Quando os hebreus retornaram do
exílio na Babilônia, apesar de muita fé e boa vontade, ainda estavam
impregnados com a cultura caldeia, afinal, o povo esteve exposto ao paganismo
de babilônicos, medos e persas por longos setenta anos. No retorno para casa,
muitos erros cometidos pelo povo eram derivados da vontade de querer fazer o
“certo”, mas não saber “como”. Deus então levantou alguns profetas para
instruir o povo neste difícil recomeço, exortando-os e admoestando-os nos
princípios da Lei do Senhor, promovendo um grande discipulado nacional. E um
destes homens foi o profeta Ageu.
Determinante na retomada da
construção do Templo de Jerusalém, Ageu inspirou o povo com palavras e ações,
já que também foi um dos edificadores. Com a obra concluída, e a promessa de
uma glória ainda maior sobre aquela casa, o profeta pode se dedicar ao
ensinamento, convocando os sacerdotes para uma conversa franca e instrutiva
sobre a santificação. A nação israelita nasceu como um padrão de ética, moral e
santidade para todos os povos da Terra. O propósito de Deus era ter uma relação
tão íntima com seu povo, que os mesmos refletiriam a glória do Altíssimo aos
olhos de toda gente. Vivendo em obediência, retidão e temor, os hebreus
atraíram sobre si toda sorte de bênçãos, o que levaria as nações ao seu redor a
imitar seu comportamento. Não foi o que aconteceu... Israel se encantou com os
costumes e ritos pagãos, se enveredou por caminhos de idolatria e prostituição,
e o resultado desta rebeldia espiritual foi o exílio. Agora, Ageu quer expor
para os discipuladores do povo, o caminho da santificação, bem como identificar
a origem da corrupção.
Seguindo a ordenação do Senhor, e
tendo como base doutrinária a Lei Mosaica, Ageu faz a seguinte indagação aos
sacerdotes: - Se alguém tiver um pedaço de carne consagrada presa
na borda de sua roupa, e a mesma tocar num pão, ou em algo cozido, ou ainda no vinho
ou no azeite, o alimento que foi tocado também ficará consagrado?Em uníssono, os sacerdotes
responderam que não, afinal, a consagração de um objeto ou a santificação de um
indivíduo não é conseguida através de um simples toque externo. Ela precisa partir
de dentro para fora. Ageu concordou com a resposta e propôs mais uma questão: - Se alguém tocar em um cadáver,
e de acordo com a lei, ficar impuro, se ele por sua vez tocar numa outra
pessoa, ela automaticamente estará impura também? Mais uma vez a resposta foi
unânime. – Sim, a pureza só existe até o primeiro toque da
impureza. Mas uma vez o profeta concorda com os sacerdotes,
pois a impureza vem do exterior e contamina o interior do homem.
Assim, Ageu quis ilustrar a
condição pecaminosa do povo, que com sua impureza, estava maculando a Casa de
Deus (Ageu 2:11-23). Deste sermão do profeta, podemos extrair uma grande lição:
A impureza vem de fora e contamina todo o nosso interior.
Uma criança nasce pura, livre de
pecado e maculação. Pouco a pouco, o seu caráter começa a ser desenvolvido
baseado nas influências externas as quais fica exposta. Nossos desejos são
construídos através do que vemos, ouvimos e tocamos. Nosso corpo é o tato da
alma e o coração de nosso espírito. E ele quem absorve os nutrientes
espirituais que irrigam nosso interior, sejam eles bons ou maus. Por maior que
seja nosso esforço para mantermos nosso interior puro e imaculado, basta um
toque externo de impureza, lascívia ou perniciosidade, para que respingos
escuros saltem de nossas vestes brancas. Assim, é preciso se esquivar de todo
ponto de contaminação, fugindo constantemente de qualquer coisa que até mesmo
apenas “aparente” ser má (I Tessalonicenses 5:22) .
Em seu mais famoso sermão, Jesus
instruiu os discípulos a terem um cuidado especial com os seus olhos, sendo
extremamente seletivos quanto “ao que se olhar”: - Os olhos são como lâmpadas para
o corpo. Se seus olhos se focarem em coisas boas, todo o seu corpo (incluindo
alma e espírito), serão cheios de luz. Mas se seus olhos estiverem voltados
para coisas más, todo o seu corpo (incluindo alma e espírito), estará cheio de
trevas (Mateus 6:22-23). Em suma, podemos dizer que um simples toque naquilo
que é imundo tem o poder de contaminar nosso espírito, e basta olhar na direção
da maldade, para que nossa alma se encha de escuridão. Todo cuidado é pouco.
Quem se deixa contaminar também se torna um agente contaminador.
Em contrapartida, quando lemos
Mateus 15:11, nos deparamos com uma declaração poderosa que parece ir numa
outra direção de pensamento: - O que
contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o
que contamina o homem. Isoladamente, este texto pode
levar a interpretação de que a contaminação brota do interior do homem para seu
exterior. Porém, é preciso entender todo o contexto deste discurso de Cristo
para uma conclusão definitiva. A Bíblia se explica, e nunca se complica.
Os discípulos de Jesus estavam
sendo duramente criticados pelos religiosos da época por não realizarem rituais
de purificação antes das refeições. Os fariseus, então, os acusavam
publicamente de infligirem os mandamentos de Deus. Jesus saiu em defesa de seus
seguidores, dizendo que os maiores infratores da lei eram exatamente os
religiosos de Israel, que desmereciam seus pais com ritualismos hipócritas, enganavam
aos homens com ensinamentos hedonistas e desonravam a Deus com uma adoração artificial.
Cristo identificava nos fariseus o grande mal daquela geração, o mesmo já
condenado pelo próprio Deus através do profeta Isaías alguns séculos antes: Este povo se aproxima de mim com a sua boca
e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mateus
15:8).
O que Jesus estava dizendo é que seus
discípulos não estavam se “contaminando” pela falta de um “ritual religioso de
purificação” antes das refeições, pois o “mal” não estava no alimento que
entrava pela boca, e sim naquilo que saia dela, uma adoração hipócrita que
enojava a Deus e um ensinamento deturpado que enganava seu povo.
Neste ponto, é importante salientar
que o próprio Cristo já havia ensinado aqueles homens que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:34). Assim,
quando a contaminação “saí” pela boca do homem, é porque ela “já” corrompeu
todo o seu interior, tendo encontrado portas abertas em seu exterior.
Colaboração: Pb. Miquéias Daniel Quaresma Gomes
Nenhum comentário:
Postar um comentário