domingo, 14 de fevereiro de 2016

Um traidor à mesa


Livremente inspirado no ministração realizada pelo Pb. Miquéias Daniel Gomes, na Celebração de Santa Ceia realizada em 14/02/2016.

O maior desejo de Cristo é que nos assentamos em sua grande mesa, unidos como família. Ele nos escolheu para sermos seus amigos, e se mantem inteiramente leal e verdadeiro. Porém, a reciproca também precisa ser verdadeira. É preciso “desejar” estar ao lado de Jesus em corpo, alma e espírito, assimilando suas palavras e caminhando rumo a sua visão. Infelizmente, nem sempre aproveitamos bem esta oportunidade, e Judas é um exemplo do perigo de se estar “com Jesus”, mas não estar “em Jesus”. Quando isto acontece, temos um traidor à mesa.

Judas Iscariotes é, sem dúvidas, um dos mais enigmáticos personagens de todo cânon sagrado. Citado sempre por último na listagem dos doze discípulos, nada sabemos sobre sua vocação e muito pouco de sua vida foi revelado pelos evangelistas. O nome, “Judas” significa “abençoado”, e é um dos mais comuns no Novo Testamento onde encontramos pelo menos “sete” homônimos.   Judas era um bom administrador, tanto que foi escolhido pelos demais discípulos para ser o tesoureiro do grupo. Por ele passavam os ganhos e os custos financeiros do ministério de Jesus. Como o volume de dinheiro que transitava nos cofres “apostólicos” era baixo, Judas demostrava habilidade de gerenciamento, provendo verbas para alimentação, hospedagem e para as obras de caridade realizadas pelo grupo.  Porém, a maior virtude de Judas também era sua maior fraqueza.

Ele mudou o foco de seu ministério, inverteu as prioridades e passou a valorizar o “ter” mais que o “ser”. Seu comportamento tornou-se inadequado, sua interpretação era questionável e seu julgamento, digno de repreensão. Ele enxergava os valores sem se atentar para as intenções, e isto começou a corroê-lo de dentro para fora, abrindo uma brecha espiritual para que Satanás lançasse seus dardos inflamados (Efésios 6:6). Enquanto os demais discípulos se desprendiam do mundo material e adentravam passo a passo o Reino dos Céus, Judas fazia um caminho inverso, afastando-se do espiritual e abraçando as coisas da terra. Com suas próprias mãos, Judas abria a porta de seu coração para o mal, e seu amor ao dinheiro, foi também a raiz de sua ruína. Satanás identificou a fraqueza de Judas e a potencializou. 

Os Evangelhos de Mateus e Marcos fazem menção da ganância de Judas e sua forma materialista de enxergar o ministério do Cristo. Lucas, por sua vez, relata que as ações extremadas de Judas foram motivadas por Satanás, que literalmente, “entrou nele” (Lucas 22:3). João vai ainda além, pois não só ratifica a influência satânica sobre o discípulo renegado, como também aponta seu desvio de caráter ao identifica-lo como um ladrão (João 12:6).

Judas foi escolhido por Jesus para ser um de seus discípulos de confiança (sendo o tesoureiro do grupo), e que ao invés de adentrar na dimensão espiritual proposta por Cristo, se ateve a questões mesquinhas e efêmeras, dando com isso, lugar a Satanás.   Durante muito tempo, Judas foi alimentado pelo sucesso de estar ao lado da maior figura em destaque de sua época. Mas não o entendeu, não assimilou seus ensinamentos e se deixou vencer pela cobiça (João 12:6). Porém, ao cair em si e ver o quanto estava errado, Judas ainda poderia ir ao Mestre, mas o peso de sua traição e a acusação do inimigo contra si foi tão grande que a única porta que encontrou para escapar foi a da morte (Mateus 27:5 / João 10:9).   

Ludibriado por Satanás, Ele abriu mão da única pessoa que poderia perdoá-lo e ajuda-lo (I João 14:6). Judas vendeu Jesus por trinta moedas que jamais usou. Satanás usa pessoas para nos influenciar nas áreas que nos domina e depois, quando erramos, ele usa esse erro para nos envergonhar e nos escravizar. O texto diz que Judas se arrependeu, mas infelizmente, ele foi buscar abrigo em pessoas que eram piores que ele. Judas esteve aos pés de Jesus vivendo um verdadeiro clima celestial. Quando Jesus proferia suas parábolas, ele fazia parte do grupo que as compreendia (Mateus 13:11). Mas a verdade não criou raízes em sua vida como na de seus companheiros (João 14:6). Da mesma maneira Satanás tramou na eternidade, ele seduziu Judas a tramar na Terra. O diabo não se firmou no céu ao lado de Deus e Judas não se firmou na Terra ao lado de Jesus. Judas mentia, roubava e tramava contra o Mestre. Ele, desde o princípio, também não se firmou na verdade. Em vez de se tornar semelhante a Cristo, Judas personificou o diabo (João 8:44).

Judas não terminou mal por falta de oportunidade, mas por falta de caráter. Entrou para a história como um traidor que não podendo suportar as consequências de seus atos, se esqueceu do quanto era amado e tirou a própria vida. Seu remorso desesperançado e seu coração tomado pelas trevas, se quer cogitaram a possibilidade de encontrar o perdão absoluto que emanaria da cruz. Judas se deixou dominar pela carne, dando ouvidos a voz do maligno. E estas vozes soavam tão alto, que ele mal conseguiu ouvir as últimas palavras ditas por Jesus a ele no momento em que deu o famoso beijo da traição: -  Meu amigo! (Mateus 26:50).




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