Pb. Miquéias Daniel Gomes
Mal o sol despontara naquela manhã e ela já estava em pé. Era um
dia muito especial. A primeira e última vez que ela faria quinze anos. Não dava
para ser um dia comum, embora fosse aquela apenas mais uma segunda feira
nublada. Escolheu criteriosamente uma roupa que representasse bem seu estado de
espírito e suas pretensões para o dia: coloridas e
informais.
Abriu a porta do quarto, correu para o banheiro a fim de
escovar os dentes antes de seus irmãos. Ouviu os passos que iam em direção a
cozinha e reconheceu o burburinho de vozes matinais: papai e mamãe. Conteve-se
num sorriso controlado e sentiu o coração pulsar forte: - eles devem
estar falando do meu aniversário! Preparou uma expressão neutra para
esconder sua euforia e saiu. Junto à porta tropeçou em seu irmãozinho que
engatinhava distraidamente pelo corredor. Levantou se com a mesma velocidade
que havia caído. - “Bebê idiota”, pensou ela, enquanto o garotão se
esgoelava em lagrimas ressentidas. A mãe, tão rápida quanto um raio veio em
socorro do caçula, acolheu o pequenino em seu colo e ralhou: -
“Daniela, olhe por onde anda” e se retirou fazendo aquela ridícula voz
de bebezinho - Tadinho do bebê, essa monstra machucou você?
Monstra? Daniela? Mamãe sempre a chamava carinhosamente de Dani. Apenas quando
havia muita tensão (e entenda-se por tensão “culpa no cartório”) que
ela era punitivamente chamada pelos pais de Daniela. Mas hoje isso não poderia
acontecer, hoje é o dia da Daniela, ou melhor da Dani, é seu aniversário...
Enquanto vagueava pelos seus pensamentos, ouviu o grito vindo da
cozinha. – Daniela, venha logo tomar o café porque você já esta
atrasada para a aula... Aula? Hoje não é dia de aula. É dia de
passear, curtir e se divertir. - Será que ninguém se lembra que dia é
hoje? Hoje é meu dia!- E lá se foi Daniela para a escola, triste,
frustrada e sem um único beijo ou abraço de sua família.
Você já teve
dias assim? Onde o mundo parece se esquecer de você? Onde sua família parece
não te entender? Segunda feira triste e cinzenta, mesmo que o sol brilhe a pino
no céu?
No ônibus escolar Daniela encontraria o carinho de suas
amigas. –“Elas sim se importam comigo”, pensava. Mas para sua
surpresa, naquele dia todas estavam mais interessadas em contar suas próprias
aventuras de final de semana. Cibele estava empolgada com a visita de uma tia
do sul que sabia falar inglês e italiano. Aninha havia passado o final de
semana com dor de dente e só estava preocupada com a visita que faria ao
dentista. Rebeca por sua vez tinha conversado com o André no MSN e estava
empolgadíssima com o futuro da relação, até a Paulinha sua melhor (melhor) amiga
estava muito mais interessada no novíssimo celular que a avó lhe tinha enviado
como presente de aniversario atrasado. -“E eu, ninguém vai me parabenizar?
É meu aniversário, vocês não se lembram... está marcado em suas agendas... esta
no meu FACEBOOK .“ Mas apesar de seus protestos mentais e dicas
corporais e verbais, aquele seria um longo e tedioso dia de aula, a única
surpresa que Daniela teria fora preparada pela Sra. Heloisa, sua adorável
professora de química, um teste valendo um quarto da nota.
O silêncio de
quem amamos é talvez a mais dolorosa punição emocional que podemos
receber. E quando é o próprio Deus quem se cala? Aí
a situação fica insuportável. Mas não significa que seja punitiva.
Se você está
se sentindo longe de Deus, sem desfrutar do som de sua voz, encontra-se na
mesma situação de um certo grupo de amigos do qual a Bíblia faz menção. Eles
estavam reunidos, ombro a ombro, mas mesmo assim tão solitários, que podiam
sentir a solidão como uma estaca em seus corações. Seus lamentos e múrmuros não
lhes traziam o menor conforto, pelo contrário, somavam-se as suas dores e todos
compartilhavam do fracasso e da impotência num amargo cálice de inércia e
frustração. Por três anos haviam construído um castelo de sonhos, um mundo de
projetos e do dia para noite tudo isso desapareceu atrás de uma pedra pesada e
fria. A mesma pedra que selava o corpo de Jesus. Sim, estou falando dos discípulos,
que após o sepultamento de Cristo, trancafiaram-se numa cela, sem esperança,
pois o mestre estava morto e consequentemente Deus havia se calado. Sem a
presença de Jesus, se findara os preciosos ensinamentos, acabara-se as
parábolas e o pior de tudo, cessara-se as palavras de vida eterna. Estavam
sozinhos, abandonados, atravessando um vale escuro e sombrio: O Vale do
Silêncio Divino.
Naquela tarde, Daniela se dirigiu a uma escola de música para
“arranhar” seu violino. A professora sugeriu aos alunos para tocarem “parabéns
para você”, mas depois mudou de idéia e resolveu que a lição do dia
seria “ o cravo brigou com a rosa”. De repente um lampejo de
esperança para aquela infeliz segunda feira brilhou como sol do meio dia. Seu
celular vibra e ao identificar a chamada viu que era a mamãe. Mas para sua
decepção, a ligação foi rápida e o motivo acachapante. Sua mãe pedira para que
após a aula de música, ela acompanhasse sua prima Gisele até uma loja, pois
haveria uma formatura no dia seguinte e a “Gi” precisava escolher
um vestido e como as duas tinham gostos parecidos, o mesmo tipo de corpo,
talvez ela pudesse ajudar nas compras e blá,
blá,blá...
Os discípulos
também receberam uma ligação rápida do céu. João conta no capítulo 20 de seu
evangelho que os onze estavam fechados no cenáculo quando de repente um Jesus
ressurreto aparece, sopra sobre eles o Espírito Santo, testa a fé de Tomé,
opera sinais e os envia ao mundo para pregarem o evangelho. Depois desaparece
do mesmo modo que surgira, deixando no ar o som do silêncio outra vez. E
você acha que os discípulos obedeceram a ordem de Cristo? Não! Ao
invés de irem pescar homens, eles resolveram que era melhor voltar ao mar e
pegar uns bons peixes.
Ao chegar à loja, sua prima a esperava solicita junto ao balcão e
foi logo dizendo – “Dani, sei que você tem um ótimo gosto para roupas,
então quero que você escolha um vestido para mim, e não importa o preço, quero
estar perfeita amanhã. Escolha como se fosse para você.” Mas, Dani não
estava nem um pouco interessada no sucesso da prima e indicou-lhe um vestido
barato e muito, como posso dizer, extravagante. – “Você tem
certeza Dani?” Insistiu Gisele. – “Tenho! É a última moda”
Essa é uma
situação muito comum quando enfrentamos o silêncio de Deus. Seguimos nosso
instinto e tomamos as decisões erradas.
Há algum
tempo, depois de enfrentar um longo período do silêncio de Deus em minha vida
profissional, resolvi lutar com minhas próprias forças, usando minhas próprias
armas, por um aumento mínimo em meu salário. Como não consegui, decidi então
que era a hora de sair da empresa. Planejei terminar meu expediente e resolver
a situação no dia seguinte, mas antes de voltar para minha casa fui levado pelo
Santo Espírito até a igreja onde congrego em um de nossos cultos
vespertinos, chegando a tempo de ouvir o Pr. Wilson Gomes (meu pai) ministrar
sobre o milagre ocorrido no Mar Vermelho.
Ao contrário
do que vemos nos filmes, o mar não se abriu repentinamente, pois isso tornaria
tudo muito fácil. Vamos entender como de fato o milagre aconteceu.
Um mar gigantesco à frente e o exército de Faráo atrás, armado até os dentes.
Como à geologia do local não favorecia fugas laterais, o povo hebreu estava
encurralado. Com a chegada da noite e a aproximação dos inimigos, Israel entra
em pânico e Deus ordena a Moisés que toque nas águas. E é ai que algo
curioso acontece. A coluna de fogo que iluminava e aquecia os israelitas
se retira de sobre eles e se põem de fronte aos egípcios.
Você trancaria
alguém desesperado num quarto frio e apagaria a luz? Pois foi
exatamente isso que Deus fez.
Entretanto, o
que o povo não sabia é que Deus trabalhava em duas frentes. No acampamento dos
egípcios, ele dificultava o avanço causando problemas mecânicos (sabotagem,
se você preferir) em seus carros de guerra e no mar agia através de um
forte vento que soprou durante toda a noite abrindo uma avenida no meio do mar,
que só foi percebida com os primeiros raios do sol (Ex 14:21-25). Israel
não ouviu Deus, não viu Deus, não entendeu Deus... Mas Deus nunca deixou de
trabalhar por eles. Deus se cala, mas nunca cruza os braços. Aquela página
em branco que divide sua Bíblia em Antigo e Novo Testamento é significativa.
Representa um período de 400 anos em que Deus se manteve no mais absoluto
silêncio, sem uma única palavra a humanidade, porém, quando volta a falar
quatro séculos depois, é para anunciar que o Messias estava chegando. Deus se
manteve em silêncio, mas não havia parado de trabalhar. Ele estava preparando o
maior acontecimento da história: A Encarnação do Verbo!
Quando voltou a sua residência naquela noite, Daniela se deparou
com uma casa escura e silenciosa. -Será que saíram e me deixaram para
trás? – pensou. Sua prima a encorajou a abrir a porta, girou a
maçaneta e entrou, mas antes que pudesse encontrar o interruptor, as lâmpadas
misteriosamente se acenderam: Surpresa!!! A casa se iluminou
em cores e enfeites, balões, flores e um bolo gigantesco... Mamãe, papai, seus
irmãos, suas amigas e até a professora de violino... Todas estavam lá! – Feliz
Aniversário Dani, você é muito especial para nós... Passamos o dia te
ignorando, tudo para que tivéssemos tempo de preparar sua festa sem você
perceber! - Revelou a mamãe. – Agora vai lá colocar seu
vestido novo e volte para dançar sua valsa de quinze anos. Antes que
pudesse perguntar que vestido era esse, Gisele lhe entregou a
sacola dizendo: - Surpresa! O vestido era para você! Feliz Aniversário
priminha!
Os discípulos
por sua vez passaram a noite inteira pescando sem apanhar um único peixe.
Humilhados, frustrados, desorientados e famintos retornavam a praia quando da
margem alguém lhes ordenou que lançassem novamente a rede. Meio a contra gosto
lançaram e ... Surpresa!!! Centenas de peixe saltaram para o barco
num delicioso deja`vú. Pedro se lança nas águas, os outros remam desesperados
rumo à margem. Aquela era a voz de Jesus. Deus voltara a falar com eles!
Para um mundo
imerso no pecado ele preparou a salvação. Para discípulos esfomeados assou
peixe e pão. Para a nação acuada pelos inimigos preparou um caminho de fuga no
meio do mar. Para o profissional frustrado providenciou uma promoção que
duplicou o seu salário. E fez tudo isso enquanto estava em absoluto silêncio.
Deus sempre preferiu ações ao invés de palavras.
Está frustrado
por sentir Deus distante, achando que ele te abandonou e se esqueceu de você? O ultimo ano foi marcado pelo silencio divino e repleto de frustrações? Seu dia foi
entediante e agora a sua casa está escura, sombria e aparentemente vazia?
Aí vai a
grande revelação.
SURPRESA!!!!
Deus
esteve ocupado te preparando uma "baita" festa!