Hendrik Leendert Heijkoop nasceu em 25 de
Setembro de 1906 sendo o décimo filho de uma família temente a Deus na Holanda.
Em sua juventude, depois de longo e profundo exercício de sua alma ele
encontrou paz com Deus. Ele mesmo escreve a respeito:
-
“Quando tinha dezessete anos Deus me concedeu a certeza do perdão de meus
pecados, mas ainda não tinha paz. Eu me encontrava neste tempo no estado de
Romanos 7. Quando cheguei aos dezenove anos, encontrei paz com Deus, e aprendi
o que significa estar em Cristo, e que para tais não há condenação (Romanos 8:
1). Pela primeira vez em minha vida me senti feliz, e sabia que se eu morrer
não iria para o inferno. Então o Senhor me mostrou a necessidade de me ocupar
diariamente uma hora com a palavra de Deus. Em Winschoten, onde morava não
havia assembléia naquele tempo. Quando tinha vinte e um anos, vieram dois
irmãos, que eram batistas, e me perguntaram se poderíamos estudar a palavra
juntos. Como os outros dois tinham menos experiência com a palavra de Deus, eu
precisei ser o mestre. Sim, então o Senhor me obrigou – não contra minha
vontade – estudar bastante a bíblia, de forma que abandonei meu outro estudo,
para me ocupar só com a palavra de Deus. Eu me lembro ainda bem daquelas noites
maravilhosas, quando precisava interromper minha leitura para primeiro
agradecer, sim, adorar a Deus pelas verdades que eram tão novas e frescas para
mim. Eu conheci a riqueza infinita que nós temos como crentes, e também a
infinita glória do Senhor Jesus.”
Heijkoop, desde muito cedo, passou a
desejar servir ao Senhor proclamando e ensinando a palavra de Deus em tempo
integral. O estudo da palavra, desde aquele tempo, passou a ser sua principal
ocupação e maior alegria. Ele gostava de contar oportunamente, sorrindo, que às
vezes acontecia de colocar os pés numa bacia de água fria durante seus estudos
noturnos para vencer o sono. Ele tinha uma fina percepção do que significava
ser um despenseiro da preciosa verdade sobre a igreja de Deus. Quantas vezes
ele chamava a atenção que o conhecimento da palavra de Deus só levaria ao
verdadeiro conhecimento dos pensamentos de Deus, se o estudo for acompanhado de
séria oração.
As condições financeiras não lhe
permitiram uma formação mais elevada, e assim ao jovem Hendrik Heijkoop sobrou
o caminho ao lado da formação profissional de contador, que não queria exercer
“de forma nenhuma” como confessava, como autodidata adquirir admirável
conhecimento em conhecimentos gerais, mas principalmente o abrangente
conhecimento da palavra de Deus. Mal completou vinte anos, seu caminho
profissional o levou para Winschoten, onde ele estava em comunhão com alguns
simples irmãos, como testemunho da igreja de Deus local, e por isto já com
pouca idade foi requisitado a ajudar servindo na palavra.
Depois que o Senhor concedeu
crescimento por alguns anos em Winschoten, surgindo um florescente testemunho,
iniciou-se nos anos sessenta a conferencia de Winschoten onde a glória de
Cristo e as bênçãos para sua igreja eram apresentados a jovens e velhos de
forma ricamente abençoada. Ele aproveitava seu tempo livre para servir na
palavra aos crentes na Holanda e Alemanha. Naquele tempo Deus o usou para
eterna benção de muitos. Muitos se converteram pelo seu ministério e vieram a
crer no Salvador. Deus operou através dele de forma maravilhosa para conversão
de muitas pessoas no norte da Holanda. Ele se alegrava muito quando um irmão
simples agradecia com coração sincero ao Senhor durante o partilhamento do pão.
Quando estava presente numa reunião, ele não levantava simplesmente para falar,
mas sempre esperava no Senhor. Os irmãos esperavam que, pelo seu dom, sempre pudesse
trazer uma mensagem, mas quando o Senhor não lhe tinha dado uma palavra, ele o
dizia e permanecia calado.
Suas contribuições, nas conferencias em
Winschoten, mas também nas conferencias anuais de Zurique, Berlim, Dillenburg e
Hückeswagen, sempre eram ricas e recheadas de Cristo e da perspectiva da breve
vinda do Senhor. Ás vezes era difícil traduzir o que dizia, mas no que trazia
nunca faltava poder moral e espiritual. Ouvintes (e tradutor) facilmente eram
levados às lágrimas, quando apresentava os tesouros da graça e misericórdia de
Deus. A Pessoa, o Sacrifício, e a maravilhosa obra de Cristo, em todos os seus
maravilhosos aspectos sempre estavam no centro de suas pregações. Muitas vezes
seu semblante brilhava quando falava sobre o Senhor Jesus. Então se revelava
seu grande amor ao seu Senhor e Salvador, ao qual buscava servir com todos os
seus dons e toda sua força.
Antes da segunda guerra mundial
(1939-45) e durante os anos de guerra ele exortava os irmãos alemães a manterem
sua separação da vida política na Alemanha e não participarem da perseguição
aos judeus. Nos anos da proibição de reunião da assembléia na Alemanha, de 1937
até 1945 se solidificou grande união e confiança entre Heijkoop, Otto Müller, Otto
Bubenzer, Paul Schwefel e outros irmãos, que se opuseram ao BFC comandado pelos
nazistas. Durante a perseguição comum pelos nazistas, principalmente para Heijkoop,
tomou caminho especialmente dramático, motivado pelo seu auxílio pessoal a um
cliente judeu durante os primeiros anos da guerra, sendo levado ao campo de
concentração de Vught perto de Eindhoven e condenado à morte.
Já nos primeiros dias adoeceu
gravemente com problemas estomacais. Ele necessitava naquele lugar de toda a
sua força, e rogou o auxílio do Senhor. Ele não compreendia porque precisava
sofrer tanto. Sua saúde se restabeleceu lentamente e então foi obrigado
novamente ao trabalho forçado. O Senhor permitiu que ele achasse graça aos
olhos de seus supervisores, e ele foi responsabilizado pela produção de
aparelhos eletrônicos na Philips (cuja fábrica foi transformada em centro de
trabalho de escravos). Depois de dezoito meses ele chamou a atenção de um
oficial que se lembrava que não pôde ser encontrado logo depois de ser preso. O
plano deles era de liquidar Heijkoop (talvez em Auschwitz na atual Polônia).
Novamente o Senhor agiu por meio de
veemente pedido do senhor Philips em seu favor, de modo que não foi executado.
Depois disto um dos clientes do irmão Heijkoop, de tempos anteriores à guerra,
pediu ao amigo de sua filha, um jovem oficial alemão, pela facilitação da
libertação de seu contador. O jovem oficial falsificou tolamente a assinatura
de seu superior, e possibilitou a soltura do nosso irmão. O jovem oficial pagou
com sua vida por isto, mas a situação na Holanda sitiada pelos alemães era tal,
que Heijkoop não voltou a ser preso. No retrospecto daquele tempo difícil e de
privações ele imediatamente respondia: - “E
estes foram os mais preciosos anos em minha vida; ali passei a conhecer o meu
Senhor de uma forma toda especial.”
Em uma de suas cartas escritas na
prisão, Heijkoop testificou ao seu destinatário: - “Eu
estou ótimo”. Eu tento viver segundo Mateus 6: 34, Romanos 12: 12 e Filipenses
4: 4, 6 e experimento verso 7 (“E a paz de Deus, que excede todo entendimento,
guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus”). Eu posso ler
cinco a oito horas na palavra e isto me faz tão feliz! Me dá tanta paz e
alegria, que não pode ser expressa. Por isso posso cantar bastante. Nas duas
vezes que saio para tomar ar fresco diariamente, nestes vinte e cinco minutos,
eu canto quase o tempo todo, e também na cela. Ontem eu cantei: ‘Todo caminho
me guia o Salvador’ e outro assoviou junto”. Só a graça de Deus pode produzir
isto num fraco coração humano. E a experiência de dezenas de outros crentes,
com os quais conversei, é a mesma. Um grupo de jovens de Meppel, que foram
condenados à morte estavam numa cela em Scheveningen. Quando souberam que
seriam fuzilados no dia seguinte, passaram a noite orando, cantando hinos de
louvor e evangelizaram os internos das celas vizinhas. Outro condenado à morte,
que se encontrava perto deles descreveu isto e conseguiu que sua carta fosse
levada para fora do presídio. Ele mesmo foi fuzilado logo em seguida, mas a sua
carta de despedida e o testemunho dos jovens presos deixam transparecer como
Deus fortaleceu seu coração, dando-lhe alegria, nestes quatro meses entre a
sentença e sua execução. Ele descreveu minuciosamente suas experiências no relatório “A Obra do Senhor na Cela e no Campo de
Concentração”.
Durante os primeiros dias em liberdade,
quandoHeijkoop não tinha nada além da roupa que trazia no corpo, reconheceu
nitidamente como o Senhor lhe mostrava que agora havia chegado o tempo para se
dedicar com fé à obra do Senhor. Em pouco tempo o Senhor não só lhe concedeu
sua independência financeira abençoando-o com significativa poupança (que pôs
exclusivamente à disposição da obra do Senhor; em sua vida modesta ele era um
exemplo em seu meio), mas também pelo início de grande serviço de literatura
abrangente de grande alcance para benção de muitos crentes. O Senhor lhe deu muitas oportunidades para servir fora da Holanda,
nominalmente na América do Norte (principalmente Canadá), Espanha, Grã
Bretanha, Suíça e Alemanha. Logo depois
da queda do domínio nazista pôde reativar o contato com o recuperado testemunho
da igreja na Alemanha.
Heijkoop deixou se guiar pelo Espírito
Santo e viajava de um lado para outro como o Senhor lhe mostrava. Assim ele
realizou um importante serviço de viajem para sustento das ovelhas de Cristo.
Em primeiro lugar a sua memória está no seu serviço de mestre na palavra de
Deus entre os “irmãos”. Algum tempo de sua vida residiu em casa própria em
Vevey junto ao lago de Genebra. Durante os anos sessenta, ele ajudou as
assembléias na Suíça francesa, quando um irmão muito conhecido provocou
confusão entre os “irmãos” com a heresia adventista da “imortalidade
condicional da alma” e da destruição dos ímpios.
Algumas vezes, contava ele, irmãos
alemães vinham a ele, e pediam desculpas pelos maus tratos que sofreu nas mãos
dos nazistas. Sua resposta era que não tinha que se desculpar de nada. Se
estiveram andando no caminho de peregrinos, separados do mundo e de sua
política, então não tinham participação na maldade do governo daquele tempo.
Mas se apoiaram o regime do Hitler de alguma forma, com certeza seriam
responsáveis e deveriam confessar isso imediatamente ao Senhor. Este foi um
exemplo claro do porquê, que um bom soldado de Jesus Cristo não deve se
envolver nos assuntos desta vida. A participação da política traz a
responsabilidade da participação nos pecados de outros consigo.
Ele editava uma revista holandesa
mensal com o título “Uit het Woord de Waarheid” (“A partir da palavra da
verdade”), cuja finalidade era simples e basicamente tratar das verdades
principais do cristianismo e estudar as bases de reunião dos crentes, junto com
um folheto “De Morgenster” (“A Estrela da Manhã”) que tratava de profecia, por
mais de quarenta anos. Alem disso ele foi autor de grande número de livros, e
que quase todos ainda podem ser encontrados, dos quais “Cartas aos Jovens” com
aproximadamente dois milhões de exemplares ao todo que deve ter alcançado a
maior distribuição (em albanês, armênio, alemão, búlgaro, inglês, francês,
hindu, croata, Malayalam, norueguês, punjabi, português, romeno, russo,
espanhol, tagalo, tâmil, telugu, etc.).
Tambem escreveu diversos livros e
brochuras, editados em holandês e alemão. Em todo lugar ele trabalhou amplamente na
distribuição de Bíblias (principalmente da excelente versão inglesa de Darby) e
literatura de interpretação sadia. A distribuição de literatura na Índia levou
ao contato com os irmãos Ronny Fernandes em Bombay e K. Yohan em Tenali, cujo
cuidado e apoio passou a ser administrado pelos irmãos da Alemanha conforme desejo
do irmão Heijkoop.
Quando sectários proibiram a venda da
sua edição de “Escritos Selecionados” de John Nelson Darby a todos que não
faziam parte de seu exclusivo grupo, o irmão Heijkoop conseguiu providenciar a
impressão suficiente de exemplares para todos os interessados por um preço bem
módico. Da mesma forma ele reprodiziu o periódico de estudo bíblico “Bible
Treasury” de William Kelly, facilitando o acesso internacional de jovens aos
textos dos renomados escritores do século passado.
Em 1995 a sua doação de “Uit het Woord
der Waarheid” junto com as editoras Chapter Two de Londres, e GBV de
Dillenburg, reeditaram, tendo em vista a procura e necessidade na Europa, mas
principalmente nas regiões das missões e do agora aberto bloco oriental
europeu. A expedição ocorreu poucos dias antes de sua morte. Também é de seu
mérito a reedição de outros livros ingleses da segunda metade do século 19,
sustentado por ele mesmo, como por ex. As obras de William Kelly, Charles Henry
Mackintosh e George Vicesimus Wigram. Os países do leste europeu e a missão de
países do Terceiro Mundo estavam tanto em seu coração, que milhares de livros
foram vendidos. Ele se alegrava em ver como o evangelho da graça de Deus se
espalhava à distância.
Em seus últimos anos de vida sofreu de
grande fragilidade na saúde e por causa do mal de Alzheimer foi atormentado por
completa amnésia. No fim ele quase não reconhecia mais ninguém; não falava mais
e ficou cada vez mais inalcançável. Heijkoop viveu com sua esposa em um asilo
mantido pelos “irmãos” em Bonn-Mehlem, Alemanha, onde foi cuidado amorosamente.
O casal não tinha filhos. Seu falecimento foi acompanhado por agradecimento ao
nosso Senhor, por tal dádiva para a Sua igreja, e por tê-lo libertado de seu
fraco e cansado corpo levando-o ao paraíso.
Na manhã de 31 de Agosto de 1995,
depois de uma vida de grande dedicação, ele foi levado pelo Senhor à sua glória
celestial, na idade aos 88 anos de idade, para estar ali com Cristo. O funeral
ocorreu em 6 de setembro de 1995, em Winschoten na Holanda, com grande presença
de irmãos de muitos países. Em seu obituário se encontrou o seguinte versículo:
“Eu tenho o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente
melhor” (Filipenses 1:23).
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