sexta-feira, 3 de junho de 2016

O Toque de Fé


Conviver com uma hemorragia contínua, já em si um grande fardo a carregar. Cólicas constantes, dores lombares e abdominais, desarranjo hormonal e odores desagradáveis nem eram os maiores incômodos daquela mulher, mas sim a solidão. Uma mulher em sua condição era proibida por lei de frequentar lugares públicos, assim, ela não podia fazer compras, passear com a família, tomar um chá com suas amigas ou participar de um culto ao Senhor. Além de conviver com seus “demônios interiores”, ainda era preciso exteriorizar sua miséria, pois sempre que alguém se aproximasse demais, era sua obrigação civil informar que estava "imunda". Como deveria se sentir cada vez que precisava proferir essas palavras?

Aos olhos da lei, ela não passava de um agente contaminador. Sem amparo na medicina de seu tempo, aquela mulher tem um novo lampejo de esperança quando ouve falar de um jovem pregador, que por onde passa, deixa para traz um rastro de prodígios miraculosos. Até ali, Jesus já tinha curado leprosos e aleijados, expulsado demônios, transformado água em vinho, multiplicados pães e feito o mar se acalmar, e tudo isso, o credenciava como um grande operador de milagres e o único capaz de dar um fim para aquele imenso sofrimento.

Jesus estava apregoando seu evangelho na província dos gadarenos quando um homem de alta posição social chamado Jairo, se lança aos pés do Senhor e pede que Ele socorra sua filha que está muito doente. Mais tarde, aquela menina seria trazida de volta a vida por Jesus, mas é no trajeto até sua residência que iremos testemunhar um ato de muita fé e coragem.

Enquanto Jesus caminhava, uma grande multidão se formava ao seu redor. Discípulos, seguidores, simpatizantes e curiosos se amontoavam em torno de Jesus, formando uma barreira humana quase intransponível. Seria impossível chegar até ele sem tocar em ninguém. Aquela mulher sabia que só teria uma chance na vida de se encontrar com o Salvador, mas para isso, ela teria que atravessar uma multidão, o que certamente implicaria nas punições previstas em lei. Mas uma certeza absoluta lhe dava coragem para seguir... “Eu só preciso de um toque”....

Fraca e debilitada, ela começa sua jornada por entre aquele mar de gente. Certamente ela tentou não tocar em ninguém, mas bastaram alguns segundos para que o primeiro transeunte esbarasse nela. A culpa a corroeu por ter “contaminado” um inocente, mas já que tinha chegado até ali, ela deveria continuar. O progresso era milimétrico e pesaroso. Ela havia se tornado num farrapo humano, e ali na sua frente, homens empolgados e mulheres plenas de saúde disputavam cada pequeno espaço.

Seu esforço foi sobre-humano, e exaurida, quase ao ponto de desmaiar, ela viu pela primeira vez um relance de Jesus. Ela podia vê-lo, mas não o alcançar, pois para isso era necessário avançar ainda mais.... Ela então, retira forças da única fonte que resta, a fé. Quase caída no chão, a esquelética mulher estica seu braço até sentir os ossos estalarem, os milímetros parecem metros, até que ela sente a ponta de um de seus dedos encostar no tecido da roupa de Jesus.

O mundo parou....
Seu corpo é abraçado pelo calor...
Ela sente o sangue parar de escorrer....

Uma força a muito perdida move seu corpo do chão e a mulher se levanta. Ela está estática e as pessoas passam apressadas a deixando para traz. E então Jesus também para. Ele se volta para a turba e diz: -  Alguém me tocou... Pedro estranha o comentário, pois centenas de pessoas o estão tocando desde que desembarcou na praia. Então, o Senhor Jesus revela o quão poderoso um toque de fé pode ser:

Alguém me tocou de um modo muito especial... Pois de mim saiu virtude!

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