Tente-se
imaginar diante de uma pessoa afogando e você, neste caso, não sabe nadar.
Exatamente por esta deficiência, sente-se imponente e incapaz de salvá-la. Você
sabe o que precisa fazer, mas também sabe que não tem como fazer, e neste
momento o sentimento natural é de uma agonia mental, atrelada a um sufoco
semelhante ao da asma, e uma dor ou compressão no peito. O nome desta sensação
momentânea é ANGÚSTIA. Quando este sentimento perdura por muito tempo, é
diagnosticada uma enfermidade da alma.
A angústia
se caracteriza por um sentimento de sufocamento e sensação de aperto no peito,
acompanhados da falta de humor, de ressentimento e até dor física; e isso pode
evoluir a outras enfermidades. Biblicamente ela ocorre pela primeira vez no
episódio da queda do homem. Quando Adão e Eva percebem que estavam nus e que
nada mais poderiam fazer para retornar ao estado original, foram subitamente
tomados por um estado de angústia seguido de medo (Gênesis 3:7-10).
Angústia vem
do termo alemão ANGST. Dentro do pensamento existencialista, a palavra angústia presumivelmente
descreve a condição humana básica. Há um pavor sem nome e sem objeto
particular, mas que é um sentimento comum à humanidade, por terem de enfrentar
um mundo destruidor hostil e insensato. Assim, quando o ser humano enfrenta
situações de confrontos, pressão, impotência diante dos problemas ou cobranças,
sem saber o que fazer, a angústia pode se apoderar do seu coração.
Angústia,
portanto, é um sentimento que acompanha o homem desde seu nascimento até a
morte em todas as situações da vida; a angústia é companheira do ser humano. A
angústia é uma das mais fortes opressoras da humanidade, é um sentimento da
alma que pode atacar na mesma medida tanto o rei como o mendigo. Angústia é uma
emoção que pode ser abafada, mas não desligada. O homem natural não pode se
desviar nem escapar dela. Sempre existiram (e existem) pessoas de caráter forte
que, com sua determinação, se posicionam obstinadamente diante da angústia, mas
elas também não conseguem vencê-la totalmente. Podemos tentar ignorar a
angústia, mas não escaparemos de situações dolorosas.
A Angústia segundo a Filosofia
Pensadores
como Kierkegaard, Heidegger, Unamuno, Bultimann e Sartre; contribuíram para o
desenvolvimento da filosofia de que o homem está “dentro de um temporal”,
onde têm que lutar contra o aniquilamento e a não identidade; mas ignoram o
fato de que na psique humana também há a descoberta que o homem, como ser
espiritual que é, ultrapassa a tempestade e entra na compreensão espiritual de
que a existência humana é finalmente boa e otimista. Em outras palavras, para
além da tempestade, há um Novo Dia, no qual a existência humana, no nível
espiritual, floresce em harmonia, bem-estar e propósito.
A psicologia
tem demonstrado a existência de ambos esses motivos na psique humana:
- A
tempestade do desespero, por enfrentar a não identidade.
- O estado
para além da tempestade, em que é confirmada uma existência digna.
As
concepções sobre a angústia e seu surgimento, de qualquer forma, variam
enormemente entre os filósofos; há desde os que a entendem como uma resposta à
incapacidade de compreender a realidade exterior até os que afirmam se ela é
proveniente de um estado de expectativa prolongado diante de algum fato que não
chega a ocorrer. De maneira genérica, pode-se dizer que a psicologia
contemporânea aborda o problema da angústia sob duas perspectivas:
-
Estabelecer se ela constitui um estado transitório ou se, ao contrário, é uma
predisposição, um elemento da personalidade.
-Determinar
se de fato a angústia tem uma causa definida ou se pode resultar de motivos e
situações muito diversos.
Já para o
filósofo Arthur Schopenhauer, viver significa necessariamente sofrer.
Quanto mais o homem busca a vitória, mais ele se desencanta por não conseguir
conferir sentido algum à vida. Os pequenos momentos de prazer, por mais
proveitosos que sejam, são insuficiente para produzir a verdadeira felicidade o
que acaba por gerar a angústia. Dessa forma, para a Filosofia Existencialista,
o ser humano está condenado a passar pela vida como sobrevivente, pois a
angústia de viver com sofrimento, faz desse mal um problema eterno, uma doença
incurável.
Para o
Cristianismo, ao contrário da filosofia, nenhum ser humano está condenado a
existir como sobrevivente, pois, ao encontrar-se com Cristo, uma fonte de
alegria brota no seu interior (João 7:38).
A Angústia na Sociedade Moderna
A angústia é
uma das enfermidades da alma que mais oprime a humanidade desde os primórdios
dos tempos (Salmos 31:10), sendo um sentimento desagradável que pode atingir
qualquer pessoa, e infelizmente o homem não pode se desviar nem escapar dela.
Lamentavelmente, a angústia é uma consequência direta do pecado inoculado no
Homem. Quando ocorre momentaneamente é apenas um reflexo natural das emoções,
porém, quando se torna permanente, é sintomático de uma enfermidade da alma.
Sendo assim, pessoas que apresentem o quadro de angústia podem desenvolver
outros distúrbios emocionais, tais como: cansaço físico e mental, desânimo,
baixa autoestima e depressão.
Nos dias de
hoje, nossa sociedade de depara com a triste realidade de inúmeras situações
enervantes, que produzem ou reforçam o sentimento de angústia: os fenômenos
naturais trágicos (tempestades, terremotos, inundações, etc.) e os fenômenos
sociais (violência urbana, guerras, terrorismo).
A angústia
sem dúvida é inerente ao ser humano, mas certamente é fomentada e
potencializada nas situações trágicas (Marcos 13.7). O que transforma nosso
cotidiano em uma verdade angustiante. Vivemos num mundo que nos diz,
incessantemente, que precisamos ter satisfação logo, que a dor precisa ser
evitada e/ou suprimida e que a felicidade é a melhor escolha.
Então, por
que tanta angústia? Por que esse sentimento de vazio? De incompletude?
O medo de
não fazer boas escolhas leva os indivíduos a experimentarem um sentimento de
angústia que passa pela ideia de que algumas dessas escolhas podem ser
definitivas e não possuem retorno. Ao proporcionar ao indivíduo liberdade
de escolha, sem a presença de referências duradouras e com opções inesgotáveis,
a pós-modernidade o induz a um nível de ansiedade sem precedentes.
O desejo de
ter cada vez mais, de concorrer com amigos e colegas, tem levado pessoas a se
angustiarem na busca pelo sucesso ou pelo ter mais e mais, neste meio, surge
ainda à inveja e outros males da alma. A pessoa quer sempre mais do que o outro
e, muitas vezes, até se endivida a ponto de ser tomado pela angústia. Neste
tempo da pós-modernidade, a busca pelo sucesso, mediante tantos concorrentes,
têm levado muitas pessoas à frustração e à angústia.
Apesar de
tudo, aquele que vive para Deus possui o antídoto, contra o desespero que
domina a população na hora do caos: O socorro de Deus bem presente na hora da
angústia (Salmos 46).
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