segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Qual a verdade sobre a morte de Judas Iscariotes?

Sabemos que a Bíblia Sagrada é a santa e perfeita vontade de Deus, e que devido a sua inspiração espiritual, ela não falha, não mente e se mostra absolutamente clara em suas posições. Mesmo assim, um número grande de estudiosos se dedicam a procurar em suas páginas,  qualquer traço de inverdade ou confusão, para dar fim a sua milenar veracidade, disseminando teorias injustificadas e criando dúvidas sobre determinadas passagens. Por exemplo, muitas pessoas ficam incomodadas com a aparente discrepância nos relatos bíblicos sobre a morte de Judas Iscariotes, o discípulo que traiu Jesus. Isto porque o texto de Mateus 27:5 diz claramente que ele “se enforcou”, enquanto Lucas, relata em Atos 1:18, que Judas “se jogou de penhasco e seu corpo partiu ao meio”. 
Assim sendo, qual a versão correta deste acontecimento trágico? Por que existe divergência nos relatos desses escritores?

Obviamente esta discussão tem se estendido ao longo dos anos e para esclarece-la, muitos estudiosos recorrem a história exegética dos textos, ao testemunhal dos exegetas da antiguidade e aos muitos dicionários que tentam explicar todas as variáveis do verbete “Judas”. Porém, tentaremos aqui elucidar de uma forma sucinta e direta, como os dois relatos, mesmo diferentes, se harmonizam entre si.

O primeiro ponto a ser esclarecido é que os evangelhos foram escritos em períodos diferentes, em línguas diferentes e para destinatários diferentes. A obra literária de Mateus, foi baseada em suas lembranças e memórias, já que testemunhou os acontecimentos em loco, participando em primeira pessoa da história. Como escreveu seu evangelho para os judeus, entre os anos 50 e 60 da era cristã, usou o aramaico, uma língua própria de seu povo. Já Lucas, não foi um participante direto do ministério de Cristo, e nem sequer conheceu Jesus. Ele era um médico grego respeitado de seu tempo, e se converteu ao cristianismo através da pregação apostólica, se tornando um dos mais fiés seguidores de Paulo. Didático e erudito, Lucas elaborou dois estudos sobre as origens desta nova “religião”, sendo que no primeiro ele se focou na história do próprio Jesus (Evangelho de Lucas), e no segundo, registrou os primeiros anos da igreja recém estabelecida (Atos dos Apóstolos). Escreveu seus textos por volta do ano 70 dc, utilizando o idioma grego (uma língua falada em praticamente todo o mundo conhecido da época), e entregou seu relato para os gentios.
O segundo ponto a ser entendido é o local conhecido como “Aceldama” ou “Campo de Sangue”. Esta propriedade ficava localizada em Jerusalém, ao lado de um lixão público conhecido por Geena, para onde era levado todo o livro da cidade, bem como as imundícias provenientes da limpeza realizada após os sacrifícios de animais. Agora, o fato mais relevante sobre este campo, é exatamente sua geografia, pois se tratava de um penhasco rochoso. Neste lugar também era encontrado um tipo de argila vermelha muito utilizado por oleiros, e daí talvez tenha se originado de fato seu nome. A história por traz da compra deste lugar é tão interessante quanto o fato ali ocorrido. Mateus, testemunha ocular dos acontecimentos, conta que após a traição contra Jesus, Judas foi tomado por um remorso imensurável, e desesperado, correu até os príncipes dos sacerdotes e aos anciões judeus, e tentou devolver o dinheiro que recebera, e com isso impedir a morte de seu mestre. Em prantos ele jogou as moedas de prata na direção daqueles homens, enquanto se lamentava dizendo: - “Pequei, traindo o sangue inocente”. Porém, este gesto não comoveu aos líderes religiosos de Israel, que em resposta apenas disseram: - “O que isso nos importa?”. Vendo que não havia mais meios de remediar seu erro, Judas saiu dali e se enforcou. Então os príncipes dos sacerdotes chegaram à conclusão que era ilícito depositar aquele dinheiro no cofre de ofertas do templo, pois estava sujo de sangue, e após deliberaram, compraram com aquela quantia um lugar chamado “campo do oleiro”, e o transformaram em um cemitério para estrangeiros, e por isso, o local recebeu o nome de “Campo de Sangue” (Mateus 1:1-8).

Lucas, por outro lado, não vivenciou os acontecimentos, e portanto registrou o ocorrido, de acordo com as informações colhidas em suas pesquisas. Assim, ele menciona em Atos 1:16-19, parte de um dos primeiros sermões de Pedro após a morte de Jesus, provavelmente recontado por um de seus entrevistados que esteve presente no dia: -  Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus; porque foi contado conosco e alcançou sorte neste ministério. Ora, este adquiriu um campo com o galardão da iniquidade; e precipitando-se, rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram. E foi notório a todos os que habitam em Jerusalém; de maneira que na sua própria língua esse campo se chama Aceldama, isto é, Campo de Sangue.
Juntando os dois relatos, é fácil a compreensão do histórico de compra daquela propriedade. Judas de fato morreu ali e local foi comprado pelos líderes religiosos judeus que o transformaram em uma área de sepultamentos. Entretanto, o dinheiro usado nesta compra, de fato pertencia a Judas Iscariotes, logo, subjetivamente (e na interpretação de Pedro), ele era de fato, o dono do lugar.
Quanto a causa da morte, não existe discrepância entre os textos, mas sim mudança na perspectiva narrativa do escritor. Podemos então dizer que Mateus trata da tentativa de suicídio, e Lucas descreve as consequências deste ato.
Judas de fato, correu até o “Campo do Oleiro” e se enforcou. Considere que nos arredores de Jerusalém, por questões geográficas e histórias, não existiam árvores de grande porte para viabilizar um suicídio, e portanto, ele provavelmente precisou escolher uma árvore pequena, mas que estivesse à beira de um penhasco. Amarrou uma corda (ou algo semelhante) nesta árvore, atou-a também em seu pescoço e se lançou para baixo. Aparentemente, a corda se rompeu ou o galho quebrou, de modo que o corpo de Judas despencou de uma altura considerável, e se arrebentou nas rochas abaixo. Outra possibilidade é que a expressão “se precipitando de cabeça para baixo”, seja um termo médico usado por Lucas para “inchação”, ou ainda, que o cadáver tenha inchado, arqueado a cabeça e em decorrência do calor, caído por terra.

Em resumo, embora muitos citem esses relatos como “contraditórios” e com isso questionam a veracidade da Bíblia Sagrada, o estudante apaixonado pela Palavra de Deus rapidamente entende que ambos os textos, na realidade se completam, e nos dão um cenário conciso da morte deste icônico personagem, que serve de exemplo para todos nós, de quão trágico é o fim daqueles que se deixam dominar pelos próprios desejos, e com isso traem o evangelho de Jesus Cristo.

2 comentários:

  1. Fiquei um pouco confusa...
    A explicação da a entender que A propriedade foi comprada após a morte de Judas. Se foi desta maneira, como poderia ser dono estando morto?
    Eu gostaria de entender

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  2. Isso em Matheus.
    Porém em atos, dá-se a entender que primeiro ocorreu a compra e depois a morte

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