terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Biografia - Ulrico Zuínglio



No dia 1 de janeiro de 1484, na pequena cidade de Wildhaus, nascia um personagem bastante influente na Suíça de seus dias, mas cuja história, por estes estranhos motivos que a vida nos reserva, é pouco conhecida em nossos dias. Recebeu de seus pais o nome Ulrich Zwingli, mas tarde, porém, adotou a graça de  Huldrych Zwingli. Em português, no entanto, o conhecemos como Ulrico Zuínglio.

Wildhaus é uma pequena vila alpina, situada no vale de Toggenburg, cujos habitantes viviam principalmente do pastoreio. Ali, Zuínglio seria educado na religião católica pelos pais tementes a Deus, em seus primeiros anos de vida, e logo cedo se destacaria por sua inteligência e amor à verdade. Aos oito anos ele teria dito que estava considerando se a mentira não deveria merecer uma punição maior que o roubo, já que a verdade seria “a mãe de todas as virtudes”. Por isto o pai achou uma injustiça confiná-lo à vida pastoril, como fizera com seus irmãos Heini e Claus. Decidiu assim deixá-lo aos cuidados de seu irmão Bartholomew, deão em Wesen, que influenciou bastante o humanismo de Zuínglio. Ele ficaria com seu tio por 2 anos, quando este o enviaria para Basileia, para a escola St. Theodore, aos cuidados de George Binzli. Ali Zuínglio aprenderia latim e grego, além de aprender música, algo que ele gostava muito. Depois de 3 anos, Zuínglio seria ainda enviado a Berna, onde Heinrich Wölflin, ou Lupulus, conhecido como o melhor estudioso clássico e poeta latino da Suíça, tinha uma escola. Ali ensinava vários alunos sobre as obras de autores gregos e romanos clássicos.

De 1500 a 1502, ele estudaria na Universidade de Viena, que se tornara um centro de estudo dos clássicos através dos trabalhos de distintos humanistas, como Corvinus, Celtes, e Cuspinian. Ali ele estudaria filosofia escolástica, astronomia e física, além de estudar sobretudo os clássicos antigos. Desenvolveria também sua vocação para a música, tocando vários instrumentos, como o alaúde, harpa, violino, flauta, saltério e um chifre de caça. Por isto ganharia o apelido “carinhoso” de “tocador de alaúde evangélico, flautista e assobiador” de seus oponentes católicos. Em 1502 ele retornaria para Basileia, onde ensinaria latim na escola de São Martim. Ali também prosseguiria seus estudos, adquirindo grau de mestre em artes em 1506, sendo por isto chamado sempre de Mestre Ulrico. Ali também ele conheceria Leo Judae, que se tornaria grande amigo durante os anos da Reforma em Zurique. Ele seria seu parceiro no futuro, na tarefa de traduzir a Bíblia dos idiomas originais para o dialeto alemão da Suíça. Decisivo para Zuínglio, no entanto, foi conhecer Thomas Wyttenbach, professor de teologia desde 1505. É ele quem Zuínglio chama de amado e fiel professor, que teria aberto seus olhos para vários abusos da Igreja, principalmente as indulgências, ensinando a “não confiar nas chaves da Igreja, mas a buscar a remissão dos pecados apenas na morte de Cristo, e abrir acesso a ela pelas chaves da fé”.
Zuínglio em Glaru.

Naquele tempo, a igreja de Glarus, situada no Cantão de mesmo nome, estava sem um sacerdote. Henry Goeldli, de Zurique, teria sido indicado para a vaga, já que contava com o favor papal. Os cidadãos de Glarus, no entanto, perceberam as intenções puramente financeiras de Goeldli, mandando-o de volta a Zurique. Sua percepção parecia ser bem precisa, já que os mais de 100 florins em moedas de ouro e prata levantados por eles para pagar a Goeldli garantiram que a “devolução” fosse a mais rápida e pacífica possível.

Ainda com o problema da falta de um sacerdote para a cidade, os cidadãos de Glarus elegeram o jovem Zuínglio para a vaga. O pedido formal seria feito em 1506. Ele seria então ordenado padre em Constança no mesmo ano, pregando seu primeiro sermão em Rapperschwyl, às margens do lago de Zurique, e logo depois celebraria sua primeira missa em Wildhaus, iniciando suas atividades sacerdotais em Glarus no fim daquele ano. Ali ele ficaria por 10 anos.

Durante estes 10 anos em Glarus, Zuínglio se dedicou a aperfeiçoar seus conhecimentos nos idiomas bíblicos, especialmente o grego, para que pudesse ler a Bíblia em seus idiomas originais, estudando sozinho o grego. Foi assim que o processo de conversão de Zuínglio se iniciou em Glarus. Certamente sua conversão não foi repentina mas um processo intelectual gradual, que se completaria somente em Zurique. Em Glarus ele era um patriota e humanista, não um teólogo ou um professor religioso. Somente ao adotar a Bíblia como guia única para a vida é que ele rompeu com as tradições de Roma, as quais nunca o influenciaram muito.

Era um costume suíço enviar padres aos campos de batalha como capelães, e por isto Zuínglio presenciou várias batalhas durante este tempo. É daí que Zuínglio inicia suas preocupações patrióticas, que o motivariam também a reformar a igreja, como nos relata Justo Gonzalez: O patriotismo de Zuínglio foi despertado pela prática de serviço mercenário, que era uma das principais fontes de renda para muitas cidades e vilas suíças. Por gerações, os suíços haviam usufruído da reputação de serem soldados bravos e consistentes, e tinham se beneficiado dessa reputação para vender seus serviços a príncipes estrangeiros. Nos dias de Zuínglio, isto havia se tornado uma prática aceita e raramente uma voz era ouvida contra a mesma, embora muitos reconhecessem que a vida dos soldados mercenários, tendo que complementar sua renda saqueando, não conduzia a padrões mais elevados de moralidade. O próprio Zuínglio apoiou a prática do serviço mercenário e lucrou com ela. Mas depois da batalha de Marignano (1515), onde um grande número de soldados suíços morreu por uma causa indigna que não lhes pertencia, quando outros simplesmente se venderam para Francisco I por um preço mais alto, Zuínglio começou a atacar a prática do serviço mercenário. Estes ataques não foram bem recebidos por alguns de seus paroquianos na cidade de Glarus, e ele se sentiu compelido a deixar aquela paróquia.

E assim, Zuínglio foi obrigado a deixar Glarus em 1516, por conta de intrigas com o partido político francês, que chegou ao poder depois da batalha de Marignano. Zuínglio aceita então um chamado a Einsiedeln, uma vila com um convento beneditino no Cantão católico de Schwyz. No entanto, manteria seu cargo de sacerdote em Glarus até seu chamado a Zurique, mantendo ali um vicário. Em Einsiedeln, Zuínglio faz grande progresso no estudo das Escrituras e dos pais da igreja. Várias anotações suas foram feitas nas laterais das obras destes pais, sendo que os seus preferidos eram Orígenes, Ambrósio, Jerônimo e Crisóstomo. Embora citasse muito Agostinho, ele não chegou a gostar dele tanto quanto Lutero. É ali que ele fez uma cópia manual de todas as epístolas de Paulo e a carta aos Hebreus. Ao mesmo tempo ele iniciaria em Einsiedeln os ataques a alguns abusos por parte da Igreja, especialmente a venda de indulgências. Ele diria que teria iniciado a pregar o Evangelho antes que o nome de Lutero fosse conhecido na Suíça, mas com a diferença de depender demais dos pais da igreja. Myconius, Bullinger e Capito relatariam em concordância que ele teria pregado a adoração exclusiva a Cristo ao invés de Maria. Diria ao cardeal Schinner que o papado não se baseia nas Escrituras. A inscrição na porta do convento que prometia completa remissão de pecados seria retirada. Por causa da força destes testemunhos é que alguns historiadores costumam apontar o ano de 1516 como o início da Reforma suíça.

No entanto, esta Reforma promovida por Zuínglio diferia da Reforma de Lutero por suas consequências. Ele era apenas um erasmiano, lutando por uma educação melhor, ao invés de uma renovação teológica. Por isto mesmo continuava a ter a confiança do cardeal Schinner, que lhe ofereceu uma pensão de 50 florins anuais para a compra de livros, para que continuasse a seguir em seus estudos. Seria apontado ainda, em 24 de agosto de 1518 como capelão papal, com todas as honras e privilégios que o cargo oferecia. Foi oferecido ainda a ele uma duplicação de sua pensão e um sacerdócio em Basileia ou Coire, com a condição de que ele promovesse a causa papal. Ele rejeitaria todas estas ofertas, menos a pensão inicial, que terminaria rejeitando em 1520. Curiosamente em 23 de janeiro de 1523, o próprio papa Adriano VI, desconhecendo o verdadeiro estado das coisas, escreve uma carta amável e respeitosa a Zuínglio, esperando assegurar através dele a influência em Zurique para a sé romana.

Einsiedeln atraía muitas pessoas em peregrinação, e foi assim que a fama de Zuínglio como pregador e patriota cresceu ainda mais, lhe assegurando um chamado para a posição de pastor em Grossmünster, a principal igreja de Zurique. Seus inimigos fizeram o possível para impedi-lo, criticando seu gosto pela música e o acusando de impureza. Myconius teria exercido toda sua influência em seu favor. Ele seria então eleito por 17 votos de 24, em 10 de dezembro de 1518.
A conduta de Zuínglio.

Zuínglio chegaria em Zurique em 27 de dezembro de 1518, recebido com calorosas boas vindas. Prometia cumprir seu chamado fielmente, iniciando a pregação a partir de Mateus, para expor toda a vida de Cristo perante o povo. Este foi um afastamento do costume de seguir as lições prescritas do Evangelho e das Epístolas, justificada nos exemplos dos antigos pais, como Crisóstomo e Agostinho, que pregavam a partir de livros inteiros. As igrejas reformadas reafirmariam o direito de selecionar textos livremente, enquanto que as igrejas luteranas manteriam o sistema católico de perícopes. Zurique era a cidade que mais florescia na Suíça alemã. Grossmünster foi construída no século 12, passando para a comunhão reformada juntamente com outras igrejas em Basileia, Berna e Lausana. Zurique era o centro de relações internacionais da Suíça no começo do século 16, sendo inclusive residência de embaixadores. Por isto seus cidadãos tinham um espírito de ganância e rivalidade enorme. Bullinger diria que antes da pregação do evangelho ali, Zurique era para a Suíça o que Corinto era para a Grécia.

Zuinglio começaria seus trabalhos públicos em seu trigésimo sexto aniversário, em 1 de janeiro de 1519. No outro dia anunciou uma série de exposições no primeiro evangelho, que passaria depois para Atos, as cartas paulinas e as cartas católicas, de forma que completou a exposição homilética em todo o Novo Testamento em 4 anos (deixaria de fora Apocalipse, no entanto, por achar que este não era apostólico). Durante a semana ele pregava com base nos Salmos. Ele teria feito de seu principal objetivo “pregar Cristo da fonte” e “inserir o puro Cristo nos corações”. Ele não pregaria nada que não pudesse provar pelas Escrituras, o que já mostra suas ideias reformatórias, já que o alvo da Reforma era reabrir as fontes do Novo Testamento para o povo. No entanto, ele não atacaria a igreja Católica em seus sermões, mas apenas o pecado no coração dos homens. Logo suas pregações começariam a ficar famosas em Zurique.

Neste meio tempo, a Reforma de Lutero na Alemanha começaria a abalar a igreja. Alguns livros de Lutero seriam reimpressos em Basileia em 1519, sendo enviados a Zuínglio por Rhenanus. Várias ideias luteranas estavam no ar e ele não poderia escapar delas. É verdade que a controvérsia eucarística iria separar os dois reformadores, mas também é verdade que Zuínglio mantinha um profundo respeito pelo reformador alemão e seu grande serviço para a igreja.

Em Julho de 1522, Zuínglio e mais 10 padres redigiram um pedido em latim para o bispo, e uma petição em alemão para a Dieta suíça, pedindo permissão para a livre pregação do Evangelho e permissão para o casamento de clérigos, como único remédio contra os males causados pelo celibato. Ele citaria as Escrituras sobre a divina instituição e direito ao casamento, implorando aos confederados que permitissem aquilo que o próprio Deus sancionou. As petições, no entanto, não foram concedidas. Vários padres desobedeceram abertamente. Um se casou com uma freira do convento de Oetenbach (1523), Reubli de Wyticon se casou em 28 de abril de 1523, Leo Judae em 19 de setembro de 1523. Zuínglio se casaria em 1522, mas por precaução ele não tornou o casamento público até 5 de abril de 1524. Sua esposa, Anna Reinhart, era a viúva de Hans Meyer von Knonau, mãe de três filhos e mais velha que ele dois anos. Seus inimigos espalhariam que ele teria se casado por interesse, mas ela tinha apenas 400 florins além de seu guarda-roupas e joias, que teria parado de usar depois de seu casamento.

Os pontos de vista de Zuínglio, em conexão com a reforma luterana na Alemanha, causaram grande comoção em toda Suíça. Assim, o conselho da cidade de Zurique decidiu ordenar uma disputa pública que deveria estabelecer a questão com base nas Escrituras. Para esta disputa, Zuínglio então publicou uma série de 67 Artigos de fé, consideradas a primeira declaração pública da Fé Reformada, embora não tenham adquirido autoridade simbólica. Pareciam com as 95 Teses de Lutero, mas marcam um grande avanço no sentimento protestante, cobrindo grande número de assuntos.

A primeira disputa ocorreu em 29 de janeiro de 1523, perante 600 pessoas, incluindo todo o clero e membros do conselho maior e menor de Zurique. St. Gall foi representado por Vadian, Berna por Sebastian Meyer, Schaffhausen por Sebastian Hofmeister. Oecolampadius de Basileia não esperava nada de bom de disputas e desistiu de vir. O bispo de Constança enviou seu vicário geral, Dr. Faber, até aqui amigo de Zuínglio e um homem de grande respeito, hábil estudioso e hábil debatedor, com outros três conselheiros e juízes. Faber se recusou a entrar em discussões teológicas detalhadas, que ele achava ser apropriadas para Concílios ou Universidades. Zuínglio responderia suas objeções, convencendo a audiência. Por isto, no mesmo dia, os magistrados decidiriam em favor de Zuínglio, permitindo que ele proclamasse a verdade, proibindo também que qualquer sacerdote pregasse algo que ele não conseguisse demonstrar pelas Escrituras. As consequências desta primeira disputa logo vieram. Ministros começaram a se casar, o batismo era feito no idioma vernacular e sem exorcismo, as imagens foram retiradas, rejeitadas.

Não demoraria muito para uma segunda disputa pública ser marcada, no dia 23 de outubro de 1523, demorando desta vez 3 dias e contando com 900 pessoas. Esta disputa contaria com 350 clérigos e 10 doutores, e tinha como objetivo discutir a questão das imagens e da missa. O conselho foi presidido por Dr. Vadian de St. Gall, Dr. Hofmeister de Schaffhausen e Dr. Schappeler de St. Gall. Zuínglio de Leo Judae defenderam a causa protestante, contando com superior conhecimento e argumento nas Escrituras. O partido católico exibia mais desconhecimento, embora Martin Steinli de Schaffhausen tenha habilmente defendido a missa. Konrad Schmid de Küssnacht tomou uma posição moderada e causou grande efeito na audiência por sua eloquência.

O Conselho no entanto, não estava preparado ainda para abolir a missa e as imagens. Ele puniu extremistas que surgiram depois da primeira disputa, apontando ministros (entre eles Zuínglio) para ajudar a esclarecer a população através da pregação e de escritos. Assim Zuínglio prepararia seu “Pequena instrução cristã”, que seria enviado pelo Conselho dos Duzentos a todos os ministros do Cantão, aos bispos de Constança, Basileia e Coire, à Universidade de Basileia e a doze outros Cantões. Com tais esclarecimentos, a opinião pública foi preparada para as reformas que se seguiriam. A destruição seria radical, mas ordenada, contanto com a ajuda dos ministros e magistrados civis. A reforma começaria no Pentecoste e se completaria em 20 de junho de 1524. Pinturas foram queimadas, ossos dos santos foram enterrados, paredes foram repintadas, órgãos foram retirados das igrejas. Zurique agora era uma cidade Protestante.

Uma terceira disputa aconteceria ainda em 20 de janeiro de 1524, onde os defensores da missa seriam mais uma vez refutados. Foram então ordenados a não mais resistir as decisões dos magistrados, embora pudessem aderir à sua fé. Foi nesta disputa que Zuínglio pregou contra o estado lastimável do clero de sua época, que posteriormente foi reimpresso com o título “O pastor”. No verão de 1524, várias respostas às decisões de Zurique apareceriam, embora infrutíferas. O conselho da cidade já teria decidido seguir a reforma implantada por Zuínglio.

Chegamos em meados de 1530, quando vários fatores políticos dão origem a uma batalha entre os Cantões protestantes e católicos. Entre eles, está a questão dos soldados mercenários e da proibição de pregar o Evangelho em Cantões católicos. Zuínglio acreditava na necessidade da batalha, apelando para os exemplos de Josué e Gideão. Já tinha visto muitos de seus compatriotas morrerem por causas alheias, e parece que não estava disposto a permitir isto mais. Escreveria depois para seus amigos em Berna (30 de maio de 1529): “e não temam tomar armas. Esta paz, que alguns desejam tanto, não é paz, mas guerra; enquanto que a guerra para a qual chamamos, não é guerra, mas paz. Não temos sede de sangue humano algum, mas nós iremos cortar os nervos da oligarquia. Se evitarmos isto, a verdade do evangelho e a vida dos ministros nunca estarão seguras entre nós”.

Zuínglio acompanharia as tropas de Zurique a Cappel, recusando-se ficar em segurança enquanto os soldados lutam. Ele prepararia excelentes instruções para os soldados e um plano de campanha que deveria ser curta, decisiva e se possível, sem derramamento de sangue. A guerra seria declarada em 9 de junho de 1529. Zuínglio não admitiria trégua, senão se 4 pontos fossem satisfeitos:

Que a Palavra de Deus fosse pregada livremente na confederação inteira, mas que ninguém fosse forçado a abolir a missa, as imagens e outras cerimônias que se encontram sob influência da pregação escriturística.

Que toda pensão militar estrangeira fosse abolida

Que os originadores e despenseiros de pensões estrangeiras fossem punidos enquanto os exércitos estiverem ainda em campo

Que os Cantões da Floresta paguem os custos de preparação da guerra, e que Schwyz pague mil florins para o suporte dos órfãos do Kaiser (Schlosser) que foi recentemente queimado ali como herege.

Mesmo assim, houve uma trégua em 25 de junho de 1529, que não cumpriu todos os pontos acima, especialmente os pontos relacionados com as pensões de guerra. O tratado no entanto é importante por reconhecer pela primeira vez a igualdade legal entre católicos e protestantes. Porém, o tratado de paz, que não favoreceu católicos, foi descumprido por estes. Os Cantões da Floresta não estavam dispostos a admitir pregadores protestantes em seus territórios, insultando-os. A situação política iria se agravar, até que Zuínglio proporia novamente uma guerra aberta. No entanto, seu conselho foi recusado. Berna defendeu uma solução mais “amena”, que seria o corte de todos os suprimentos que os Cantões protestantes forneciam. Zuínglio protestaria: “Se vocês tem o direito de fazer os Cinco Cantões morrerem de fome, vocês tem o direito de atacá-los em uma guerra aberta. Agora eles irão atacá-los com a coragem do desespero”.

Zuínglio passaria os últimos meses de sua vida em ansiedade. Seu conselho foi recusado, mas mesmo assim era culpado de todos estes problemas. Cada vez mais seus inimigos minavam sua influência, pendendo para a política mais amena de Berna. Assim, ele resolveu deixar o serviço público. No dia 26 de julho ele compareceria no Grande Conselho e diria as seguintes palavras: “Onze anos eu preguei o evangelho a vocês e fielmente os avisei contra os perigos que ameaçam a confederação se os Cinco Cantões – ou seja, aqueles que odeiam o evangelho e vivem de pensões estrangeiras – forem permitidos a ganhar o domínio. Mas vocês não ouvem minha voz, e continuam a eleger membros que simpatizam com os inimigos do evangelho. E mesmo assim vocês me fazem responsável por todo este desfortúnio. Bem, eu de agora em diante me despeço, e procurarei em outro lugar meu suporte”. Ele deixaria a sala com lágrimas. Mas seu pedido foi rejeitado. Voltaria depois de três dias, dizendo que ficaria com eles até a morte.

Assim, a política de fome promovida por Berna acabaria, de fato, provocando o desespero dos Cantões católicos. Prontamente organizando um exército, marcharam para Zurique em 9 de outubro de 1531, que pegou a cidade desprevenida. Anos antes teriam organizado um exército de cinco mil, mas agora dificilmente organizaram mil e quinhentos homens, que marcharam para o encontro em Cappel. Zuínglio não os abandonaria neste momento, e os acompanhou. Zuínglio não teria usado nenhuma arma na batalha, mas estava ali consolando os soldados e os motivando. Ajoelhava para consolar um soldado que estava morrendo, quando levou uma pedrada na cabeça, que o levou ao chão. Levantando-se novamente, recebeu vários outros golpes. Levantando mais uma vez a cabeça, e vendo o sangue sair de suas feridas, ele proferiu suas últimas palavras: “O que importa este infortúnio? Eles podem matar o corpo, mas não podem matar a alma”. Ainda vivia quando o capitão Vokinger de Unterwalden, um dos soldados mercenários que tantas vezes Zuínglio havia condenado, o reconheceu. Com um golpe de espada o mataria, exclamando “Morra, herege obstinado”.

Assim, aos 47 anos de idade, morria o primeiro reformador da Suíça, o primeiro reformador da linha Reformada. Suas ideias, no entanto, continuariam por muito tempo.


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