Conviver com uma
hemorragia contínua, já em si um grande fardo a carregar. Cólicas constantes,
dores lombares e abdominais, desarranjo hormonal e odores desagradáveis nem
eram os maiores incômodos daquela mulher, mas sim a solidão. Uma mulher em sua
condição era proibida por lei de frequentar lugares públicos, assim, ela não
podia fazer compras, passear com a família, tomar um chá com suas amigas ou
participar de um culto ao Senhor. Além de conviver com seus “demônios
interiores”, ainda era preciso exteriorizar sua miséria, pois sempre que alguém
se aproximasse demais, era sua obrigação civil informar que estava
"imunda". Como deveria se sentir cada vez que precisava proferir
essas palavras?
Aos olhos da lei, ela
não passava de um agente contaminador. Sem amparo na medicina de seu tempo,
aquela mulher tem um novo lampejo de esperança quando ouve falar de um jovem
pregador, que por onde passa, deixa para traz um rastro de prodígios
miraculosos. Até ali, Jesus já tinha curado leprosos e aleijados, expulsado demônios,
transformado água em vinho, multiplicados pães e feito o mar se acalmar, e tudo
isso, o credenciava como um grande operador de milagres e o único capaz de dar
um fim para aquele imenso sofrimento.
Jesus estava apregoando
seu evangelho na província dos gadarenos quando um homem de alta posição social
chamado Jairo, se lança aos pés do Senhor e pede que Ele socorra sua filha que
está muito doente. Mais tarde, aquela menina seria trazida de volta a vida por
Jesus, mas é no trajeto até sua residência que iremos testemunhar um ato
de muita fé e coragem.
Enquanto Jesus
caminhava, uma grande multidão se formava ao seu redor. Discípulos, seguidores,
simpatizantes e curiosos se amontoavam em torno de Jesus, formando
uma barreira humana quase intransponível. Seria impossível chegar até ele sem
tocar em ninguém. Aquela mulher sabia que só teria uma chance na vida de se
encontrar com o Salvador, mas para isso, ela teria que atravessar uma multidão,
o que certamente implicaria nas punições previstas em lei. Mas uma certeza
absoluta lhe dava coragem para seguir... “Eu só preciso de um toque”....
Fraca e debilitada, ela
começa sua jornada por entre aquele mar de gente. Certamente ela tentou não
tocar em ninguém, mas bastaram alguns segundos para que o primeiro transeunte
esbarasse nela. A culpa a corroeu por ter “contaminado” um inocente, mas já que
tinha chegado até ali, ela deveria continuar. O progresso era milimétrico e
pesaroso. Ela havia se tornado num farrapo humano, e ali na sua frente, homens
empolgados e mulheres plenas de saúde disputavam cada pequeno espaço.
Seu esforço foi
sobre-humano, e exaurida, quase ao ponto de desmaiar, ela viu pela primeira vez
um relance de Jesus. Ela podia vê-lo, mas não o alcançar, pois para isso era
necessário avançar ainda mais.... Ela então, retira forças da única fonte que
resta, a fé. Quase caída no chão, a esquelética mulher estica seu braço até
sentir os ossos estalarem, os milímetros parecem metros, até que ela sente a
ponta de um de seus dedos encostar no tecido da roupa de Jesus.
O mundo parou....
Seu corpo é abraçado
pelo calor...
Ela sente o sangue parar
de escorrer....
Uma força a muito
perdida move seu corpo do chão e a mulher se levanta. Ela está estática e as
pessoas passam apressadas a deixando para traz. E então Jesus também para. Ele
se volta para a turba e diz: - Alguém me tocou... Pedro estranha o
comentário, pois centenas de pessoas o estão tocando desde que desembarcou na
praia. Então, o Senhor Jesus revela o quão poderoso um toque de fé pode ser:
- Alguém me
tocou de um modo muito especial... Pois de mim saiu virtude!
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