Daniel Berg
foi missionário, evangelista, pastor e fundador das Assembleias de Deus no
Brasil. Nasceu em 19 de abril de 1884, na pequena cidade de Vargön, na Suécia,
às margens do lago de Vernern. Quando recém-nascido, o padre da cidade visitou
inúmeras vezes a casa de seus pais para convencê-los a batizá-lo, mas nada
conseguiu. Por isso, desde criança, Daniel era mal visto pelo padre, que,
desprestigiado, passou a dizer que a criança que não fosse batizada por ele
jamais sairia de Vargön. - “Já naquele
tempo pude observar a desvantagem e o perigo de o povo ter uma fé dirigida, sem
liberdade. A religião que dominava minha cidadezinha e arredores
impossibilitava as almas de terem um encontro com o Salvador”, conta o pioneiro
em suas memórias.
Quando o evangelho começou a entrar nos lares de
Vargön, seus pais, Gustav Verner Högberg e Fredrika Högberg, o receberam e
ingressaram na Igreja Batista. Logo procuraram educar o filho segundo os
princípios cristãos. Em 1899, quando contava 15 anos de idade, Daniel
converteu-se e foi batizado nas águas na Igreja Batista de Ranum.
Em 1902, aos 18 anos, pouco antes do início da
primavera nórdica, deixou seu país. Embarcou a 5 de março de 1902, no porto
báltico de Gothemburgo, no navio M.S. Romeu, com destino aos Estados Unidos. - “Como tantos outros haviam feito antes de
mim” - frisava. O motivo foi a
grande depressão financeira que dominara a Suécia naquele ano.
Em 25 de março de 1902, Daniel desembarcou em
Boston. No Novo Mundo, sonhava, como tantos outros de sua época, em realizar-se
profissionalmente. Mas Deus tinha um plano diferente e especial para sua vida.
De Boston, viajou para Providence, Rhode Island,
para se encontrar com amigos suecos, que lhe conseguiram um emprego numa
fazenda. Permaneceu nos Estados Unidos por sete anos, onde se especializou como
fundidor. Com saudades do lar, retornou à cidade natal, onde o tempo parecia
parado. Nada havia se modificado. Só Lewi Pethrus, seu melhor amigo,
companheiro de infância, não morava mais ali. - “Vive em uma cidade próxima, onde prega o
evangelho” - explicou sua mãe.
Logo chegou a seu conhecimento que seu amigo
recebera o batismo no Espírito Santo, coisa nova para sua família. A mãe do
amigo insistiu para que Daniel o visitasse. Aceitou o convite. No caminho,
estudou as passagens bíblicas onde se baseava a “nova doutrina”.
Chegando à igreja do amigo Lewi Pethrus (Igreja
Batista de Lidköping), encontrou-o pregando. Sentou e prestou atenção na
mensagem. Após o culto, conversaram longamente sobre a nova doutrina. Daniel
demonstrou ser favorável. Em seguida, despediu de seus pais e partiu, pois sua
intenção não era permanecer na Suécia, mas retornar à América do Norte.
Em 1909, em meio à viagem de retorno aos Estados
Unidos, Daniel orou com insistência a Deus, pedindo o batismo no Espírito
Santo. Como não estava preocupado como da primeira vez, posto que já conhecia
os EUA, canalizou toda a sua atenção à busca da bênção. Ao aproximar-se das
plagas norte-americanas, sua oração foi respondida. A partir de então, sua vida
mudou. Daniel passou a pregar mais a Palavra de Deus e a contar seu testemunho
a todos.
Ainda em 1909, por ocasião de uma conferência em
Chicago, Daniel encontrou-se com o pastor batista GunnarVingren, que também fora batizado no Espírito Santo. Os dois conversaram
horas sobre as convicções que tinham. Uma delas é que tanto um como o outro
acreditava que tinham uma chamada missionária. Quanto mais dialogavam, mais
suas chamadas eram fortalecidas.
Quando Vingren estava em South Bend, Daniel Berg
estava trabalhando em uma quitanda em Chicago quando o Espírito Santo mandou
que se mudasse para South Bend. Berg abandonou seu emprego e foi até lá, onde
encontrou Vingren pastoreando a igreja Batista dali. - “Irmão Gunnar, Jesus
ordenou-me que eu viesse me encontrar com o irmão para juntos louvarmos o seu
nome” - disse Berg. “Está bem!” - respondeu Vingren com singeleza. Passaram,
então, a encontrar-se diariamente para estudarem as Escrituras e orarem juntos,
esperando uma orientação de Deus.
Após a revelação divina dada ao irmão Olof Uldin de
que o lugar para onde deveriam ir era o Pará, no Brasil, Daniel Berg, contra a
vontade dos seus patrões, abandonou o emprego. Eles argumentaram: - “Aqui você
pode pregar o Evangelho também, Daniel; não precisa sair de Chicago” - Mas ele estava convicto da chamada e não
voltou atrás.
Ao se despedir, Berg recebeu de seu patrão uma
bolacha e uma banana. Essa era uma tradição antiga nos Estados Unidos.
Simbolizava o desejo de que jamais faltasse alimento para a pessoa que
recebesse a oferta. Esse gesto serviu de consolo para Berg, que em seguida
partiu com Vingren para Nova Iorque, e de lá para o Brasil em um navio.
No Pará, Daniel, com 26 anos de idade, logo se
empregou como caldereiro e fundidor na Companhia Port of Pará, recebendo
salário mensal de 12 mil réis, passou a custear as aulas de português
ministradas a Vingren por um professor particular. No fim do dia, Vingren
ensinava o que aprendera a Daniel. Justamente por isso, Berg nunca aprendeu bem
a língua portuguesa. O dinheiro que sobrava era usado na compra de Bíblias nos
Estados Unidos.
Tão logo começou a se fazer entender na língua
portuguesa, passou a evangelizar nas cidades e vilas ao longo da Estrada de
Ferro Belém-Bragança, enquanto Vingren cuidava do trabalho recém-nascido na
capital. Como o evangelho era praticamente desconhecido no interior do Pará,
Berg se tornou o pioneiro da evangelização na região. É que as igrejas
evangélicas existentes na época não tinham recursos suficientes para promover a
evangelização no interior. Após a evangelização de Bragança, tornou-se também o
pioneiro na evangelização da Ilha de Marajó, onde peregrinou por muitos anos, a
bordo de pequenas e grandes canoas. Berg ia de ilha em ilha, levando a mensagem
bíblica aos pequenos grupos evangélicos que iam se formando por onde passava.
No início de 1920, Daniel visitou a Suécia, onde se
enamorou com a jovem Sara, com quem se casou em 31 de julho daquele ano. Em
março de 1921, retornou ao Brasil, acompanhado por sua esposa. O casal teve
dois filhos: David e Débora.
Em 1922,
seguiu para Vitória (ES) para estabelecer a Assembleia de Deus naquela capital,
permanecendo até 1924, quando foi para Santos, fundar a AD no Estado de São
Paulo. Em 1927, o casal Berg mudou-se para a capital São Paulo, onde Daniel
continuou fazendo seu trabalho de evangelismo até 1930. Depois de um período de
descanso, seguiu para a obra missionária em Portugal, entre os anos 1932-1936,
na cidade de Porto. Após passar pela Suécia, retornou ao Brasil, em 11 de maio
de 1949. Permaneceu na cidade de Santo André (SP) até 1962, quando retornou
definitivamente para a Suécia.
Daniel Berg sempre foi muito humilde e simples. Em
suas pregações e diálogos, sempre demonstrou essas virtudes. Ninguém o via
irritado ou desanimado. Sempre que surgia algum problema, estas eram suas
palavras: - “Jesus é bom. Glória a
Jesus! Aleluia! Jesus é muito bom. Ele salva, batiza no Espírito Santo e cura
os enfermos. Ele faz tudo por nós. Glória a Jesus! Aleluia!”
No Jubileu de Ouro das Assembleias de Deus no
Brasil, comemorado em Belém, Berg estava lá, inalterado, enquanto os irmãos
faziam referência a sua atuação no início da obra. Para ele, a glória era única
e exclusivamente para Jesus. Berg considerava-se apenas um instrumento de Deus.
Nas comemorações do Jubileu no Rio de Janeiro, no Maracanãzinho, quando pastor Paulo
Leivas Macalão colocou em sua lapela uma medalha de ouro, Berg externou
visivelmente em seu rosto a ideia de que não merecia tal honraria.
Até 1960, Berg recebeu, diretamente de Deus, a cura
de suas enfermidades mediante a oração da fé. Mas, a respeito de suas condições
de vida nos seus anos finais, pode-se inferir que não tinha o amparo que
merecia. A esse respeito, o pioneiro Adrião Nobre protestou na revista A Seara,
edição de novembro-dezembro de 1957, p. 32: - “O irmão Berg reside em São Paulo
(cidade de Santo André). Não sei como ele vive ultimamente; tive, contudo,
notícias desagradáveis com relação à sua condição de vida – não tem, segundo
soube, o descanso que merece, nem o conforto que lhe devemos proporcionar.
Irmãos, não sejamos injustos, lembremo-nos de auxiliar o tão amado pioneiro da
obra pentecostal no Brasil”.
Em 1963, foi hospitalizado na Suécia. Mesmo assim,
ainda trabalhava para o Senhor. Ele saía da enfermaria para distribuir folhetos
e orar pelos que se decidiam. A disciplina interna do hospital não lhe permitia
fazer esse trabalho, por isso uma enfermeira foi designada para impor-lhe a
proibição. Porém, ao deparar-se com o homem de Deus alquebrado pelo peso dos
anos, mas vigoroso em sua tarefa espiritual, não teve coragem e desistiu da
tarefa. Berg, então, continuou a oferecer literaturas.
Finalmente, em 27 de maio de 1963, aos 79 anos,
Daniel Berg morreu. Sua esposa, Sara, faleceu em 11 de abril de 1981.
Fonte: Dicionário do Movimento Pentecostal, editora
CPAD, 1ª edição, 2007, Rio de Janeiro, pgs. 122-124
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