terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Onésimo e Filemom - A lei do amor



Na visão de Paulo, mas vale sair no prejuízo do que entrar em litígio com um irmão de fé (I Coríntios 6:6-7). Antes de escrever sua primeira carta à igreja em Coríntios, o apóstolo havia recebido notícias perturbadoras sobre aquela comunidade. Eles estavam vivendo imersos em conflitos teológicos e rupturas doutrinárias. Paulo envia para aquela igreja a sua carta mais “agressiva”, tratando-os como meninos na fé, levianos e sem amadurecimento espiritual.

Entre os diversos temas abordados na epístola, três dele recebem de Paulo uma atenção especial: dissensões (capitulo 3), litígios (capitulo 4) e divórcios (capitulo 7). Estas questões de destacam entre as demais por um motivo bem específico. Além de corroborar com a crescente ruptura nos laços fraternais daquela comunidade, estavam expondo a igreja diante da sociedade, entregando causas genuinamente eclesiástica ao julgamento secular. Paulo, não se conformava com isso. Após advertir os corintos com veemência sobre a postura que deveriam ter como cristãos, portadores da uma promessa que serão juízes do mundo, e não o contrário, Paulo interpela para que trilhem o mais excelente dos caminhos: a caridade.

No amor se resume a fé cristã, todo o mandamento divino e a vida cotidiana do cristão. Em sua essência, podemos considerar que o amor é o maior de todos os presentes dados por Deus ao ser humano, seja no privilégio de ser amado ou na capacidade de amar. O amor é a base da nossa pregação, é o lema de nossa cruzada celeste, a motivação de nosso serviço e a coluna cervical dos frutos espirituais.

Deus nos ama incondicionalmente, e este é sem dúvida o mais valioso dos presentes. É desfrutando plenamente deste amor que obtemos os meios necessários para manifesta-lo ao próximo. Entretanto, é necessário entender que o amor cristão exercido diariamente não deve ser dado a nós por Deus, mas sim desenvolvido por nós para Deus.

Primeiramente porque Deus já nos amou e por amor Jesus Cristo deu sua vida por nós e agora, imersos neste amor, precisamos desenvolver um amor genuíno por aqueles que nos cercam e para com o nosso próprio Senhor. O desenvolvimento do amor fraternal foi o argumento definitivo de Paulo para dar uma resolução permanente aos embates existentes na igreja de Corinto. Paulo os aconselha a pautarem suas ações e decisões no amor, pois ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (I Coríntios 13:7). Agora, escrevendo a seu amigo Filemom, Paulo lança mais uma vez o mesmo argumento, afim de sanar uma divergência do passado. O que Paulo insistia em ensinar aos seus discípulos é que qualquer julgamento dentro da igreja deve primeiramente passar pela peneira do amor.

Filemom era um bom cristão. Exercia influência positiva na igreja de Colossos, sendo identificado por Paulo como um grande motivador, com a capacidade de reanimar o coração dos santos (Filemom 7). Aquele, sem dúvidas, era um homem de muitas virtudes e deveras amoroso.

Mas ainda existia em Filemom um resquício do passado, quando foi usurpado por um de seus servos. Onésimo causou grande perca a Filemom e se embrenhou pelo mundo, deixando aquela ferida emocional aberta e sem resolução. Havia chegado a hora de agressor e agredido, defraudador e defraudado, assaltando e assaltado se olharem nos olhos mais uma vez, só que agora não como senhorio e escravo, mas sim como irmãos em Cristo. Paulo deseja ardorosamente que este reencontro aconteça, pois, além de ser o “pai” espiritual de ambos, tornou-se amigo pessoal de cada um deles, conhecendo o coração generoso de seus filhos na fé.

Filemom era um homem de posses, que se converteu ao evangelho após a incursão de Paulo na cidade de Colossos. Seu envolvimento com a obra de Deus foi notório e digno de elogios, já que era ativo na proclamação do Evangelho, cedendo sua casa para que uma igreja fosse estabelecida ali. Sendo muito rico e vivendo sob a égide do Império Romano que dava legalidade a escravidão, Filemom era sim dono de diversos escravos.

Onésimo é historicamente lembrado como sendo um dos maiores líderes da igreja de Efésio, mas aqui, aparece apenas como um dos escravos de Filemom. Por algum motivo não relevado, Onésimo fugiu para Roma, aparentemente levando consigo alguns valores e causando grande prejuízo ao seu senhor. Ele, porém, acabou sendo preso em algum ponto de seu caminho, sendo conduzido a uma prisão. Foi exatamente neste período de sua vida, que o escravo fujão passou a conviver com um prisioneiro ilustre chamado Paulo.

Não sabemos ao certo se ambos dividiram uma cela em Roma ou se a amizade se desenvolveu em Éfeso, quando Paulo esteve preso pela primeira vez. Certo é, que Onésimo também aceitou o Evangelho de Cristo, se tornando um colaborador ministerial de Paulo, que por sua vez era o mentor espiritual de Filemom, por quem também nutria grande amizade. 

Paulo possui vínculos fraternais com duas pessoas que entre elas conservam uma rusga do passado. O apostolo vê então a oportunidade de usar sua influência junto a ambos para pôr um fim definitivo a esta questão. A carta para Filemom é mais pessoal das epístolas paulinas, e pode ser entendida como um pedido particular do apóstolo a seu amigo Filemom para que o mesmo perdoe seu também amigo Onésimo.

Teria o escravo aproveitado um momento de distração do senhorio que ouvia atentamente as palavras de um missionário para fugir? Quem sabe. Mas quais seriam as reais possibilidades deste mesmo missionário ser preso por amor a Cristo e acabar dividindo sua cela com um escravo foragido de uma das casas onde ministrará meses atrás? Tudo estava engendrado pelo Senhor, e a perseverança de Paulo foi o ponto de equilíbrio numa história que parecia ser trágica e vertiginosa.

Em sua liberdade, Paulo fez um amigo chamado Filemom, e a igreja de Colosso ganhou um excelente obreiro. Em prisão, desenvolveu a amizade de Onésimo, e a igreja de Éfeso ganhou um bispo. 

Pb. Miquéias Daniel Gomes

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