Livremente inspirado na ministração realizada pelo Pr. Wilson Gomes no culto de Celebração da Santa Ceia, realizado neste domingo, 15/03/2015.
Nada de
especial era percebido naquele homem em um primeiro olhar. Seu jeito era
simples, seu rosto era familiar demais para ser percebido. Ele havia nascido em
uma pequena cidade e se criado em uma região sem maiores relevâncias. Sua
profissão não era nobre e seu nome extremamente comum... Enfim, nada havia
naquele carpinteiro de Nazaré que despertasse nossa curiosidade em conhecê-lo
melhor. Ele era como uma pequena planta sob o sol, debaixo da qual não se
procura sombra. Ele era como raiz escondida embaixo de uma terra seca, a qual
poucos se aventuram em encontrar. Não havia no seu rosto uma beleza que
saltasse aos olhos, pelo contrário, sua pele estava queimada de sol e seus
cabelos ressecados pelas longas caminhadas no deserto e castigado pela salinidade
do mar da Galiléia. Quando ele passava pela rua, muitas pessoas viravam o rosto
para não vê-lo, pois se sentiam superiores à ele e diziam que seu sofrimento
era merecido e que de alguma forma o próprio Deus o estava oprimindo. E mesmo
fazendo inúmeros julgamentos em relação a sua aparência, bastavam alguns
minutos para que se esquecessem completamente, pois dele não faziam causo
algum.
O que todos
não sabiam é que aquele trabalhador braçal e de aparência tão insignificante,
era na verdade o Cordeiro de Deus que seria levado em silêncio até o matadouro
e daria sua vida por todos que o desprezaram, inclusive “eu” e “você”. Deus
imputaria sobre ele uma multidão de pecados, sem que ele cometesse nenhum
deles, pois pela transgressão de todos nós que na cruz ele foi mortalmente
atingido. E ali, no madeiro, um inocente em cuja boca nunca houve engano, era
condenado pelos erros de toda a humanidade, e para aniquilar o poder da morte
sobre seus próprios algozes, ele foi cortado da terra dos viventes, suportando a
dor física da crucificação e carregando o fardo mui pesado de nossas
iniquidades, ovelhas desgarradas que seguíamos nossos próprios caminhos
errantes.
Após ser
enviado para Pilatos, ter sido por este julgado e condenado, inicia-se a mais
sangrenta de suas flagelações. O flagelo era executado com tiras de couros
sobre as quais eram feitos nós nas pontas ou fixado pequenos pedaços de ossos
ou chumbo. Os carrascos iniciam o espancamento; e neste processo a pele se
dilacera e se rompe, fazendo o sangue espirrar. A cada golpe Jesus reage num
sobressalto de dor. As forças se esvaem, o suor frio desce pela face, a cabeça
gira em uma vertigem de náusea e calafrios lhe correm ao longo das costas. Se
não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia numa poça de sangue. Com longos
espinhos, os algozes tecem uma espécie de capacete e o aplicam sobre sua
cabeça. Os espinhos penetram o couro cabeludo fazendo-o sangrar. Pilatos após
mostrar este homem dilacerado à multidão, o entrega para ser crucificado.
É colocado
sobre os ombros de Jesus, o braço horizontal da cruz, com um peso de cerca de
cinquenta quilos. A outra estaca vertical já está no calvário. Jesus vai
caminhando com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular cheio de
pequenas pedras. O percurso é de cerca de seiscentos metros, e Jesus fatigado,
arrasta um pé após outro e frequentemente cai sobre os joelhos. Seus ombros
estão cobertos de chagas e quando cai por terra a viga lhe escapa e escorrega
pelo dorso, esfolando-o. Chegando ao Calvário, os soldados retiram suas
vestes, porém, sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz uma dor
atroz, pois quem já tirou uma atadura de gases de uma ferida, sabe que cada fio
do tecido adere à carne viva. Ao tirarem a túnica, se laceram as terminações
nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento
e o sangue começa a escorrer. Jesus é deitado de costas e suas chagas se
incrustam de pedregulhos. Então ele é depositado sobre o braço horizontal da
Cruz.
Os carrascos
pegam um longo prego pontiagudo e quadrado, apoiam sobre o pulso de Jesus e com
golpes de martelo o plantam e rebatem sobre a madeira. O rosto de Jesus se
contrai assustadoramente. O nervo mediano foi lesado, uma dor aguda se difunde
pelos dedos e espalha-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais
insuportável que um homem pode provar, pois, é proveniente de uma “sincope”,
lesão dos grandes troncos nervosos que faz uma pessoa perder a consciência por
causa da dor, o que não ocorre com Jesus. O nervo é destruído só em parte, a
lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego. A cruz é suspensa. As
pontas cortantes da grande coroa de espinhos penetram no crânio e a cabeça
inclina-se para frente em razão da coroa ter um diâmetro que impede de
apoiar-se na madeira. Pregam-lhe os pés.
Ao meio dia,
Jesus tem sede, pois não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo torna-se numa
máscara de sangue, a garganta seca lhe queima, mas não pode engolir. Um soldado
lhe estende numa ponta de uma vara uma esponja embebida numa bebida ácida e
com efeito entorpecedor. Ele rejeita. A respiração vai se fazendo pouco mais
curta, o ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com
o ápice dos pulmões. Tem sede de ar semelhante a um asmático em plena crise,
seu rosto pálido pouco a pouco torna-se vermelho, transformando logo após num
violeta purpúreo e, enfim, cianótico. Jesus é envolvido pela asfixia. Os
pulmões cheios de ar não podem mais se esvaziar. A fronte está cheia de suor e os olhos saem
fora da órbita. Lentamente com um esforço sobre humano, Ele toma um ponto de
apoio sobre o prego nos pés, esforça-se a pequenos golpes e se eleva aliviando
a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem, a respiração torna-se
mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez
inicial. E então, Ele usa todo este esforço para falar: - "Pai
perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem".
Logo após o
corpo começa a afrouxar-se de novo e a asfixia recomeça. Cada vez que quiser
falar, deverá elevar-se, tendo como apoio o prego dos pés. A temperatura
diminui: já são quase três da tarde, e ele já está na cruz a seis horas. Todas
as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos lhe
arrancam um lamento: - "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
- E por fim diz Ele irrompe o silêncio da cruz pela última vez: - “Está
consumado”. E num grande brado diz: - “Pai, nas tuas mãos Eu
entrego o meu Espirito”.
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