segunda-feira, 19 de maio de 2014

O que é Palavra da Sabedoria e Palavra do Conhecimento?


Pb. Miquéias Daniel Gomes

No capítulo 12 de sua primeira carta aos coríntios, o Apóstolo Paulo trata com profundidade o tema “dons espirituais”. Neste texto específico, ele identifica nove diferentes manifestações sobrenaturais que o Espírito Santo realiza no seio de sua igreja por meio de ferramentas humanas: Palavra de Sabedoria, Palavra do Conhecimento, Curas, Operações de Maravilhas, Profecia, Variedade de Línguas, Interpretação de Línguas e Discernimento dos Espíritos 
(I Coríntios 12:9-10)

Para fins acadêmicos, é conveniente agrupa-los em três categorias distintas mediante a característica de cada um: Dons de Revelação, Dons de Poder e Dons de Inspiração. É até de fácil compreensão, a funcionalidade de cada um, exceto quando falamos de Palavra da Sabedoria e Palavra do Conhecimento, já que neste caso, defini-los pode sim gerar certa confusão. 

É comum, principalmente em meios pentecostais, deparamos com declarações como: “Aquele pregador tem o dom da revelação”, e logo se assimila tal ferramenta espiritual com a capacidade que certos ministros têm para identificar na congregação pessoas que estejam com algum tipo de dor, causa na justiça e até mesmo pecado escondido, e assim convidá-los a receber uma oração de cura e livramento, ou convocá-los a um concerto. Embora este tipo de manifestação, quando genuína, realmente é fruto de uma ação espiritual, os chamados DONS DE REVELAÇÃO vão para muito além disso e são manifestos de forma que por vezes passam desapercebidos pelos olhos e ouvidos incautos. São eles: Palavra da Sabedoria, Palavra do Conhecimento e Discernimento do Espírito.

Não falaremos aqui sobre o Discernimento de Espíritos, que é um Dom cuja explicação de sua funcionalidade já está explicita na própria nomenclatura, mas nos focaremos em diferenciar com praticidade o que é Palavra da Sabedoria e Palavra do Conhecimento.

O que é Palavra de Sabedoria?

Você já se deparou com uma pergunta tão ambígua e ameaçadora a ponto de pensar “como vou sair dessa?” 

Pois bem, Jesus enfrentou diversos momentos assim.

No deserto, em plena tentação, Satanás aparece a Ele e lhe propõem diversos desafios que provavelmente nos derrubariam com muita facilidade... Aproveitando da fome de um Cristo humano já há dias sem se alimentar, ele o constrange a transformar pedra em pão, ao que tem como resposta um atordoante “as escrituras dizem: nem só de pão viverá o homem, mas sim de toda palavra que sai da boca de Deus...”

O que Satanás tem de perversidade, ele tem de persistência e tenta convencer Jesus a saltar de uma grande altura, a fim de testar a agilidade de seus anjos num possível resgate. Recebe outra resposta acachapante: “as escrituras dizem: não devemos atentar ao Senhor nosso Deus”.
Em uma ultima tentativa, o tinhoso tenta convencer Jesus a adorá-lo em troca de riquezas e poder. Mas uma vez o intento do inimigo é esmigalhado por uma citação sagrada: “as escrituras dizem: somente ao Senhor teu Deus adorarás...”  (Mateus 4:3-10).

Repare que Jesus não “inventou” absolutamente nenhuma destas respostas. Ele apenas usou as escrituras de forma pontual, na hora certa, no tempo oportuno, de uma forma que nunca antes havia usado. O nome disto é PALAVRA DA SABEDORIA.

Em outras oportunidades Jesus foi colocado em situações onde apenas uma resposta muita sábia o livraria da armadilha elaborada pelos fariseus. Em Marcos 12:17, um grupo mal intencionado questiona o Mestre sobre qual era  a atitude correta: não pagar os impostos para ofertar no templo, ou  deixar de ofertar no templo para poder pagar impostos. Qualquer resposta possível iria contra alguma lei, fosse a dos homens ou a de Deus. Jesus surpreendeu a todos com um celebre: “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Já em João 8:7, uma mulher pega em adultério é levada até Jesus para ser apedrejada. Validar a barbárie contrariaria a mensagem de amor e perdão que ele pregava, mas se posicionar contra a execução confrontaria a lei mosaica. O Mestre mais uma vez cala a multidão com um estonteante: “Aquele que não tem pecados atire a primeira pedra...”

Jesus é para nós o maior referencial de como a sabedoria pode ser usada para nos livrar de uma tentação, desfazer um conflito teológico e até mesmo salvar uma vida.

Vale aqui ressaltar que existem tipos distintos de sabedoria. Por exemplo: devemos sempre buscar sabedoria em Deus que a concederá a todos que pedirem (Tiago 1:5), e esta sabedoria nos ajudará a servir ao Senhor com idoneidade. Há também uma sabedoria natural no ser humano que é otimizada com o passar dos anos (experiência), e ainda podemos citar a “Sabedoria de Satanás”, que leva o homem a praticar as mais diversas formas de maldade. Mas nenhuma delas é o DOM da PALAVRA DA SABEDORIA dado pelo Espírito Santo a alguns poucos membros do corpo. Outra coisa inegável é que nem todos que são cheios do Espírito, são cheios de Sabedoria. Ao separar os diáconos para a igreja de Jerusalém, foi determinado pelos apóstolos que os homens escolhidos fossem cheios do Espírito e de Sabedoria, evidenciando que uma coisa não estava automaticamente atrelada a outra (Atos 6:3).

Na pratica da Palavra da Sabedoria como um DOM, o indivíduo dotado com esta habilidade espiritual sabe sempre o que (e como) dizer em momentos decisivos. Conseguem sintetizar uma verdade bíblica de difícil compreensão aos demais; antever erros e acertos de outras pessoas, aconselhando-as com antecedência.

Assim como toda e qualquer forma de sabedoria, este dom é aperfeiçoado através de experiências pessoais. Por se tratar de algo sobrenatural, proveniente da parte de Deus, tais experiências devem ser sobrenaturais e divinas, como por exemplo, ouvir a voz do Espírito Santo falando em seu interior ou ouvir claramente a voz de Deus em seu próprio ouvido; vivenciar revelações profundas durante a leitura da Bíblia; dar-se a conhecer os mistérios de Deus através de sonhos e visões; experimentar uma plena unidade com Cristo e com a sua Igreja; desenvolver a capacidade de interpretar profecias e revelações de difícil entendimento.
Em resumo podemos dizer que ao presentear alguém com o DOM de PALAVRA DA SABEDORIA, o Espírito Santo dá a este indivíduo o privilégio de absorver uma pequena parte da infinita sabedoria de Deus, levando-o a “pensar” com os pensamentos de Deus para a resolução de uma situação específica.

São “pílulas” de sabedoria divina dada aos homens, o que nos permite conhecer parte dos planos e propósitos de Deus em todas as esferas de tempo e espaço. 

O que é Palavra da Ciência ou Conhecimento?

Existe certa dificuldade em se distinguir este DOM (Palavra do Conhecimento), do DOM anterior (Palavra da Sabedoria), mas há uma interessante história contada em II Reis 6 que nos dará uma melhor compreensão sobre este assunto.

A cidade de Samaria (capital do Reino do Norte) estava sendo sitiada. O objetivo do exército inimigo era capturar o profeta, mas uma intervenção milagrosa cegou os soldados sírios dando livramento ao homem de Deus. O que nos interessa de fato nesta passagem é a causa que levou o rei da Síria a tomar esta atitude, pois ele soube que suas estratégias militares não funcionavam contra Israel por causa de um profeta que “revelava” aos líderes israelitas, até mesmo os detalhes dos planos mais secretos tramados na calada da noite em salas fechadas. Este homem era Eliseu.

Como pode alguém ter conhecimento sobre um fato, sem de fato conhecê-lo? Através da capacitação espiritual oriunda do Dom da Palavra do Conhecimento.

Este dom, nada mais é do que uma revelação sobrenatural de ações e fatos, baseados no perfeito conhecimento de Deus, que nos é dado a conhecer através do Espírito Santo. Podemos definir a diferença entre esses dons da seguinte forma: na Palavra da Sabedoria estão revelados fragmentos do saber eterno e atemporal de Deus; já na Palavra do Conhecimento são revelados (de forma sobrenatural) fatos sobre uma pessoa, um lugar, ou uma situação específica.

Na mais extensa conversa registrada entre Deus e um homem, Jó questiona seu criador devido às insinuações contra ele levantada por seus amigos, e a resposta de Deus vem com um turbilhão de elementos biológicos, geográficos, geológicos e astronômicos, que anteviram milênios antes, as descobertas recentes da ciência humana (Jó 38-42). Ou seja, o conhecimento de Deus é grande demais para ser revelado ao homem, que não o suportaria ou sequer o assimilaria em sua totalidade, então Deus “presenteia” com fragmentos desse gigantesco conhecimento, a membros específicos do Corpo, comunicando informações impossíveis de serem conhecidas por outros meios senão os sobrenaturais.

Por exemplo:

Um pregador que após ler o Salmo 23 traz uma mensagem tão surpreendente que você se põe a perguntar: De onde ele tirou isso?

Um ministro que nunca esteve em sua igreja e nem ao menos te conhece, e que de repente passa a contar detalhes da sua vida que ninguém mais sabe, e você se pergunta: Como ele sabe disto?

Um pastor que no meio do culto pergunta se há alguém sentindo uma forte dor estomacal, pois seu estômago está doendo muito também, e logo o doente se manifesta e é curado, e você se pergunta: O que aconteceu aqui?

Uma pessoa que dialoga com Deus em silêncio sobre as questões de sua vida, e ao chegar na igreja é recebido por alguém que lhe diz: Você fez as perguntas, e estas são as respostas de Deus... E você se pergunta: Como isso é possível?

Nosso Deus é onisciente, e todas as informações, sejam sobre pessoas, fatos ou lugares (em qual tempo for) estão nuas e patentes perante ele, e por vezes, Deus revelará alguns desses fatos específicos para os indivíduos capacitados com este dom, afim de promover cura, libertação, quebrantamento, livramento e renovação.

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