Na visão de
Paulo, mas vale sair no prejuízo do que entrar em litígio com um irmão de fé (I
Coríntios 6:6-7). Antes de escrever sua primeira carta à igreja em Coríntios, o
apóstolo havia recebido notícias perturbadoras sobre aquela comunidade. Eles
estavam vivendo imersos em conflitos teológicos e rupturas doutrinárias. Paulo
envia para aquela igreja a sua carta mais “agressiva”, tratando-os como meninos
na fé, levianos e sem amadurecimento espiritual.
Entre os
diversos temas abordados na epístola, três dele recebem de Paulo uma atenção
especial: dissensões (capitulo 3), litígios (capitulo 4) e divórcios (capitulo
7). Estas questões de destacam entre as demais por um motivo bem específico.
Além de corroborar com a crescente ruptura nos laços fraternais daquela
comunidade, estavam expondo a igreja diante da sociedade, entregando causas
genuinamente eclesiástica ao julgamento secular. Paulo, não se conformava com
isso. Após advertir os corintos com veemência sobre a postura que deveriam ter
como cristãos, portadores da uma promessa que serão juízes do mundo, e não o
contrário, Paulo interpela para que trilhem o mais excelente dos caminhos: a
caridade.
No amor se
resume a fé cristã, todo o mandamento divino e a vida cotidiana do cristão. Em
sua essência, podemos considerar que o amor é o maior de todos os presentes
dados por Deus ao ser humano, seja no privilégio de ser amado ou na capacidade
de amar. O amor é a base da nossa pregação, é o lema de nossa cruzada celeste,
a motivação de nosso serviço e a coluna cervical dos frutos espirituais.
Deus nos ama
incondicionalmente, e este é sem dúvida o mais valioso dos presentes. É
desfrutando plenamente deste amor que obtemos os meios necessários para
manifesta-lo ao próximo. Entretanto, é necessário entender que o amor cristão
exercido diariamente não deve ser dado a nós por Deus, mas sim desenvolvido por
nós para Deus.
Primeiramente
porque Deus já nos amou e por amor Jesus Cristo deu sua vida por nós e agora,
imersos neste amor, precisamos desenvolver um amor genuíno por aqueles que nos
cercam e para com o nosso próprio Senhor. O desenvolvimento do amor fraternal
foi o argumento definitivo de Paulo para dar uma resolução permanente aos
embates existentes na igreja de Corinto. Paulo os aconselha a pautarem suas
ações e decisões no amor, pois ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo
suporta (I Coríntios 13:7). Agora, escrevendo a seu amigo Filemom, Paulo lança
mais uma vez o mesmo argumento, afim de sanar uma divergência do passado. O que
Paulo insistia em ensinar aos seus discípulos é que qualquer julgamento dentro
da igreja deve primeiramente passar pela peneira do amor.
Filemom era
um bom cristão. Exercia influência positiva na igreja de Colossos, sendo
identificado por Paulo como um grande motivador, com a capacidade de reanimar o
coração dos santos (Filemom 7). Aquele, sem dúvidas, era um homem de muitas
virtudes e deveras amoroso.
Mas ainda
existia em Filemom um resquício do passado, quando foi usurpado por um de seus
servos. Onésimo causou grande perca a Filemom e se embrenhou pelo mundo,
deixando aquela ferida emocional aberta e sem resolução. Havia chegado a hora
de agressor e agredido, defraudador e defraudado, assaltando e assaltado se
olharem nos olhos mais uma vez, só que agora não como senhorio e escravo, mas
sim como irmãos em Cristo. Paulo deseja ardorosamente que este reencontro
aconteça, pois, além de ser o “pai” espiritual de ambos, tornou-se amigo
pessoal de cada um deles, conhecendo o coração generoso de seus filhos na fé.
Filemom era
um homem de posses, que se converteu ao evangelho após a incursão de Paulo na
cidade de Colossos. Seu envolvimento com a obra de Deus foi notório e digno de
elogios, já que era ativo na proclamação do Evangelho, cedendo sua casa para
que uma igreja fosse estabelecida ali. Sendo muito rico e vivendo sob a égide
do Império Romano que dava legalidade a escravidão, Filemom era sim dono de
diversos escravos.
Onésimo é
historicamente lembrado como sendo um dos maiores líderes da igreja de Efésio,
mas aqui, aparece apenas como um dos escravos de Filemom. Por algum motivo não
relevado, Onésimo fugiu para Roma, aparentemente levando consigo alguns valores
e causando grande prejuízo ao seu senhor. Ele, porém, acabou sendo preso em
algum ponto de seu caminho, sendo conduzido a uma prisão. Foi exatamente neste
período de sua vida, que o escravo fujão passou a conviver com um prisioneiro ilustre
chamado Paulo.
Não sabemos
ao certo se ambos dividiram uma cela em Roma ou se a amizade se desenvolveu em
Éfeso, quando Paulo esteve preso pela primeira vez. Certo é, que Onésimo também
aceitou o Evangelho de Cristo, se tornando um colaborador ministerial de Paulo,
que por sua vez era o mentor espiritual de Filemom, por quem também nutria
grande amizade.
Paulo possui vínculos fraternais
com duas pessoas que entre elas conservam uma rusga do passado. O apostolo vê
então a oportunidade de usar sua influência junto a ambos para pôr um fim
definitivo a esta questão. A carta para Filemom é mais pessoal das epístolas
paulinas, e pode ser entendida como um pedido particular do apóstolo a seu
amigo Filemom para que o mesmo perdoe seu também amigo Onésimo.
Teria o escravo aproveitado um
momento de distração do senhorio que ouvia atentamente as palavras de um
missionário para fugir? Quem sabe. Mas quais seriam as reais possibilidades
deste mesmo missionário ser preso por amor a Cristo e acabar dividindo sua cela
com um escravo foragido de uma das casas onde ministrará meses atrás? Tudo
estava engendrado pelo Senhor, e a perseverança de Paulo foi o ponto de
equilíbrio numa história que parecia ser trágica e vertiginosa.
Em sua liberdade, Paulo fez um amigo chamado Filemom, e a igreja de Colosso ganhou um excelente obreiro. Em prisão, desenvolveu a amizade de Onésimo, e a igreja de Éfeso ganhou um bispo.
Em sua liberdade, Paulo fez um amigo chamado Filemom, e a igreja de Colosso ganhou um excelente obreiro. Em prisão, desenvolveu a amizade de Onésimo, e a igreja de Éfeso ganhou um bispo.
Pb. Miquéias Daniel Gomes
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