Uma coisa que chama a atenção na cristandade dos últimos anos é que boa
parte dela é movida por chavões, por clichês e por mensagens que pouco, ou
nada, se assemelham à espiritualidade proposta por Jesus e vivida pelos apóstolos.
E qual o motivo dessa tendência estar cada vez mais forte? Diria que é o fato
de a cada dia meditarmos menos nas escrituras.
Somos uma geração que pouquíssimo lê a bíblia (quem tem uma idade mais
avançada sabe do que estou falando). E quem é mais novo, como eu, tem a
possibilidade de perguntar a seus pais ou avós se isso é ou não uma realidade.
Quantas vezes criticamos um ensino de décadas atrás, pois para nós é nítido que
foi fruto de uma má compreensão de um texto ou de uma “carência intelectual” da
pessoa que aquilo ensinava. Classificamos isso tudo como mera “ignorância
teológica” e nos gabamos de vivermos uma espiritualidade “mente aberta”,
moderna... Porém algo salta à nossa vista e não damos atenção: muitos irmãos em
Cristo podem sim ter cometido equívocos teológicos grotescos por falta de
conhecimento cultural da época dos relatos bíblicos ou até mesmo por falta de
domínio da língua portuguesa, porém eles tinham uma sinceridade, uma
honestidade e um desejo de viver o mais próximo que podiam daquilo que julgavam
ser o ideal de Deus para a vida humana. O acesso às escrituras era limitado (ao
contrário de hoje, que temos dezenas de opções) e com muito custo conseguiam
comprar uma tradução comum, como a tão conhecida “João Ferreira de Almeida”. Mas
uma vez que a tinham em mãos, dificilmente um dia se passava sem que ela fosse
aberta e lida, mesmo que pouca coisa fosse compreendida.
Atualmente, sejamos sinceros: quantos de nós temos o hábito de ler a
bíblia com frequência? Poucos, sem dúvidas. E quantos temos o hábito não apenas
de ler, mas também de meditar no que lemos? Ah, menos ainda... Nossa geração é
acomodada e tem tempo para tudo, menos para coisas importantes. Muitos até
idolatram a bíblia, defendendo-a contra todo tipo de crítica e impedindo que
ela sequer caia no chão ou que seja riscada por uma criança, porém, ao mesmo
tempo, a negligenciam, pois ela sequer é estudada com a devida profundidade que
essa noção deveria exigir.
O que se vê, na maioria das vezes, são irmãos que colocam as mãos na
bíblia apenas aos domingos (ou nos dias de culto que participa). E ela é aberta
apenas quando o pastor anuncia a “leitura bíblica da noite”. O que é ensinado
nos púlpitos raramente é conferido nas escrituras, dentro de seus devidos
contextos, se é realmente daquela forma. As pessoas querem comodidade: “Ler
para que, se o pregador lerá em casa, interpretará e explicará para mim no
culto da noite?” Cada dia
mais estão se alimentando de mensagens “mastigadas” por terceiros. Não há
criticidade e não há aquela atitude dos irmãos de Bereia (Atos 17), que examinavam tudo o que ouviam dos
apóstolos, para não serem enganados. O que o pregador fala é tido como verdade
absoluta, pois “ai daquele que
tocar no ungido do Senhor” (que
também é fruto de várias descontextualizações, pois “tocar” nunca teve sentido
de “conferir” ou de “questionar”).
O tempo vai passando e a maturidade espiritual de quem assim vive nunca
chega. Permanece muitas vezes alimentando-se de “leite espiritual”. E quando
ouve algo que nem leite é, ou seja, que nem de “alimento” pode ser chamado,
sequer consegue identificar que aquele ensino é totalmente anticristão. A
pessoa é levada por todo vento de doutrina e vai para lá e para cá, como uma
folha seca em meio às ondas do mar. Começa a seguir modismos e tendências, como
essa espiritualidade rasa baseada em mensagens de prosperidade financeira, em
ideias infundadas de que o que decretamos Deus obedece, satisfazendo nossos
desejos egoístas (como se Deus fosse um “gênio da lâmpada”, que basta invocá-lo
com uma ordem ou com um sacrifício financeiro que ele aparece). Passa a basear
sua espiritualidade em rasos clichês que prometem bênçãos caso a pessoa diga
que crê ou caso ela meramente grite “amém”. A bíblia passa a ser apenas um
objeto mágico, pois ela somente será aberta em casa quando esse indivíduo
estiver passando por uma situação complicada e quiser que, ao abrir
aleatoriamente em uma página, Deus fale com ele em um versículo. A bíblia então
se transforma de “testemunha histórica de Cristo” (pois assim Jesus
classificava as Escrituras – João
5:39) em uma “caixinha de promessas”. E assim seguimos com a consciência
anestesiada, dormente, sem compreender e sem viver uma espiritualidade sadia e
fundamentada em Cristo.
Então o que temos a fazer é começar a ler a bíblia diariamente, como um
ritual? Claro que não. A leitura da bíblia deve despertar em nós o desejo de
lê-la ainda mais, ao mesmo tempo em que a motivação para meditar nas escrituras
deve ser esse desejo. Percebe que uma coisa leva à outra, formando um ciclo?
Quando mais leio, mais compreendo e mais desejoso pela leitura vou ficando. Não
é questão de ler como obrigação; não é ter como meta terminar o ano tendo lido
ela toda; não é estipular um número de capítulos para ler em cada dia (embora
algumas pessoas achem válido essas estratégias e para alguns realmente
funcione). Procure sim criar um hábito de leitura bíblica, mas por prazer. Se
estiver disposto a ler dez capítulos no dia, leia; se estiver disposto a ler
apenas um, sem problemas. Porém não leia a bíblia como se lê um jornal. Ore a
Deus, peça que o Espírito Santo lhe ilumine e lhe guie através das letras do
livro, a fim de que internalize a Palavra. Medite em cada texto, compare aquilo
que lê com Jesus, afinal nEle estão todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento (Colossenses 2);
Ele é o Verbo, a Palavra de Deus que se fez carne (João 1).
Tenha em mente que a escritura tem a função de apontar para Cristo, como
já foi citado. Não perca o foco; não é porque você lê a bíblia que você entende
a Palavra. Muitos teólogos são até ateus (pasme!), ou seja, eles tem a
escritura, mas não discernem a Palavra. E a bíblia só se tornará Palavra para
você se você a internalizar como “Espírito e Vida” (João 6:63), ou melhor, se o Espírito Santo a
internalizar em você. Do contrário, será apenas mais um livro, como o é para
muitos que dominam o grego e o hebraico, que lecionam sobre exegese e
hermenêutica, mas que seguem com seus corações endurecidos.
O que fica claro? Que conhecer a escritura não significa conhecer
a Deus. Conhecimento do Pai é algo relacional (e não, intelectual), porém o
conhecimento da escritura é um ponto importante para que você tome consciência
disso. É pela escritura que você vê historicamente Jesus, logo, percebe Deus se
relacionando com o homem, afinal, Ele disse: “Quem
vê a mim, vê o Pai” (João
14). Jesus é a imagem do Deus
invisível (Colossenses 1), portanto
devemos ler as escrituras sabendo que Cristo nos revela não apenas a Obra
divina realizada para nossa salvação (o Evangelho), mas também o ideal de Deus
para que vivamos. Quando olhamos para Jesus vemos o modelo perfeito de ser
humano e embora nunca alcancemos a perfeição neste mundo, até que sejamos um
dia glorificados em um corpo incorruptível devemos viver tendo o que Ele nos
revelou (em ações e em palavras) como parâmetro. Jesus é o referencial para
julgarmos (discernirmos) tudo e todos. O que é coerente com Jesus, é a Vontade
de Deus para nossa vida.
Não é a leitura da bíblia que lhe trará salvação, mas tornará você mais
consciente dela; não é a leitura que lhe trará bênçãos, mas fará com que você
se veja abençoado nos mínimos detalhes de sua vida; não é a leitura que lhe
fará mais santo, mas revelará a você muita coisa dAquele que lhe santifica.
Então medite nas escrituras, não como obrigação, mas como uma forma de
gratidão. Muitos desejariam ter neste momento uma bíblia nas mãos, mas não
podem. Não desperdice essa dádiva que chegou até você!
O texto é longo, mas vale a pena ser lido e ser meditado, pois traz esclarecimentos e contém bênçãos de Deus para todos os leitores.
ResponderExcluirMuito obrigado li um testo teu falando sobre blasfemia contra o espirito bençáo de DEUSobrigado
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