domingo, 12 de abril de 2015

De volta ao Primeiro Amor


Na noite deste domingo, durante o Culto da Família, nosso Pr. Wilson Gomes ministrou uma palavra sobre o retorno ao primeiro amor: Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres (Apocalipse 2:4-5). Ainda impactados com esta palavra, nossa redação encontrou em seus arquivos o texto intitulado “A Noiva” escrito pelo Pb. Miquéias Daniel Gomes, que translitera para um belíssimo conto, a essência da palavra que ouvimos hoje. Sinta-se amado e volte a amar como da primeira vez.

Ah como ela era feia. Na verdade, estava feia.

Ela nasceu linda e perfeita, imagem e semelhança do que havia de mais belo em todo o universo. 

Em sua infância ela correu livremente por jardins e campinas, absorvendo o perfume de cada flor, alimentando-se da doçura dos mais suculentos frutos, dançando alegremente em parceria com o vento... Como era deslumbrante sua beleza e insinuante sua inocência, tanto que olhos cobiçosos se voltaram para ela. Entretanto, sobre a jovem moça havia uma promessa de casamento, e ela já tinha um compromisso assumido com o Noivo mais desejável da história. Cada minuto de sua existência suspirava por este momento, cada dia que terminava, morria em paz e felicidade, pois também trazia para mais perto o esperado dia. A pequena Noiva crescia e se desenvolvia, e passado muito tempo, se tornou mulher, e cada segundo de sua vida era dedicado ao preparo esmerado para o casamento... 

Mas então, eis que em um garboso corcel negro, de cujos olhos flamejavam labaredas de fogo, surge um príncipe ardiloso, que reina nas partes mais obscuras da Terra. Sua voz é doce e aveludada, sua mão tem a textura das mais suaves pétalas, e seus olhos brilham como diamante, corando a beleza de um rosto esculpido no mais raro mármore. E ele sabe como fazer promessas cativantes... E ele conhece profundamente o mundo, em cada detalhe, em cada recanto, em cada vale e fenda. Ele é o senhor do engodo e da enganação, e seu convite astuto e malicioso é praticamente irrecusável:

- Venha comigo e te mostrarei as coisas mais lindas e incríveis, com quais você se quer sonhou... Venha comigo e te levarei a conhecer os mistérios e os prazeres da vida. Te darei liberdades e privilégios... Te livrarei das algemas do amor, e te levarei a experimentar das delicias existentes na paixão... Apenas rompa seu compromisso com o Noivo e fuja comigo para onde apenas as fantasias ousam viajar....

E então, incauta e vislumbrada com tamanho garbo e fervor, a Noiva abraça a promessa feita na penumbra da noite, e imerge numa fantasiosa vida de alegria, onde conhece os prazeres indescritíveis da vida, mas em contra partida descobre que o preço cobrado para esse desfrute é imenso e amargo, e sua dívida se torna tão grande, que ela não tem condições de pagar...

Da inadimplência, nasce a escravidão... É o príncipe misterioso se revela um carrasco de alma enegrecida, ávido por retirar da Noiva tudo o que lhe fora dado na criação, e assim, dia após dia, sua luz vai sendo apagada, seus sonhos vão sendo eliminados, sua beleza vai se esvaindo, com sua alma sendo dilacerada.

É questão de tempo até que ela esteja jogada em uma sarjeta, suja e empoeirada, fedendo a pecado e a vergonha, vestida de trapos, com os cabelos emaranhados e sebosos, com um rosto desfigurado, marcado pela dor e coberto de cicatrizes, as mesmas cicatrizes que se fundem aos ferimentos que ainda sangram, em seu corpo, alma e espírito.

Pobre Noiva... Tantas promessas... Tantos planos... Tantos sonhos... 

E agora, ali jogada no chão, tudo que anseia da vida é a morte, pois ingenuamente ela pensa que o fim de sua existência, poria fim ao seu sofrimento. Mas o que ela não sabe, é que sua dívida permanece na eternidade. Isso só mudaria se alguém assumisse seus débitos e pagasse o alto preço por eles exigidos.

Mas quem se importaria com ela, agora que se tornará em uma criatura tão desprezível?

Enquanto seus olhos se fechavam, ela ainda consegue vislumbrar a figura de homem que se aproxima...

- Tanto faz... Deve ser apenas mais um...

Sem ter forças para qualquer reação, a Noiva apenas espera... Mas ao invés de sentir uma mão qualquer tocar seu corpo, ela sente uma mão conhecida que toca carinhosamente seus cabelos...

- Minha amada Noiva, finalmente te encontrei... Há muito tempo estou te procurando, mas hoje te encontrei...

Com as últimas forças que lhe restavam, a Noiva abre os olhos e contempla o rosto radiante do Noivo... Ela não lembrava de como ele era belo e de como sua voz era suave... Seu coração acelera e ela sente novamente como o amor é delicado e verdadeiro, e por um instante, todo medo e toda dor deixam de existir...

Mas a realidade é cruel, e logo a desesperança surge avassaladora:

- É muito tarde para mim...  Balbucia a Noiva – Eu cometi muitos erros, abri mão da verdadeira felicidade por prazeres passageiros, e agora, eu devo morrer...

- Não! Minha amada! Não deixarei que isso aconteça... Não posso viver sem você – Respondeu o Noivo com total convicção...

- Sinto muito meu amado... Mas eu não tenho o direito de viver ao seu lado... Eu não mereço ser feliz...

Enquanto dizia estas palavras, a Noiva sente a morte apertando seu pescoço... O pecado veio cobrar a dívida... A morte é uma agiota com quem não se negocia, e assim, alguém tinha que morrer... O Noivo então segura as mãos da Noiva e fecha seus olhos... Uma luz cintilante começa a emanar de seus olhos, e a Noiva não pode acreditar no que está acontecendo...

Uma a uma, suas cicatrizes começam a desaparecer, seus ferimentos se fecham instantaneamente, sua roupa começa a se refazer no mais refinado e puro linho branco, sua sujeira desaparece, seu cheiro é substituído pelo mais delicioso aroma, seu medo vai embora e leva junto suas culpas e dores. A Noiva está bela outra vez, seus cabelos bailam ao vento e seu hálito é como o cheiro das romãs...

Infelizmente sua alegria termina quando ela olha para o lado, e percebe o corpo do Noivo jazendo no chão. Ele está todo ferido, seu rosto desfigurado pelas mesmas cicatrizes que ela tinha adquirido. Sua roupa está rasgada e suja, e a Noiva finalmente entende o tamanho do amor que aquele homem sentia por ela, ao ponto de morrer em seu lugar, tomando sobre ele toda a aflição, angustia e flagelo que para ela estava destinado.

Mas calma, está história tem um final feliz. Afinal, a morte não sabia que a inocência e pureza do Noivo era tanta, que mesmo pagando toda a dívida da Noiva, ainda sobravam créditos para uma vida eterna, e assim, três dias depois o Noivo está de volta para viver este amor.

Uma alegria gigantesca, invade o coração da Noiva, quando atende a campainha naquela manhã de domingo... Ela não podia acreditar em seus próprios olhos... O Noivo estava ali, vivo, mais belo do que nunca, com um sorriso estampado em seu rosto e o amor latejando em seu olhar...

- Voltei minha amada... Voltei pra você... Mas ainda não é hora do casamento... Preciso retornar para meu Reino, e ali vou construir uma casa para nós, bela e eternal, e assim, que tudo estiver pronto, eu irei regressar para você, e te levarei para morar comigo em um lugar onde não existe mais dor, sofrimento e lágrimas.... Apenas aguarde o meu retorno e jamais duvide de meu amor...

- Mas e se eu fraquejar novamente... E se eu não amar o suficiente? – Preocupou-se a Noiva.

- Eu amarei por nós dois... E embora você não me veja, eu estarei aqui para te ajudar todos os dias, até que os séculos se encerrem. – Respondeu o Noivo.

- E como poderei falar com você durante minha espera?

- Em poucos dias – Prometeu o Noivo – Um amigo muito especial virá para te fazer companhia. Ele caminhará com você, adornará você, instruirá você e te consolará quando sentires saudades de mim.

- E como ele se chama, meu Noivo?

- O nome dele é Espirito Santo!

E desde então, a Noiva aguarda ansiosa pelo dia do seu casamento, mas desta vez está vigilante, guardando tudo o que tem, para que ninguém retire dela sua coroa.


O Espirito e a Noiva dizem: VEM! E todo aquele que ouvir diga: VEM! (Apocalipse 22:17)

Pr. Wilson Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário