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domingo, 15 de março de 2015

Foi por você!

Livremente inspirado na ministração realizada pelo Pr. Wilson Gomes no culto de Celebração da Santa Ceia, realizado neste domingo, 15/03/2015.

Nada de especial era percebido naquele homem em um primeiro olhar. Seu jeito era simples, seu rosto era familiar demais para ser percebido. Ele havia nascido em uma pequena cidade e se criado em uma região sem maiores relevâncias. Sua profissão não era nobre e seu nome extremamente comum... Enfim, nada havia naquele carpinteiro de Nazaré que despertasse nossa curiosidade em conhecê-lo melhor. Ele era como uma pequena planta sob o sol, debaixo da qual não se procura sombra. Ele era como raiz escondida embaixo de uma terra seca, a qual poucos se aventuram em encontrar. Não havia no seu rosto uma beleza que saltasse aos olhos, pelo contrário, sua pele estava queimada de sol e seus cabelos ressecados pelas longas caminhadas no deserto e castigado pela salinidade do mar da Galiléia. Quando ele passava pela rua, muitas pessoas viravam o rosto para não vê-lo, pois se sentiam superiores à ele e diziam que seu sofrimento era merecido e que de alguma forma o próprio Deus o estava oprimindo. E mesmo fazendo inúmeros julgamentos em relação a sua aparência, bastavam alguns minutos para que se esquecessem completamente, pois dele não faziam causo algum.

O que todos não sabiam é que aquele trabalhador braçal e de aparência tão insignificante, era na verdade o Cordeiro de Deus que seria levado em silêncio até o matadouro e daria sua vida por todos que o desprezaram, inclusive “eu” e “você”. Deus imputaria sobre ele uma multidão de pecados, sem que ele cometesse nenhum deles, pois pela transgressão de todos nós que na cruz ele foi mortalmente atingido. E ali, no madeiro, um inocente em cuja boca nunca houve engano, era condenado pelos erros de toda a humanidade, e para aniquilar o poder da morte sobre seus próprios algozes, ele foi cortado da terra dos viventes, suportando a dor física da crucificação e carregando o fardo mui pesado de nossas iniquidades, ovelhas desgarradas que seguíamos nossos próprios caminhos errantes.

Após ser enviado para Pilatos, ter sido por este julgado e condenado, ini­cia-se a mais sangrenta de suas flagelações. O flagelo era executado com tiras de couros sobre as quais eram feitos nós nas pontas ou fixado pequenos pedaços de ossos ou chumbo. Os carrascos iniciam o espancamento; e neste processo a pele se dilacera e se rompe, fazendo o sangue espirrar. A cada golpe Jesus reage num sobressalto de dor. As forças se esvaem, o suor frio desce pela face, a cabeça gira em uma vertigem de náusea e calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia numa poça de sangue. Com longos espinhos, os algozes tecem uma espécie de capacete e o apli­cam sobre sua cabeça. Os espinhos penetram o couro cabeludo fazendo-o san­grar. Pilatos após mostrar este homem dilacerado à multidão, o entrega para ser crucificado.

É colocado sobre os ombros de Jesus, o braço horizontal da cruz, com um peso de cerca de cinquenta quilos. A outra estaca vertical já está no calvário. Je­sus vai caminhando com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular cheio de pequenas pedras. O percurso é de cerca de seiscentos metros, e Jesus fatigado, arrasta um pé após outro e frequentemente cai sobre os joelhos. Seus ombros estão cobertos de chagas e quando cai por terra a viga lhe escapa e escorrega pelo dorso, esfolando-o.   Chegando ao Calvário, os soldados retiram suas vestes, porém, sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz uma dor atroz, pois quem já tirou uma atadura de gases de uma ferida, sabe que cada fio do tecido adere à carne viva. Ao tirarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento e o sangue começa a escorrer. Jesus é deitado de costas e suas chagas se incrustam de pedregulhos. Então ele é depositado sobre o braço horizontal da Cruz.

Os carrascos pegam um longo prego pontiagudo e quadrado, apoiam sobre o pulso de Jesus e com golpes de martelo o plantam e rebatem sobre a madeira. O rosto de Jesus se contrai assustadoramente. O nervo mediano foi lesado, uma dor aguda se difunde pelos dedos e espalha-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode provar, pois, é proveniente de uma “sin­cope”, lesão dos grandes troncos nervosos que faz uma pessoa perder a consciência por causa da dor, o que não ocorre com Jesus. O nervo é destruído só em parte, a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego. A cruz é suspensa. As pontas cortantes da grande coroa de espinhos pene­tram no crânio e a cabeça inclina-se para frente em razão da coroa ter um diâme­tro que impede de apoiar-se na madeira.  Pregam-lhe os pés.

Ao meio dia, Jesus tem sede, pois não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo torna-se numa máscara de sangue, a garganta seca lhe queima, mas não pode engolir. Um soldado lhe estende numa ponta de uma vara uma esponja em­bebida numa bebida ácida e com efeito entorpecedor. Ele rejeita. A respiração vai se fazendo pouco mais curta, o ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar semelhante a um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco torna-se vermelho, transformando logo após num violeta purpúreo e, enfim, cianótico. Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais se esvaziar.  A fronte está cheia de suor e os olhos saem fora da órbita. Lentamente com um esforço sobre humano, Ele toma um ponto de apoio sobre o prego nos pés, esforça-se a pequenos golpes e se eleva aliviando a tração dos braços. Os mús­culos do tórax se distendem, a respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial. E então, Ele usa todo este esforço para falar: - "Pai perdoa-lhes, pois não sa­bem o que fazem".

Logo após o corpo começa a afrouxar-se de novo e a asfixia recomeça. Cada vez que quiser falar, deverá elevar-se, tendo como apoio o prego dos pés. A temperatura diminui: já são quase três da tarde, e ele já está na cruz a seis horas. Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos lhe arrancam um lamento: -  "Deus meu, Deus meu, por que me desam­paraste? - E por fim diz Ele irrompe o silêncio da cruz pela última vez: - “Está consumado”. E num grande brado diz: - “Pai, nas tuas mãos Eu entrego o meu Espirito”.



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