! Todavia, a maior das tristezas viria logo após aquele gozo. As forças da minha querida Mary não deram sinal de recuperação, pois sofrera uma crise de malária alguns dias antes de dar à luz. No terceiro dia após o parto, mais ou menos, a crise se repetiu com severidade, aumentando a febre a cada dois dias, por quinze dias. Seguiu-se a isto a diarréia, sintomas de pneumonia e um pouco de delírio de vez em quando. Num momento totalmente inesperado, veio a falecer no dia 3/3. Para culminar as minhas tristezas e completar a minha solidão, o bebê me foi tirado no dia 20/3, após uma semana de enfermidade. Deixo àqueles que já passaram por trevas semelhantes se simpatizarem comigo; quanto aos demais, seria mais do que inútil descrever as minhas tristezas. Se não fosse por Jesus e a comunhão que Ele me outorgou, certamente teria ficado louco e falecido ao lado daquele túmulo solitário. Não posso afirmar que entendo o mistério de tais visitações, quando Deus leva embora jovens, que prometem e parecem tão necessários para o Seu Serviço, mas uma coisa sei e sinto, que à luz de tais situações nos convém amar e servir o nosso amado Senhor Jesus para que estejamos prontos quando Ele nos chamar para a eternidade.

John Paton continua com a história da sua vida missionária na ilha de Tanna (Novas Hebrides). Este relato é de 1860:

Algumas semanas de tempo seco começaram a afetar o crescimento dos inhames e das bananas do povo. A seca foi imediatamente atribuída a nós e ao nosso Deus. Os indígenas de toda parte foram convocados para considerar o assunto em assembléia pública. No dia seguinte, Nouqua, o cacique maior, e Miaqui, o chefe de guerra, sobrinho de Nouqua, nos informaram que dois caciques poderosos tinham declarado abertamente naquela assembléia que, caso o povo do porto não nos assassinassem ou nos forçassem a sair da ilha, eles chamariam todo o povo do interior e matariam tanto os nossos caciques como a nós, a não ser que a chuva viesse copiosamente nesse intervalo. Os caciques amigáveis nos disseram: "Roguem ao seu Deus Jeová para que chova, e não vá muito longe da sua porta por um tempo; estamos todos no maior perigo, e caso a guerra venha tememos não poder protegê-los". Esta amizade, todavia, era fingida. Eles mesmos, por serem homens considerados "sagrados", que professavam ter o poder de enviar ou impedir a chuva, de fato quiseram lançar sobre nós a culpa da sua incompetência. Assim, a ira dos pagãos ignorantes foi fomentada contra nós.

O "Sempre Misericordioso", porém, mais uma vez Se interpôs a nosso favor. No domingo seguinte, quando estávamos reunidos para adoração, a chuva começou a cair em grande abundância. Todos os habitantes acreditaram que ela foi enviada para nos salvar, em resposta às nossas orações. Assim se reuniram novamente e resolveram nos deixar permanecer em Tanna. Entretanto, para nossa tristeza, as chuvas ininterruptas e torrenciais trouxeram muita doença e febre, e novamente os "homens sagrados" nos apontaram como sendo a causa. Ventos de furacão também sopraram e estragaram os frutos e suas árvores; mais uma oportunidade para colocarem a culpa de tudo nos missionários e no seu Deus Jeová! A provação e o perigo cresciam diariamente no meio de um povo tão terrivelmente mergulhado na superstição, e tão facilmente influenciado por preconceitos e paixão. Os indígenas de Tanna estavam quase que constantemente em guerra entre si, todo homem fazendo o que achava mais reto, e quase toda disputa acabava num apelo às armas. Num caso, acerca do qual recebemos informação confiável, sete homens foram mortos num combate, e, segundo o costume de Tanna, os guerreiros e os seus amigos os comeram no fim da luta. As viúvas dos que foram mortos foram estranguladas e tratadas de forma semelhante. Além daqueles que caíram na guerra, os nativos que viviam em nossa região tinham matado e comido oito pessoas, geralmente em ritos sacrificais. 

Dizem que o constante desejo dos canibais por carne humana se torna tão terrível a ponto de desenterrar e comerem os recém-sepultados. Dois casos desse barbarismo revoltante foram relatados como ocorrido entre os aldeões que moravam perto de nós. Numa outra ocasião o grande cacique Nouqua se tornou seriamente doente, e seu povo sacrificou três mulheres para sua recuperação. Entre os pagãos das Novas Hebrides, especialmente em Tanna, a mulher era escrava do homem. Ela era forçada a trabalhar duramente e levava todas as cargas mais pesadas, enquanto ele andava ao seu lado com uma espingarda, porrete ou lança. Se ela o ofendesse, ele a espancaria ou abusaria dela ao seu bel-prazer. Como é triste e degradante a posição da mulher onde o ensino de Cristo é desconhecido, ou menosprezado, embora conhecido! É o Cristo da Bíblia e o Seu Espírito que levantaram a mulher e a fizeram companheira e amiga do homem, não o seu brinquedo ou escrava.

Até ao ponto que nos era possível observar, o pagão embora seguindo vagamente alguma divisão da semana em sete dias, o "domingo" em Tanna era considerado como qualquer outro dia. Mesmo quando alguns foram persuadidos a desistir do trabalho manual naquele dia, o gastavam, tal como muitos cristãos em outros lugares, em visitas aos amigos e em prazeres egoísticos, como comer e beber. Depois de passarmos cerca de um ano na ilha, conseguimos realizar um culto no domingo pela manhã que foi assistido por mais ou menos dez caciques e um número igual de mulheres e crianças que lhes pertenciam.

Depois da reunião de domingo, costumávamos andar muitos quilômetros visitando as aldeias alcançáveis, mesmo antes de aprendermos suficientemente a sua língua para podermos conversar livremente com o povo. Às vezes fazíamos um itinerário circular entre as aldeias, de 16 a 19 km na ida e o mesmo tanto na volta. Tentávamos conversar um pouco com todos os que estavam dispostos a nos escutar; e realizávamos o culto a Jeová onde encontrávamos dois ou três dispostos a se reunir, se assentar, ou se ajoelhar ao nosso lado. Foi um trabalho fisicamente cansativo e, em muitos casos, desanimador. Não havia rostos e corações responsivos para nos animar e nos levantar em comunhão com o Senhor! Todavia, isso nos ajudou a contatar o povo, conhecer os distritos em redor, e isto permitiu que tivéssemos consideráveis audiências, exceto quando estavam envolvidos em guerra. Nenhum progresso verdadeiro poderia ser feito, no sentido de comunicar um conhecimento espiritual, até que conseguíssemos alguma familiaridade com a língua. Logo descobrimos a existência de duas línguas distintas faladas ao nosso redor, mas nos limitamos àquela que era mais compreendida entre os postos missionários e, pela ajuda de Deus, e grande esforço, conseguimos em pouco tempo conversar com eles acerca do pecado e da Salvação através de fé em Jesus Cristo.

Confesso que era um serviço difícil e penoso, pois os tanneses eram terrivelmente desonestos e quando havia qualquer doença especial, ou excitação por qualquer motivo, seus sentimentos ruins eram demonstrados pela maneira totalmente insolente e carregavam qualquer coisa de que poderiam apoderar-se. Quando me opunha contra eles, o machado, o pau, o mosquete ou a quawas (pedra de matar) eram imediatamente levantados, indicando que a minha vida seria tomada se os resistisse. A habilidade deles para roubar às escondidas era fenomenal! Em meio a essas tristezas, em vez do fracasso a nossa convicção aumentava, pois se Deus estava poupando a nossa vida para levá-los a amar e servir ao Senhor Jesus, logo passariam a nos tratar como seus amigos e colaboradores. Isto, todavia, não mudou os fatos árduos da minha vida, estando sozinho entre eles e sendo submetido às suas crueldades e enganado pelas suas constantes mentiras.

Talvez eu tivesse esperado demais pelo resultado das visitas de vários irmãos de fora durante essa época, incluindo o navio missionário John Williams. As impressões deixadas foram, sem dúvida, boas, todavia, sem valor permanente. Logo as coisas voltavam como antes entre os tanneses, na sua escuridão moral, guiados por satanás de acordo com a sua vontade, e impulsionados às trevas pagãs mais densas, todavia sabíamos que a transformação deles, pela graça Divina, seria possível. Com este intuito trabalhávamos, sem desfalecer, e caso desfalecêssemos nos levantaríamos novamente a fim de enfrentar tudo em Nome do Senhor que ali nos colocou.

John G. Paton, depois de perder sua esposa e filho, continuou na evangelização do povo de Tanna, tendo somente a companhia de alguns crentes da ilha de Anieitiuma. Como narrado nos artigos anteriores, este trabalho foi extremamente difícil, perigoso e desanimador. Em maio de 1861, um missionário canadense e sua esposa foram massacrados na ilha vizinha de Erromango. Os taneses, encorajados por esse exemplo, redobraram seus ataques a Paton, que, depois de escapar várias vezes por um triz, conseguiu sair de Tanna em segurança, mas perdeu todos os seus pertences a não ser a sua Bíblia e algumas traduções que havia feito para a língua da ilha durante seus quatro anos de luta. De Tanna, Paton chegou a Nova Gales do Sul, Austrália, onde não conhecia ninguém. Entrou numa igreja, pleiteou para ser ouvido por alguns poucos minutos, falou-lhes com tanta eficácia que daquele momento em diante participou num ministério especial que lhe viria ocupar os quarenta e cinco anos restantes da sua longa vida. Seu objetivo, que teve maravilhoso sucesso, foi providenciar missionários para cada uma das ilhas das Novas Hébrides e conseguir um navio para esse serviço missionário. Anos mais tarde, como resultado da sua personalidade extraordinária e poder de persuasão, o "Fundo de Missões John G. Paton" foi estabelecido em 1890 a fim de dar continuidade ao trabalho.

Voltando pela primeira vez à Escócia (1863-64), se casou novamente no dia 16/06/1864 com Margaret Whitecross. Junto com a sua nova esposa, e alguns missionários que tinha persuadido a ajuntaram-se a ele no trabalho, voltou ao pacífico no início de 1865. Depois de instalar os novos missionários em várias ilhas, Paton fixou residência na pequena ilha de Aniwa, onde permaneceu entre 1866 e 1881. Quando chegaram a Aniwa, em novembro de 1866, observaram a miséria dos ilhéus. A situação foi muito semelhante àquela em Tanna: — As mesmas superstições, as mesmas crueldades canibalísticas e depravações, a mesma mentalidade bárbara, a mesma falta de impulso humanitário ou altruístico estavam em evidência. Mesmo assim, continuaram seu trabalho missionário. Foi em Aniwa que seis dos seus dez filhos nasceram, quatro dos quais faleceram bem novos. Seu quarto filho, Frank Paton, que mais tarde se tornou missionário nas Novas Hébrides, foi um destes que nasceu em Aniwa.

Como já mencionamos, os nativos eram canibais e, às vezes, comiam a carne dos seus inimigos derrotados. Praticavam infanticídios e sacrifício de viúvas, matando as viúvas dos derrotados a fim de que pudessem servir aos seus maridos no outro mundo. O culto deles era inteiramente baseado no medo, cujo alvo era propiciar a atuação de espíritos do mal a fim de "evitar" calamidade ou "assegurar" vingança. Endeusavam seus caciques a ponto de quase todas as aldeias ou tribos terem seu "homem sagrado". Estes sacerdotes exerciam uma influência para o mal, e lhes era concedida a decisão sobre a vida ou a morte através das suas cerimônias sagradas. Também adoravam os espíritos de ancestrais e heróis por meio dos seus ídolos materiais de madeira e pedra. Temiam os espíritos e procuravam a sua ajuda para a guerra e paz, fome e fartura, saúde e doença, destruição e prosperidade, e vida e morte. Toda a sua adoração era de medo servil, e, até onde eu pude verificar, não tinham nenhuma noção de um Deus de misericórdia ou graça.

Paton admitiu que às vezes seu coração vacilou quando se questionava se aquelas pessoas poderiam ser levadas a entender os princípios cristãos na percepção espiritual das suas vidas. Todavia, animou-se ao ver o poder do Evangelho pelo fato de milhares em Aneitium terem vindo a Cristo. Assim que teve o domínio da língua nativa representou as palavras por meio da escrita. Ele também construiu orfanatos: A Sra. Paton ensinou uma classe de mais ou menos cinqüenta mulheres e meninas. Tornaram-se competentes em costura, cântico, no entrelaçamento de chapéus e leitura. Eles treinaram professores, traduziram e imprimiram as Escrituras, ministraram aos doentes e aos que estavam morrendo, ministravam remédios todos os dias, e ensinaram o uso de ferramentas, etc. Realizavam reuniões de adoração todos os Dias do Senhor e enviavam professores nativos a todas as aldeias para pregar o Evangelho.

Nos quinze anos seguintes, John e Margaret Paton viram toda a ilha de Aniwa se converter a Cristo. Anos mais tarde ele escreveu: — Reivindiquei Aniwa para Jesus, e pela graça de Deus Aniwa agora adora aos pés do Salvador. Quando estava com 73 anos de idade e viajando através do mundo proclamando a causa de missões nos Mares do Sul, ainda estava ministrando ao seu povo querido Aniwano quando editou "O Novo Testamento na língua de Aniwa" em 1897. Mesmo até a hora da sua morte ele continuava traduzindo hinos, catecismos e criando um dicionário para o seu povo, mesmo quando não poderia mais estar com eles.

Foi durante uma visita à Escócia, em 1884, depois da sugestão do seu irmão caçula, Sr. James Paton, o missionário com relutância prometeu escrever sua autobiografia. James Paton (1843-1906), moldou os rascunhos do seu irmão para editar um livro. Seus últimos anos foram passados em Melbourne. Margaret Whitecross Paton foi chamada ao lar celestial aos 64 anos, no dia 16/05/1905. John sobreviveu por dois anos e faleceu em 28/01/1907.

Hoje, 97 anos após a morte de John Paton, cerca de 85% da população de Vanuatu se identifica como sendo "cristã", talvez 21% da população seja evangélica. Os sacrifícios e legado dos missionários às Novas Hebrides são espetaculares e John G. Paton se destaca como sendo um dos maiores.

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