Além
Gunnar Vingren e de Daniel Berg, muitos outros personagens construíram as bases
das Assembléias de Deus no Brasil. Adriano Nobre, José Rodrigues, José
Calazans, Nils Nelsons, Nils Kastberg, Samuel Nystrom entre outros foram
grandes ícones deste período de implantação das Assembléias de Deus. Mas não
podemos nos esquecer de Frida Strandberg. A
liderança desta mulher nos chama muita atenção, pois sua atuação foi de suma
importância para a consolidação da Assembléia de Deus no Brasil. Frida nasceu
em junho de 1891, no norte da Suécia, era de uma família de c rentes luteranos
(a Igreja Estatal Oficial na Suécia). Formou-se em Enfermagem chegando a ser
chefe da enfermaria do hospital onde trabalhava. Tornou-se membro da Igreja
Filadélfia de Estocolmo, onde foi batizada nas águas pelo pastor Lewi Pethrus,
em 24 de janeiro de 1917.
Neste
mesmo ano recebeu o batismo com o Espírito Santo e o dom de profecia e se
sentiu vocacionada para a obra missionária sendo enviada pelo pastor Pethrus
para o campo missionário brasileiro e, chegando a Belém/ Pará, se casou Gunnar
Vingren em 16 de outubro de 1917. Contraiu malária em março de 1920 e quase
morreu. Recuperada viu seu marido pegar a mesma enfermidade várias vezes.
Depois de muitos anos no Pará, a família Vingren migra para o Rio de Janeiro,
seguindo o mesmo processo da migração nordestina.
Frida
Vingren (nome de casada) desenvolveu grandes atividades evangelísticas, abriu
frentes de trabalho em muitos lugares do Rio de Janeiro. As atividades de
assistência social, círculos de oração e grupos de visitas ficaram sob sua
responsabilidade. Também exercia a função de docência nas classes de Escola
Dominical e ministrava Estudos Bíblicos. Era responsável – no inicio da obra no
Rio de Janeiro – pela leitura devocional nas aberturas dos cultos, pela
execução musical dos hinos – ela era organista e tocava violão – e, quando
Gunnar Vingren se ausentava da Igreja em visita ao campo missionário, Frida
substituía-o pregando e dirigindo os cultos e trabalhos oficiais. Frida exerceu
a direção oficial dos cultos realizados aos domingos na Casa de Detenção no Rio
de Janeiro e era excelente pregadora, exercendo sob seus ouvintes grande carisma.
Pregava e dirigia os cultos nos pontos de pregação da AD no Rio de Janeiro, em
praças públicas e áreas abertas. Os cultos ao ar-livre promovidos no Largo da
Lapa, na Praça da Bandeira, na Praça Onze e na Estação Central eram dirigidos
por Frida, tendo Paulo Leivas Macalão como seu auxiliar direto.
Articulou-se
como escritora de diversas matérias nos jornais oficiais da AD, como os
jornais Boa Semente, O Som Alegre e Mensageiro da Paz (este último agregou os
dois primeiros). Ela escrevia mensagens evangelísticas e traduzia vários outros
textos e hinos da língua escandinava. Foi também comentarista das Lições
Bíblicas de Escola Dominical (hoje revista oficial da CGADB para a Escola
Dominical) na década de 1930.
Além
de excelente escritora, Frida sempre se dedicou à música. Cantava, tocava
órgão, violão e compunha hinos de grande valor espiritual. Vinte e três hinos
da Harpa Cristã são de sua autoria e alguns destes têm forte essência
escatológica. Frida, ao que parece, não foi simplesmente uma colaboradora no
processo de implantação da AD. Ela foi, juntamente com seu marido, a principal
líder da Igreja entre 1920 e 1932. Alencar alega que [Daniel] Berg é nulo [...]
Como Berg é inexpressivo na liderança e Vingren, doente, ficou pouco tempo
efetivamente na liderança, fica a dúvida sobre quem de fato dirigia e dava “as
cartas” nesta igreja em seus primeiros anos: Frida Vingren?
O
modelo de liderança de Frida Vingren, segundo relata Alencar, incomodou muito a
liderança masculina da AD. Frida é o modelo de uma líder completa, numa época
em que As mulheres ainda não participavam da vida política do país nem mesmo
como eleitoras, mas a AD permite que elas, excepcionalmente, sejam pastoras e
ensinadoras. [O que incomoda então é a] influência de Frida Vingren? Com
certeza. Ela prega, canta, toca, escreve poesia, textos escatológicos, visita
hospitais, presídios, realiza cultos e – nada comum – dirige a igreja na
ausência do marido (e… na presença também) [...] na foto dos missionários… que
participaram da Convenção de Natal [Rio Grande do Norte, 1930] ela é a única
mulher que aparece. Onde estão as esposas dos outros [missionários e
pastores]?… Frida chega a escrever um texto no Mensageiro da Paz… disciplinando
a con duta dos obreiros.
Frida
é vista como uma mulher extraordinária. Ivar Vingren argumenta que a esposa do
irmão Vingren, foi também uma missionária fiel, perseverante e zelosa, que além
do cuidado pela família, soube participar e ajudar no trabalho do seu esposo.
Grande é a multidão de almas que ela ganhou para Jesus durante estes anos de
luta junto com o seu esposo. Frida,
numa das cartas selecionadas na obra autobiográfica dos Vingren, expressa o seu
esgotamento físico e seus sentimentos acerca de seu trabalho pioneiro no Brasil.
Ela enumera as dificuldades na categoria “tribulação”, sofrimento” e “agonia”.
Mas tem muita esperança, quando contempla os sinais de Deus operando na Igreja
e nas congregações. Ela declara que tem pagado o preço do trabalho, mas sabe
que nada é em vão perante o Senhor.
A
missionária – dirigente dos trabalhos oficiais na AD do Rio de Janeiro (até
então Missão Sueca) nesta mesma carta demonstra um sinal de frustração por ter
de entregar a direção do Jornal “Mensageiro da Paz” aos líderes nacionais - O
Senhor sabe de tudo, eu não quero defender-me, pois não sou sem falta, mas
aquele dia tudo se revelará [...] Agora, depois que entregamos a direção do
jornal “Mensageiro da Paz”, eu pensei então que o nosso tempo aqui no Brasil
talvez esteja terminado ou o Senhor talvez tenha alguma outra missão para nós
cumprirmos [...] Para mim é como arrancar o coração do meu peito, quando penso
em deixar o Brasil para talvez nunca mais voltar!
É
difícil aceitar que Frida seja “sem falta”. Ela faz tudo e assume toda a
responsabilidade da Igreja em São Cristóvão/ RJ além de cuidar das congregações
ligadas a esta Igreja, dirigir o jornal e articular outros trabalhos acima
citados. Ela tem um esgotamento físico que chega a atingir o sistema nervoso e
alega sofrer do coração. Sinais claros de cansaço de uma pessoa que se dedica integralmente
à obra da Igreja. É complicado vê-la somente como colaboradora ou à sombra de
Vingren. Frida desabafa quando diz que “Gunnar tem estado enfermo a tanto
tempo, que faz muito [tempo] que ele nem tem podido participar do trabalho”. Por
causa da enfermidade de Gunnar Vingren, este não teve o tempo e a energia
suficiente para poder assumir o trabalho. Quem assume o trabalho integralmente
é Frida, apesar de Samuel Nystrom – teórica e documentalmente – ser o segundo
dirigente da Igreja na ausência de Gunnar Vingren. É fato que Frida é uma
mulher humilde que compreende seu papel de liderança e, sem soberba, relata
como Deus, em uma revelação dada a uma irmã, a via quando ela auxiliava seu
marido. - Quando
nós [Gunnar e Frida] saímos do Pará e viemos ao Rio de Janeiro, uma irmã no
Pará teve uma visão. Ela viu como Gunnar estava ajuntando frutas maduras num
grande pomar e ela me viu também num canto do pomar, trabalhando com uma bomba
de água, que estava regando todas as árvores.
Esta
visão está muito próxima à lógica do ministério apostólico compreendido por
Paulo. “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento” (I Coríntios 3.6).
Gunnar seria Paulo? Frida, Apolo? A compreensão hermenêutica pentecostal pode
nos abrir para essa possibilidade interpretativa. Mas, Frida nunca esteve “num
canto do pomar”. O fato é que Frida Vingren, com o agravamento da enfermidade
de seu marido, foi preterida pela liderança nacional. Em 1932, por causa do estado
de saúde de Gunnar, toda a família Vingren é obrigada a voltar à Suécia para
cuidar da saúde de Gunnar. Neste mesmo ano, antes de viajar para a Suécia, o
casal Vingren sofre com a morte de sua filha caçula. Frida perde o que lhe é
mais precioso no período de dois anos (1932-1933). Perde sua filhinha, é
forçada pelas circunstâncias explícitas (doença do marido) e implíc itas (a
oposição da liderança nacionalista e masculina) a deixar o trabalho
eclesiástico por ela exercido e suportar a perda – por falecimento – de seu
marido. Sete anos depois do falecimento de Gunnar, Frida também entra pelas
portas das mansões celestiais e as obras de suas mãos a acompanharam e naquele
dia tudo se revelará. - “Então
ouvi uma voz dos céus dizendo escreva: Felizes os mortos que morreram no
Senhor… Diz o Espírito: Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas
obras os seguirão”. (Apocalipse 14.13).
Frida
Vingren é o típico modelo de mulher pentecostal que exerceu o seu ministério
pastoral na periferia do poder clerical. Dentro das AD se constituíram as
sociedades eclesiais femininas como grupos de visitação, de oração, de louvor,
assistência social; Frida é a origem.
Texto escrito por Marcos José e publicado no site "Pentecostalismo". Confira a postagem original e completa clicando aqui.
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