O homem vive desde sua queda no Éden, um conflito ético, moral e espiritual em relação a escolhas que precisa fazer e as que realmente faz. Bem e Mal convivem num mesmo ambiente, buscando constantemente sua própria expansão, o que fatalmente diminuirá o espaço do outro. Nenhum trecho da Bíblia apresenta um contraste mais nítido entre o
modo de vida do homem cheio do Espírito Santo e de outro controlado pela Natureza Humana, pecaminosa em sua origem, do que o texto escrito por Paulo à igreja da Galácia:
Digo,
porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e
estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo
da lei.
Porque
as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações,
iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas,
homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das
quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não
herdarão o reino de Deus.
Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
Se
vivemos em Espirito, andamos também em Espírito.
Gálatas 5:16-25
Nestes versos, o apóstolo não somente examina as diferenças gerais
do modo de vida destes dois tipos de homens ao enfatizar que a carne e o
espírito estão em conflito, como também inclui uma lista com as obras e os frutos
produzidos a partir da inclinação para um dos lados.
Não trataremos aqui propriamente dessas diferenças e nem
entraremos no mérito da frutificação espiritual. Mas falaremos apenas das obras
da carne (do grego – SARX) que são
oriundas de uma natureza pecaminosa com seus desejos corruptos, que
infelizmente continuam no cristão mesmo após sua conversão, tornando-se o
arqui-inimigo de seu Espírito (Romanos 8:6-13).
Aqueles que se deixam controlar por tais impulsos externos não
poderão entrar no Reino de Deus. Exatamente por este motivo, tal natureza
carnal precisa ser resistida e mortificada, o que só será possível mediante uma
intensa batalha espiritual que o crente trava contra seus próprios instintos
pela força do Espírito Santo.
São listadas ao todo, dezesseis obras da carne. Para uma melhor
compreensão, nomearemos cada uma dessas obras com o termo original em grego e
então discorreremos sobre como elas se desenvolvem na prática.
1-) PORNÉIA
Trata se de imoralidades sexuais em todas as suas variantes. As
expressões pornéia e moichéia são geralmente traduzidas para o português como
“prostituição” (I Coríntios 5:1).
2-) AKATHARSIA
Refere-se a todo tipo de impurezas, tais como pecados sexuais,
atos pecaminosos, maus pensamentos e desejos do coração (Efésios 5:3).
3-) ASELGIA
Refere-se a quem expõem sua sensualidade ao ponto de perder o
referencial de “vergonha” e decência, seguindo suas próprias paixões e desejos.
É também chamado de lascívia (II Coríntios 12:21).
4-) EIDOLATRIA
É a adoração de espíritos, pessoas ou coisas; e também a confiança
exacerbada em gente, instituições ou objetos como se tivessem autoridade igual
ao superior a Deus e sua Palavra, o que comumente chamamos de idolatria
(Colossenses 3:5).
5-) PHARMAKÉIA
Trata-se de toda sorte de feitiçaria, espiritismo, magia negra,
adoração de demônios e o uso de substâncias e matérias em rituais obscuros
(Apocalipse 9:21, 18:23).
6-) ECTHRA
São as inimizades extremas que geram forte antipatia e
consequentemente produzem intenções e até ações hostis (I Coríntios 6:7).
7-) ERIS
Brigas, porfias, oposição, lutas por superioridade e status (Romanos
1:29)
8-) ZELOS
Refere-se a sentimentos revanchistas que buscam sempre a competição
(emulação), ressentimento e infelicidade gerada pelo sucesso do outro (I
Coríntios 3:3).
9-) THUMOS
Embora traduzido por “iras”, devemos aqui salientar que a “ira” em si não é pecado, pois trata-se de uma atribuição divina
(Romanos 1:80, Efésios 4:26). O pecado está nas atitudes tomadas em decorrenci
da ira, e é exatamente esta fúria que irrompe da ira através de palavras ou
ações violentas que caracterizam esta obra carnal (Colossenses 3:8).
10-) ERITHÉIA
São batalhas e pelejas movidas pela ambição, pela ganância e pela
cobiça do poder (Filipenses 1:16-17).
11-) DICHOSTASIA
Divisões de um grupo em sub-grupos, dissensões que acabam formando conluios egoístas que destroem a
unidade de uma comunidade ou organização (I Coríntios 11:19).
12-) HAIRESIS
São heresias que se caracterizam quando alguém introduz na
congregação ensinos sistemáticos sem respaldo na Palavra de Deus, criando
inverdades doutrinarias e confusões teológicas (Romanos 16:17).
13-) FTHONOS
É a antipatia ressentida contra outra uma pessoa que possui algo
que não temos e queremos. É popularmente chamada de inveja (Atos 5:17).
14-) PHONOS
Refere-se literalmente a matar o próximo por perversidade. Também
pode ser denominado por homicídio ou
assassinato (Apocalipse 22:15).
15-) METHE
Trata-se do descontrole das faculdades físicas e mentais por
consumo de bebida embriagante. Esta obra da carne conhecida como bebedice, é
apenas o estopim para outras atividades carnais de maior periculosidade,
podendo gerar gravíssimas consequências (Efésios 5:18).
16-) KOMOS
Trata-se dos excessos aos quais podemos nos expor. É possível, por
exemplo, num momento de descontração, se extrapolar os limites da diversão
sadia e nos descontrolarmos numa festa em relação à comida e a bebida, pondo em
risco o templo do Espírito. Embora a tradução mais conhecida para esta palavra
em nossa língua seja “glutonaria” (ato de se comer em excesso), ela também se
refere às extravagâncias desenfreadas na prática sexual, no uso de
entorpecentes e atividades ilícitas em geral (I Coríntios 6:12).
O apóstolo Paulo foi bastante severo ao afirmar que aquele que
participa dessas atividades iníquas, perderá sua salvação e não terá parte do
Reino de Deus (Gálatas 5:21, I Coríntios 6:9). Que possamos eliminar de nossas
vidas qualquer vestígio de tais obras, nos enraizando na videira que é Cristo,
a fim de produzir frutos dignos de arrependimentos.
Pois, se nós, que
procuramos sermos justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados
pecadores. É porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma.
Porque, se torno a
edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor.
Porque eu, pela
lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com
Cristo, e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim, e a vida que agora vivo na
carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si
mesmo por mim.
Gálatas 2:17-20
Nenhum comentário:
Postar um comentário