segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Quais devem ser as aspirações de um líder cristão?



Martinho Lutero, o ardente reformador do século XVI, foi um homem de muita coragem. Ele desafiou a igreja daquela época, o papa e outros líderes religiosos e seculares. Em 1521 apareceu diante da Dieta Germânica, na cidade de Worms, e, embora tivesse a promessa de ser protegido, sabia muito bem que estava arriscando a vida. A mesma promessa tinha sido feita a João Huss um século antes, e ele tinha sido queimado na fogueira. Os líderes da igreja prometeram a Lutero perdoá-lo caso se arrependesse dos “erros” e voltasse à “fé verdadeira”. Lutero sabia que essa promessa tinha pouco valor, porque para eles uma promessa feita a um herético não precisava ser cumprida. Ele conhecia a história dos dois séculos anteriores, quando mulheres de cristãos tinham sido torturadas, e muitos outros mortos durante a infame Inquisição Espanhola. Lutero conseguiu chegar à corte em segurança, mas foi-lhe negada a oportunidade de defender suas teses. Em vez disso, apresentaram-lhe uma lista dos “erros” nelas contidos. Mesmo sabendo que a corte podia decidir sobre sua vida ou morte, quando instado a dizer se se retrataria, sua resposta foi: 

“A menos que eu esteja convencido do erro através do testemunho das Escrituras (já que não deposito fé na autoridade insustentável do papa e dos concílios, porque está claro que eles tem errado muitas vezes e que, também, muitas vezes tem entrado em contradição uns com os outros), e com as Escrituras para as quais apelei, não poderei me retratar e nem me retratarei de nada, porque agir contra a própria consciência não é certo, nem nos é permitido. Por isso mantenho minha posição. Não posso agir de outra forma. Que Deus me ajude. Amém”. 

Através dos séculos homens de Deus tem assumido seu posicionamento. Mantiveram-se firmes em nome da verdade, da integridade e da justiça, qualquer que tenha sido o seu campo de trabalho. O segredo desses homens são suas aspirações profundas e sinceras...

Aspiração é o desejo profundo de atingir uma meta, um sonho, um desígnio. Nenhum sonho de se alcançar uma liderança no campo espiritual e eclesiástico deve ser desestimulado (I Timóteo 3:1), ao contrário, deve ser visto com cuidado e apontada as duas vertentes: das carências e das exigências, como fez Paulo. Vejamos então algumas:

Aspiração Priorizada

O aspirante a liderança religiosa como qualquer outra, pode ter boas ou más motivações. Há aqueles que desejam liderança por vaidade pessoal, como mero desejo de sucesso e reconhecimento (Filipenses 1:15). Outros gostariam de ostentar um título com suas credenciais, salário, etc. Esse desejo é impuro e como tal precisa ser purificado pelo sangue de Jesus, e pelo fogo da Palavra de Deus. Jesus ensinou o que deve motivar a liderança no Reino de Deus: O desejo sincero de ser servo, e de compartilhar a própria vida (João 15.13). Quando alguém se destaca com tais qualidades podemos deduzir que tal pessoa possui uma autêntica chamada ministerial, para a liderança.

A Igreja precisa de edificadores de almas. Liderar é mentorear; edificar pessoas, e não prédios. O próprio Jesus não deixou nenhuma edificação, como herança, mas discípulos para darem continuidade à sua missão. Então, o mais importante é encontrar a pessoa que vai substituí-lo e treiná-la. Se tudo o que o líder fez desaparecer quando ele morrer, então a liderança dele foi um fracasso.

Aspiração Resignada

Se alguém deseja servir a Deus como bispo ou pastor, excelente obra almeja (I Timóteo 3:1). Vemos que o desejo de servir como líder é historicamente incentivado na igreja local. E claro o apreço no Novo Testamento por parte daqueles que têm tal aspiração, todavia, devemos lembrar que, na época em que Paulo escreveu a primeira carta a Timóteo, já havia indícios de uma perseguição generalizada à igreja. Candidatar-se à liderança ministerial era um sério risco pessoal e para a própria família (I Coríntios 7:26-32). Isso nos deixa claro que, diferente de hoje, na época, desejar ser líder não traria recompensas materiais, nem tampouco projeção, visto que a igreja cristã no mundo pagão era hostilizada e perseguida (Atos 8:1).

Aspiração inquebrantável

Esse tipo de aspiração traz consigo um desejo ministerial capaz de suportar todo tipo de provação possível. Quem almeja se tornar ministro de Cristo e liderar na obra de Deus, deve suportar os desapontamentos, as frustrações, e os desencantos da chamada (II Timóteo 3:12). “Não entre no ministério se puder passar sem ele” foi uma citação de Spurgeon, para depois dizer: “Se alguém neste recinto puder ficar satisfeito sendo redator de jornal, fazendeiro, médico, advogado, senador ou rei, em nome do céu e da terra, siga o seu caminho”.

Por outro lado, servir como líder no Reino de Deus, implica em sofrer tribulações (II Timóteo 3:11). Todo aquele que se candidata a líder será observado e provado até finalmente ser aprovado. O preço, na verdade, é bastante elevado para o encargo na liderança eclesiástica. Liderança espiritual tem o preço de resignação em muitos sentidos. O salário não é o que se imagina. Lidar com o ser humano exige paciência, sensibilidade e fé no chamado que se recebe. Assim, somente alguém bem consciente de seu chamado suportará as provações peculiares ao encargo.


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