Quando Israel
chegou em Cades-Barnéia, no deserto de Parã, já estava no limiar de Canaã, a
poucos passos da terra prometida. Com mão forte e braço estendido, Deus os
havia tirado do Egito, e com feitos portentosos, os trazidos até a fronteira da
promessa. Mesmo assim, o povo duvidou, temendo o desconhecido, apreensivo com o
que estava por vir. Então, Deus permitiu que Moisés enviasse espias para sondar
a terra, e assim, acalmar a ansiedade dos israelitas.
Foram escolhidos para
esta missão, 12 homens entre os líderes do povo, sendo um de cada tribo: Samua
(Rúben), Safate (Simeão), Calebe (Judá), Ioal (Issacar), Josué (Efraim), Palti
(Benjamim), Gadiel (Zebulom), Gadi (Manassés), Amiel (Dã), Setur (Aser), Nabi
(Naftali) e Geuel (Gade).
Moisés os orientou a colher informações sobre a
geografia do lugar (relevos e rios), a qualidade e a produtividade do solo,
áreas agrícolas e florestas, aspectos gerais dos moradores, nível de segurança
das cidades, e por fim solicitou que fossem colhidas amostras dos frutos ali produzidos.
Por quarenta dias os espias sondaram a terra. Partindo de Cades–Barnéia,
chegaram ao sul de Canaã por Hebrom e dali se dirigiram ao extremo norte pelo
caminho próximo ao mar Mediterrâneo. Após alcançarem Reobe, o grupo regressou a
Hebrom, desta vez pelo Vale do Jordão. Antes de voltarem para o acampamento, os
espias se ativeram em Ecol, de onde colheram cachos de uva para apresentarem
aos israelitas.
Embora o povo tenha ficado admirado com os frutos trazidos de
Canaã, o relatório dos espias não foi recebido com o mesmo entusiasmo. Segundo
eles, a terra era realmente boa, manando leite e mel conforme havia sido
prometido por Deus. Porém, os habitantes locais eram muito poderosos, as
cidades eram grandes e fortificadas, os amalequitas já dominavam a terra do
Neguebe, as montanhas eram habitadas por tribos cananitas (heteus, jebuseus e
amorreus), e pelo caminho, ainda estavam os filhos de Anaque, homens tão altos,
que fariam os israelitas se sentirem como gafanhotos prontos para serem
pisados. Ao ouvirem estas palavras, o povo foi subitamente tomado por grande
desanimo, considerando impossível a conquista de território tão hostil, a mesma
opinião de dez dos doze espias. Aquela foi uma noite de choro e murmurações.
Josué (da tribo de
Efraim) e Calebe (da tribo de Judá) foram as únicas exceções. Eles estavam
maravilhados com a terra e nem um pouco preocupados com os inimigos que teriam
que enfrentar. Ambos se inflamaram a esforçar o povo, encorajando-os a
não terem medo dos cananitas, pois Deus estava ao lado dos hebreus, e os
inimigos seriam devorados como se fossem pães (Números 14:9).
Porém, os filhos
de Israel não deram ouvidos a estas palavras, e imediatamente se levantou
grande rebelião contra Moisés e Arão, exigindo um retorno imediato ao Egito,
nem que para isso fosse necessário escolher um novo comandante. Por serem
contrários a este desejo retrógrado, Josué e Calebe foram hostilizados pelo
povo, e só não foram vitimados por um apedrejamento público porque Deus bradou
com poder e grande fúria na tenda da congregação. Falando à Moisés, o
Senhor revelou que não tolerava mais a incredulidade daquela gente, que os
estava rejeitando como nação eleita e que o povo seria ferido de morte. Em
decorrência da intercessão de Moisés, Deus não destruiu a nação de Israel em
Parã, mas jurou que todos os homens que viram os sinais realizados no Egito ,
mas desobedeceram sua voz, não entrariam na terra prometida. A partir daquele
dia, Israel peregrinou quatro décadas, um ano para cada dia de espionagem, até
que toda aquela geração morresse no deserto. As únicas exceções foram Josué e
Calebe.
Josué era filho de
Num, eframita nascido no Egito que passou a ter maior destaque nacional quando
foi escolhido para comandar os hebreus na batalha de Redifim contra os amalequitas
(Êxodo 17:8-16). Seu nome era Oséias (que significa “Salvação), porém, Moisés
passou a chama-lo de Josué (Deus é a Salvação). Durante os anos de caminhada
pelo deserto, ele se tornou um tipo de “assessor” de Moisés, acompanhando seu
mentor em todos os eventos de relevância. Foi o único autorizado a subir com
Moisés ao Sinai quando este recebeu os mandamentos. Também guardava a porta da
tenda enquanto Moisés falava com Deus. Com a morte de Arão, tornou-se o braço
direito do grande líder e seu sucessor imediato. Quando Moisés também morreu,
coube a ele a responsabilidade de atravessar o Jordão e conduzir Israel a
tomada da terra prometida. Ao todo, Josué liderou a conquista de 33
territórios.
Calebe por sua vez, era um judeu filho de Jefoné que exerceu
exímia liderança na tribo de Judá durante duas gerações. Era um homem dotado de
muitas virtudes do qual o próprio Deus deu impressionante testemunho. Por sua
perseverança e fé, o Senhor lhe fez duas grandes promessas: ele sobreviveria ao
deserto e herdaria a terra que espiou (Números 14:34). Ele lavrou este
juramento em seu coração, e nem mesmo a passagem dos anos foi capaz de minar
sua fé nas promessas.
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