No dia 1 de janeiro de
1484, na pequena cidade de Wildhaus, nascia um personagem bastante influente na
Suíça de seus dias, mas cuja história, por estes estranhos motivos que a vida
nos reserva, é pouco conhecida em nossos dias. Recebeu de seus pais o nome
Ulrich Zwingli, mas tarde, porém, adotou a graça de Huldrych Zwingli. Em português, no entanto, o
conhecemos como Ulrico Zuínglio.
Wildhaus é uma pequena
vila alpina, situada no vale de Toggenburg, cujos habitantes viviam
principalmente do pastoreio. Ali, Zuínglio seria educado na religião católica
pelos pais tementes a Deus, em seus primeiros anos de vida, e logo cedo se
destacaria por sua inteligência e amor à verdade. Aos oito anos ele teria dito
que estava considerando se a mentira não deveria merecer uma punição maior que
o roubo, já que a verdade seria “a mãe de todas as virtudes”. Por isto o pai
achou uma injustiça confiná-lo à vida pastoril, como fizera com seus irmãos
Heini e Claus. Decidiu assim deixá-lo aos cuidados de seu irmão Bartholomew, deão
em Wesen, que influenciou bastante o humanismo de Zuínglio. Ele ficaria com seu
tio por 2 anos, quando este o enviaria para Basileia, para a escola St.
Theodore, aos cuidados de George Binzli. Ali Zuínglio aprenderia latim e grego,
além de aprender música, algo que ele gostava muito. Depois de 3 anos, Zuínglio
seria ainda enviado a Berna, onde Heinrich Wölflin, ou Lupulus, conhecido como
o melhor estudioso clássico e poeta latino da Suíça, tinha uma escola. Ali
ensinava vários alunos sobre as obras de autores gregos e romanos clássicos.
De 1500 a 1502, ele
estudaria na Universidade de Viena, que se tornara um centro de estudo dos
clássicos através dos trabalhos de distintos humanistas, como Corvinus, Celtes,
e Cuspinian. Ali ele estudaria filosofia escolástica, astronomia e física, além
de estudar sobretudo os clássicos antigos. Desenvolveria também sua vocação
para a música, tocando vários instrumentos, como o alaúde, harpa, violino,
flauta, saltério e um chifre de caça. Por isto ganharia o apelido “carinhoso”
de “tocador de alaúde evangélico, flautista e assobiador” de seus oponentes
católicos. Em 1502 ele retornaria para Basileia, onde ensinaria latim na escola
de São Martim. Ali também prosseguiria seus estudos, adquirindo grau de mestre
em artes em 1506, sendo por isto chamado sempre de Mestre Ulrico. Ali também
ele conheceria Leo Judae, que se tornaria grande amigo durante os anos da
Reforma em Zurique. Ele seria seu parceiro no futuro, na tarefa de traduzir a
Bíblia dos idiomas originais para o dialeto alemão da Suíça. Decisivo para
Zuínglio, no entanto, foi conhecer Thomas Wyttenbach, professor de teologia
desde 1505. É ele quem Zuínglio chama de amado e fiel professor, que teria
aberto seus olhos para vários abusos da Igreja, principalmente as indulgências,
ensinando a “não confiar nas chaves da Igreja, mas a buscar a remissão dos
pecados apenas na morte de Cristo, e abrir acesso a ela pelas chaves da fé”.
Zuínglio em Glaru.
Naquele tempo, a igreja
de Glarus, situada no Cantão de mesmo nome, estava sem um sacerdote. Henry
Goeldli, de Zurique, teria sido indicado para a vaga, já que contava com o
favor papal. Os cidadãos de Glarus, no entanto, perceberam as intenções
puramente financeiras de Goeldli, mandando-o de volta a Zurique. Sua percepção
parecia ser bem precisa, já que os mais de 100 florins em moedas de ouro e
prata levantados por eles para pagar a Goeldli garantiram que a “devolução”
fosse a mais rápida e pacífica possível.
Ainda com o problema da
falta de um sacerdote para a cidade, os cidadãos de Glarus elegeram o jovem
Zuínglio para a vaga. O pedido formal seria feito em 1506. Ele seria então
ordenado padre em Constança no mesmo ano, pregando seu primeiro sermão em
Rapperschwyl, às margens do lago de Zurique, e logo depois celebraria sua primeira
missa em Wildhaus, iniciando suas atividades sacerdotais em Glarus no fim
daquele ano. Ali ele ficaria por 10 anos.
Durante estes 10 anos em
Glarus, Zuínglio se dedicou a aperfeiçoar seus conhecimentos nos idiomas
bíblicos, especialmente o grego, para que pudesse ler a Bíblia em seus idiomas
originais, estudando sozinho o grego. Foi assim que o processo de conversão de
Zuínglio se iniciou em Glarus. Certamente sua conversão não foi repentina mas
um processo intelectual gradual, que se completaria somente em Zurique. Em
Glarus ele era um patriota e humanista, não um teólogo ou um professor
religioso. Somente ao adotar a Bíblia como guia única para a vida é que ele
rompeu com as tradições de Roma, as quais nunca o influenciaram muito.
Era um costume suíço
enviar padres aos campos de batalha como capelães, e por isto Zuínglio
presenciou várias batalhas durante este tempo. É daí que Zuínglio inicia suas
preocupações patrióticas, que o motivariam também a reformar a igreja, como nos
relata Justo Gonzalez: O patriotismo de Zuínglio foi despertado pela prática de
serviço mercenário, que era uma das principais fontes de renda para muitas
cidades e vilas suíças. Por gerações, os suíços haviam usufruído da reputação
de serem soldados bravos e consistentes, e tinham se beneficiado dessa
reputação para vender seus serviços a príncipes estrangeiros. Nos dias de
Zuínglio, isto havia se tornado uma prática aceita e raramente uma voz era
ouvida contra a mesma, embora muitos reconhecessem que a vida dos soldados mercenários,
tendo que complementar sua renda saqueando, não conduzia a padrões mais
elevados de moralidade. O próprio Zuínglio apoiou a prática do serviço
mercenário e lucrou com ela. Mas depois da batalha de Marignano (1515), onde um
grande número de soldados suíços morreu por uma causa indigna que não lhes
pertencia, quando outros simplesmente se venderam para Francisco I por um preço
mais alto, Zuínglio começou a atacar a prática do serviço mercenário. Estes
ataques não foram bem recebidos por alguns de seus paroquianos na cidade de
Glarus, e ele se sentiu compelido a deixar aquela paróquia.
E assim, Zuínglio foi
obrigado a deixar Glarus em 1516, por conta de intrigas com o partido político
francês, que chegou ao poder depois da batalha de Marignano. Zuínglio aceita
então um chamado a Einsiedeln, uma vila com um convento beneditino no Cantão
católico de Schwyz. No entanto, manteria seu cargo de sacerdote em Glarus até
seu chamado a Zurique, mantendo ali um vicário. Em Einsiedeln, Zuínglio faz
grande progresso no estudo das Escrituras e dos pais da igreja. Várias
anotações suas foram feitas nas laterais das obras destes pais, sendo que os
seus preferidos eram Orígenes, Ambrósio, Jerônimo e Crisóstomo. Embora citasse
muito Agostinho, ele não chegou a gostar dele tanto quanto Lutero. É ali que
ele fez uma cópia manual de todas as epístolas de Paulo e a carta aos Hebreus. Ao
mesmo tempo ele iniciaria em Einsiedeln os ataques a alguns abusos por parte da
Igreja, especialmente a venda de indulgências. Ele diria que teria iniciado a
pregar o Evangelho antes que o nome de Lutero fosse conhecido na Suíça, mas com
a diferença de depender demais dos pais da igreja. Myconius, Bullinger e Capito
relatariam em concordância que ele teria pregado a adoração exclusiva a Cristo
ao invés de Maria. Diria ao cardeal Schinner que o papado não se baseia nas
Escrituras. A inscrição na porta do convento que prometia completa remissão de
pecados seria retirada. Por causa da força destes testemunhos é que alguns
historiadores costumam apontar o ano de 1516 como o início da Reforma suíça.
No entanto, esta Reforma
promovida por Zuínglio diferia da Reforma de Lutero por suas consequências. Ele
era apenas um erasmiano, lutando por uma educação melhor, ao invés de uma
renovação teológica. Por isto mesmo continuava a ter a confiança do cardeal
Schinner, que lhe ofereceu uma pensão de 50 florins anuais para a compra de
livros, para que continuasse a seguir em seus estudos. Seria apontado ainda, em
24 de agosto de 1518 como capelão papal, com todas as honras e privilégios que
o cargo oferecia. Foi oferecido ainda a ele uma duplicação de sua pensão e um
sacerdócio em Basileia ou Coire, com a condição de que ele promovesse a causa
papal. Ele rejeitaria todas estas ofertas, menos a pensão inicial, que
terminaria rejeitando em 1520. Curiosamente em 23 de janeiro de 1523, o próprio
papa Adriano VI, desconhecendo o verdadeiro estado das coisas, escreve uma
carta amável e respeitosa a Zuínglio, esperando assegurar através dele a
influência em Zurique para a sé romana.
Einsiedeln atraía muitas
pessoas em peregrinação, e foi assim que a fama de Zuínglio como pregador e
patriota cresceu ainda mais, lhe assegurando um chamado para a posição de
pastor em Grossmünster, a principal igreja de Zurique. Seus inimigos fizeram o
possível para impedi-lo, criticando seu gosto pela música e o acusando de
impureza. Myconius teria exercido toda sua influência em seu favor. Ele seria
então eleito por 17 votos de 24, em 10 de dezembro de 1518.
A conduta de Zuínglio.
Zuínglio chegaria em
Zurique em 27 de dezembro de 1518, recebido com calorosas boas vindas. Prometia
cumprir seu chamado fielmente, iniciando a pregação a partir de Mateus, para
expor toda a vida de Cristo perante o povo. Este foi um afastamento do costume
de seguir as lições prescritas do Evangelho e das Epístolas, justificada nos
exemplos dos antigos pais, como Crisóstomo e Agostinho, que pregavam a partir
de livros inteiros. As igrejas reformadas reafirmariam o direito de selecionar
textos livremente, enquanto que as igrejas luteranas manteriam o sistema
católico de perícopes. Zurique era a cidade que mais florescia na Suíça alemã.
Grossmünster foi construída no século 12, passando para a comunhão reformada
juntamente com outras igrejas em Basileia, Berna e Lausana. Zurique era o
centro de relações internacionais da Suíça no começo do século 16, sendo
inclusive residência de embaixadores. Por isto seus cidadãos tinham um espírito
de ganância e rivalidade enorme. Bullinger diria que antes da pregação do
evangelho ali, Zurique era para a Suíça o que Corinto era para a Grécia.
Zuinglio começaria seus
trabalhos públicos em seu trigésimo sexto aniversário, em 1 de janeiro de 1519.
No outro dia anunciou uma série de exposições no primeiro evangelho, que
passaria depois para Atos, as cartas paulinas e as cartas católicas, de forma
que completou a exposição homilética em todo o Novo Testamento em 4 anos
(deixaria de fora Apocalipse, no entanto, por achar que este não era
apostólico). Durante a semana ele pregava com base nos Salmos. Ele teria feito
de seu principal objetivo “pregar Cristo da fonte” e “inserir o puro Cristo nos
corações”. Ele não pregaria nada que não pudesse provar pelas Escrituras, o que
já mostra suas ideias reformatórias, já que o alvo da Reforma era reabrir as
fontes do Novo Testamento para o povo. No entanto, ele não atacaria a igreja
Católica em seus sermões, mas apenas o pecado no coração dos homens. Logo suas
pregações começariam a ficar famosas em Zurique.
Neste meio tempo, a
Reforma de Lutero na Alemanha começaria a abalar a igreja. Alguns livros de
Lutero seriam reimpressos em Basileia em 1519, sendo enviados a Zuínglio por
Rhenanus. Várias ideias luteranas estavam no ar e ele não poderia escapar
delas. É verdade que a controvérsia eucarística iria separar os dois
reformadores, mas também é verdade que Zuínglio mantinha um profundo respeito
pelo reformador alemão e seu grande serviço para a igreja.
Em Julho de 1522,
Zuínglio e mais 10 padres redigiram um pedido em latim para o bispo, e uma
petição em alemão para a Dieta suíça, pedindo permissão para a livre pregação
do Evangelho e permissão para o casamento de clérigos, como único remédio
contra os males causados pelo celibato. Ele citaria as Escrituras sobre a
divina instituição e direito ao casamento, implorando aos confederados que
permitissem aquilo que o próprio Deus sancionou. As petições, no entanto, não
foram concedidas. Vários padres desobedeceram abertamente. Um se casou com uma
freira do convento de Oetenbach (1523), Reubli de Wyticon se casou em 28 de
abril de 1523, Leo Judae em 19 de setembro de 1523. Zuínglio se casaria em
1522, mas por precaução ele não tornou o casamento público até 5 de abril de
1524. Sua esposa, Anna Reinhart, era a viúva de Hans Meyer von Knonau, mãe de
três filhos e mais velha que ele dois anos. Seus inimigos espalhariam que ele
teria se casado por interesse, mas ela tinha apenas 400 florins além de seu
guarda-roupas e joias, que teria parado de usar depois de seu casamento.
Os pontos de vista de
Zuínglio, em conexão com a reforma luterana na Alemanha, causaram grande
comoção em toda Suíça. Assim, o conselho da cidade de Zurique decidiu ordenar
uma disputa pública que deveria estabelecer a questão com base nas Escrituras. Para
esta disputa, Zuínglio então publicou uma série de 67 Artigos de fé,
consideradas a primeira declaração pública da Fé Reformada, embora não tenham
adquirido autoridade simbólica. Pareciam com as 95 Teses de Lutero, mas marcam
um grande avanço no sentimento protestante, cobrindo grande número de assuntos.
A primeira disputa
ocorreu em 29 de janeiro de 1523, perante 600 pessoas, incluindo todo o clero e
membros do conselho maior e menor de Zurique. St. Gall foi representado por
Vadian, Berna por Sebastian Meyer, Schaffhausen por Sebastian Hofmeister.
Oecolampadius de Basileia não esperava nada de bom de disputas e desistiu de
vir. O bispo de Constança enviou seu vicário geral, Dr. Faber, até aqui amigo
de Zuínglio e um homem de grande respeito, hábil estudioso e hábil debatedor,
com outros três conselheiros e juízes. Faber se recusou a entrar em discussões
teológicas detalhadas, que ele achava ser apropriadas para Concílios ou
Universidades. Zuínglio responderia suas objeções, convencendo a audiência. Por
isto, no mesmo dia, os magistrados decidiriam em favor de Zuínglio, permitindo
que ele proclamasse a verdade, proibindo também que qualquer sacerdote pregasse
algo que ele não conseguisse demonstrar pelas Escrituras. As consequências
desta primeira disputa logo vieram. Ministros começaram a se casar, o batismo
era feito no idioma vernacular e sem exorcismo, as imagens foram retiradas,
rejeitadas.
Não demoraria muito para
uma segunda disputa pública ser marcada, no dia 23 de outubro de 1523,
demorando desta vez 3 dias e contando com 900 pessoas. Esta disputa contaria
com 350 clérigos e 10 doutores, e tinha como objetivo discutir a questão das
imagens e da missa. O conselho foi presidido por Dr. Vadian de St. Gall, Dr.
Hofmeister de Schaffhausen e Dr. Schappeler de St. Gall. Zuínglio de Leo Judae
defenderam a causa protestante, contando com superior conhecimento e argumento
nas Escrituras. O partido católico exibia mais desconhecimento, embora Martin
Steinli de Schaffhausen tenha habilmente defendido a missa. Konrad Schmid de
Küssnacht tomou uma posição moderada e causou grande efeito na audiência por
sua eloquência.
O Conselho no entanto,
não estava preparado ainda para abolir a missa e as imagens. Ele puniu
extremistas que surgiram depois da primeira disputa, apontando ministros (entre
eles Zuínglio) para ajudar a esclarecer a população através da pregação e de
escritos. Assim Zuínglio prepararia seu “Pequena instrução cristã”, que seria
enviado pelo Conselho dos Duzentos a todos os ministros do Cantão, aos bispos
de Constança, Basileia e Coire, à Universidade de Basileia e a doze outros
Cantões. Com tais esclarecimentos, a opinião pública foi preparada para as
reformas que se seguiriam. A destruição seria radical, mas ordenada, contanto
com a ajuda dos ministros e magistrados civis. A reforma começaria no
Pentecoste e se completaria em 20 de junho de 1524. Pinturas foram queimadas,
ossos dos santos foram enterrados, paredes foram repintadas, órgãos foram
retirados das igrejas. Zurique agora era uma cidade Protestante.
Uma terceira disputa
aconteceria ainda em 20 de janeiro de 1524, onde os defensores da missa seriam
mais uma vez refutados. Foram então ordenados a não mais resistir as decisões
dos magistrados, embora pudessem aderir à sua fé. Foi nesta disputa que
Zuínglio pregou contra o estado lastimável do clero de sua época, que
posteriormente foi reimpresso com o título “O pastor”. No verão de 1524, várias
respostas às decisões de Zurique apareceriam, embora infrutíferas. O conselho
da cidade já teria decidido seguir a reforma implantada por Zuínglio.
Chegamos em meados de
1530, quando vários fatores políticos dão origem a uma batalha entre os Cantões
protestantes e católicos. Entre eles, está a questão dos soldados mercenários e
da proibição de pregar o Evangelho em Cantões católicos. Zuínglio acreditava na
necessidade da batalha, apelando para os exemplos de Josué e Gideão. Já tinha
visto muitos de seus compatriotas morrerem por causas alheias, e parece que não
estava disposto a permitir isto mais. Escreveria depois para seus amigos em
Berna (30 de maio de 1529): “e não temam tomar armas. Esta paz, que alguns
desejam tanto, não é paz, mas guerra; enquanto que a guerra para a qual chamamos,
não é guerra, mas paz. Não temos sede de sangue humano algum, mas nós iremos
cortar os nervos da oligarquia. Se evitarmos isto, a verdade do evangelho e a
vida dos ministros nunca estarão seguras entre nós”.
Zuínglio acompanharia as
tropas de Zurique a Cappel, recusando-se ficar em segurança enquanto os
soldados lutam. Ele prepararia excelentes instruções para os soldados e um
plano de campanha que deveria ser curta, decisiva e se possível, sem
derramamento de sangue. A guerra seria declarada em 9 de junho de 1529.
Zuínglio não admitiria trégua, senão se 4 pontos fossem satisfeitos:
Que a Palavra de Deus
fosse pregada livremente na confederação inteira, mas que ninguém fosse forçado
a abolir a missa, as imagens e outras cerimônias que se encontram sob
influência da pregação escriturística.
Que toda pensão militar
estrangeira fosse abolida
Que os originadores e
despenseiros de pensões estrangeiras fossem punidos enquanto os exércitos
estiverem ainda em campo
Que os Cantões da
Floresta paguem os custos de preparação da guerra, e que Schwyz pague mil
florins para o suporte dos órfãos do Kaiser (Schlosser) que foi recentemente
queimado ali como herege.
Mesmo assim, houve uma
trégua em 25 de junho de 1529, que não cumpriu todos os pontos acima,
especialmente os pontos relacionados com as pensões de guerra. O tratado no
entanto é importante por reconhecer pela primeira vez a igualdade legal entre
católicos e protestantes. Porém, o tratado de paz, que não favoreceu católicos,
foi descumprido por estes. Os Cantões da Floresta não estavam dispostos a
admitir pregadores protestantes em seus territórios, insultando-os. A situação
política iria se agravar, até que Zuínglio proporia novamente uma guerra
aberta. No entanto, seu conselho foi recusado. Berna defendeu uma solução mais
“amena”, que seria o corte de todos os suprimentos que os Cantões protestantes
forneciam. Zuínglio protestaria: “Se vocês tem o direito de fazer os Cinco
Cantões morrerem de fome, vocês tem o direito de atacá-los em uma guerra
aberta. Agora eles irão atacá-los com a coragem do desespero”.
Zuínglio passaria os
últimos meses de sua vida em ansiedade. Seu conselho foi recusado, mas mesmo
assim era culpado de todos estes problemas. Cada vez mais seus inimigos minavam
sua influência, pendendo para a política mais amena de Berna. Assim, ele
resolveu deixar o serviço público. No dia 26 de julho ele compareceria no
Grande Conselho e diria as seguintes palavras: “Onze anos eu preguei o
evangelho a vocês e fielmente os avisei contra os perigos que ameaçam a
confederação se os Cinco Cantões – ou seja, aqueles que odeiam o evangelho e
vivem de pensões estrangeiras – forem permitidos a ganhar o domínio. Mas vocês
não ouvem minha voz, e continuam a eleger membros que simpatizam com os
inimigos do evangelho. E mesmo assim vocês me fazem responsável por todo este
desfortúnio. Bem, eu de agora em diante me despeço, e procurarei em outro lugar
meu suporte”. Ele deixaria a sala com lágrimas. Mas seu pedido foi rejeitado.
Voltaria depois de três dias, dizendo que ficaria com eles até a morte.
Assim, a política de
fome promovida por Berna acabaria, de fato, provocando o desespero dos Cantões
católicos. Prontamente organizando um exército, marcharam para Zurique em 9 de
outubro de 1531, que pegou a cidade desprevenida. Anos antes teriam organizado
um exército de cinco mil, mas agora dificilmente organizaram mil e quinhentos
homens, que marcharam para o encontro em Cappel. Zuínglio não os abandonaria
neste momento, e os acompanhou. Zuínglio não teria usado nenhuma arma na
batalha, mas estava ali consolando os soldados e os motivando. Ajoelhava para
consolar um soldado que estava morrendo, quando levou uma pedrada na cabeça,
que o levou ao chão. Levantando-se novamente, recebeu vários outros golpes.
Levantando mais uma vez a cabeça, e vendo o sangue sair de suas feridas, ele
proferiu suas últimas palavras: “O que importa este infortúnio? Eles podem
matar o corpo, mas não podem matar a alma”. Ainda vivia quando o capitão Vokinger
de Unterwalden, um dos soldados mercenários que tantas vezes Zuínglio havia
condenado, o reconheceu. Com um golpe de espada o mataria, exclamando “Morra,
herege obstinado”.
Assim, aos 47 anos de
idade, morria o primeiro reformador da Suíça, o primeiro reformador da linha
Reformada. Suas ideias, no entanto, continuariam por muito tempo.
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