Em Gênesis
1:27-28 e 2:7, Moisés narra a origem do homem. Uma reunião celestial é
convocada para projetar minuciosamente um ser capaz de dominar sobre as demais
coisas criadas. Um designer é aprovado, um rascunho é elaborado, formas e
texturas são pré-definidas. A matéria prima escolhida é palpável e
tangível, e o processo de fabricação é artesanal. Em suma, Deus coloca a “mão
na massa”, esculpe em argila o modelo projetado e sopra em sua narina o fôlego
de vida. Seu nome agora é Adão, feito imagem e semelhança de seu criador, tendo
dentro de si uma fagulha do próprio Elohim, um espírito dado por Deus e que deseja retornar para Deus.
Para que o
homem não estivesse só, de seus ossos é forjada a mulher. Agora, o casal pode
enfim viver pleno de felicidade, no jardim que o Senhor plantara para eles.
Adão e Eva são como duas crianças se descobrindo, e Deus faz questão de todas
as tardes visitar os seus filhos para instruí-los em todos os aspectos da arte
de viver. Mas a desobediência quebraria essa aliança. No desejo de ser igual a
Deus, eles acabaram se afastando de Deus, perdendo a inocência e violando a
santidade. Já não podiam olhar a face de Deus e nem serem visitados com
cordialidade ao pôr do sol (I Timóteo 6:16). Mas dentro deles, ainda habitava o
Espírito que clamava por Deus. Mesmo que a carne do homem se sobreponha ao seu
Espírito, jamais irá calar sua voz. Ele estará lá dentro, desesperado, inquieto
e aflito. Daí nasce o vazio interior, a busca desenfreada por prazeres
passageiros, a ausência completa de paz...
O homem saiu
do jardim, mas o Jardim está no homem. Mudou-se a forma, mas a conversa diária
com o Criador ainda é necessária... Sem dialogar com Deus e buscar sua
orientação, o homem jamais será plenamente feliz... Esta prática é possível, e
não se faz necessários agendamentos prévios ou formalidades desnecessárias...
Para ela damos o nome de “oração”, um dos elementos básicos de uma vida de
adoração constante
O Salmo 42 é
atribuído aos Filhos de Corá, remanescentes de uma família que foi engolida em
vida pela terra, em decorrência de seu pecado (Números 27:11). Eles tenham
experimentado em sua origem, a fúria da justiça de Deus, bem como o beneplácito
de seu amor. Mas, independentemente do histórico familiar, é possível
perceber que o poeta está triste... A incredulidade que enegrece a alma dos
homens faz sangrar seu coração. Ele olha a sua volta é só encontra abismos.
Verdadeiros buracos-negros surgem voluptuosos nas pessoas a sua volta,
retirando delas o temor, a fé e a caridade. O mundo parece imerso em trevas, e
qualquer facho de luz incomoda seus moradores. Dedos em ristes se voltam para o
escritor... Ele ouve gargalhadas e palavras de afronta. Vozes obscuras e
perniciosas invadem seus ouvidos com uma indagação retórica carregada de
sarcasmo e maldade: Onde está o seu Deus? O poeta chora angustiado...
A tristeza é tamanha que seus ossos chegam a doer. Sua alma está abatida, pois
foi abraçada pelo medo, e agora se sente sugada pelos abismos que a cercam:
Desesperança, Angustia e Aflição.
Então, no
ponto exato entre o agora e a ruína, o salmista clama por socorro... “Assim como a corça anseia por águas correntes, a
minha alma anseia por ti, ó Deus... A minha alma tem sede do Deus vivo” (Salmo
42:1-2). A alma do
salmista estava com sede. Sedenta por algo que não se encontra na Terra. Aliás,
ainda que não queira aceitar, toda a humanidade tem sofrido da mesma sede desde
os primórdios de sua história.... Desde que saiu do Jardim...
O salmista
sabia desta carência, conhecia sua necessidade. - A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo – Dizia ele. - Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus? E então,
introspectivo, o poeta conversa consigo mesmo e aconselha: - Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está
assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o
louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.
Pb. Miquéias Daniel Gomes
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