Na carta apocalíptica
endereçada a igreja em Éfeso, após a repreensão divina em relação a perca do
primeiro amor, o Senhor Jesus tece um comentário elogioso muito específico para
aquela comunidade: “Tens, porém, isto:
que odeias as obras do nicolaítas, as quais eu também odeio” (Apocalipse 2.6). Mas
quem eram estes tais Nicolaítas, que despertavam o ódio do próprio Deus para o
seu ensinamento?
Não sabemos
muita coisa acerca dos nicolaítas. O que sabemos é que a sua doutrina não
destoava quase nada do ensino de Balaão. Pelo menos quanto ao conteúdo. Se
Balaão era dissimulado, sutil e teológico, os nicolaítas, fazendo abertamente
comércio dos santos, publicamente apregoavam a paganização da igreja, afirmando
ser possível servir a Deus e aos ídolos. Utilizando-se de um linguajar bem
elaborado, levaram muitos fiéis a se desviarem pelos caminhos da fornicação, do
adultério e da idolatria. Logo, os nicolaítas eram agentes propagadores da
imoralidade e da idolatria entre os primeiros cristãos.
Alguns
estudiosos entendem que se tratava dos discípulos de Nicolau de Antioquia, o
qual pregava a libertinagem cristã e
ignorava o corpo físico como o templo do Espírito, promovendo, assim, a prática
de imoralidade sexual entre os cristãos. Ainda podemos acrescentar que tal
ensino está correlacionado com a mesma imoralidade sexual pregada por Balaão,
que encorajou as mulheres moabitas a seduzir os homens de Israel, conforme
verificamos em Apocalipse 2:14-15, na carta direcionada à igreja de Pérgamo: “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti,
porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a
lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios
da idolatria, e se prostituíssem. Assim tens também os que seguem a doutrina
dos nicolaítas, o que eu odeio”. Desta associação, pode-se entender que os nicolaítas eram sim agentes propagadores de práticas expressamente reprovadas pela Bíblia: “Não sabeis que os injustos não hão de
herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os
adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os
avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o
reino de Deus” (I Coríntios 6:9,10). No geral, podemos dizer que os nicolaítas
não tinham qualquer escrúpulos em participar dos banquetes sacros do paganismo.
Porém, é
consensual entre os estudiosos, que o conjunto de doutrinas dos nicolaítas
avançava para ensinamentos ainda mais perniciosos. Segundo
eles, esta era uma heresia que se formava já no fim da era apostólica, com os
falsos mestres deturpando a pureza da Doutrina de Cristo e os ensinamentos dos
seus apóstolos originais, concebendo a ideia de que eram uma casta especial e
superior na Igreja. Ao final do primeiro século, eles estavam amplamente infiltrados
nas comunidades cristãs, exercendo grande influência, movidos pelo instinto
carnal de domínio, pela soberba e pela torpe ganância de posição e riquezas. Em
resumo, tratava-se de uma ditadura religiosa imersa em paganismo, mas transvestida
de cristianismo. Poder apenas pelo poder, movido por hedonismo e sem
espiritualidade ou direcionamento divino.
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