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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Quem era de fato Judas Iscariotes?


Judas Iscariotes é, sem dúvidas, um dos mais enigmáticos personagens de todo cânon sagrado. Citado sempre por último na listagem dos doze discípulos, nada sabemos sobre sua vocação e muito pouco de sua vida foi revelado pelos evangelistas. 

O nome, “Judas” significa “abençoado”, e é um dos mais comuns no Novo Testamento onde encontramos pelo menos “sete” homônimos. O fato de Judas ser identificado como “Iscariotes” pode significar sua posição política na sociedade judaica como membro do partido dos sicários, uma ramificação dos zelotes. A grande maioria dos estudiosos acredita que este termo na verdade nos revele a naturalidade de Judas, que seria oriundo de Cariotes ou Kerioth, um lugarejo perto de Hebrom e muito próximo da Judéia, local mais provável de seu primeiro encontro com Jesus. 

Porém, tudo o que se falar sobre as origens de Judas Iscariotes tramitará no âmbito das especulações, pois todas as citações referentes a ele nos quatro evangelhos apontam apenas seu declínio espiritual, que culminou no famoso ato da traição. 

Os Evangelhos de Mateus e Marcos fazem menção da ganância de Judas e sua forma materialista de enxergar o ministério do Cristo. Lucas, por sua vez, relata que as ações extremadas de Judas foram motivadas por Satanás, que literalmente, “entrou nele” (Lucas 22:3). João vai ainda além, pois não só ratifica a influência satânica sobre o discípulo renegado, como também aponta seu desvio de caráter ao identifica-lo como um ladrão (João 12:6).

Com este histórico, Judas se tornou um “ícone da maldade”, uma personificação pulsante da falsidade e da traição. No folclore brasileiro, o chamado “sábado de aleluia” (pós “sexta-feira da paixão”) é marcado pela “Malhação de Judas”, onde um boneco é amarrado pelo “pescoço”, surrado e queimado numa demonstração de aversão aos atos do discípulo traidor. Esta tradição, remonta a portugueses e espanhóis, e se espalha ainda hoje pela América Latina. Entre muitas comunidades cristãs da Alemanha, é expressamente proibido citar o seu nome, e em alguns dicionários, o verbete “Judas” tem entre seus significados expressões como “falso amigo” ou “traidor”. 

Porém, apesar de todo o ódio popular demostrado por ele, Judas Iscariotes tem sim uma legião de simpatizantes. No século II, uma comunidade gnóstica redigiu o controverso “Evangelho de Judas”, que foi encontrado recentemente  no Egito. Escrito em copta e datado com mais de 1700 anos, o manuscrito aponta Judas como um herói, pervertendo a narrativa dos evangelhos canônicos. Ali, Judas é apresentado como o mais próximo discípulo de Jesus e o único a compreender a verdade sobre ele. Cristo então teria revelado para Judas que estava “preso” em um corpo carnal, e informa ao seu discípulo que o mesmo estava destinado a ser superior aos demais homens, pois seria o responsável por “sacrificar o corpo que o vestia”. Assim, todo o plano tramado por Judas, na verdade era uma ordenança do próprio Cristo, que culminaria em sua morte e “libertação”. Assim, a atitude de Judas não teria sido uma traição, mas sim um ato de devoção e fé.

Este argumento não só contradiz os evangelhos canônicos, como vai na contramão de tudo que a Bíblia diz sobre Deus e Jesus, devendo ser refutado com veemência. 

Outros escritos apócrifos justificam o ato de Judas como sendo uma tentativa de iniciar a revolução política tão desejada pelos judeus.  Segundo esta teoria, Judas acreditava que quando Jesus estivesse cercado pelos soldados romanos, finalmente se revelaria como o grande Messias, que livraria Israel da opressão estrangeira. Se de fato esta fosse a intenção de Judas, demostraria o quão distante ele estava de compreender os ensinamentos de Jesus, que apontavam para o Reino de Deus, e não se detinha em questões materiais. 

Neste emaranhado de suposições, o que sabemos com certeza sobre Judas, é que este homem foi escolhido por Jesus para ser um de seus discípulos de confiança (sendo o tesoureiro do grupo), e que ao invés de adentrar na dimensão espiritual proposta por Cristo, se ateve a questões mesquinhas e efêmeras, dando com isso, lugar a Satanás.  Entrou para a história como um traidor que não podendo suportar as consequências de seus atos, se esqueceu do quanto era amado e tirou a própria vida. 

Seu remorso desesperançado e seu coração tomado pelas trevas, se quer cogitaram a possibilidade de encontrar o perdão absoluto que emanaria da cruz. Judas se deixou dominar pela carne, dando ouvidos a voz do maligno. E estas vozes soavam tão alto, que ele mal conseguiu ouvir as últimas palavras ditas por Jesus a ele no momento em que deu o famoso beijo da traição: -  Meu amigo! (Mateus 26:50).


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