quarta-feira, 20 de abril de 2016

Obede Edom - Deus na minha casa



A Arca da Aliança era um objeto sagrado que representava a presença de Deus no meio de seu povo, e fazia parte dos utensílios desenvolvidos para compor o Tabernáculo.  Dentro da Arca, foram depositados três elementos de grande importância da fé judaica e de simbolismo expressivo para todo cristão: a tábua contendo os dez mandamentos, o cajado de Arão que milagrosamente floresceu e produziu amêndoas, além de um jarro contendo porções do maná.  Segundo as especificações divinas, apenas os sacerdotes levitas podiam transportar a Arca. Qualquer pessoa que ousasse tocar ou até mesmo olhar para dentro da Arca, era sumariamente executado também. Exatamente por este motivo, a Arca era transportada pelas já citadas varas e ficava repousada sobre um altar de madeira revestido de ouro e com uma coroa de ouro ao lado.

Quando era autorizada por Deus, a simples presença da Arca fazia com que os adversários temessem grandemente o exército israelita. Porém, com o passar dos anos, Israel transformou a Arca da Aliança num verdadeiro “amuleto”, levado à revelia para campos de batalha, afim de assegurar vitórias milagrosas sobre seus inimigos. Este ritual adentrou os anos, chegando aos dias do jovem profeta Samuel. Neste período, Eli, e seus filhos Hofni e Finéias exerciam um sacerdócio displicente e corrompido, provocando a ira do Senhor. Naqueles dias, Israel subiu a peleja contra os filisteus, sem ao menos consultar os profetas para conhecer a vontade de Deus. Próximo a Ebenezer, o exército de Israel foi surpreendido por um ataque filisteu, que culminou na morte de quatro mil israelitas. Imediatamente, os anciões concluíram que a grandiosa derrota era em decorrência da ausência da Arca no campo de batalha. Os filhos de Eli se encarregaram de ir até Siló, e mesmo com a objeção de Eli, e sem a autorização do Senhor, conduziram a Arca ao campo de batalha. A chegada da Arca trouxe louvor ao arraial dos israelitas e tremor aos filisteus, que chegaram ao consenso que a única forma de ter uma chance contra o “Deus de Israel” era realizando um ataque imediato enquanto Israel ainda festejava a chegada da Arca. A estratégia deu muito certo e em poucas horas, cerca de trinta mil israelitas foram mortos, incluindo Hofni e Finéias. Os sobreviventes fugiram em desespero e para piorar a situação, a Arca da Aliança foi tomada pelo inimigo.

Os filisteus, orgulhosos por sua vitória, levaram seu espólio mais preciso para a cidade de Asdode, e colocaram a Arca da Aliança no templo de seu deus Dagon, um híbrido de homem e peixe. Pela manhã, a imagem de Dagon estava caída defronte a Arca da Aliança. O misterioso evento voltou a acontecer no dia seguinte, mais desta vez, a imagem do deus fenício estava aos pedaços. Assustados, os filisteus retiraram a Arca do templo e a colocaram em um edifício adjacente, porém os moradores de Asdode foram atingidos com enfermidades muito aflitivas, mais precisamente, terríveis hemorroidas.  A Arca então foi enviada para Gade, porém a praga também se alastrou por aquela cidade, e a Arca é imediatamente mandada para Ecrom, onde uma infestação de ratos arrasa toda a terra.

Durante sete meses, a Arca percorreu a Filistía, cujos moradores estão em polvorosa para se livrar dela, porém, não existe registros de qualquer mobilização israelita para recuperá-la. Os sacerdotes pagãos elaboram um plano engenhoso para dar a correta destinação a Arca de Israel. Ela é colocada em um carro novo, que por sua vez é atrelado a duas vacas, que não deveriam ser guiadas, mas sim escolher o próprio destino. Os animais tomam o caminho de Bete-Semes, e ali, a Arca é recebida com muita alegria pela família de um homem chamado Josué.

Esta ação fez com que a praga cessasse sobre os filisteus e colocou os bete-semitas em estado de total empolgação com a presença de objeto tão imponente. Porém, no afã de ver o que havia dentro da Arca, os moradores daquela cidade removeram a tampa e olharam para o interior da caixa, atitude esta que causou a morte de muitos habitantes da região. Assustados, os sobreviventes enviaram uma mensagem à Quiriate-Jearim, oferecendo para eles a oportunidade de hospedar a Arca. Foi um levita chamado Abinadabe que recebeu a Arca em sua nova morada, e escolheu seu filho Eleazar como o guardião da mesma.  Ali, a Arca ficou guardada por muitos anos.

Durante o tempo que a arca ficou na casa de Abinadabe, Deus preparou o jovem Davi para reinar em Israel, e após a sua ascensão, ele resolveu buscar a arca e levar a Jerusalém. Segundo a Lei, a arca deveria ser conduzida nos ombros dos sacerdotes, e jamais em carro de bois (I Crônicas 15:15). Davi anelava por Deus, queria sua presença, queria que Jerusalém fosse inundada de graça. No entanto, ele agiu da mesma forma que os filisteus; ele a puxou numa carruagem. O problema, é que no meio do caminho, as rodas do carro se prenderam num buraco e a Arca ficou em iminente risco de queda.

Uzá, ao tentar segurar a Arca com suas próprias mãos, negligenciou o zelo de Deus. Como sacerdote, ele sabia exatamente como proceder, mas foi conivente com desleixo demonstrado na tentativa de levar a Arca para Israel. Todas as intenções eram boas... Davi ansiava pelo retorno da presença de Deus. O povo desejava que a Arca voltasse para casa. Os sacerdotes se apressaram para que nenhum minuto fosse desperdiçado. Mas todos se esqueceram que não basta desejar a presença de Deus... Antes é  exigido preparo, cuidado e santificação. Deus não visita casa bagunçada. Ele vem até seu povo,  mas é necessário atender os pré requisitos. Deus faz suas exigências e homem que deseja compartilhar de sua presença precisa atender. Uzá se esqueceu disso, assim como nós nos esquecemos também. A Arca não poderia ser guiada por bois, Uzá estava do lado da carroça... Quando a Arca pareceu estar em risco de queda, ele se prontificou a ampará-la, mas se esqueceu que Deus não necessita de mãos humanas para estar de pé. Deus é bom, mas é justo... Deus é amor, mas também é zelo... É preciso se atentar a estes detalhes, afim de preparar o ambiente para a chegada de Deus. Caso contrário, colocamos nossa vida em perigo. Certa vez, ao ser questionado sobre porque Deus matou Uzá, um rabino respondeu: A pergunta correta não é porque Deus matou Uzá, mas sim porque nós continuamos vivos.

Abalado pela morte de Uzá, Davi temeu. Então, guiado por Deus, ele conduz a arca para a casa de Obede-Edom e volta com sua comitiva frustrada para Jerusalém. A tragédia que trouxe morte para Uzá produziu vida para Obede-Edom. Parece que Deus havia tomado uma decisão: “Ele nem habitaria na casa do sacerdote e nem tampouco habitaria com o rei”. Era como se estivesse enojado com o sistema e a maneira cega que lhe conduziam. Deus resolveu habitar na casa de alguém sem “status”, alguém que estava fora de alcance para todos. Deus deixou de habitar com os nobres, para transformar aquele que para todos era um anônimo. Obede-Edom significa: servo de Edom.

Os edomitas eram descendentes de Esaú, os quais Deus mandou exterminar da terra e os amaldiçoou. A tragédia favoreceu toda a sua casa, um exemplo de graça onde jamais houve uma perspectiva de mudança. Aquele era um momento de grande responsabilidade e extrema oportunidade. A presença do Senhor que por tanto tempo estivera longe, agora estava ali, disponível. 

Quando ninguém queria arriscar-se num compromisso tão radical com Deus, ele abre as portas de sua casa e decide ser o modelo que aquela nação precisava. Obede-Edom teve coragem, pois qual homem que assistindo ao funeral de alguém fulminado pela arca a colocaria em sua casa?

Obede-Edom não somente arriscou, mas teve a rotina de sua vida alterada. É impossível Deus entrar em uma vida e as coisas continuarem do mesmo jeito. Foram três meses apenas, mas três meses que marcaram a história. Poderíamos até conjecturar dizendo que: no primeiro mês houve a restauração da vida sentimental de Obede-Edom, pois sua mulher engravidou e gerou filhos; no segundo mês aconteceu a restauração financeira, onde seu gado e sua hortaliça produziram absurdamente; no terceiro mês sua vida espiritual deu uma guinada, e ele desejou deixar tudo para seguir o caminho da Arca. 

O mesmo Davi que designou a arca para a casa de Obede-Edom, também o promoveu como homem de confiança do tesouro do Santuário (II Crônicas 25:24). Segundo alguns estudiosos, o tesouro do Santuário do Senhor que estava sob a responsabilidade de Obede-Edom corrigidos para os nossos dias chegaria a cerca de três bilhões de dólares. A grande lição da presença de Deus na vida desse homem está em como se conduzia diante d’Ele. Para Obede-Edom sua maior riqueza era estar na presença de Deus.

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