Pb. Miquéias Daniel Gomes
Para
ser contado entre os apóstolos, foi estabelecido pelos onze discípulos
remanescentes que o candidato tivesse conhecido a Jesus e acompanhado seu
ministério, aprendendo em loco seus ensinamentos. Paulo não se encaixava neste
perfil, mas mesmo assim defendia seu apostolado, pois o próprio Jesus já se
encarregara de sanar estas “pendências”; primeiramente se apresentando
pessoalmente a Paulo (Atos 9:3-6) e posteriormente o levando ao céu para
receber “seus” ensinamentos ao melhor estilo “tête-a-tête” (I Coríntios 11:23,
II Coríntios 12:2). A evidência máxima da importância desse seleto
grupo de homens pode ser encontrada no livro da Revelação:
Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro; e me transportou, em
espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade,
Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus...
Tinha grande e alta muralha, doze portas, e, junto às portas, doze anjos, e,
sobre elas, nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de
Israel. Três portas se achavam a leste, três, ao norte, três, ao sul, e três, a
oeste. A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os
doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Apocalipse 21:9-14 )
E quais
nomes seriam estes?
Numa análise pragmática, considerando apenas as
escolhas do “próprio JESUS”, podemos citar: Simão Pedro, André, Tiago (filho de Zebedeu), João, Felipe,
Bartolomeu (ou Natanael), Tomé, Mateus, Tiago (filho de Alfeu), Tadeu, Simão (o
Zelote) e Paulo.
Um grupo já fechado e insubstituível que formam
as bases e os pilares da IGREJA estabelecida por Cristo. Enquanto andaram com
Jesus, esses homens foram sempre identificados como “DÍSCIPULOS”, que significa “aprendiz,
aluno”. Já no livro de Atos, pós-ascensão de Cristo, quando as
responsabilidades de se prosseguir com a missão do mestre recaíram sobre seus
ombros é que passaram a ser chamados de “Apóstolos”
que significa “alguém que é enviado”.
Mas a pergunta que não se cala é: Ainda temos
APÓSTOLOS entre nós?
Esta é sem dúvida uma questão complexa que
analisaremos em quatro esferas distintas:
1º) Um chamado generalizado
Analisando o significado literal da palavra
apóstolo diretamente do grego - Apostellein – encontraremos a
seguinte definição: “Aquele que é enviado, mensageiro ou embaixador; que representa a quem
o enviou”.
Ora, todo homem que
se propõem a seguir a Cristo e cumprir seus mandamentos, traz sobre si a
responsabilidade da grande comissão: Ide por todo
o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será
salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu
nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se
beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre
os enfermos, e estes serão curados (Marcos 16:15-18). Logo,
“todos” os cristãos foram “enviados” para uma missão especial; a de anunciar o
Reino de Deus aos Homens.
Também é concedido para aquele que
renuncia a si mesmo, vivendo por Cristo, a honraria de ser um representante
legal do Reino de Deus entre os homens: De
sorte que somos embaixadores da
parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse (II Coríntios 5:20). Ora, um embaixador nada mais é que o
representante máximo do chefe de um Estado em um outro Estado, e portanto
podemos afirmar embasados nas escrituras que todo Servo de Deus “é” um
representante legal de Cristo aqui na Terra, não cabendo tal honra a apenas
“um” único homem, como muitos erradamente tendem a acreditar.
Se todos fomos “enviados” por
Cristo, e somos todos seus “representantes” legais aqui na Terra, então “TODOS”
temos um chamado apostólico em nossas vidas e podemos nos considerar um
pouquinho apostólicos também. Mas esta é uma chamada generalizada pertinente a
toda a Igreja, e não uma vocação específica ou um chamado individual que caracterize
o MINISTÉRIO APOSTÓLICO.
Somos apostólicos, mas isto não nos
torna Apóstolos.
2º) Uma nomenclatura eclesiástica
A partir da década de 70, com a
expansão das chamadas igrejas neopentecostais, passou-se a usar o termo
Apóstolo para se definir uma posição eclesiástica destacada dentro da própria
organização. Geralmente este título é sustentado pelo fundador de uma igreja
específica, mas vale a ressalva que na Bíblia, muitos termos diferenciados se
equivalem na prática, a mesma função.
Assim sendo, esta é uma questão
muito particular de cada entidade eclesiástica, que define suas hierarquias
ministeriais através de seus próprios critérios e estatutos, e é exatamente
desta diversificação que oriunda a grande quantidade de títulos que na verdade
identificam o mesmo grupo de obreiros que exercem liderança em suas respectivas
comunidades: apóstolo, bispo, ministro, ancião, pastor, reverendo e tantos
outros.
Ao se ostentar um título
eclesiástico como este, o homem de Deus não deve se sentir portador da mesma
autoridade exercida pelos apóstolos da igreja primitiva, pois tal autoridade
sobre eles constituída visava “construir” as estradas por onde os líderes
eclesiásticos de hoje caminham confortavelmente.
3º) Um grupo específico
O número doze na Bíblia faz
referência a “totalidade” e é considerado um número de governo. Portanto faz
total sentido que num grupo de muitos seguidores, Jesus tenha escolhido doze
homens especiais para serem seus discípulos. Como um deles se perdeu, o Mestre
já glorificado escolheu um substituto que se tornou o mais notável entre todos
eles: Paulo.
Nada mais justo que a Bíblia utilize
o “termo” APÓSTOLO para descrever apenas este grupo seleto de homens especiais
que literalmente viveram e morreram pelo evangelho. Para ser um apóstolo era
necessário ter recebido um chamado especial de Jesus (Lucas 6:13) e ter
acompanhado na íntegra o ministério de Cristo (Atos 1:21-22), e todos cumpriam
tais exigências, embora Paulo tenha recebido um chamado posterior e uma
instrução diferenciada. Sobre esses APÓSTOLOS era delegada uma autoridade
especial como continuadores diretos do ministério de Cristo e para o
estabelecimento das diretrizes que norteariam a IGREJA recém-estabelecida (Atos
15:6:29). Ora, este grupo especial de homens escolhidos em corpo presente pelo
próprio Jesus são as bases da Igreja edificada em Cristo; autores dos preceitos
que garantem a funcionalidade da organização por todo mundo ao longo de dois
milênios, expositores e explanadores de toda a doutrina neo testamentaria; mártires
da causa cristã; operadores de obras portentosas; mestres da IGREJA em todo
tempo e lugar; dignos o suficiente para terem seus nomes eternizados nas portas
dos céus. Eles são de fato os únicos
homens chamados na Bíblia de APÓSTOLOS e não há nenhum indício que legalize
qualquer outra pessoa a se auto denominar “substituto” de qualquer um deles.
4º) Um ministério inativo.
Em Efésios 4:10-11, Paulo identifica alguns
ministérios que foram dados a igreja, afim de que ela se estabilizasse e
expandisse: Apostolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres. Temos que lembrar, que nesta época, parte dos apóstolos de Jesus
ainda estava em atividade, e que o texto do Novo Testamento, não havia sido totalmente escrito. Por todos os motivos aqui já citados, podemos concluir que o
apostolado como um ministério está inativo na IGREJA de hoje, pois seus
propósitos já se cumpriram através dos doze homens escolhidos nominalmente pelo
próprio Cristo.
Segundo a tradição, por pregar o evangelho, Pedro
foi crucificado de cabeça para baixo em Roma; André também foi crucificado em
uma cruz no formato de X; Tiago foi decapitado por ordem de Herodes; Felipe
provavelmente foi enforcado em Hierápolis, embora muitos acreditem que tenha sido
crucificado também; Bartolomeu teve sua pele retirada por um rei bárbaro; Tomé
foi amarrado a uma cruz enquanto evangelizava seus algozes, morrendo lancetado
na Índia; Mateus sofreu martírio por espada (ou punhais) na Etiópia, Tiago (o
menor) foi lançado de cabeça do pináculo do tempo e depois foi apedrejado,
Judas Tadeu e Simão provavelmente foram vítimas de um linchamento público a
machadadas motivado pelos sacerdotes pagãos da Pérsia, Paulo foi decapitado em
Roma e apenas João morreu de morte natural após sobreviver ao exílio em Patmos.
Todos morreram em honra, cumprindo seu dever
apostólico. Seus ensinamentos, influência, coragem e perseverança resultaram em
milhões de conversões por toda a terra conhecida e se perpetuaram para a
posteridade em quatro evangelhos, um livro com o registro de seus atos, vinte e
uma cartas contendo conselhos e instruções para a Igreja em todas as eras e
finalmente, o Apocalipse, onde se encerram “TODA” a revelação de DEUS para
igreja.
Quando João, o último apóstolo vivo, finalmente
descansou em Éfeso, no ano 103, o MINISTÉRIO APOSTÓLICO deixou de existir na
Igreja, pois a autoridade que residia nos Apóstolos reside agora na PALAVRA
ESCRITA, e nenhum homem pode se impor querendo exercer uma autoridade acima da
PALAVRA DE DEUS. Não existem mais “revelações” a serem feitas, nem “diretrizes” a serem
ensinadas, senão aquelas que já estão registradas, e ninguém jamais poderá
reivindicar para si um status, a qual o próprio Cristo reservou para apenas
doze homens, dos quais somos frutos das sementes de sangue.
Para concluir, devemos relembrar que enquanto estavam sobre a
tutela de Jesus, esses homens eram chamados de DISCÍPULOS, ou seja, ALUNOS.
A ascensão de Cristo e o comissionamento dado a seus
discípulos, conferiu-lhes o “diploma” de formatura. Agora eles seriam os
professores dos discípulos que estavam por vir, e apenas neste momento, são
chamados de APÓSTOLOS, ou seja, “ENVIADOS”.
A questão é: Pode alguém dizer que já se formou na escola de
Deus, tendo já completado seu aprendizado?
Que Deus nos conserve em Graça e Amor, aptos para ouvir e
aprender dia após dia, como servos obedientes e discípulos em humildade.
Jesus dizia, pois, aos
judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente
sereis meus discípulos; e
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (João 8:31-32)
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