segunda-feira, 18 de julho de 2016

Qual a origem da contaminação do homem?


Quando os hebreus retornaram do exílio na Babilônia, apesar de muita fé e boa vontade, ainda estavam impregnados com a cultura caldeia, afinal, o povo esteve exposto ao paganismo de babilônicos, medos e persas por longos setenta anos. No retorno para casa, muitos erros cometidos pelo povo eram derivados da vontade de querer fazer o “certo”, mas não saber “como”. Deus então levantou alguns profetas para instruir o povo neste difícil recomeço, exortando-os e admoestando-os nos princípios da Lei do Senhor, promovendo um grande discipulado nacional. E um destes homens foi o profeta Ageu.

Determinante na retomada da construção do Templo de Jerusalém, Ageu inspirou o povo com palavras e ações, já que também foi um dos edificadores. Com a obra concluída, e a promessa de uma glória ainda maior sobre aquela casa, o profeta pode se dedicar ao ensinamento, convocando os sacerdotes para uma conversa franca e instrutiva sobre a santificação. A nação israelita nasceu como um padrão de ética, moral e santidade para todos os povos da Terra. O propósito de Deus era ter uma relação tão íntima com seu povo, que os mesmos refletiriam a glória do Altíssimo aos olhos de toda gente. Vivendo em obediência, retidão e temor, os hebreus atraíram sobre si toda sorte de bênçãos, o que levaria as nações ao seu redor a imitar seu comportamento. Não foi o que aconteceu... Israel se encantou com os costumes e ritos pagãos, se enveredou por caminhos de idolatria e prostituição, e o resultado desta rebeldia espiritual foi o exílio. Agora, Ageu quer expor para os discipuladores do povo, o caminho da santificação, bem como identificar a origem da corrupção.

Seguindo a ordenação do Senhor, e tendo como base doutrinária a Lei Mosaica, Ageu faz a seguinte indagação aos sacerdotes: - Se alguém tiver um pedaço de carne consagrada presa na borda de sua roupa, e a mesma tocar num pão, ou em algo cozido, ou ainda no vinho ou no azeite, o alimento que foi tocado também ficará consagrado?Em uníssono, os sacerdotes responderam que não, afinal, a consagração de um objeto ou a santificação de um indivíduo não é conseguida através de um simples toque externo. Ela precisa partir de dentro para fora. Ageu concordou com a resposta e propôs mais uma questão: - Se alguém tocar em um cadáver, e de acordo com a lei, ficar impuro, se ele por sua vez tocar numa outra pessoa, ela automaticamente estará impura também? Mais uma vez a resposta foi unânime. – Sim, a pureza só existe até o primeiro toque da impureza. Mas uma vez o profeta concorda com os sacerdotes, pois a impureza vem do exterior e contamina o interior do homem.

Assim, Ageu quis ilustrar a condição pecaminosa do povo, que com sua impureza, estava maculando a Casa de Deus (Ageu 2:11-23). Deste sermão do profeta, podemos extrair uma grande lição: A impureza vem de fora e contamina todo o nosso interior.

Uma criança nasce pura, livre de pecado e maculação. Pouco a pouco, o seu caráter começa a ser desenvolvido baseado nas influências externas as quais fica exposta. Nossos desejos são construídos através do que vemos, ouvimos e tocamos. Nosso corpo é o tato da alma e o coração de nosso espírito. E ele quem absorve os nutrientes espirituais que irrigam nosso interior, sejam eles bons ou maus. Por maior que seja nosso esforço para mantermos nosso interior puro e imaculado, basta um toque externo de impureza, lascívia ou perniciosidade, para que respingos escuros saltem de nossas vestes brancas. Assim, é preciso se esquivar de todo ponto de contaminação, fugindo constantemente de qualquer coisa que até mesmo apenas “aparente” ser má (I Tessalonicenses 5:22) .

Em seu mais famoso sermão, Jesus instruiu os discípulos a terem um cuidado especial com os seus olhos, sendo extremamente seletivos quanto “ao que se olhar”: - Os olhos são como lâmpadas para o corpo. Se seus olhos se focarem em coisas boas, todo o seu corpo (incluindo alma e espírito), serão cheios de luz. Mas se seus olhos estiverem voltados para coisas más, todo o seu corpo (incluindo alma e espírito), estará cheio de trevas (Mateus 6:22-23). Em suma, podemos dizer que um simples toque naquilo que é imundo tem o poder de contaminar nosso espírito, e basta olhar na direção da maldade, para que nossa alma se encha de escuridão. Todo cuidado é pouco. Quem se deixa contaminar também se torna um agente contaminador.

Em contrapartida, quando lemos Mateus 15:11, nos deparamos com uma declaração poderosa que parece ir numa outra direção de pensamento: - O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem. Isoladamente, este texto pode levar a interpretação de que a contaminação brota do interior do homem para seu exterior. Porém, é preciso entender todo o contexto deste discurso de Cristo para uma conclusão definitiva. A Bíblia se explica, e nunca se complica.

 Os discípulos de Jesus estavam sendo duramente criticados pelos religiosos da época por não realizarem rituais de purificação antes das refeições. Os fariseus, então, os acusavam publicamente de infligirem os mandamentos de Deus. Jesus saiu em defesa de seus seguidores, dizendo que os maiores infratores da lei eram exatamente os religiosos de Israel, que desmereciam seus pais com ritualismos hipócritas, enganavam aos homens com ensinamentos hedonistas e desonravam a Deus com uma adoração artificial. Cristo identificava nos fariseus o grande mal daquela geração, o mesmo já condenado pelo próprio Deus através do profeta Isaías alguns séculos antes: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mateus 15:8).

O que Jesus estava dizendo é que seus discípulos não estavam se “contaminando” pela falta de um “ritual religioso de purificação” antes das refeições, pois o “mal” não estava no alimento que entrava pela boca, e sim naquilo que saia dela, uma adoração hipócrita que enojava a Deus e um ensinamento deturpado que enganava seu povo.

Neste ponto, é importante salientar que o próprio Cristo já havia ensinado aqueles homens que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:34). Assim, quando a contaminação “saí” pela boca do homem, é porque ela “já” corrompeu todo o seu interior, tendo encontrado portas abertas em seu exterior. 

Colaboração: Pb. Miquéias Daniel Quaresma Gomes

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