O tema
fidelidade é muito mais abrangente do que a maioria de nós pode mensurar. Um
cônjuge pode manter-se fiel no que tange se relacionar com outras pessoas, mas
se mostrar infiel em outros aspectos da vida a dois, como no trato, na
afetividade e na complacência. Em nossa vida espiritual, ao mesmo tempo em que
podemos prezar a fidelidade para com Deus, podemos, por exemplo, sermos infiéis
aos seus mandamentos de submissão aos nossos líderes.
Existe uma
grandiosa gama de vertentes em nossa vida, que precisam ser verificadas frequentemente
para garantir a fluidez da fidelidade nas várias dimensões do nosso ser. Muitos
verticalizam sua fidelidade (homem-Deus) e se esquecem de todos ao seu redor.
Outros se ocupam tanto de seus compromissos horizontais (homem-homem), que se
esquecem de cuidar do relacionamento pessoal com Deus. Ambas as dimensões estão
inteiramente interligadas. No texto de Mateus 25:21, Jesus está contando a
parábola dos talentos quando menciona o fato de que os funcionários produtivos
foram recompensados pelo senhor, herdando não apenas o valor inicialmente
confiado, como também os lucros obtidos através do investimento feito, e o
argumento utilizado pelo senhorio para tal atitude foi: - Já que você me foi fiel no pouco,
te recompensarei com muito. Que grande verdade Jesus estava nos
ensinando... Nossa fidelidade passa pelo teste de aprovação exatamente nas
coisas pequenas e nas ações que são imperceptíveis pela grande maioria.
No famoso
Sermão da Montanha, Jesus evidenciou algumas falhas na lei mosaica (que limitava ações) e apresentou um novo código de conduta
espiritual que cerceava as intenções do coração. Segundo a lei, não se podia
matar, mas convenhamos, que este é um mandamento fácil de se cumprir. Jesus
ensinou que não devemos “falar” mal de ninguém, e equiparou assassinato físico
com assassinato espiritual e moral. A lei proibia o adultério (o que com certas precauções se
torna plenamente “evitável”), mas Jesus censurou os pensamentos cobiçosos.
Em suma, Cristo nos recomendou fidelidade além das ações, sendo ela cultivada
no âmago, no limiar dos acontecimentos. O que Jesus nos queria ensinar é
devemos ser fieis não porque “precisamos”, mas sim por que “queremos”. E esta
fidelidade minimalista começa a se moldar exatamente nas pequenas coisas.
Em um dos
trechos do belíssimo “Cântico dos Cânticos”, o casal central do poema está
preocupado com algumas ameaças que põem em perigo sua “vinha” - Apanhem as raposas e as raposinhas
(Cantares 2:15) - Mais uma
vez a Bíblia nos dá a dimensão de como coisas pequenas podem minar e destruir
nossa fidelidade. As “grandes raposas” são visualizadas com maior facilidade,
tem maior dificuldade para passar por certas “brechas” em nosso muro e fazem
maior barulho quando entram na propriedade, e com isso despertam a atenção e
desencadeiam ações de retaliação quase que imediatas. Já as raposinhas se
esquivam dos nossos olhos e passam desapercebidas por nossas defesas. Uma vez
dentro da “vinha”, essas “pequenas” e “inofensivas” criaturas fazem seu covil,
alimentam-se das uvas e se transformam em grandes raposas, que em decorrência
de nossa negligência com sua pequenez no passado, agora “já” estão incorporadas
na rotina da lavoura.
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