No começo do século
18, era visível nas 13 colônias — que em breve seriam conhecidas como Estados
Unidos — o declínio da fé evangélica, provocado pela influência do processo
colonizador, com seu subseqüente aumento populacional, sucessão de guerras
brutais e declínio da espiritualidade dos ministros.
Jonathan Edwards: Um gigante espiritual
Jonathan Edwards
nasceu em 1703, único filho homem de Timothy Edwards, que era pastor
congregacional em East Windsor, Connecticut. Pouco antes de completar 13 anos,
entrou no Yale College. Em 1720, recebeu o grau de bacharel, e aos 20 anos
recebeu o grau de mestre em artes. Em abril ou maio de 1721, Edwards
experimentou a conversão: A partir daquele tempo, eu
comecei a ter um novo tipo de compreensão e idéias a respeito de Cristo, e da
obra da redenção e do glorioso caminho da salvação através dele. Eu tinha um
doce senso interior dessas coisas, que às vezes vinham ao meu coração; e a
minha alma era conduzida em agradáveis vistas e contemplações delas. E a minha
mente estava grandemente engajada em gastar meu tempo em ler e meditar sobre
Cristo; e a beleza e a excelência de sua pessoa, e o amável caminho da salvação,
pela livre graça nele. Esse senso que eu tinha das coisas divinas frequentemente
e repentinamente se inflamava, como uma doce chama em meu coração; um ardor da
alma, que eu não sei expressar. Em 1727, foi ordenado ao
pastorado. Ele diz de sua consagração: Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por
escrito, entregando a mim mesmo e tudo que me pertencia ao Senhor, para não ser
mais meu em qualquer sentido, para não me comportar como quem tivesse direitos
de forma alguma [...], travando, assim, uma batalha com o mundo, a carne e
Satanás até o fim da vida. Edwards passou a auxiliar seu avô, Solomon Stoddart, no ministério
da igreja congregacional de Northampton, Massachusetts. Após a morte do avô, um
pastorado que durou sessenta anos, ele assumiu a igreja.
No período entre
1735 e 1737, durante uma série de pregações sobre a justificação pela graça por
meio da fé, começou um pequeno avivamento em sua congregação. Seus ouvintes
sentiram as grandes verdades das Sagradas Escrituras: toda boca ficará fechada no dia do juízo e "não há coisa alguma
que, por um momento, evite que o pecador caia no inferno, senão o bel-prazer de
Deus". Em suas palavras, "o Espírito de Deus começou a trabalhar
de maneira extraordinária. Muita gente estava correndo para receber Jesus. Esta
cidade estava cheia de amor, cheia de alegria e cheia de temor. Havia sinais
notáveis da presença de Deus em quase cada casa". Entre 1739 e 1741,
George Whitefield pregou em 12 das 13 colônias, e teve um papel central na
continuação desse avivamento. De 25 a 50 mil pessoas se converteram, entrando
para as igrejas, nessa época, a população da Nova Inglaterra era calculada em 250
mil pessoas, sem contar os já convertidos e membros das igrejas. Era costume de sua igreja conceder o privilégio a qualquer pessoa,
mesmo sem ser membro da igreja, para participar da ceia do Senhor. Por requerer
uma base estrita para participar da ceia, Edwards foi demitido de sua igreja em
1750. D. M. Lloyd-Jones disse que essa foi uma das coisas mais espantosas que
já aconteceram, e deve servir como uma palavra de encorajamento para os
ministros e pregadores. Lá estava Edwards — o altaneiro gênio, o poderoso
pregador, o homem que estava no centro do grande avivamento — e, todavia, foi
derrotado na votação de sua igreja, por duzentos e trinta votos, contra apenas
vinte e três a seu favor. Lloyd-Jones conclui: "Não se surpreendam, portanto, irmãos,
quanto ao que possa acontecer com vocês em suas igrejas". Depois disso, Edwards foi ser missionário junto aos índios mohawk
e housatonic, num posto na fronteira, em Stockbridge. Foi lá que ele escreveu
alguns de seus tratados teológicos mais importantes. Em 1757, aceitou a
presidência do College of New Jersey, que agora é a Universidade de Princeton,
e, em 1758, depois de receber uma vacina contra varíola, que estava sendo
testada, ele morreu.
Jonathan
Edwards : Um pastor de múltiplos interesses
Ao considerarmos os
escritos de Edwards, temos um vislumbre de seus interesses e aptidões. Ele
escreveu cerca de mil sermões, e seu alvo era levar os homens a entenderem e
sentirem a verdade do evangelho e responderem a ela. Seus sermões eram
esboçados segundo o método puritano, que incluía a exposição do texto bíblico
escolhido, apresentação da doutrina — apoiada por outros textos bíblicos — e
aplicação às questões do dia-a-dia. Ele ocultava sua erudição por traz de uma
clareza deliberadamente simples. Pecadores nas mãos de um Deus irado (1740), baseado em
Deuteronômio 32.25, é seu sermão mais famoso. Antes desse sermão, por três
dias, Edwards não se alimentara nem dormira; rogara a Deus sem cessar:
"Dá-me a Nova Inglaterra!". O povo, ao entrar para o culto, se
mostrava indiferente e mesmo desrespeitoso diante dos cinco pregadores que
estavam presentes. Edwards iria pregar, e, ao dirigir-se para o púlpito, alguém
disse que ele tinha o semblante de quem fitara, por algum tempo, o rosto de
Deus. Sem quaisquer gestos, encostado num braço sobre o púlpito, segurava o
manuscrito e o lia numa voz calma e penetrante. O resultado do sermão foi como
se Deus arrancasse um véu dos olhos da multidão para contemplar a realidade e o
horror em que estavam. Em certa altura, um homem correu para frente, clamando,
suplicando por oração, sendo interrompido pelos gemidos de homens e mulheres;
quase todos ficaram de pé ou prostrados no chão, alguns se agarrando às colunas
da igreja, pensando que o juízo final havia chegado. Durante a noite inteira
ouviu-se na cidade, em quase todas as casas, o clamor daqueles que, até aquela
hora, confiavam em sua própria justiça. O efeito foi duplo: Primeiro eles abandonavam as suas práticas pecaminosas. Depois que
o Espírito de Deus começou a ser derramado tão maravilhosamente de uma maneira
geral sobre a vila, pessoas logo deixaram as suas velhas brigas, discussões e
interferências nos assuntos dos outros. A taverna logo foi deixada vazia, e as
pessoas ficavam em casa; ninguém se afastava, a não ser para negócios
necessários ou por causa de algum motivo religioso, e todos os dias pareciam,
em muitos sentidos, como o dia de domingo. Segundo, eles começavam a aplicar os
meios de salvação; leitura, oração, meditação, as ordenanças pessoais; seu
clamor era: "O que devo fazer para ser salvo?". Edwards reconheceu que "mais de 300 almas foram salvas,
trazidas para Cristo", em Northampton. Nesta época sua cidade tinha cerca
de 2 mil habitantes! Não havia sequer uma pessoa na
cidade, velha ou jovem, que não estivesse interessada nas grandiosas coisas do
mundo eterno [...]. O trabalho de conversão era levado adiante da maneira mais
surpreendente; as almas vinham, multidões delas, a Jesus Cristo.
Outro sermão
magistral é uma exposição verso por verso de l joão 4, A verdadeira obra do
Espírito (1741). Edwards sabia que problemas acompanham o avivamento, pois
Satanás — o qual, segundo ele observou, foi "treinado no melhor seminário
teológico do universo" — segue a um passo de Deus, pervertendo ativamente
e caricaturando tudo quanto o Criador está fazendo. Então, na primeira parte de
seu sermão, ele passa a mostrar quais são os sinais que supostamente negam uma
obra espiritual. Na segunda parte, então, ele demonstra os sinais bíblicos de
uma obra do Espírito Santo. São elas: "amor por Jesus, Filho de Deus e
Salvador dos homens", "agir contra os interesses do reino de Satanás,
que busca encorajar e firmar o pecado, e fomentar as paixões mundanas nos
homens", "profunda consideração pelas Sagradas Escrituras",
revelação dos caracteres "opostos do Espírito de Deus e dos outros
espíritos que falsificam suas obras" e "se o espírito que está em
ação em meio a um povo opera como espírito de amor a Deus e ao homem, temos aí
um sinal seguro de que esse é o Espírito de Deus". Assim era Edwards, nem
crédulo nem hipercrítico, sempre examinando os dois lados. Seu interesse por temas teológicos se evidencia pela amplidão de
suas obras, abordando quase todos os temas doutrinários. As vezes, ele tem sido
considerado um teólogo-filósofo, por causa de alguns de seus escritos, mas
jamais deixou que a filosofia lhe ensinasse a fé ou que o desviasse da Bíblia.
Ele extraía das Escrituras as convicções, e a verdadeira estatura dele deve ser
aquilatada como um teólogo bíblico.
Como disse J. I.
Packer, "por toda a sua vida,
Edwards alimentou a alma com a Bíblia; por toda a sua vida, alimentou o rebanho
com a Bíblia". Ele é mais frequentemente estudado por causa da sua
descrição agostiniana do pecado humano e da total suficiência da graça de Deus
em Cristo por meio do Espírito. Mark Noli diz que, para Edwards, a raiz da
pecaminosidade humana era o antagonismo contra Deus; Deus era justificado ao
condenar os pecadores que menosprezavam a obra de Cristo em favor deles; a conversão
importava uma mudança radical do coração; o cristianismo verdadeiro envolvia
não somente compreender algo de Deus e dos fatos das Escrituras, como também um
novo senso da beleza, santidade e verdade divinas. Na mente de Edwards, as
implicações para a conversão, que o conceito da natureza humana subentendia,
ocupavam o lugar principal. Ele dizia que um pecador, por natureza, nunca
escolheria glorificar a Deus, a não ser que o próprio Deus mudasse o caráter
daquela pessoa ou — segundo a expressão do próprio Edwards — implantasse um
novo 'senso do coração' para amar e servir a Deus. A regeneração, ato de Deus, era a base para as ações humanas do
arrependimento e da conversão. Ele cria que o Deus onipotente exigia
arrependimento e fé das suas criaturas; então, proclamava tanto a absoluta
soberania de Deus quanto a urgente responsabilidade dos homens.
O Tratado das
afeições religiosas (1746), baseado numa série de sermões em 1 Pedro 1.8, é um
tratado clássico de psicologia da religião. Apesar de sua educação lógica e
racional, Edwards argumentava que a religião verdadeira reside no coração, no
centro das afeições, emoções e inclinações. Ele detalhava de forma minuciosa os
tipos de emoções religiosas que, em grande medida, são irrelevantes à
espiritualidade verdadeira. Esse livro termina com uma descrição de 12 marcas
que indicam a presença da verdadeira espiritualidade cristã. A primeira era uma
afeição que surgia "daquelas influências e operações sobre o coração, que
são espirituais, sobrenaturais e divinas". A última era a manifestação de
afeições genuínas e verdadeiras, que demonstram seus frutos na prática cristã.
A análise cuidadosa de Edwards sobre a fé genuína enfatizava que não é a
quantidade de emoções que indica a presença da verdadeira espiritualidade, mas
as origens de tais afeições em Deus, e a sua manifestação em obras que o
glorifiquem. Pela influência de seus
escritos, ele é considerado o maior teólogo dos Estados Unidos. Lloyd-Jones,
que devia muito aos escritos de Edwards, disse: "Eu sou tentado, talvez
tolamente, a comparar os puritanos aos Alpes, Lutero e Calvino ao Himalaia e
Jonathan Edwards ao monte Everest". Edwards dependia totalmente da graça
de Deus, que dominava sua peregrinação intelectual, sempre mantendo seu
intelecto e estudos subordinados à Escritura.
Jonathan
Edwards e a família
Edwards se casou
aos 24 anos, em 1728, com Sarah Pierrepont, filha de um pastor. Ela era uma
mulher muito inteligente, porém, como seu marido, totalmente devota à glória de
Deus e a uma experiência de oração que a levava, algumas vezes, à quase
falência física. Sarah sempre acompanhava o marido nos momentos de oração. Em seu momento devocional diário, Edwards ia a cavalo para um
bosque, e caminhava sozinho, meditando. Anotava suas idéias em pedaços de papel
e, para não perdê-los, os pendurava no casaco. Ao voltar para casa, era
recebido por Sarah, que o ajudava a tirar as anotações. Eles eram profundamente
dedicados um ao outro, e entre as últimas palavras de Edwards, quando estava à
beira da morte em New Jersey, algumas dirigiam-se a Sarah, que ainda estava em
Stockbridge. Ele disse: "Dê o meu mais bondoso amor para minha esposa, e
diga a ela que a excepcional união, que tem subsistido entre nós por tanto
tempo, tem sido de tal natureza, que eu creio ser espiritual, e, portanto,
continuará para sempre". Pensaram que Edwards havia morrido logo depois de
dizer isso, e começaram a lamentar; então, ele disse suas últimas palavras:
"Confiai em Deus e não precisareis temer". Eles tiveram 11 filhos, todos cristãos, e sua vida familiar foi um
modelo para todos os que os visitaram.
Jonathan Edwards e
as missões cristãs
Edwards também
escreveu um livro intitulado Uma humilde tentativa de promover uma clara
concordância e união visível do povo de Deus em extraordinária oração, pelo
reavivamento da religião e o avanço do Reino de Cristo na terra (1748). Nessa
obra ele faz um apelo às muitas pessoas, "em diferentes partes do mundo,
por ex-pressa concordância para se chegar a uma união visível em extraordinária,
[...] fervente e constante oração, por aquelas grandes efusões do Espírito
Santo, o qual trará o avanço da igreja e do Reino de Cristo". Sua
convicção era que, "quando Deus tem algo muito grande a realizar por sua
igreja, é de sua vontade que seja precedido pelas extraordinárias orações do
seu povo". Nesse tempo, a condição
espiritual das igrejas batistas na Inglaterra era deplorável. John Sutcliff,
pastor da igreja batista de Olney, Buckinghamshire, leu o livro de Edwards e
propôs aos seus companheiros pastores, na Associação Northampshire, que
separassem uma hora na primeira segunda-feira à noite de cada mês para orar,
para que "o Espírito Santo possa ser derramado em seus ministérios e
igrejas, para que os pecadores possam ser convertidos, os santos edificados, o
interesse da religião revificado e o nome de Deus glorificado". Um grande avivamenro se seguiu a tais reuniões. A influência de
Edwards sobre Sutcliff e seus amigos, que incluíam William Carey e Andrew
Fuller, foi tal que este escreveu: "Alguns dizem que, se Sutcliff e alguns
outros tivessem pregado mais de Cristo, e menos de Jonathan Edwards, eles
teriam sido mais úteis", replicando em seguida: "Se aqueles que falam
assim, pregassem Cristo metade do que Edwards fazia, e fossem metade tão úteis
como ele foi, sua utilidade seria o dobro do que ela é". Por causa da
profunda impressão do livro de Edwards, em 1792 esses homens fundaram a
Sociedade Batista Particular para Propagação do Evangelho entre os Pagãos — que
veio a se tornar a Baptist Missionary Society —, sendo Fuller seu primeiro
secretário
Texto de Franklin Ferreira
Fonte:
www.jonathanedwards.com.br
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