John Newton nasceu em Londres no dia 24 de Julho de 1725. Como durante toda
a sua infância, o pai passava a maior parte do tempo no mar, sua mãe se
encarregava de educá-lo. Esta mulher temente a Deus, frágil e gentil, com
frequência trazia o seu único filho para perto de si e contava-lhe histórias da
Bíblia, e com isso, John acumulou em sua memória muitas coisas valiosas, tais
como capítulos e porções das Escrituras, hinos e poemas. Esta paz e este calor afetuoso desapareceram
com a morte da mãe, em 1732. Ela desejara ardentemente que o filho viesse a se
dedicar ao ministério e, por isso, encomendara-o muitas vezes a Deus, com
muitas orações e lágrimas. Foi um dia terrível o da morte da mãe e, pior ainda,
o dia em que uma madrasta veio substituí-la. Era suficientemente bem tratado,
mas a nova Sra. Newton nutria pouco amor pelo enteado e menos cuidado ainda
pela alma dele. Não havia mais histórias da Bíblia, nem Cânticos Divinos ao
redor da lareira, nem orações ao deitar. John tinha permissão para andar com
crianças rudes e ímpias. Ele se tornou violento, rancoroso e rebelde. Dois anos
num internato de classe inferior, em Essex, serviram unicamente para instigar a
sua indiferença para com a religião, sendo esta também toda a educação escolar
que teve.
Aos onze anos, John fez a sua primeira viagem marítima junto com o pai,
que neste tempo era capitão da marinha mercante no Mediterrâneo. O capitão
Newton exercia uma disciplina rígida sobre o filho. Embora a cabina do capitão
propiciasse refúgio para a árdua vida de serviço na marinha mercante, o pai
mostrava-se sempre distante do filho. A brisa do mar, as brincadeiras
grosseiras e a vida livre que os marinheiros levavam fizeram que John desejasse
se tornar um homem, um verdadeiro homem, tal como os marinheiros do pai. Aos
quinze anos tornou-se aprendiz de um comerciante amigo, em Alicante, na
Espanha. Sob a disciplina inflexível e rígida do capitão Newton, o espírito do
jovem sentia-se intimidado; porém, longe do pai, ele conhecia poucas
restrições. De vez em quando, a sua impetuosidade era interrompida, e Newton
manifestava um conflito de consciência, ao desejar atirar-se irrefletida e
dissolutamente à vida e ao ser impedido pelo ensino que recebera de sua mãe.
Dois incidentes marcaram-lhe a consciência. Não foram incidentes
notáveis em si mesmos, mas sem dúvida foram usados por uma mão invisível para
impedi-lo de entregar-se a uma vida totalmente desregrada. Certa vez, aos doze
anos, Newton foi jogado de um cavalo, escapando de ficar espetado nas estacas
de uma cerca recentemente cortada; isso aconteceu de tal maneira que, por um
momento, fê-lo pensar seriamente na Providência. Em outra ocasião, por chegar
cinco minutos atrasado, ele deixou de embarcar no barco que o levaria,
juntamente com um amigo, para visitar um navio de guerra; o barco virou e o seu
amigo morreu afogado. Newton nunca soube nadar (estranhamente, uma falta muito
comum entre os marinheiros na época das embarcações à vela), e a ideia de
deparar-se com a morte tão de perto levou-o, por algum tempo, a encarar a vida
com mais seriedade.
Aos 19 anos, passou a prestar serviço no navio de guerra HMS Harwich,
mas as condições de trabalho eram tão terríveis que John acabou desertando,
crime passível de morte. Porém, quando foi recapturado, recebeu como punição o
rebaixamento para soldado raso.
Depois de um curto tempo na Marinha Real, John Newton iniciou sua carreira
como traficante de escravos, primeiramente como servo de comerciante de
escravos que atuava em Serra Leoa, e posteriormente como o desprezível capitão
de sua própria embarcação, que transportava geralmente 600 “cargas humanas” por
viagem. Neste período, nem se via em John nenhum vislumbre do homem que fora
educado para ser.
Em torno de 1750, John Newton era o comandante de um navio negreiro
inglês. Os navios fariam o primeiro percurso de sua viagem da Inglaterra, quase
vazios, até que chegassem na costa africana. Lá os chefes tribais entregariam
aos europeus as "cargas" compostas de homens e mulheres, capturados
nas invasões e nas guerras entre as tribos. Os compradores selecionariam os
espécimes mais finos, e os comprariam em troca de armas, munição, licor, e
tecidos. Os cativos seriam trazidos, então, à bordo e preparados para o
"transporte". Eram acorrentados abaixo das plataformas para impedir
suicídios. Eram colocados de lado a lado, para conservar o espaço, em fileira
após a fileira, uma após outra, até que a embarcação estivesse
"carregada", normalmente com até 600 "unidades" de carga
humana.
Os capitães procuravam fazer uma viagem rápida, esperando preservar ao
máximo a sua carga; contudo, a taxa de mortalidade era alta, normalmente 20% ou
mais. Quando um surto de disenteria ou qualquer outra doença ocorria, os
doentes eram jogados ao mar. Uma vez que chegavam ao Novo Mundo, os negros eram
negociados por açúcar e o melaço, para manufaturar o rum, que os navios
carregariam à Inglaterra para o pé final de seu "comércio triangular."
John Newton transportou muitas cargas de escravos africanos trazidos à América
no século 18.
Certo dia, durante uma de suas viagens, o navio de Newton foi fortemente
afetado por uma tempestade. Momentos depois de ele deixar o convés, o
marinheiro que tomou o seu lugar foi jogado ao mar, por isso ele próprio guiou
a embarcação pela tempestade. Mais tarde ele comentou que durante a tempestade
ele sentiu que estavam tão frágeis e desamparados e concluiu que somente a Graça
de Deus poderia salvá-los naquele momento. O navio afundou nas águas revoltas.
Newton ofereceu sua vida à Cristo, achando que iria morrer. Incentivado por
esse acontecimento e pelo que havia lido no livro “Imitação de Cristo” do
escritor Tomás de Kempis, ele resolveu abandonar o tráfico de escravos e
tornou-se cristão Após ter sobrevivido, ele se converteu e começou a estudar
para ser pastor. Nos
últimos 43 anos de sua vida ele pregou o evangelho em Olney e em Londres. Em
82, Newton disse: "Minha memória já quase se foi, mas eu recordo duas
coisas: que eu sou um grande pecador, e que Cristo é meu grande salvador!"
No túmulo de Newton, lê-se: "John Newton, uma vez um infiel e um
libertino, um mercador de escravos na África, foi, pela misericórdia de nosso
senhor e salvador Jesus Cristo, perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que
ele tinha se esforçado muito por destruir."
O seu testemunho de vida continua vivo e é cantado por milhares de
pessoas ao redor do mundo: Graça Maravilhosa!
"Amazing Grace" é um conhecido hino tradicional
protestante com a letra escrita por John Newton e impresso pela primeira vez no
Newton's Olney Hymns (1779). Séculos depois, a canção ainda continua sendo uma
das mais inspiradoras mensagens de todos os tempos, trazendo uma reflexão
poderosa sobre o amor libertador de nosso Deus.
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