segunda-feira, 19 de junho de 2017

Depois do Mar Vermelho


Em muitos sermões que pregamos e ouvimos, a travessia do Mar Vermelho é final feliz para uma grande história. Logo após a travessia, os israelitas promoveram uma grande festa de júbilo e celebração. E tinham motivos para isso. Poucas horas antes, seus corações estavam tomados pelo medo, enquanto se viam encurralados em Pi Hairote, impotentes diante do oceano e indefesos contra o exército de Faraó, sem perspectivas ou esperanças. Mas, agora, o mar era um obstáculo vencido e as ondas traziam para a margem os corpos desfalecidos dos egípcios, que a esta altura, já não apresentavam qualquer perigo. 

Haviam sim motivos para comemorar, mas o que Israel não sabia é que aquele era apenas o primeiro passo de uma jornada longa e difícil, que se estenderia por quatro décadas. Para chegar ali, eles tiveram que atravessar muitos metros por entre as águas, mas agora haveriam centenas de quilômetros sob a areia escaldante do deserto. O Egito, derrotado e humilhado, daria lugar a dezenas de povos bárbaros e nações agressivas entre Israel e a terra da promessa. Tudo até ali, era na verdade uma preparação para coisas ainda maiores, batalhas mais acirradas e momentos de imensa tensão.

A verdade é que antes do mar, todo trabalho fora feito por Deus e os hebreus assistiram ao próprio livramento de camarote.  Foi Ele quem escolheu e preparou Moisés, e também quem enviou as pragas sobre o Egito. Eram as mãos do GRANDE EU SOU que abriram as águas do mar e decretaram a ruína do exército inimigo. Deus tomou aquela questão como uma causa pessoal, enquanto seu povo apenas aguardava o momento da vitória. (Êxodo 14:10-20). 

Mas, o deserto lhes reservava suas próprias batalhas e Israel precisava estar pronto para isso. O livramento com mão forte, a escapada maravilhosa e a celebração incontida, eram lições valiosas sobre o quão comprometido Deus é com seus escolhidos,  mas não garantia imunidade contra dias de angustia e provações ainda maiores.

Para entenderemos este mecanismo usado por Deus, afim de aperfeiçoar seu povo, podemos olhar alguns séculos a frente e fecharmos nosso foco em um único homem: Davi. Mesmo após ser ungido rei de Israel (I Samuel 16:12-13), ele retornou ao ostracismo das pastagens e continuou apascentando as ovelhas de seu pai. Porém, foi dado o “start” de seu treinamento. O primeiro teste foi enfrentar um leão. Davi venceu a fera e ganhou experiência para lidar com um adversário bem maior: uma ursa. Foram estas batalhas individuais travadas no anonimato que credenciaram Davi como o representante da nação contra o gigante Golias (I Samuel 17:33-51). Mas se você acha que enfrentar o filisteu seria o derradeiro desafio do belemita, está equivocado. Pouco tempo depois, Davi se viu perseguido por um exército inteiro, liderados por um ensandecido Saul que desejava ardentemente extermina-lo (I Samuel 23:8). Apenas passados todos os estágios é que finalmente Davi ascendeu ao trono de Israel, mais forte e preparado do que nunca.

No deserto Deus cuidaria do seu povo como sempre fez, provendo, intervindo, ensinando e corrigindo. A diferença é que agora eles precisariam se mover, caminhar com as próprias pernas, enfrentar um desafio se preparando para o próximo, pois somente assim estariam devidamente capacitados para a retomada de Canaã. Pense em Deus como um pai que está ensinando seu filho a andar de bicicleta. Ele está do lado, amparando, escoltando, sustentando. O filho se sente confiante, e nem percebe que pouco a pouco está se equilibrando sozinho, dando suas próprias pedaladas rumo ao desconhecido. Mas caso caia, o pai imediatamente está ali para levanta-lo, sendo que este processo se repetirá quantas vezes foram necessárias.

O Senhor testemunha deste cuidar em Oséias 11:1-4: 

Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho. Mas, como os chamavam, assim se iam da sua face; sacrificavam a baalins, e queimavam incenso às imagens de escultura. Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento.  

Ali, as margens do Mar Vermelho, Israel deixa de engatinhar e começa a dar seus primeiros passos. Eles serão amparados por Deus, e orientados por Moisés, um líder previamente escolhido e que já acumulava mais de 700.800 horas na escola preparatória de Deus. O problema, é que nem todos estavam interessados em aprender.


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