terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Testemunho: Uma Nova Chance (Ronaldo Ribeiro Almeida)




Dia 09 de maio de 1999. Uma sexta feira. Tudo começou quando eu saí do trabalho, e fui até a casa da minha sogra para ver meu filho Henrique, que tinha apenas 15 dias de nascido.

Por volta das nove horas da noite, quando voltava para minha casa, no meio do caminho encontrei um colega que me convidou para ir com ele até uma lanchonete tomar uma cerveja. Ainda naquele dia, minha esposa Néia havia me pedido para não ir naquele lugar, mesmo assim, aceitei o convite, e ficou combinado que ele me traria pra casa de carro. Entre uma cerveja e outra, as horas foram avançando, e ao invés de ir embora como o combinado, continuei na lanchonete com outros amigos que tinha encontrado ali. Já passava das três da manhã quando decidi ir para casa, mas ainda na porta do estabelecimento, me encontrei com outro colega que chegava. Ele queria de toda maneira que eu voltasse para bebermos juntos, e enquanto conversávamos, um carro se aproximou e dois elementos desceram e vieram em nossa direção.

Eu estava de costas, e senti que alguém tocou em minha cintura. Quando me virei para ver quem era, ele atirou em mim a queima roupa, e imediatamente, cai sentado no chão. Meu colega, que era o alvo, saiu correndo e os dois homens foram atrás dele. Há poucos metros ele foi alcançado, e alvejado com vários tiros, alguns deles na cabeça. Então, eles voltaram para terminar o serviço comigo, mas eu já tinha conseguido me arrastar dali. A minha mãe, Elza, morava a poucos metros do local, e ao ouvir o barulho dos tiros, ela se levantou para orar pelas vítimas, mesmo sem saber que uma delas era eu.

Me levantei com muita dificuldade e desesperadamente tentava chegar a minha casa. No meio do caminho tive a ideia de ir por uma rua menos movimentada e, portanto, uma rota de fuga menos provável, na esperança que não me procurassem ali. Eu estava sangrando muito e só pedia a Deus que me desse uma chance de viver, pois tinha quase certeza que não sobreviveria. Por um milagre, consegui chegar em casa. No portão, chamei por minha mãe que saiu na janela, e disse a ela que tinha sido baleado. Num primeiro momento, ela mal acreditava em mim, mas então, eu perdi os sentidos e desmaiei ali mesmo, deixando minha mãe apavorada.

Por providência divina, uma de nossas vizinhas estava chegando em casa naquele exato instante, e foi ela que prestou socorro, me levando em seu carro até o hospital do Campo Limpo na Zona Sul de São Paulo. Ali, a polícia já me aguardava, e antes mesmo de receber atendimento, fui enquadrado e revistado. Houve muita demora nos primeiros socorros, sendo que os médicos e as enfermeiras me pediam calma. Quando fui levado ao centro cirúrgico, vi meu colega morto na maca ao lado, e ouvi um dos médicos dizendo que eu seria o próximo, pois dificilmente iria resistir. Fui anestesiado. Quando acordei, estava entubado e num corredor gelado, pois não havia vaga na UTI, e ali permaneci até o dia seguinte, quando surgiu a oportunidade de ir para um quarto. Ali, fiquei internado por nove dias.

O tiro que eu levei perfurou o pulmão, o intestino e o esôfago.  A bala atravessou do lado direito para o esquerdo, percorrendo todo o corpo. Tive que fazer fisioterapia, pois minha respiração ficou comprometida. O médico me deu alta no nono dia de internação, pois temia que eu contraísse uma infecção hospitalar. Ele também me disse que por muito pouco não tinha ficado paralítico. Me aconselhou a deixar a cidade de São Paulo e procurar uma igreja imediatamente, pois tinha nascido de novo.

Segui o conselho do Dr. Claudio... Moro em Estiva Gerbi há quinze anos e hoje sirvo a Deus. Ele é bom o tempo todo, e até aqui tem me sustentando.

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