Dia 09 de
maio de 1999. Uma sexta feira. Tudo começou quando eu saí do trabalho, e fui
até a casa da minha sogra para ver meu filho Henrique, que tinha apenas 15 dias
de nascido.
Por volta
das nove horas da noite, quando voltava para minha casa, no meio do caminho
encontrei um colega que me convidou para ir com ele até uma lanchonete tomar
uma cerveja. Ainda naquele dia, minha esposa Néia havia me pedido para não ir
naquele lugar, mesmo assim, aceitei o convite, e ficou combinado que ele me
traria pra casa de carro. Entre uma cerveja e outra, as horas foram avançando,
e ao invés de ir embora como o combinado, continuei na lanchonete com outros
amigos que tinha encontrado ali. Já passava das três da manhã quando decidi ir
para casa, mas ainda na porta do estabelecimento, me encontrei com outro colega
que chegava. Ele queria de toda maneira que eu voltasse para bebermos juntos, e
enquanto conversávamos, um carro se aproximou e dois elementos desceram e
vieram em nossa direção.
Eu estava
de costas, e senti que alguém tocou em minha cintura. Quando me virei para ver
quem era, ele atirou em mim a queima roupa, e imediatamente, cai sentado no
chão. Meu colega, que era o alvo, saiu correndo e os dois homens foram atrás
dele. Há poucos metros ele foi alcançado, e alvejado com vários tiros, alguns
deles na cabeça. Então, eles voltaram para terminar o serviço comigo, mas eu já
tinha conseguido me arrastar dali. A minha mãe, Elza, morava a poucos metros do
local, e ao ouvir o barulho dos tiros, ela se levantou para orar pelas vítimas,
mesmo sem saber que uma delas era eu.
Me
levantei com muita dificuldade e desesperadamente tentava chegar a minha casa.
No meio do caminho tive a ideia de ir por uma rua menos movimentada e,
portanto, uma rota de fuga menos provável, na esperança que não me procurassem
ali. Eu estava sangrando muito e só pedia a Deus que me desse uma chance de
viver, pois tinha quase certeza que não sobreviveria. Por um milagre, consegui
chegar em casa. No portão, chamei por minha mãe que saiu na janela, e disse a
ela que tinha sido baleado. Num primeiro momento, ela mal acreditava em mim,
mas então, eu perdi os sentidos e desmaiei ali mesmo, deixando minha mãe
apavorada.
Por
providência divina, uma de nossas vizinhas estava chegando em casa naquele
exato instante, e foi ela que prestou socorro, me levando em seu carro até o
hospital do Campo Limpo na Zona Sul de São Paulo. Ali, a polícia já me
aguardava, e antes mesmo de receber atendimento, fui enquadrado e revistado.
Houve muita demora nos primeiros socorros, sendo que os médicos e as
enfermeiras me pediam calma. Quando fui levado ao centro cirúrgico, vi meu
colega morto na maca ao lado, e ouvi um dos médicos dizendo que eu seria o
próximo, pois dificilmente iria resistir. Fui anestesiado. Quando acordei,
estava entubado e num corredor gelado, pois não havia vaga na UTI, e ali
permaneci até o dia seguinte, quando surgiu a oportunidade de ir para um
quarto. Ali, fiquei internado por nove dias.
O tiro
que eu levei perfurou o pulmão, o intestino e o esôfago. A bala atravessou do lado direito para o
esquerdo, percorrendo todo o corpo. Tive que fazer fisioterapia, pois minha
respiração ficou comprometida. O médico me deu alta no nono dia de internação,
pois temia que eu contraísse uma infecção hospitalar. Ele também me disse que
por muito pouco não tinha ficado paralítico. Me aconselhou a deixar a cidade de
São Paulo e procurar uma igreja imediatamente, pois tinha nascido de novo.
Segui o
conselho do Dr. Claudio... Moro em Estiva Gerbi há quinze anos e hoje sirvo a
Deus. Ele é bom o tempo todo, e até aqui tem me sustentando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário