Na noite deste
domingo, durante o Culto da Família, nosso Pr. Wilson Gomes ministrou uma
palavra sobre o retorno ao primeiro amor: Tenho, porém, contra ti que deixaste
o teu primeiro amor. Lembra-te,
pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não,
brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te
arrependeres (Apocalipse 2:4-5). Ainda impactados
com esta palavra, nossa redação encontrou em seus arquivos o texto intitulado “A
Noiva” escrito pelo Pb. Miquéias Daniel Gomes, que translitera para um belíssimo
conto, a essência da palavra que ouvimos hoje. Sinta-se amado e volte a amar
como da primeira vez.
Ah como ela
era feia. Na verdade, estava feia.
Ela nasceu
linda e perfeita, imagem e semelhança do que havia de mais belo em todo o
universo.
Em sua
infância ela correu livremente por jardins e campinas, absorvendo o perfume de
cada flor, alimentando-se da doçura dos mais suculentos frutos, dançando
alegremente em parceria com o vento... Como era deslumbrante sua beleza e
insinuante sua inocência, tanto que olhos cobiçosos se voltaram para ela.
Entretanto, sobre a jovem moça havia uma promessa de casamento, e ela já tinha
um compromisso assumido com o Noivo mais desejável da história. Cada minuto de
sua existência suspirava por este momento, cada dia que terminava, morria em
paz e felicidade, pois também trazia para mais perto o esperado dia. A pequena
Noiva crescia e se desenvolvia, e passado muito tempo, se tornou mulher, e cada
segundo de sua vida era dedicado ao preparo esmerado para o casamento...
Mas então,
eis que em um garboso corcel negro, de cujos olhos flamejavam labaredas de
fogo, surge um príncipe ardiloso, que reina nas partes mais obscuras da Terra.
Sua voz é doce e aveludada, sua mão tem a textura das mais suaves pétalas, e
seus olhos brilham como diamante, corando a beleza de um rosto esculpido no
mais raro mármore. E ele sabe como fazer promessas cativantes... E ele conhece
profundamente o mundo, em cada detalhe, em cada recanto, em cada vale e fenda.
Ele é o senhor do engodo e da enganação, e seu convite astuto e malicioso é
praticamente irrecusável:
- Venha comigo e te mostrarei as
coisas mais lindas e incríveis, com quais você se quer sonhou... Venha comigo e
te levarei a conhecer os mistérios e os prazeres da vida. Te darei liberdades e
privilégios... Te livrarei das algemas do amor, e te levarei a experimentar das
delicias existentes na paixão... Apenas rompa seu compromisso com o Noivo e
fuja comigo para onde apenas as fantasias ousam viajar....
E então,
incauta e vislumbrada com tamanho garbo e fervor, a Noiva abraça a promessa
feita na penumbra da noite, e imerge numa fantasiosa vida de alegria, onde
conhece os prazeres indescritíveis da vida, mas em contra partida descobre que
o preço cobrado para esse desfrute é imenso e amargo, e sua dívida se torna tão
grande, que ela não tem condições de pagar...
Da
inadimplência, nasce a escravidão... É o príncipe misterioso se revela um
carrasco de alma enegrecida, ávido por retirar da Noiva tudo o que lhe fora
dado na criação, e assim, dia após dia, sua luz vai sendo apagada, seus sonhos
vão sendo eliminados, sua beleza vai se esvaindo, com sua alma sendo dilacerada.
É questão de
tempo até que ela esteja jogada em uma sarjeta, suja e empoeirada, fedendo a
pecado e a vergonha, vestida de trapos, com os cabelos emaranhados e sebosos,
com um rosto desfigurado, marcado pela dor e coberto de cicatrizes, as mesmas
cicatrizes que se fundem aos ferimentos que ainda sangram, em seu corpo, alma e
espírito.
Pobre
Noiva... Tantas promessas... Tantos planos... Tantos sonhos...
E agora, ali
jogada no chão, tudo que anseia da vida é a morte, pois ingenuamente ela pensa
que o fim de sua existência, poria fim ao seu sofrimento. Mas o que ela não
sabe, é que sua dívida permanece na eternidade. Isso só mudaria se alguém
assumisse seus débitos e pagasse o alto preço por eles exigidos.
Mas quem se
importaria com ela, agora que se tornará em uma criatura tão desprezível?
Enquanto
seus olhos se fechavam, ela ainda consegue vislumbrar a figura de homem que se
aproxima...
- Tanto
faz... Deve ser apenas mais um...
Sem ter
forças para qualquer reação, a Noiva apenas espera... Mas ao invés de sentir
uma mão qualquer tocar seu corpo, ela sente uma mão conhecida que toca
carinhosamente seus cabelos...
- Minha
amada Noiva, finalmente te encontrei... Há muito tempo estou te procurando, mas
hoje te encontrei...
Com as
últimas forças que lhe restavam, a Noiva abre os olhos e contempla o rosto
radiante do Noivo... Ela não lembrava de como ele era belo e de como sua voz
era suave... Seu coração acelera e ela sente novamente como o amor é delicado e
verdadeiro, e por um instante, todo medo e toda dor deixam de existir...
Mas a
realidade é cruel, e logo a desesperança surge avassaladora:
- É muito tarde para mim...
Balbucia a Noiva – Eu cometi
muitos erros, abri mão da verdadeira felicidade por prazeres passageiros, e
agora, eu devo morrer...
- Não! Minha
amada! Não deixarei que isso aconteça... Não posso viver sem você – Respondeu o Noivo com total convicção...
- Sinto
muito meu amado... Mas eu não tenho o direito de viver ao seu lado... Eu não
mereço ser feliz...
Enquanto
dizia estas palavras, a Noiva sente a morte apertando seu pescoço... O pecado
veio cobrar a dívida... A morte é uma agiota com quem não se negocia, e assim,
alguém tinha que morrer... O Noivo então segura as mãos da Noiva e fecha seus
olhos... Uma luz cintilante começa a emanar de seus olhos, e a Noiva não pode
acreditar no que está acontecendo...
Uma a uma,
suas cicatrizes começam a desaparecer, seus ferimentos se fecham
instantaneamente, sua roupa começa a se refazer no mais refinado e puro linho
branco, sua sujeira desaparece, seu cheiro é substituído pelo mais delicioso
aroma, seu medo vai embora e leva junto suas culpas e dores. A Noiva está bela
outra vez, seus cabelos bailam ao vento e seu hálito é como o cheiro das
romãs...
Infelizmente
sua alegria termina quando ela olha para o lado, e percebe o corpo do Noivo
jazendo no chão. Ele está todo ferido, seu rosto desfigurado pelas mesmas
cicatrizes que ela tinha adquirido. Sua roupa está rasgada e suja, e a Noiva
finalmente entende o tamanho do amor que aquele homem sentia por ela, ao ponto
de morrer em seu lugar, tomando sobre ele toda a aflição, angustia e flagelo
que para ela estava destinado.
Mas calma,
está história tem um final feliz. Afinal, a morte não sabia que a inocência e
pureza do Noivo era tanta, que mesmo pagando toda a dívida da Noiva, ainda
sobravam créditos para uma vida eterna, e assim, três dias depois o Noivo está
de volta para viver este amor.
Uma alegria
gigantesca, invade o coração da Noiva, quando atende a campainha naquela manhã
de domingo... Ela não podia acreditar em seus próprios olhos... O Noivo estava
ali, vivo, mais belo do que nunca, com um sorriso estampado em seu rosto e
o amor latejando em seu olhar...
- Voltei
minha amada... Voltei pra você... Mas ainda não é hora do casamento... Preciso
retornar para meu Reino, e ali vou construir uma casa para nós, bela e eternal,
e assim, que tudo estiver pronto, eu irei regressar para você, e te levarei
para morar comigo em um lugar onde não existe mais dor, sofrimento e
lágrimas.... Apenas aguarde o meu retorno e jamais duvide de meu amor...
- Mas e se
eu fraquejar novamente... E se eu não amar o suficiente? – Preocupou-se a Noiva.
- Eu amarei por nós dois... E embora
você não me veja, eu estarei aqui para te ajudar todos os dias, até que os
séculos se encerrem. – Respondeu o Noivo.
- E como
poderei falar com você durante minha espera?
- Em poucos
dias – Prometeu o
Noivo – Um amigo muito
especial virá para te fazer companhia. Ele caminhará com você, adornará você,
instruirá você e te consolará quando sentires saudades de mim.
- E como ele
se chama, meu Noivo?
- O nome
dele é Espirito Santo!
E desde então,
a Noiva aguarda ansiosa pelo dia do seu casamento, mas desta vez está
vigilante, guardando tudo o que tem, para que ninguém retire dela sua coroa.
O Espirito e
a Noiva dizem: VEM! E todo aquele que ouvir diga: VEM! (Apocalipse 22:17)
Pr. Wilson Gomes |
Nenhum comentário:
Postar um comentário