Martinho Lutero, o ardente reformador do
século XVI, foi um homem de muita coragem. Ele desafiou a igreja daquela época,
o papa e outros líderes religiosos e seculares. Em 1521 apareceu diante da
Dieta Germânica, na cidade de Worms, e, embora tivesse a promessa de ser
protegido, sabia muito bem que estava arriscando a vida. A mesma promessa tinha
sido feita a João Huss um século antes, e ele tinha sido queimado na fogueira.
Os líderes da igreja prometeram a Lutero perdoá-lo caso se arrependesse dos
“erros” e voltasse à “fé verdadeira”. Lutero sabia que essa promessa tinha
pouco valor, porque para eles uma promessa feita a um herético não precisava
ser cumprida. Ele conhecia a história dos dois séculos anteriores, quando
mulheres de cristãos tinham sido torturadas, e muitos outros mortos durante a
infame Inquisição Espanhola. Lutero conseguiu chegar à corte em segurança, mas
foi-lhe negada a oportunidade de defender suas teses. Em vez disso,
apresentaram-lhe uma lista dos “erros” nelas contidos. Mesmo sabendo que a
corte podia decidir sobre sua vida ou morte, quando instado a dizer se se
retrataria, sua resposta foi:
“A menos que eu esteja convencido do erro
através do testemunho das Escrituras (já que não deposito fé na autoridade insustentável
do papa e dos concílios, porque está claro que eles tem errado muitas vezes e
que, também, muitas vezes tem entrado em contradição uns com os outros), e com
as Escrituras para as quais apelei, não poderei me retratar e nem me retratarei
de nada, porque agir contra a própria consciência não é certo, nem nos é
permitido. Por isso mantenho minha posição. Não posso agir de outra forma. Que
Deus me ajude. Amém”.
Através dos séculos homens de Deus tem
assumido seu posicionamento. Mantiveram-se firmes em nome da verdade, da
integridade e da justiça, qualquer que tenha sido o seu campo de trabalho. O
segredo desses homens são suas aspirações profundas e sinceras...
Aspiração é o desejo profundo de atingir uma meta, um
sonho, um desígnio. Nenhum sonho de se alcançar uma liderança no campo
espiritual e eclesiástico deve ser desestimulado (I Timóteo 3:1), ao contrário,
deve ser visto com cuidado e apontada as duas vertentes: das carências e das
exigências, como fez Paulo. Vejamos então algumas:
Aspiração Priorizada
O aspirante a liderança religiosa como
qualquer outra, pode ter boas ou más motivações. Há aqueles que desejam
liderança por vaidade pessoal, como mero desejo de sucesso e reconhecimento
(Filipenses 1:15). Outros gostariam de ostentar um título com suas credenciais,
salário, etc. Esse desejo é impuro e como tal precisa ser purificado pelo
sangue de Jesus, e pelo fogo da Palavra de Deus. Jesus ensinou o que deve
motivar a liderança no Reino de Deus: O desejo sincero de ser servo, e de
compartilhar a própria vida (João 15.13). Quando alguém se destaca com tais
qualidades podemos deduzir que tal pessoa possui uma autêntica chamada
ministerial, para a liderança.
A Igreja precisa de edificadores de almas.
Liderar é mentorear; edificar pessoas, e não prédios. O próprio Jesus não
deixou nenhuma edificação, como herança, mas discípulos para darem
continuidade à sua missão. Então, o mais importante é encontrar a pessoa que
vai substituí-lo e treiná-la. Se tudo o que o líder fez desaparecer quando ele
morrer, então a liderança dele foi um fracasso.
Aspiração Resignada
Se alguém deseja servir a Deus como bispo ou
pastor, excelente obra almeja (I Timóteo 3:1). Vemos que o desejo de servir
como líder é historicamente incentivado na igreja local. E claro o apreço no
Novo Testamento por parte daqueles que têm tal aspiração, todavia, devemos
lembrar que, na época em que Paulo escreveu a primeira carta a Timóteo, já
havia indícios de uma perseguição generalizada à igreja. Candidatar-se à
liderança ministerial era um sério risco pessoal e para a própria família (I
Coríntios 7:26-32). Isso nos deixa claro que, diferente de hoje, na época,
desejar ser líder não traria recompensas materiais, nem tampouco projeção,
visto que a igreja cristã no mundo pagão era hostilizada e perseguida (Atos
8:1).
Aspiração inquebrantável
Esse tipo de aspiração traz consigo um desejo
ministerial capaz de suportar todo tipo de provação possível. Quem almeja se
tornar ministro de Cristo e liderar na obra de Deus, deve suportar os desapontamentos,
as frustrações, e os desencantos da chamada (II Timóteo 3:12). “Não entre no
ministério se puder passar sem ele” foi uma citação de Spurgeon, para depois
dizer: “Se alguém neste recinto puder ficar satisfeito sendo redator de jornal,
fazendeiro, médico, advogado, senador ou rei, em nome do céu e da terra, siga o
seu caminho”.
Por outro lado, servir como líder no Reino de
Deus, implica em sofrer tribulações (II Timóteo 3:11). Todo aquele que se
candidata a líder será observado e provado até finalmente ser aprovado. O
preço, na verdade, é bastante elevado para o encargo na liderança eclesiástica.
Liderança espiritual tem o preço de resignação em muitos sentidos. O salário
não é o que se imagina. Lidar com o ser humano exige paciência, sensibilidade e
fé no chamado que se recebe. Assim, somente alguém bem consciente de seu
chamado suportará as provações peculiares ao encargo.
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