sábado, 26 de março de 2016

A Páscoa


Ao longo dos séculos, assim como o Natal, a Páscoa perdeu muito de seu significado ente os povos ocidentais, tornando-se uma celebração comercial, com significado espiritual cada vez mais raso. Não deveria ser assim...

A Páscoa bíblica tem sua origem na noite em que Israel foi liberto da escravidão em terras egípcia. A primeira  foi celebrada no final do dia 14 do mês de Abibe; aproximadamente no ano de 1445 a.C. , sendo a partir de então, celebrada anualmente. Naquela data, cada família devia escolher um cordeiro ou cabrito sem defeito, sem mácula, com a idade de um ano. O cordeiro era levado para dentro de casa no dia 10 de Abibe, e mantido ali até o dia 14 do mesmo mês. Período, durante o qual era observado pela família que iria sacrificá-lo. O cordeiro (ou cabrito) após ser imolado, tinha seu sangue aspergido com um molho de hissopo nas ombreiras (partes verticais da porta) e na verga da porta (parte horizontal sobre as ombreiras) da casa em que comeriam o cordeiro. Na noite do êxodo, este sangue foi o sinal para que o Anjo de que matou os primogênitos não entrasse na casa dos hebreus.

O cordeiro (ou cabrito) era abatido, esfolado (isto é, tirava-se a pele), suas partes internas eram tiradas e assim eram limpas e depois recolocadas no lugar, daí então era assado inteiro, com a cabeça, as pernas e a fressura. O animal tinha que estar bem assado, nada cru, e sem que lhe quebrasse nenhum osso. Após a carne ser assada no fogo, era comida pela família com pães asmos e ervas amargas. A Ceia Pascal devia ser comida pelos membros de cada família, que se fosse pequena demais para comer o cordeiro sozinha, chamavam os seus vizinhos mais próximos até que houvesse número suficiente para comer todo o cordeiro durante aquela noite. Quaisquer sobras de carne deviam ser queimadas antes do amanhecer.

Embora esta fosse uma celebração exclusiva do judaísmo, estava repleta de simbologias, cujo significado refletiria em toda a humanidade. O Cordeiro Pascal apontava diretamente para Jesus Cristo.

Na noite em que foi traído, Jesus reuniu seus discípulos em um cenáculo de Jerusalém, para celebrar com eles a “Festa dos Pães Asmos”, que segundo a tradição judaica, marcava o inicio da celebração da Páscoa. Durante aquela noite, Jesus lavou os pés de seus seguidores, e anunciou que entre eles havia um traidor. Também aproveitou aquela ultima reunião solene antes de sua morte, para instruir seus discípulos num novo tipo de celebração, A Santa Ceia do Senhor, conforme o relato dos evangelistas:

Disse-lhes Jesus: - Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer, pois eu vos digo que já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus.

Então, tomando uma taça, deu graças e disse: - Tomai isto e reparti entre vós; pois eu vos digo que doravante não beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus. 

E tomou o pão, deu graças, partiu e deu-o a eles, dizendo: - "Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isso em minha memória". 

E, depois de comer, fez o mesmo com a taça, dizendo: - "Essa taça é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós".

Segundo o registro histórico dos evangelhos canônicos, Jesus foi preso na noite de quinta feira, julgado durante a madrugada, torturado ainda pela manhã, e crucificado por volta das nove horas daquela fatídica sexta feira, entregando seu Espírito ao pai exatamente às quinze horas do mesmo dia. Sepultado as pressas para que o repouso do sábado não fosse violado, Jesus esteve no tumulo o domingo, quando ressuscitou. Exatamente numa manhã de Páscoa.

Para os judeus, a Páscoa, chamada de Pessach (passagem), evoca a liberdade que os retirou da égide do Egito, quando Deus, com mão forte e braço estendido os resgatou da escravidão. Para os cristãos, a Páscoa marca a vitória definitiva de Cristo sobre a morte, e a esperança latente que reside na promessa da ressurreição.

Obviamente, outras interpretações e tradições foram sendo embutidas nesta celebração tão significativa para judeus e cristãos. Por exemplo: Relata-se sobre uma festa de grupos pastoris que viviam na terra de Canaã no segundo milênio antes de Cristo. No final das chuvas, entre março e abril, eles abandonavam suas terras e viajavam para a região das planícies, mais férteis. A festa da Páscoa pedia proteção durante a travessia.

Já tradição moderna a Páscoa é marcada pela troca de ovos de chocolate. Alguns historiadores sugerem que muitos dos atuais símbolos ligados à Páscoa, como os ovos de chocolate, ovos coloridos e o coelhinho da páscoa são vestígios culturais dos pagãos germânicos, que durante as festividades de primavera, em honra da divindade “Eostre”, pintavam e decoravam ovos e os escondiam, enterrando-os em tocas nos campos. O ritual foi adaptado pela Igreja Católica no começo do 1º milênio depois de Cristo, que fundiu a Celebração da Páscoa com a comemoração do equinócio da primavera, celebrado por povos a qual buscava evangelizar.

Ovos decorados são tradicionais em diversas culturas. Durante as festividades de primavera, os chineses embrulhavam os ovos naturais com cascas de cebola e os cozinhavam com beterraba. Após o cozimento, os ovos ganhavam desenhos mosqueados na casca, um belo ornamento para ser oferecido como presente. Esse costume alcançou o Egito, onde alguns cristãos consagraram esse hábito como lembrança da ressurreição de Cristo. No século XVIII, que a Igreja Católica adotou-o oficialmente como o símbolo da Páscoa.

Foram os culinaristas franceses que tiveram a idéia de fabricar os primeiros ovos de chocolate, como uma forma de atrair compradores. A novidade foi tão bem aceita, que ano após ano, foi substituindo os ovos naturais pelos de chocolate. Historicamente, existem duas explicações para este fenômeno. A primeira diz que a Igreja Católica proibia, durante a Quaresma, a alimentação que incluísse ovos, carne e derivados de leite. Daí, os ovos de chocolate (sem adição de leite), se tornaram uma opção alimentícia do período Já a segunda, afirma que na Idade Média, a bênção de ovos, durante a missa, antes de entregá-los aos fiéis era bastante comum.

Biblicamente falando, não há nenhuma conexão entre a ressurreição de Jesus Cristo e as tradições modernas relacionadas com o Domingo de Páscoa. Essencialmente, o que ocorreu é que, a fim de tornar o Cristianismo mais atraente para os não-Cristãos, a antiga Igreja Católica Romana misturou a celebração da ressurreição de Jesus com as celebrações dos rituais da fertilidade que ocorriam na primavera. Estes rituais de fertilidade são a origem do ovo e das tradições do coelho. Exatamente, por isso, muitos Cristãos defendem fortemente que o dia em que celebramos a ressurreição de Jesus não deve ser conhecido como o "Domingo de Páscoa". Em vez disso, algo como "domingo da Ressurreição" seria muito mais apropriado e bíblico.

Não há pecado em comemorar a Páscoa e nem aproveitar o dia para apreciar um bom chocolate. Mas para o Cristão, é impensável permitir que a bobagem de ovos e coelhinho de Páscoa seja o foco do dia, em vez da ressurreição de Jesus, pois ela nos mostra que podemos ter a promessa de um lar eterno no céu ao recebê-lo como nosso Salvador.


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