Abraham Lincoln nasceu
pobre, vem 1809, e ao logo de toda a vida se defrontou com dificuldades e
derrotas. Fracassou duas vezes nos negócios, perdeu oito eleições e sofreu um
colapso nervoso. A derrota e o fracasso o convidavam a desistir, mas ele
recusou o convite. Sua história é a de um espírito extraordinariamente
perseverante, como deixa claro o seguinte resumo da sua vida: Em 1819, a
família de Lincoln foi despejada da casa onde morava e ele foi obrigado a
trabalhar para sustentá-la. Em 1831 fracassou nos negócios. Em 1832 concorreu à
câmara de deputados de Illinois e perdeu. Em 1832 perdeu o emprego. Mais tarde,
nesse mesmo ano, decidiu estudar direito, mais teve sua inscrição rejeitada. Em
1833 pediu dinheiro emprestado a um amigo para comercializar um negócio, mas no
fim do ano foi à bancarrota. Passou os 17 anos seguinte pagando a dívida. Em
1834 concorreu novamente à câmara estadual e perdeu. Em 1835 ficou noivo, mas a
morte da noiva o deixou desconsolado. Em 1836 sofreu um colapso nervoso total
que o deixou preso à cama por seis meses. Em 1838 concorreu à presidência da
câmara e foi derrotado.
Em 1840 tentou uma vaga no colégio eleitoral e perdeu. Em
1843 concorreu ao congresso e perdeu. Em 1846 concorreu ao congresso outra vez;
desta vez venceu, abrindo finalmente o caminho para Washington. Em 1848
disputou a reeleição para o congresso e perdeu. Em 1849 tentou um emprego no
cadastro público de terras e foi recusado. Em 1854 concorreu ao senado dos
Estados Unidos e perdeu. Em 1856 candidatou-se à indicação para vice-presidente
na convenção nacional de seu partido e perdeu, tendo recebido menos de 100
votos. Em 1860 decidiu disputar a presidência... Lincoln venceu e se tornou um
dos maiores presidentes da história dos Estados Unidos e um dos mais
extraordinários líderes dos tempos modernos. Num discurso, ele disse: “O
caminho foi irregular e acidentado. Escorreguei, atrapalhei-me com minhas
próprias pernas, mas me equilibrei e disse a mim mesmo: ‘ Isso foi um
escorregão, não uma queda. ’’
Filho de um agricultor
de ascendência inglesa, vivendo no Kentucky, um dos primeiros Estados criados
após a independência da Grã-Bretanha (1792), na fronteira ocidental do país,
Lincoln passou a maior parte da sua infância no território de Indiana, para
onde a família se tinha deslocado em finais de 1816, devido a um processo
judicial de contestação da propriedade que o pai possuía. A mãe morreu no
Outono de 1818, tendo Lincoln e a irmã sido educados pela madrasta, Sarah Bush
Johnston, mãe de 2 raparigas e um rapaz, com quem o pai se casou no princípio
do Inverno de 1819. Lincoln, filho de pais iletrados, teve uma educação muito
pouco cuidada, frequentando a escola muito esporadicamente, mas
que, como o próprio afirmava, quando chegou à idade adulta, lhe permitia ler e
escrever e fazer algumas contas básicas.
Em 1830 a família
mudou-se novamente mais para Oeste, para o território do Illinois, na
fronteira. Lincoln, com 21 anos, não querendo ser lavrador começou por tentar
várias profissões, mas finalmente estabeleceu-se em Nova Salem, trabalhando em atividades
como o comércio, os correios ou no levantamento topográfico. Com o desencadear
da Guerra de «Black Hawk» contra tribos índias, alistou-se como voluntário
tendo sido eleito capitão da sua companhia. Não tendo, segundo as suas próprias
palavras, «visto guerreiros índios vivos», terá entrado em várias «lutas
sangrentas contra os mosquitos». Entretanto, candidatou-se à Assembleia
Legislativa do Illinois, para onde foi eleito repetidas vezes, após uma
primeira tentativa falhada. Pensou em tornar-se ferrador, mas finalmente
escolheu a advocacia. Tendo aprendido por si próprio gramática e matemática,
embrenhou-se nos manuais jurídicos, passado o exame de admissão à advocacia em
1836. No ano seguinte mudou-se para a capital do Illinois, Springfield, onde
tinha mais possibilidades de exercer advocacia do que em Nova Salem.
O começo da profissão
de advogado foi difícil e muito trabalhoso, tendo de deambular pelo Estado para
conseguir clientes. Com o aparecimento dos caminhos de ferro, Lincoln tornou-se
advogado da Illinois Central Railroad, tendo defendido a companhia com sucesso,
o que lhe deu uma real estabilidade financeira. Tornou-se um advogado
reconhecido, tendo também ganho um célebre processo do foro criminal, onde
defendeu o seu cliente da acusação de assassínio com a ajuda de um Almanaque
que provava que, sendo a noite do crime de Lua Nova, e por isso muito escura, a
testemunha do crime não podia ter presenciado o crime claramente.
Em 1842 casou com Mary
Todd, mulher com uma sólida educação, pertencente a uma família distinta do
Kentucky, e cujos familiares em Springfield faziam parte da elite local. Do
casamento nasceram quatro filhos, tendo só o filho mais velho chegado à idade
adulta. Com o casamento Lincoln começou a frequentar a igreja Presbiterana
local. Sendo considerado um céptico em questões religiosas e um livre-pensador,
era um conhecedor profundo da Bíblia, tendo acabado por defender que toda a
história era obra de Deus.
Quando Lincoln entrou
para a política, no princípio dos anos 30 do século XIX, simpatizava com as
ideias de Jackson sobre o desenvolvimento da democracia nos Estados Unidos,
mas, ao contrário do presidente dos Estados Unidos, achava que o governo federal
devia intervir na ajuda ao desenvolvimento econômico. Admirando os dois
grandes políticos americanos da década de 40, Henry Clay e Daniel Webster,
começou por apoiar o partido Whig, assim chamado, imitando o antigo nome do
partido liberal britânico, porque combatia ao aumento dos poderes
presidenciais. Lincoln achava que o seu Estado, o Illinois, e o Oeste em geral,
precisavam desesperadamente do apoio do governo federal no apoio ao
desenvolvimento económico, por meio de um banco nacional, uma barreira
alfandegária proteccionista e um programa de desenvolvimento das comunicações.
Como membro da
Assembleia legislativa estadual do Illinois, de 1834 a 1840, Lincoln
desenvolveu um projeto grandioso, a ser subsidiado por fundos estatais, de
criação de uma rede de caminhos-de-ferro, estradas e canais, que foi aprovado,
mas que por vários motivos não pôde ser concretizado. A posição de Lincoln
sobre a escravatura era, nesta altura, conciliatória defendendo que a
escravatura não só «era injusta, mas também era uma má solução», sendo que as
«doutrinas abolicionistas tendiam a aumentar, e não a diminuir, os efeitos
perniciosos da instituição».
Durante o seu mandato
para a Câmara dos Representantes (1847-1849) Lincoln, que apresentou uma lei
para a abolição da escravatura na capital federal que não agradou a ninguém,
dedicou-se sobretudo a apoiar a eleição de um presidente Whig, o que foi
conseguido com a eleição do herói da Guerra do México, Zachary Taylor, mas esta
eleição não beneficiou Lincoln da maneira que este esperava.
Afastado da política
por um curto espaço de tempo, Lincoln regressou para combater a Lei
Kansas-Nebraska, proposta pelo seu rival político Stephen A. Douglas, que
permitia a existência da escravatura nestes estados, desde que aprovada pelos seus
eleitores. A luta política contra esta medida, que acelerou o declínio do
partido Whig, deu origem ao Partido Republicano. Como muitos outros políticos
Whig, Lincoln integrou este novo partido em 1856.
Em 1858 Lincoln tentou
ser nomeado para o Senado, em vez de Douglas. A campanha eleitoral deu origem a
um conjunto de debates, que abordaram sobretudo o tema da escravatura. Foi
nessa época que proferiu o célebre discurso Uma Casa Dividida, em
que afirmou que uma «casa dividida não se pode manter», insistindo no tema de
que as liberdades civis, tanto dos brancos como dos negros, estavam em causa no
problema da escravatura. Os debates não conseguiram fazer com que Lincoln fosse
eleito, mas tornaram-no uma figura nacional, e fizeram com que, em 1860, fosse
pensado para a Presidência dos Estados Unidos. Na verdade, acabou por ser
escolhido como candidato do Partido Republicano, ao fim de três votações, na
convenção desse ano.
Devido a haver quatro
candidatos à eleição, o Partido Democrata estar dividido e o seu Partido unido
em seu redor, Lincoln acabou por ser eleito, com 40% dos votos dos eleitores,
mas com uma grande maioria no Colégio Eleitoral, sendo que no colégio não
obteve nenhum voto dos Estados do Sul. No período entre a eleição e a tomada de
posse de Lincoln, a Carolina do Sul decidiu abandonar a União. Tentou-se chegar
a um compromisso, a propósito da divisão territorial entre estados escravagistas
e livres, mas acabou-se por não chegar a nenhum acordo, o que levou outros seis
estados do Sul a seguir o exemplo da Carolina do Sul, formando os Estados
Confederados da América.
A guerra acabou por ser
declarada devido ao cerco do forte Sumter por tropas da Confederação. O forte
que tinha sido acabado de construir na baía de Charleston, na Carolina do Sul,
e estava guarnecido por tropas federais, foi bombardeado em 12 de abril de
1861, antes da chegada anunciada de uma coluna de reabastecimento. O novo
presidente requereu tropas aos governadores estaduais, o que fez com mais três
estados abandonassem a União, entre os quais o importante Estado da Virgínia, e
declarou o bloqueio dos portos sulistas. A estratégia de Lincoln era simples.
Baseava-se em organizar o maior número possível de tropas e atacar em todos os
lados ao mesmo tempo. O peso demográfico e económico dos estados do Norte,
far-se-ia sentir mais cedo ou mais tarde, sobre os estados do Sul, e a guerra
terminaria. Mas
a unidade de comando, necessária para coordenar os esforços dos diferentes
exércitos federais, só foi conseguida em março de 1864, quando Lincoln nomeou o
general Grant, vencedor dos exércitos confederados no vale do Mississipi,
comandante-chefe das forças da União. A estratégia de 1861 pode ser posta em
prática, finalmente, e a rendição dos estados do Sul não demorou.
Durante a Guerra Civil
a política de Lincoln em relação à escravatura foi-se modificando. Começando
por defender a manutenção do status-quo, isto é, a manutenção da escravatura nos
estados em que ela existia, e a proibição da sua expansão para outros estados;
a posição de Lincoln tornou-se, no fim da guerra, abertamente abolicionista.
Com o decreto presidencial de 1 de janeiro de 1863, que pôs em prática de
acordo com o que considerava serem os poderes do Presidente em tempo de Guerra,
e que ficou conhecido como a Proclamação da Emancipação, os escravos nos
territórios do Sul sob domínio confederado eram libertos. A medida só libertou
200.000 negros até ao fim da guerra, mas mostrou definitivamente que a abolição
da escravatura se tinha tornado um dos objetivos da guerra, para além da
manutenção da unidade política. A medida, de duvidosa legalidade, foi seguida
por uma Emenda Constitucional, a 13.ª, que proibiu a escravatura nos Estados
Unidos da América. A emenda tinha sido prevista no programa político do Partido
Republicano, durante a preparação das eleições de 1864.
Durante a guerra,
Lincoln teve de preparar a «reconstrução» dos estados do Sul. A questão foi
sempre fonte de divisão no Norte e no Partido Republicano. A facção «Radical»
defendia que os estados rebeldes deviam ser tratados duramente, enquanto
Lincoln e os «Conservadores» defendiam que os territórios deviam regressar à
normalidade o mais rapidamente possível, sendo as medidas de regularização da
situação o menos duras possíveis. Mas a posição de Lincoln nunca foi muito
clara, mesmo após o fim da guerra, parecendo que se começava a aproximar das
posições dos «Radicais», quando morreu.
Na noite de 14 de abril
de 1865, uma 6.ª feira Santa, o ator John Wilkes Booth, defensor da escravatura
e com ligações fortes ao Sul, membro de uma família famosa de atores, matou
Lincoln no Teatro Ford, em Washington.
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